sexta-feira, novembro 22, 2019

Supremo Pensamento

Vai sair, não vai sair, vai sair, não vai sair
Saiu.
A lágrima de dor, presa nos olhos, caiu
O sorriso de contentamento se abriu

Há quem vai julgar se chorei ou sorri
Comemorei ou me enraiveci
Há quem vá condenar, menosprezar o que senti
Posso até ser rotulado por esse ou aquele ali

Mas, aquele ali
Meus passos, não viu
Não sabe por onde andei,
Nem o quanto chorei

E, mesmo assim, a mim dirigiu
Seu julgamento, que eu poderia chamar de vazio
Julgamentos... sempre agudos, dedo em riste
O que pra uns é tudo, pra outros, nem existe

O juiz, de toga e martelo, pode batê-lo, abatê-lo
Diante da justiça hilária
Em nome de Deus, em nome da pátria

Mas, não há Supremo que possa prender pensamento
Ele surge e aos poucos se espalha
Atinge um sentimento

Que nenhum aprisionamento
Tenha força que o valha para detê-lo
Muito menos contê-lo em seu nascimento

Em missão adversária, há um exército sangrento
E minha forma literária, por vezes, simplória, precária
Vai de encontro ao violento

Não com golpe preparado
Ou pr’um confronto armado
Mão livre, verso livre
Só a rima de argumento

quinta-feira, novembro 21, 2019

Envenenados de Barueri

Envenenados de Barueri
Foi do lado, aqui
Tô em Osasco e quando vi
Indignado, me corroí

O caso ainda é investigado
Não há culpado definido, já julgado
O que me deixa revoltado
É que parece planejado
(Ainda não confirmado)

Mas, consegue entender o grau
4 mortos e mais 4 no hospital
Uma bebida com poder letal
A quem faz coberta de jornal

Nem dá pra chamar de crueldade
Precisaria nome pior, mais vil
Pra quem a cama é o chão da cidade
Não esperava em oferta sutil
Uma dose de mortalidade

Último gole que sentiu
Em tantos outros porres, se levantou quando caiu
A rua é fria, não sente saudade
O humano sem piedade, sem humanidade, conseguiu
Parabéns, vocês são a cara desse novo Brasil

terça-feira, novembro 12, 2019

Fotos a mais

Fotos banais
Em dias normais
Sorrisos leais
Às condições reais?

Ou será que por trás
Tem algo mais?
Tem dores, tem ais
Que nas redes sociais
A chuva de likes
Esconde nossos temporais

terça-feira, novembro 05, 2019

Ninguém liga pra poesia


Na real, na real mesmo, nem sei porque eu escrevo poesia. E olha que, na minha memória, eu já até escrevi uma sobre esse tema, mas, agora, é prosa. É pra trocar essa ideia com você que me lê, com você que me ouve.


Pra que escrever poesia? Na real, na real mesmo, ninguém liga. É exótico, é bonitinho, quando você viaja, até compra alguns exemplares da literatura de cordel, naqueles livretinhos. E acha caro pagar 2 ou 3 reais porque a qualidade do papel isso, o material pra fazer, aquilo, e por aí vai.


Na real mesmo, sabe quem liga pra poesia? Você que veio ao sarau, você que, propositalmente parou em algum texto meu ou de qualquer outro escritor por aí. Sabe quem mais gosta de poesia? Um músico ou outro...


Sim, tem músico que não gosta de poesia, e pior, nem entende que o que ele interpreta é poesia. Às vezes e não é raro, não tem a menor ideia do que está cantando. Hoje onde se vê poesia e versinhos rimados? Em comerciais, propagandas, mas, ninguém nem percebe. Sabe onde mais tem poesia? Em alguns programas e desenhos infantis que rimam e rimam e rimam sem parar. E se você é um ou uma que gosta, ganha a fita e pode até se perder no conteúdo só pra viajar na construção das rimas. Sou desses.


Eu sou da rima, da poesia e pra piorar o pacote de coisas que ninguém liga, sou ainda do samba. Ah, mas você vai me dizer: o samba é popular, muita gente gosta. Sim, o pessoal gosta da festa, do carnaval, dos pagodjé (obrigado Thiaguinho, não poderia nos oferecer termo mais sonoro e adequado pra distinguir samba, pagode e esse som descendente do que um dia foi nosso som original).


O samba é ou era pra ser poesia, história (o samba enredo, mesmo comercializado, ainda cumpre esse papel). A poesia do samba fica só pros termos: Jorge Aragão, o poeta do samba. Fulano de tal é “um dos poetas do samba”, como cantou Zeca Pagodinho, em 1992, no disco que leva exatamente esse nome.


O samba, em sua essência de poesia, sabe quem liga? Alguns poucos poetas, muitos especialistas na poesia talvez não conheçam o mundo do samba internamente. Então, é assim: o músico nem sempre gosta de poesia. O poeta nem gosta de samba e, às vezes, nem o próprio poeta gosta de poesia. Como assim?


Se possível, você ouve as músicas dos seus amigos? Você lê o que a galera do seu quarteirão, do seu bairro, da sua cidade escreve?


Por muita gente não gostar de verdade de poesia, o espaço fica reduzido ao formato microfone aberto, batalhas disso, batalhas daquilo, saraus e slams. O próprio slam é um contraponto: o formato de confronto, duelo de textos traz a seguinte reflexão: escrever para desabafar, pra contar o que sinto ou para lacrar no rolê? E falo isso sem demérito algum, ok? A galera que conheço de slams são ultra mega power escritores. Mas, o intuito pode se modificar. A palavra pode ser outra para arrancar um pow pow pow com suas rimas. E de forma racional, pensado exclusivamente pra isso.


Quando assisti ao filme-documentário ‘Slam: A Voz de Levante’, entendi a origem: o dono do bar que rolava o microfone aberto para poesias percebeu que havia uma debandada de público nessa hora e, como todo mundo gosta de uma treta, que tal confrontar poesias? Hoje, sucesso com o formato, slammers alçaram voos lindos e histórias inspiradoras. Poesia, por si só, ninguém liga. Se não houver confronto, duelo... Duelar versos, ideias, sentimentos... já não bastam os confrontos internos que nos fazem escrever poesias?


E a gente segue escrevendo, mesmo que ninguém ligue.