quarta-feira, novembro 30, 2016

O Silêncio que Gritava

foto: https://goo.gl/9UHgN2


No silêncio do luto
Da madrugada
Gasto enxuto
Na calada
No sono do justo
PEC aprovada


Pra alunos, repressão
Pra saúde, redução
Pra eles, permissão
Pros amigos, condição


Pro povo, contenção
E na base da agressão
É nossa lei, nossa razão
O nosso voto, proteção

E agora, corte aprovado
Era preciso limite
Onde se viu tanto gasto?
Qual conta admite?
Vamos cortar de qual lado?
O que não nos prejudique, claro!

Como Jucá havia dito
Temer era o favorito
Pra firmar o tal pacto
Todo mundo estava aflito
Com o avançar da Lava Jato
Se era fato ou era mito
Pareceu roteiro escrito
O maldito foi exato

Êita talento de vidência
Seria sorte ou competência?
Que enquanto o país chorava
A Câmara sem clemência
O povo contrariava
Apagava a evidência
Tomaram a providência
No tom que a panela soava

Luto em Verde e Branco

 

Verde e branco
Verde do campo
Branco da paz

Cores do manto
Dores num tanto
Que nenhum dos cantos
Gira o tempo pra trás

Pra não ir à La Paz
Burocracias continentais
Restou só o pranto
Lágrimas demais

A história se faz
Em verde e branco
Verde esperança
E o branco?

À noite, escureceu
No fatal barranco
Ficou preto, de luto
A esperança morreu

Torcidas comoveu
Um por um, cada escudo
Alvinegro, tricolor, rubro negro
Azuis chamados de celeste
Irônico mundo

Cada símbolo cedeu
As cores tradicionais
Pra que o verde fosse mais

Que o verde do campo
E o branco da paz
Mais que a cor do gramado

Rivais do mesmo lado
Corações apaixonados,
Atados por um nó

A compaixão pela dor
Sem hino, sem gritos, sem cor
Um minuto de silêncio a Chapecó

terça-feira, novembro 29, 2016

Triste fim, Chapecoense



Estarrecido
Com a fragilidade da vida
Aborrecido
Com a triste partida

Partida sem volta, só ida
Sem apito inicial
Somente final
Final já perdida

Uma perda sentida
Com apelo nacional
E pelo Nacional,
O de Medellín

Onde deu-se o fim
De todo um plantel
Num sonho real
Decisão internacional

E todo um país chora
E pelo mundo afora
Já deu no jornal

Foi embora jogador
Treinador, repórter, tripulação, narrador
Comentarista
Mas, a nós, como comentar
Tragédia como essa nunca vista?

É um sofrimento incondizente
Tantos jovens rumo à batalha
Em busca da conquista

Isso machuca a gente
Que nem torce pro time
Mas, se põe na dor de um parente
Do sobrevivente

É uma perda que deprime
O peito comprime
E nos põe a pensar
Na fragilidade da alegria
Do grandioso momento
Que a Chape vivia
E como vivia!

Um histórico contentamento
Num sopro do tempo
Acidente violento

Domingo mesmo estavam aqui
Se organizaram pra partir
Tinha uma escala a seguir
Após em campo, ver a festa palmeirense

Baldeariam em território boliviano
O voo saiu
Representando o Brasil
No torneio sulamericano

O destino a Deus pertence
E assim decidiu
Quase no aeroporto colombiano
Ninguém perde, ninguém vence

Tamanha dor nos atingiu
O avião caiu
Com o esquadrão catarinense

E ficou assim a decisão
Triste fim, Chapecoense
O luto que é o campeão

segunda-feira, novembro 28, 2016

Evolução Corruptível

Dizem aí que tudo evolui
A corrupção não se exclui
Pra essa máxima contribui
O tal cidadão de bem se inclui
Sem ele, o esquema não flui
No poder, ele influi

Esse que agora chegou lá
Resultou do projeto de alcançar
Sem a índole mudar
O que fazia antes, se assemelha ao que fará
Se era do bem, manterá
Era enrolado em mutreta? Continuará

