quarta-feira, setembro 29, 2021

Óbito Também é Alta

Óbito também é Alta
Óbito é alta
Entendeu?
Óbito – alta
 
Sim, é alto o número de mortes
A sorte nos falta
Mas não é só sorte
É fruto de um golpe
De missão incauta
 
Tiram-se os lençóis
Tira-se a terra
Fecham-se paletós
Pais, tios, avós
Tira o ar e já era
 
Siglas: UTI, IML
Do leito ao luto
Do quarto aos sete
Palmos que despede
O fim absoluto
 
Respiro curto
Versos breves
Crime absurdo
Que nenhum insulto
Descreve
 
Tem nome, sobrenome e assinatura
Prevent, Senior, Bolsonaro
Essa foi a postura
Cada um pague a sepultura
Previdência é algo caro
 
Óbito também é alta
Deixar o hospital e o leito
O plano de saúde contrasta
O kit morte já não basta
Tirar o ar está no preceito
 
Já não bastasse Mandetta, Pazuelo, Teich
Queiroga e a cloroquina
Usaram a máxima do Reich
Lealdade e Obediência
Lema da ação assassina
 
Será que vivo pra vê-lo pagar?
Milhares de adeus
Mortes como alta hospitalar
Um plano sem carência pra matar
É esse povo que se diz de Deus?
 
Era, pra hoje, a Prevent estar em chamas
A sede queimando, derretendo
Seria uma calorosa vingança
A quem eles ceifaram a esperança
De uma avó se restabelecendo
 
Slogans replicados
Inclusive na crueldade
Brasil acima dos enterrados
Incinerando os cremados
Testando a humanidade
 
Nem precisa testar
Já fomos reprovados
Prontuários pra ocultar
Sem nem velórios pra chorar
Pra eles, só resultados
 
Nós perdemos
Braços que não dão mais abraços
Somos a cada dia um pouco menos
A cada dia, um pouco mais, morremos
Com tantos crimes macabros
 
Quero deixar público meu prontuário
Minha dose é a escrita frequente
Desabafo sempre que necessário
Eles mataram e nada diz o contrário
Só a corja de Jair e a Prevent

sábado, setembro 25, 2021

Quando Eu Escrevo

Quem dera eu tivesse o poder
De ser tudo o que eu escrevo
De ter vivido todas as cenas
Umas eu nem queria viver
Vivi algumas, apenas
 
Muitas vezes, é sobre dor
Algumas que vejo
Outras, a empatia me faz supor
E passar por elas, não desejo
As de amor,
Aí que eu não quero mesmo
 
Quando escrevo, eu posso olhar um casal na rua
Imaginar que são amigos, namorados
Posso criar um personagem que atua
Ou de fora, assiste calado
 
Posso ser narrador de um ato
Posso ser um terceiro
O amante,
o traído
Posso nem ser percebido
Como um mero figurante
 
Quando do papel e caneta me aposso
Se eu quiser, posso ser
O par da atriz principal da novela das nove
No meu texto eu posso
 
Posso amar, posso estar num romance
Que só um lado sofre
Posso escrever, escrever
E às vezes, o enredo não desenvolve
 
Tudo isso que eu posso, eu faço, eu verso
Quando eu escrevo, eu posso hoje
Do ontem ser o inverso
E do amanhã, ser o avesso do avesso
 
Vão se acabando as folhas
Até os cadernos
Mas, pra um poeta
O que nos pauta é o universo.

sexta-feira, setembro 24, 2021

A Esperança é a Última

Desde criança
Aprendemos um ditado
Que a última que morre
É a esperança
Crescemos repetindo
Esse aprendizado
 
Com o tempo, até perdemos um pouco
Deixamos nos levar
Porque só na frase se apegar
Cansa...
Aí a gente para e faz um repouso
Encontra um no ombro do outro
Onde se apoiar
Aí a gente avança
 
Já imaginou desistir de quem se ama
E pode estar em qualquer lugar
Podemos o mundo circular
Como quem dança ciranda
Sem nenhuma das mãos soltar
 
Trazendo na fé a frase de infância
A última que morre é a esperança
Então, eu vou procurar
Por maior que seja a desconfiança
Nós vamos achar.

