quarta-feira, agosto 08, 2012

Madrugada palavra


Madrugada
Companheira poesia
Meu prefácio de um sol
Que ainda não insistia
Em brilhar e aquecer
O que a lua encobria

Noite acaba
Lua põe-se a dormir
Entre as nuvens
'Nos' permite assistir
Vê-la então repousar
Sempre a refletir

O espelho luar,
nunca a se omitir

Logo mais, alvorada
Vira verso a paixão de um casal
Poesia então vira ata
O registro mais sentimental

Para alguém que num canto qualquer
Tem um corpo ou caneta na mão
Quem se oculta às vistas do mundo
Não se esconde da inspiração

Madrugada, palavra a palavra
Seja lágrima, amor ou tesão

domingo, agosto 05, 2012

Opinião: Jeitinho Brasileiro


Há alguns dias, tenho planejado uma opinião sobre o tal jeitinho brasileiro. Ideias e mais ideias vieram com mais um pleito eleitoral batendo à porta.

Quando pensamos no jeitinho brasileiro, vangloriamo-nos como uma versatilidade. Em alguns pontos, sim. Sabemos 'nos virar' com muito menos que o necessário. Ponto positivo para o Brasil, sil, sil... Mas, não é nesse sentido que pretendo discorrer por enquanto. Nós temos o péssimo hábito de condenarmos nossos governantes (e não sem razão) e criticarmos o trabalho (?!) deles. Porém, esquecemos que nós mesmos os escolhemos. Um tanto contraditório isso, não acha?

"Ah, mas não tem nenhum que presta" - dizem. Pode até ser, mas acredito que nós pouco sabemos qual a função deles e não temos capacidade de qualquer resposta e cobrança ao nosso voto (literalmente falando) de confiança que nós depositamos (nossa, depositamos... lembrei daquelas urninhas de papel), ou melhor dizendo, nosso voto que confirmamos no país com um dos sistemas de votação mais inovadores e eficientes do mundo. Acho que só isso mesmo, viu? - só há rapidez e qualidade nisso...

Nosso jeitinho brasileiro consiste também numa memória curta e falta de critérios ao escolhermos nossos ídolos e exemplos. Por este motivo, nos julgamos capazes de tudo. Tudo sabemos, somos bons em tudo - acreditamos. Quando se fala no futebol nossa especialidade então, aí sim, somos o ápice da arrogância. Nunca perdemos para alguém mais capaz, e somente, para o nosso erro, o nosso culpado (sempre tem que arrumar um). Ê, jeitinho brasileiro...

Quem aí não conhece alguém que resolva sempre as coisas com jeitinho? E sem hipocrisia, em certos momentos, sempre conhecemos alguém que resolve nosso problema no tal jeitinho, dispensando e depreciando o profissional da área. Seja, comprando um filme pirata, seja contratando alguém muito mais barato para desenvolver determinada função da qual possa até conhecer, mas sem a responsabilidade regulamentada de um profissional. Seja isso quando compramos remédios sem a orientação de um médico - nesse caso, totalmente normal pela péssima qualidade do nosso sistema de saúde - no entanto, acho que me fiz entender no nosso jeitinho de resolver as coisas.

A grande discussão que proponho é o valor ao amadorismo. No meu caso, locuções piratas por aí, certamente roubam o posto de profissionais. O mesmo se aplica nas mais diversas profissões do mercado. Por mais que isso seja natural e antigo, o que realmente deprecia o profissional e o cliente nos infinitos ramos é a incoerência. Partimos pro amador quando não somos o profissional do setor. Gostamos de concorrências desleais? Não; e lutamos contra elas - quando nos convém, é claro. O grande problema deste impasse é o desconhecimento aliado à soberba do 'sabemos tudo'. "Ah, tá bom assim". Como não sabemos o certo, o amador e pouco profissional se torna aceitável e, por vezes, até mais valorizado. Soma-se a isso nosso sentimento de eternos coitados.

Isso mesmo. Gostamos de ser assim. Só não aceitamos, quando outros nos apontam desta forma. Somos versáteis, capazes, guerreiros... Valorizamos muitas vezes o 'jeitinho brasileiro', o 'ah, ta bom assim' pra ajudarmos quem 'pelo menos não 'tá' roubando', quem está tentando ganhar o seu dinheirinho honestamente. Ok, se entendermos como um apoio a quem pretende se profissionalizar e se habilitar como tal, justificável. Infelizmente, não é a regra. Tornamo-nos especialistas amadores, se é que me entende. Nosso jeitinho brasileiro coitado parece que nos incentiva a continuarmos nele. Afinal, gera um apelo social para darmos uma força a quem está tentando fazer o seu.

Assim como a saúde, o mesmo acontece na educação. Especializações custam e demandam condições que, nosso país infelizmente não oferece a todos. Mas, enquanto nossa busca por benefícios e vantagens como Seguro-Desemprego em plena atividade, notas frias para burlarmos a declaração do Imposto de Renda, ocuparmos vagas de deficientes nas ruas e estacionamentos, nos tornamos espelhos, seja a causa ou a consequência dos políticos que temos.

Amo o Brasil e nossa capacidade de sobrevivência, mas esse jeitinho brasileiro de sermos ao mesmo tempo  coitados e pretensiosos a sabermos tudo, nos torna a piada contraditória, alienada e incoerente que somos, não só perante o resto do mundo, mas até em frente ao nosso espelho distorcido que nos reflete um povo que não reflete e apesar disso, um povo que sem muito entender o porquê, acredita que nossa superioridade coitadinha é resultado de algo que só nós temos: o jeitinho brasileiro.