A diferença é que agora é elegível
A nota fria imperceptível
Se torna, digamos assim, acessível
Assessorado no criminal e cível
É a evolução do corruptível
É o mesmo ladrão, noutra esfera e nível

quinta-feira, novembro 24, 2016

Penumbra


Penumbra, só uma luz que vem sei lá de onde
Talvez do corredor, talvez uma fresta
Traga a luz da rua, no quarto se esconde
E lá fora, ilumina o escondido e a festa

No quarto, não só a luz se esquiva
Dois corpos sedentos, um busca escuridão
Quer toque, pressão, gozo sem ser vista
O outro quer vê-la em sua perfeição

É perfeito, molhado, quente cada movimento
Intenso, proibido, a tentação recíproca
Feixe de luz, invasor daquele templo
Gemidos sem luz, em vozes uníssonas

Sons que se entendem na mesma linguagem
Olhar nem se faz necessário
Aos poucos, se encaixam, se invadem
Pra amar assim, não tem horário

Tem que ferver a temperatura
Até derramar seus excessos
Ebulição que ninguém segura
Infratores nunca confessos

O que a gente faz é real
E muito melhor que o normal
É pleno em toda a verdade
Entre 4 paredes, liberdade

quarta-feira, novembro 23, 2016

Ah, o torcedor...

Ah, o torcedor...
Torcedor de futebol que eu falo
Eita bicho doido de entender
Parece que apita o juiz, dá um estalo
Pôs o manto, vira outro ser
Não dá pra explicar esse prazer
Uma parada quase doentia
Que conforme o lado que a maré pender
Tem tranquilidade, tensão, raiva, alegria

Quem torce, se retorce, se for preciso
algumas coisas até distorce
Pra parar e ver um joguinho
E por se empenhar pelo time
Não admite que o jogador não se esforce
Nem se anime pra vestir aquele uniforme
Sem qualquer carinho

Como isso é raro hoje em dia
Já basta raça e respeito
Não precisa beijar o escudo no peito
Dispensamos essa hipocrisia
Pra que daqui pouco tempo
Abrace outra torcida, outro gesto ou mania
Beije outra camisa e diz que tanto queria

Mas, com tudo isso, jogador descompromissado
Time em boa fase ou quase rebaixado
O torcedor segue lá... aliado
Firme, forte, na arquibancada, no agito
De olho e palavrão preparado
Contra o cara do apito
Tem coisa que torcedor faz
Que eu quase desacredito

O símbolo do clube tatuado, marcado, eternizado
Certa vez, ouvi uma frase, mas não lembro quem tenha dito
Perguntaram pro torcedor: pra você o que é vida?
A resposta: é o intervalo entre o fim de uma partida
Do meu amado time no gramado
Até a ola rolar de novo, no próximo jogo marcado

Pra alguns, é só fanatismo, 22 atrás da bola
Milionários, sem ir à escola
Um bando de moleque mimado
Supervalorizado
Que pra nós, não é só a pelota que rola
É a alegria de um povo que se esfola
Que às vezes, junta os trocados
E na fila dos estádios
Uns pedem uma quirela, uma esmola

Pra inteirar no ingresso
Então, só mais uma coisa que peço
Paz nos arredores, nas torcidas
Gritem que são os melhores
Mas, poupem vidas
Somos o país do futebol,
a pátria de chuteiras
Mas só tem ordem e progresso
nos dizeres da bandeira

terça-feira, novembro 22, 2016

Amor pra Casar

Solidão,
eu não sei o que dizer pro meu peito
Perdão

Coração
Se trancou nem se abre direito
Aprendeu com a ilusão

Quem se entregou o amor declarou
Pode ter se iludido e sofrido depois
Dizem que amor tem que ser pra valer
Que não é pra sofrer, é pra chuva de arroz

Alianças, o véu, o altar nosso céu
Uma lua de mel pra gozar
Quero andar de mãos dadas, minha namorada
E sempre... sempre vou te amar,