Ele Na ONU Não É Nóis

Sabe quando a gente nem quer mais falar?
É esse o limite pra aceitar a derrota
Eles não querem apenas triunfar
Eles querem além da vitória
Nosso direito ao sonho e lugar
Eles querem roubar
Como a luta e história

Eles tomaram sim e falam pela gente
No espaço público, na TV, na Organização das Nações Unidas
Ele está lá, afinal, é o presidente
Pela votação (na urna eletrônica) a ele conferida
Perante o mundo, indiscriminadamente, mente
A recepção estrangeira é condizente
Ao desdém e nojo com que ele trata vidas

Em 12 minutos, mentiu, mentiu e mentiu de novo
De tão abjeto, desfilou sua arrogância
800 dólares de auxílio pro povo?
Omitiu que no Brasil a ganância
Deixa o agro (nada pop) resolver no fogo
As reações são asfixia e ânsia

Amazônia, índio, tudo por ele era extinto
Como qualquer decoro e diplomacia
Covid sufocando, ele imitando e rindo
Testemunhou que usou remédio que não servia
Falou pro mundo de cloroquina e não entendia
Porque ninguém estava seguindo
O tratamento precoce que ele vem insistindo
E a ciência séria não consentia

Não acabou por aí o pronunciamento
Disse que afastou socialismo e corrupção
Não faz ideia do que está dizendo
Envergonhando muito a nação
Milhares de mortos, quase seiscentos
Por ignorância... por ignorância, não
Por criminosa omissão

Aqui, temos outras verdades a dizer
Vacinas escassas à necessidade
Prevent Senior testou humanos pra ver
Se o Kit Covid tinha efetividade
Teve empresário que deixou a mãe morrer
Testando seu direito de escolher, sua liberdade
merecia uma estátua pra homenagear a saudade
Duvido que ele deve ter
O significado de humanidade ele nem deve conhecer

Corrupção em família, sob aplausos na cerquinha
Da turma do cercadinho, seu gado de auditório
Perante o mundo, aquela mesma ladainha
Sem ouvidos nem respeito ao falatório
Vai te restar a última linha
No seu futuro torpe e inglório

Diante do mundo, nos rebaixa
A cada frase que pronuncia
Quando descer a rampa e entregar a faixa
Vai pagar a dor que nos impelia
Aí vamos ver se encaixa
Tudo que fala de tortura, de minoria 
De toda essa porra que cê acha
Aí eu quero ver
Vai ser nóis e a tua valentia

quinta-feira, setembro 23, 2021

Ignóbil Heinze

Senador Heinze, do Rio Grande do Sul,
Já comecei com uma boa rima
Mas, como na poesia e gramática
Sempre fui nota azul
Prefiro forma mais pragmática
Educada e fina

Ele, que sempre defende cloroquina
Colocou Mia Khalifa em estudo de medicina
Também fala direto de um médico
Concorrente ao Nobel da Paz
Sabe, seu Heinze? Ignóbil, Heinze?
Sabe quem merecia o Nobel da Paz?

Aquela mãe que tem um filho preto baleado
E falam que foi bala perdida
Pra essa caberia, uma honra merecida
Se ela não pega um cano e vai pro arrebento
Essa merecia mais que o reconhecimento

Sabe quem mais?
O Nóbel ou Nobél
Poderia ser dado
A quem revida no papel
Tudo que lhe é roubado

O Nobel da Paz deveria ir pro moleque
Pr'aquela menina
Que cresce na rua, passa fome e ainda sorri
Pra essa criança que a gente vê na esquina
E não cria em si
Naturalmente uma intenção assassina

O Nobel da Paz, seu Heinze, 
Deveria ser sempre de um brasileiro
Viver no Brasil que recusa vacina
E a gente não incendiar o planalto
Com aquele sequestrador lá dentro
Que nos tomou a esperança de assalto
Só confirma

Somos muito da paz
Pacíficos, passivos e pacientes
Intubados, inconscientes
Desacordados, condescendentes
Já imaginou a gente situado
Preparado pra linha de frente
O Nobel, pode deixa quieto, tá ligado?
Eu só quero a paz pra vida da gente.

sexta-feira, setembro 17, 2021

Das Ideias Que Eu Queria Ter Tido

Fala aí, quantas vezes já viu esse tema discutido?
Pr'um compositor, sempre se questiona
Quais canções queria ter escrito

