quarta-feira, maio 25, 2016

O rato comeu meu ovo

O rato comeu meu ovo
Gritaram no meio do povo
O cara de olho roxo
Falava e falava, de novo

Ele assim que acordou
Foi na panela e encontrou
O rato que o trairou
Chegou primeiro e devorou

Ao redor dele, gente brasileira
Que vive à margem, à beira
Do esgoto e chuva traiçoeira
E ele lá, carregava uma bandeira

Esperando ter moradia
O que todo mundo queria
Mas, esperando chegar o dia
A fome lhe invadia

Inconsciente, quase perdido
Por um ônibus, foi atingido
Isso foi ontem, problema vencido
Só queria meu ovo que o rato comeu

Podia ser, tanto faz, se frito ou cozido

quinta-feira, maio 05, 2016

Tristes Quedas

Há quem está feliz
Porque o Cunha caiu
Dilma sucumbiu
Eu não, olha pro país

Tudo atravancado
No Congresso, o voto é pela mulher (deles)
Não sorri com queda qualquer
E sim, fico desacreditado

Eles se entendem,
Nós digladiamos
Somos parte dos planos
Que as demandas atendem

Brigamos entre a gente
Por cores de bandeiras
Entre as xepas das feiras
Trabalhador inteligente

É tanta capacidade
Que não temos concepção
De nossa classe e condição
Vale então, nossa verdade

Gosto muito de posição
De qual lado da moeda?
O que você não é, mas espera

Ou o que é, sem noção?

segunda-feira, maio 02, 2016

Nós contra Eles

Nós dizemos que eles propagaram
Eles dizem: Eles que começaram
Se referindo a nós
Só assim pra sermos referidos

O nós contra eles pra eles não havia
Porque o nós também não existia
Então, quando virou voz
O sono se perturbou com meus gritos

É fácil dizer que nós que começamos a briga
Afinal, só temos a missão de incomodar
O sono dos justos sente o frio na barriga
Antes do despertador te acordar

Somos revoltados, tumultuadores
Mas, claro, não podia ser diferente
Esse bando de contestadores
Ficam achando que são gente

E não diga que não pensa assim, que eu não sou otário
Pra cair na sua conversinha, de classes unidas
Não haverá consenso, o pensamento é contrário
Objetivos opostos, demandas inversas
Que não são expostos, estratégias perversas

Sempre foi o tal nós contra eles,
Mas éramos café-com-leite
Já que nunca reconheceu
Não precisa do seu aceite

Somos nós por nós mesmos, guerrilhando
Eles continuam sendo eles, amaciando
O combate não se rende, vai juntando
O ódio, deixa com eles, se alimentando

Deixa com a gente, o canto de sempre
Não da sala, nem da senzala
No sentido bom da palavra “corrente”
Que o tambor tem fala, nossa cor se espalha

Sem hipocrisia

Sem falsa hipocrisia
De bater no peito
Sou periferia,
Sou preto, sou gueto,

Condições, tive sim
Boa escola, casa boa
Clube, carro, ‘danonin’
Graças ao vô; saudades, coroa

Mas, minha essência destoou
Ao que poucos olham, dou valor
Sou do samba, sou do rap, poesia
Sou do verso combativo à revelia

Com samba, a alma transcende
Com rap, o corpo responde
Arrepia inconsciente
O verso expõe o que se esconde

E segue lá escondido num nicho
Pátria unida em dialeto
Quem nem entende, segue omisso
E julga mal o papo reto

É uma série de socos no ouvido
Do samba ao rap que protestam
Para mim, fazem tanto sentido
Nervos e pele se manifestam

Não vim, mas sou dessa parada
Aí sim, sem pagar de “sou favela”
Com poesia, dá uma entrosada
Fazendo samba, sou parte dela

Sou um dos resistentes
Consciente da batalha
Tamo aí, linha de frente
Coração contra o canalha

Amor, essência do valente
Contra o ódio tão presente
Sou poesia combatente
Ao sistema dominante
Sou o samba mais dolente
O partido-alto protestante
Sou Martinho e suas vertentes
Ele é raiz predominante
Sou Racionais, que se apresente
Quem tá ‘co’ nóis, que se levante
Quem é essência, tá com a gente
E quem não tá, não se lamente
Que ‘nois’ aqui, ‘vamo’ adiante

E pra continuar, preciso mudar o tom
Minhas cifras são pelo som
Notas que não compram nada
Nossa missão é outra, camarada

Não quero te imitar
Ir à mesma loja, mesmo bar
Quero exatamente seu oposto
Não tem nada ao meu gosto

Minha luta jamais será a sua
Seja quem for sol, seja quem for lua
Quero a disputa igual à alma: nua
Seres humanos iguais,

Morro, castelo, tribos e rua.