quinta-feira, agosto 31, 2017

Discurso Grato


É com imensa satisfação
Que cumprimento estes nobres senhores
Pela sábia decisão
De preservar nossos valores
Com aval da população

Deste povo brasileiro aguerrido
Fez coro à nossa missão
Foi amplamente difundido
Revista, hashtag, televisão
Sou realmente agradecido
Pela manifestação

Foi esse nosso povo trabalhador
Que agraciamos com a reforma
Ao estudante que lutou
O ensino médio se transforma
A quem é aposentado, minha senhora, meu senhor
É com prazer que o país informa
Que é por quem tanto se planejou
O benefício que conquistou, estorna

E de estorno em estorno, um retorno
A um passado de transtorno, estorvo
Em que tudo ao em torno
Volta a ser como era, morno, retorno
E eu retorno ao retrocesso do suborno
Daquele que não aceita o visível corno
De que foi o recheio e o contorno
Para tirar da engrenagem, o torno
E novamente botar o país no forno

Não no fogo gostoso de lareira
É fogo que corrói nosso verde bandeira
Não é a evolução brasileira
Manja o inferno? Estamos à beira

Num aquecimento hostil
Mercantil, municiado com fuzil
Que expressa em ódio viril
O sentimento mais vil
Preconceito no Brasil
De raça, de credo, de classe,
De formação estudantil

Olha pro Rio
Nosso cartão postal que se esquive
Da munição do novo Steve
Entre a bala e você, pode crer,
Ela é mais livre

Camisas Guardadas

Abro a gaveta
Ainda vejo lá a camiseta
Ou melhor, as camisetas
Com o símbolo da CBF
E a cada dia me entristece
A vergonha de usá-la
De sair na rua e ostentá-la
Com suas 5 estrelas

Em campo, fizemos por merecê-las
Isso, nenhum argumento abala
O que pouca gente fala
É o sentido que ela tomou
Quando o Brasil se separou

De um lado, um partido
De outro, um ideal curtido
Ideal que usou como vestimenta
A camisa do penta
Pra tirar a presidenta
E quem mais vier, o povo enfrenta

Enfrentariam qual faziam os esquadrões
De nossos times campeões
Mas, assim como a Copa no Brasil
Marcada pelo 7 a 1, nosso escudo caiu
Não põe medo algum
A não ser pelo Rio

Lá, o medo é comum
Mas, o assunto é a camisa canarinho
Pra andar na rua, dá vergonha de usar
Mas, guardo a 10 amarela, Ronaldinho
E a 8 azul, do Tricolor Kaká

E as duas que guardo, são pelos craques
Com a bola faziam truques
Enganando os beques
Com velocidades nos piques
Nas arrancadas, nos toques
Nos rankings, os tops
Troféus, hat-tricks

As camisas dobradinhas, guardadas
Será que serão de novo usadas?
O símbolo no peito terá sentido?
Não pela CBF, essa é caso perdido

Será que nossa nota será 8 ou 10,
Igual o número da camisa?
Em condição tão imprecisa,
A média não daria 9
Não creio que tão cedo, alguém prove
Que esta nota mereça recebê-la

A não ser pelo que a mídia promove
Nosso escudo teria sequer uma
Nem uma, solitária e única estrela 

Bolt e a Linha



Foi pela TV que eu vi
Um ou dois dias já tinham passado
E todos já tinham passado
Ultrapassado
O ultra, passado
O passado ficou marcado
E dali pra frente
Seria presente

Um músculo fisgado, uma dor latente
Fez justamente naquele instante
Que todos à frente olhassem pra trás
Assim como ele pouco antes
Passava rindo dos demais
Quem viu, viu; quem não viu, não verá mais

Nunca fui fã de atletismo
E das provas de corrida
Mas, naquela cena sentida
Naquela fisgada doída
Pelo menos, uma vez na vida
Meu pensamento foi mais veloz
Que a última linha vencida

Dessa vez, não teve recorde
Medalha, troféu e o raio
Parecia sim, um raio forte
Que poderia ter tido mais sorte
Ter sido disputado no esporte
Seria retardatário

Acabou, linha cruzada
Sem medalha pra estante
A Jamaica sentiu com a gente
Não haverá prova seguinte
Uma revanche que desponte
Que no futuro, alguém pergunte
Quem foi esse Bolt?
Como se fala? Usain ou Usein?
Faz assim, como falar, tudo bem
Cite-o como o raio que encantou o Brasil
Nas Olimpíadas 2016, no Rio
Aqui ele correu, ganhou, se divertiu

De praxe, fecharia o revezamento
Simbólico momento
Recebe o bastão e parte
Fisga, repuxa, arde
E aquele ar de campeão, ali, no chão
Deixará saudade, será inspiração
Pra que a adversidade
Trombe um moleque de coragem
Que vai correr na contramão