Pois o meu juramento, lá no casamento
Prometo cumprir até os dias finais
Eu te quero só minha a todo momento
O mais lindo exemplo pra outros casais

segunda-feira, novembro 21, 2016

Um Banquinho, um músico, um violão

Um banquinho, um violão
Parece um formato infalível
Nossa MPB, que coisa incrível
Do mundo inteiro, atrai atenção

Mas, esse poema não é de exaltação
à complexidade e beleza musical
E sim, sobre a frustração
De quem toca uma canção
Sem aplausos no final

Sabe aquele cara no fundo do bar
Que tá lá fazendo um sonzinho?
Sozinho. Não a canção do Peninha
Sozinho mesmo. Não ouve ninguém cantar

Ele, seu repertório e quem serve a bebida
Talvez aquela moça, no celular, distraída
Pela tecnologia, a música ali foi preterida
A tal moça nem percebe que a distração
Pra quem dedilha o violão
É mais um ingrediente pra emoção

Não aquela que anima o cantor
Aquela que pode causar até rancor
A ponto do violão ser esquecido
Deixado num canto
Sem canto
Ressentido

Eu quero ver você mandar na razão
Pra mim não é qualquer notícia que abala o coração
Coincidentemente, era esse som do Djavan
Que o cara tocava enquanto eu passava

Será que ele manda na razão
Será que teve essa percepção
Que o que ele cantava tinha tudo a ver

Mesmo sem ninguém pra assistir
Ele insistia em não deixar o coração abalado
Mesmo com o bar esvaziado
Enquanto ele tocava Fato Consumado

Seguiu lá, pela razão, pelo coração
Ensaiado, preparado, arrumado,
sem ninguém que ele tinha convidado

Sem desistir
Ou apenas conseguir
Sem razão, sem coração,
garantir seu trocado.

quarta-feira, novembro 09, 2016

Como de costume! (01)

Hoje, pra sair um pouco do formato poesia e também porque, mais do que a combinação sonora das palavras, pretendo aqui desabafar algumas percepções de como somos educados, não raras vezes, por caminhos quase nada lógicos, humanos, enfim.

A partir daqui, alguns já abandonaram este texto, pois esse papo de humanidade quase que cansa. Perceba isso: nós, humanos, por definição genética e biológica dispensamos nosso diferencial poder perante os outros seres vivos que, segundo a ciência, é ser racional para desumanizarmos cada vez mais nosso dia a dia.

Desumanizamos com o avanço tecnológico e invenção de novas máquinas; desumanizamos, por exemplo, com a retirada de um dos profissionais que mais tem história pra contar no dia a dia: o cobrador, no ônibus. Hoje, o motorista (em alguns casos) cobra e dirige; isso quando a maquininha já não resolve toda a demanda.

Mas, esse texto não é pra falar sobre classes trabalhistas. Voltando a questão da humanização, estamos tentando nos tornar robôs para competirmos com eles, até na atenção de outras pessoas na mais simples conversa. Quem sabe você virando um robô, não fica com o aspecto de ser algo novo tecnologicamente falando e os celulares que desviam e prendem frequentemente a atenção do nosso interlocutor percam espaço para nosso novo perfil robótico?

Assim como no robô, tudo funciona por uma programação. Estamos muito próximos de, infelizmente, concretizarmos nosso processo de desumanizar, ou seja, reduzir a pó nosso diferencial de seres racionais para obedecermos à programação estabelecida pelos pais, TV, escola, igreja.

Tudo é por costume, por tradição. Longe de pregar desrespeito ou a quebra de alguns ritos tradicionalíssimos. Mas, se refletirmos um pouco mais sobre eles, veremos o quanto somos ilógicos em nosso ideal e atos, por que não dizer até incoerentes?

Acumulamos roupas, tralhas, dinheiro, bugigangas das mais variadas ao longo de uma vida. Por quê? Porque assim nos foi ensinado. Desprender-se é muito complicado, porque isso também nos foi ensinado. Em reflexão por esses dias, pensei: por que eu preciso de tantas peças nesse guarda roupas? Ou pior: eu preciso? E isso se estende do guarda-roupas à sapateira, passando pelo cantinho da bagunça, enfim, pela nossa vida.