Quais versos queriam que fossem de sua autoria
Por sua mente fosse concebido
E, como um alguém da poesia, brisei nessa ideia outro dia
Das ideias que eu queria ter tido

Nesse curto instante que comecei a enumerar
Já pensei que a poesia está solta no ar
Ao alcance de qualquer um
As ideias que não pude pegar
Ocuparam a folha de algum...
Alguma compositora, poetisa
Das ideias que não consegui rabiscar
Faltou-me a vivência daquele olhar
Aquele repertório pra observar
É disso que a linha de um verso precisa

Das ideias que eu queria ter tido
Dataria em meu registro, outra década de nascido
Outro Estado ou cidade, talvez
Em vez do meu instrumento com quatro
Ter aprendido aquele mais clássico, com seis
Trocado meus calos das cordas de aço
Por nylon e timbres mais versáteis

As ideias que eu queria ter tido
Eu não poderia ter tido
O ângulo que enxergo o mar
Estaria em outro andar
Ou até por posição invertido
Ao de quem pôs-se a versar

Eu não poderia ter escrito
As coisas de um lugar
De um ambiente não vivido
Nem o que eu não acredito
Mas, o que eu não escrevi, eu repito
Eu canto, mesmo sem saber
Eu declamo, eu recito
Eu admito
Que mesmo não tendo escrito
Como eu queria ter tido
Aquela ideia pra escrever

Eu queria ter escrito a Magia Negra, do Sergio Vaz
E tantos outros poemas dele, fenomenais
E aquele que faz os versos na Fátima,
Sabe aquele rapaz? Bráulio Bessa
Das ideias que eu queria ter tido
Está aquele cordel
Se o Brasil fosse dividido
E o Nordeste ficasse independente
Eu queria ter propriedade
Junto com versatilidade
Pra falar de terra seca e quente
Como falo do frio asfalto da cidade (Não existe amor em SP...)

Eu queria ter ideias do Nei Lopes, do Chico
O Buarque, do GOG, do Brazza e Mano Brown
Ou pelo menos em um pouco dessa fonte ter bebido
Ter visto de perto, assistido
Tudo o que fazem de genial

Das ideias que eu queria ter tido
Eu tive outra
Aguçar meu ouvido
Meu faro, visão, paladar e o tato
Um por um, cada sentido
Pra que tudo que eu senti, de fato
Em cada verso, escutado ou lido
Tenha em mim assimilado, acumulado
Pra que, na próxima ideia,
Não seja mais a que eu queria
Num tempo imperfeito e passado

Será a ideia que eu tive
Que escrevi e trouxe comigo
De um pretérito, agora perfeito
Que eu trago ao presente do indicativo
Que ao me lerem, eu tenha um pouco de cada
Das ideias que eu queria ter tido

quinta-feira, setembro 16, 2021

Senta

Pra não ficar de fora
Excluído do momento
Do repetitivo movimento
Que tudo manda sentar
Resolvi participar

Ligo o rádio, batidão
E senta, senta, senta
Nem é mais só o funk pesadão
Antes era o tal proibidão
Hoje, o sertanejo, que era só modão
Já troca o "Aôôô, peããão"
Pelo senta, senta, senta

Ó, tá tudo na boa!
Quem quer sentar, que sente,
que sinta a sentada, sente à vontade

Agora, eu também vou mandar sentar

- Mas, na poesia, Machado?
Sem música, sem compasso?

Sim, da forma que eu faço
Você não vai ficar parado
Aí nesse mesmo lugar

Senta
Senta do dedo na caneta
Senta o verbo no discurso
Senta a ideia, dá a letra
Levanta e se apropria do recurso

Senta,
Senta a mão na cara
Senta a bronca em quem merece
Senta a porrada, se preciso
Em quem senta e se atreve

A sentar no lugar
Pra gente ocupar
Senta, senta o braço
Senta o risco, passa o traço
Em quem senta em nosso espaço

Esses tentam nos calar
Dão uns tiros de 'ameaço'
Muitos outros pra matar
Sentam o dedo nos nossos
Depois, sobre o crime vão sentar
Engavetam folha e corpos
E a gente sentado a olhar

Depois de tanta sentada
Senta a bica
Manda pra longe
Quem acha que define aonde
A gente vai ou fica

Senta, dá aquela estudada
Que aí, "cê" levanta e anda
Não sobra só o senta e quica