Sem falsa hipocrisia
De bater no peito
Sou periferia,
Sou preto, sou gueto,
Condições, tive sim
Boa escola, casa boa
Clube, carro, ‘danonin’
Graças ao vô; saudades, coroa
Mas, minha essência destoou
Ao que poucos olham, dou valor
Sou do samba, sou do rap, poesia
Sou do verso combativo à revelia
Com samba, a alma transcende
Com rap, o corpo responde
Arrepia inconsciente
O verso expõe o que se esconde
E segue lá escondido num nicho
Pátria unida em dialeto
Quem nem entende, segue omisso
E julga mal o papo reto
É uma série de socos no ouvido
Do samba ao rap que protestam
Para mim, fazem tanto sentido
Nervos e pele se manifestam
Não vim, mas sou dessa parada
Aí sim, sem pagar de “sou favela”
Com poesia, dá uma entrosada
Fazendo samba, sou parte dela
Sou um dos resistentes
Consciente da batalha
Tamo aí, linha de frente
Coração contra o canalha
Amor, essência do valente
Contra o ódio tão presente
Sou poesia combatente
Ao sistema dominante
Sou o samba mais dolente
O partido-alto protestante
Sou Martinho e suas vertentes
Ele é raiz predominante
Sou Racionais, que se apresente
Quem tá ‘co’ nóis, que se levante
Quem é essência, tá com a gente
E quem não tá, não se lamente
Que ‘nois’ aqui, ‘vamo’ adiante
E pra continuar, preciso mudar o tom
Minhas cifras são pelo som
Notas que não compram nada
Nossa missão é outra, camarada
Não quero te imitar
Ir à mesma loja, mesmo bar
Quero exatamente seu oposto
Não tem nada ao meu gosto
Minha luta jamais será a sua
Seja quem for sol, seja quem for lua
Quero a disputa igual à alma: nua
Seres humanos iguais,
Morro, castelo, tribos e rua.