Não digo aqui pra ter uma mochilinha de mão e embarcar pelo mundo. Mas, quando percebemos esse exagero, a reversão não é só decidir mudar e pronto. É uma reeducação, assim como quem sempre comeu guloseimas e fast-food e, de repente, tem que mudar os hábitos para um cardápio mais saudável, por questões de saúde ou qualquer outro motivo. Mais do que a consequência, o resultado dessa mudança, mais angustiante nessa escala, é a causa, a razão: O COSTUME.

Esses dias, ao ler a postagem de uma amiga no facebook durante a distribuição de marmitas para moradores de rua, refleti: 1) quantos outros amigos vi fazendo isso (inclusive eu)? 2) geralmente, no face, as pessoas postam fotos de baladas, festas, mas, isso, não. 3) (essa foi a que mais me agoniou) acompanhe o raciocino: pensei que meu tempo era escasso para contribuir assim como ela fazia, porém, essa missão era feita em seu horário fora de trabalho, livre. Logo, seria um momento que ela poderia aproveitar para o lazer dela, seja ele qual for; muitas vezes deixamos de fazer algo beneficente porque não queremos nos privar do momento de lazer que nos resta. E não queremos fazer isso por não considerarmos a atividade de ajudar os outros, um lazer; para alguns, é até um fardo.

Então, ignoramos a necessidade do nosso próximo para irmos a qualquer lugar do nosso interesse, pois, esse passeio que fazemos é prioridade em comparação à qualquer iniciativa como a desta minha amiga. Novamente não digo que é preciso abrir mão de tudo, mas, nossa essência foi formada pensando primordialmente no “eu” e, depois, se sobrar tempo, no outro.

E, por costume, fazemos ou deixamos de fazer tanta coisa. Nosso hábito prevalece à reação. O ato de reagir implica em uma resposta a uma ação inicial, porém, por vezes, inúmeras até, somos repetidores de mantras, do que nos disseram, do que nos foi ensinado, do que nos foi passado como o certo, “é assim”, “sempre foi desse jeito”, “sempre funcionou dessa forma”, “num mexe não, deixa como está, tá bom assim”.

Com todo esse contexto, nossa geração, talvez até algumas pra trás e outras pra frente ainda sofrem e sofrerão com nossa forma animal de responder aos estímulos, que responde aos comandos do treinador que, se rolar e fingir de morto, ganha um biscoitinho e, por isso, agiu corretamente. E os filhotes reproduzem a reação.

Outro exemplo claro de atitudes que fazemos por repetição é o de ligar a TV. Habitualmente, muitas pessoas pegam o controle remoto e imediatamente antes de procurar algo que as interesse assistir, procuram a Globo e, depois, começam a zapear, pra cima ou pra baixo. Mas, esse hábito de ir primeiro em determinada emissora, geralmente, a Globo, faz com que isso vire um hábito e às vezes, nem inicia a próxima busca. Estaciona ali mesmo e seja qual for a programação no ar, ali permanece, quase como uma hipnose.

Exemplo disso é a onda de violência que estamos propagando e ao mesmo tempo, lamentando dela ser nossa realidade. É mais do que triste isso. A tal hipnose que citei no parágrafo anterior faz com que nosso hábito bloqueie uma reação natural humana de alguém sem estar sob o efeito da hipnose. Na TV, programas jornalísticos sensacionalistas que têm como principal pauta os casos de criminalidade geram tamanha revolta nas famílias que aos poucos adquirem um potencial de se tornarem os justiceiros e vingadores de todo o mal.
O acúmulo da revolta diária com a violência que invade as casas coloca no cidadão o medo, o preparo para o combate e deixa os nervos mais aflorados para qualquer situação. É natural que o alerta do risco que você vê pela TV por duas ou até mais horas no seu dia te deixe a ponto de enfrentar até o exército americano, se preciso. Você vai se revoltando, se preparando. Não que não precise, mas, se a TV divulgasse mais coisas boas que acontecem, talvez nos ocupássemos mais com isso e talvez, a propagação das coisas ruins diminuiriam também. Acredito muito nisso.

Ainda nesse tema propagação da violência, faço uma pergunta para que reflita antes de seguir a leitura. Quando você chega em casa, depois do trabalho, quer relaxar ou manter a tensão do dia a dia?
...
Se você quer se manter tenso, siga nas programações oferecidas que temos por aí. Se sua resposta foi relaxar, por que para em frente à TV para ver produções (novelas, séries, filmes) em que predominam os momentos tensos, de violência, seja a sexual, física, verbal, racista, sexista, religiosa? Não parece muito condizente com o tradicional discurso generalizado que após o trabalho, buscamos em nosso lar o lazer, o descanso e quem sabe até, a diversão? Quer outro exemplo?

Pare em qualquer barzinho de centro de cidade, de bairro periférico, barzinho de vila, como se diz, e repare no que está passando na TV. Geralmente, crimes nos programas sensacionalistas que falamos há pouco. Responda-me: é lógico você parar para comer algo ou tomar uma gelada pra relaxar com cenas de assassinato explicito? Se sua resposta foi sim, por favor, gostaria de entender melhor essa lógica. Por favor, entre em contato. Se respondeu não, por que fazemos ou não nos posicionamos sobre isso? Não nos incomodamos? É sério isso...

Quando há a acomodação nesses aspectos, implica que aceitamos, pois é costumeiro, não é novidade; o que é mais assustador ainda.

De costume em costume, deixamos a racionalidade em segundo plano. Da lógica do que fazemos ou deixamos de fazer, assistimos ou não, pouco se baseia num fundamento que tenhamos formado sobre aquilo. Com esse texto, não pretendo fazer com que você a partir de agora comece a racionalizar tudo, impor lógica e explicação para o que vai fazer ou escolher. Só proponho a reflexão se realmente pra você faz sentido alguns atos. E mais, se eles condizem com o discurso que fazemos no dia a dia.

Em sequência a estes questionamentos, e após nova reflexão que fiz sobre a onda violenta que invade nossa casa e pior, nossa cabeça, proponho que aponte quais programas assiste e durante a audiência, tente por alguns segundos fechar os olhos e se concentrar no som. A compreensão do que se assiste, para alguns, é visual. Para outros, sonora. Independente de qual sentido você tenha mais apurado, insisto que concentre-se na audição de suas programações favoritas.

Posso apostar que quase na totalidade dessas atrações, vai ouvir gritos, trilhas tensas, pancadas, agressões e tramas que envolvem traições, corrupção, planos de prejudicar ou quem sabe até matar alguém. 

Acredito muito que reproduzimos aquilo que lembramos. Quando trabalhei em rádio, nas ocasiões que tocava, por exemplo, um rock dos anos 80, pouco tradicional na programação, predominantemente sertaneja, era fatal alguns minutos depois ou no dia seguinte, outro ouvinte ligar e pedir alguma outra música do mesmo gênero, da mesma banda ou mesmo estilo. Outro exemplo claro disso são as trilhas de novela que, no dia seguinte após o capítulo final, ninguém mais pedia. 

Então, concentrando-nos na máxima que reproduzimos o que lembramos e se ouvimos e assistimos conteúdos repletos de violência, gritos e pancadas, é isso que assimilamos. E pior, é só isso. E pior ainda: vira nosso costume reações mais agressivas, pois aquilo não soa mais como estupidez ou brutalidade. É normal. E nessa normalidade, implantamos no nosso dia a dia.

Nesse nosso costume, as nossas preferências se adequam a isso que nos é oferecido. Tudo muito veloz, com impacto, com som alto, com tudo que teria as condições para nos irritar e não para ser nossa opção nos momentos de lazer. Não temos paciência com programas em formatos mais documentários, com transições mais lentas de imagem, com cores menos impactantes e vivas. Aquilo soa como chato. O mesmo acontece com emissoras de rádio que têm um perfil, digamos assim, menos agitados, na seleção musical e na locução de sua equipe.

Programas mais informativos, mais focados no conteúdo e menos na velocidade estética exigida, perdem espaço. E com tanta informação jogada pra você, você também perde espaço... pra pensar, pra refletir sobre o que viu. Como não dá tempo, assimila só os gritos, agressões e vida que segue.

O tal do costume se estende também para a música. Além do gosto quase genético, do aprendizado em casa, a molecada aprende a ouvir música nas festinhas da escola, nos aniversários dos colegas, no rádio do carro, em casa, na TV, pelo celular, YouTube... Aí também peço sua atenção à intensidade de tudo o que ouve. Não pelo gênero, mas, pela pressão que recebe esse conteúdo sonoro. O rock pesado e a música erudita podem transitar pelos seus aparelhos sonoros com a mais intensa qualidade para não ser prejudicial e levar a você, acima de tudo, MÚSICA. Já que é pra fazer bem, permita que ela faça. Porém, não se deixe seguir pelo "de costume". Quem é underground (detesto esses termos americanizados), quem prefere músicas diferentes da maioria é quase que, naturalmente, excluído. E nesse grupinho prevalece o som do momento, aí até rimando, cada vez mais barulhento. 

Esse texto, insisto para você que continuou até aqui, não tem a pretensão de ser um adestrador para que você mude todos os seus hábitos; até porque é exatamente esse o contexto: a revolta contra essa nossa forma de fazer tudo "Como de Costume" e seguir às normas e padrões que sei lá quem impôs.


quarta-feira, novembro 02, 2016

Osasco Envolve e Desenvolve


Não é minha cidade natal
Mas, sinto-me até mais acolhido
Aqui, fiz samba, fui em sarau
Divulguei até em capa de jornal
O lançamento do meu livro
Não tenho um só motivo
Discuto até com o nativo
Insiste em só falar mal

Osasco, local de trabalho e passeio
Achei um grupo, meu meio
Onde to sempre em casa
Sem morar aqui
Ainda! Ainda...
Ainda vou conseguir
Mudar pra cá, de vez
Adoro essa terra
Que tem cidade irmã na Itália
E em território japonês

Quem é osasquense, certidão ou coração
E conhece aqui há um tempão
Convive e vê evolução
E numa outra palavra comprida
De-sen-vol-vi-men-to
Parece que o sentimento
É que falta percepção

E com a mesma palavra que remete ao crescimento
Desmembro pra mudar a função
Se usar o prefixo “des” como negação
Traduz-se o zero envolvimento
Sem qualquer ligação
Parece que é assim que a população
Desprendida da cidade
Vê sei lá qual realidade
Ou só uma ideia, ficção

Então, é hora de definição,
Mas, por favor, tenha critério
Fundamente a opinião
Olhe ao seu redor
Seja pé no chão
Não vai à cega, no mistério

Osasco, pra mim, labuta e lazer
Percorro ruas, pedalo e ando
Bastante até
Trago pra cá, tudo o que fazer
Cidade não para de crescer
Fácil de ver
Quase sem pausa pr’um café

Só lamento por aquele que insiste em dizer
Que nada disso vê que não bota fé
Eu aposto e vamos fazer
Mas, tem o espírito-de-porco
A parte ruim? É isso que ele atrai
Só isso que ele quer
Só aponta o defeito

Mas diz que quer o bem, né?

terça-feira, novembro 01, 2016

Abraço Não Dado

Um abraço não dado
Oferecido, não retribuído
Quer algo mais brochante?

Braço esticado
Sincero sorriso
Frieza cortante

Sabe quando você encontra aquela pessoa
que você guarda no coração como alguém especial
Quando vê, dá uma ansiedade daquela 'bem boa'
Vai preparando a canção pro refrão... e destoa
Desafina, sem sorriso, sem abraço, ar de funeral

O humano, menos e menos humano fala de frieza
É tudo provisório, superficial
Olhamos pela tela, a própria natureza
Entristece o abraço devolvido sem presteza
Intimidado, pensará antes de abrir igual

Não escancare o peito
Nem deixe a chave pendurada
Pra uns, ela não vale nada
O laço é desfeito

A tristeza subiu no conceito
Trouxe poesia magoada
Sem porquê, não abraçada
Abraço ofertado, não aceito