quarta-feira, dezembro 30, 2020

O Inexplicável 2020

2020 iniciou com esperanças, já que 2019 não foi lá essas coisas. Bom... era o que pensávamos. Houve quem apelou para o par de 20 para achar que tudo se alinharia e que, por qualquer afinidade numerológica, seria um ano de expectativas positivas. A cada dia, novas tecnologias, a cada ano, uma infinidade de inovações que mudam a praticidade de nossas vidas. Só que às vezes, um computador, com muita informação armazenada, simplesmente trava. Precisamos descarregá-lo de conteúdo para ele funcionar melhor com menos funções. Acredito que aconteceu algo similar com nossas vidas. Porém, de forma muito mais grave.

Nós retrocedemos e parece que esvaziamos todas as funções básicas do nosso sistema operacional. O programa de texto não reconhece mais as palavras. As planilhas começam a calcular errado. Os programas de desenhar e pintar agora trabalham só com branco e preto. Jogamos fora muito além do que precisávamos.

Surge, no Brasil, a pandemia. Junto com ela, ideias do início do século passado voltam à tona. Sabe quando você está jogando um videogame e já avançou muitas fases? Já vencemos batalhas, superamos etapas e quando já estávamos bem à frente, foi como se a luz tivesse acabado e nosso jogo, que não salvamos na memória, se perdeu. Vamos ter que começar do zero...

Em pleno ano de 2020, as vacinas viraram ponto de interrogação. Institutos renomados mundialmente, como o Butantan, tiveram que despender trabalho em se organizar para uma campanha massiva em rádio e televisão para dizer: “Olha, a gente trabalha nisso há 101 anos, o mundo confia no que a gente faz. Somos confiáveis, viu, população brasileira?”

Esse é só um dos exemplos. A internet deu voz para todos, inclusive para quem não tem o que falar. Mas, a necessidade de dizer algo é tanta que liga a câmera e vai. Só que nessa ida, leva muita gente de carona que engrossa o coro de quem nada tinha a acrescentar. A pretensão de julgar-se apto a elaborar teorias promove vozes que, sem propriedade alguma, levantam dúvidas e sugerem desconfiança. No final, isso só contribui para a incerteza e desqualificação de quem de fato deveria ser a referência e, acaba não sendo, pura e simplesmente porque a pessoa duvida e pronto. Por que duvida? Não tem um porque, só duvida mesmo. E reforça a estupidez questionando o direito que possui de duvidar.

Graças a sei lá o quê, o ano acaba amanhã. O que vai mudar? Só o 1 do dígito final. As pessoas continuarão espelhadas na ignorância. E quando digo ignorância, nesse caso, serve nos dois sentidos: o de desconhecimento e o de rispidez. Afinal, essa ignorância é o que hoje nos representa perante o mundo. Ao olhar para cá, pensam: o que será que aconteceu com aquele Brasil do povo hospitaleiro e de calor humano?

A resposta é que aquele Brasil, de fato, nunca existiu. Continuamos um país preconceituoso com a nossa própria cara. Continuamos um país hipócrita, laico, de maioria cristã e que, se for pra vir um Cristo com a imagem e semelhança de quem o diz representar aqui, segura aí, não vem, não. Continuamos um país perigoso nas ruas e em casa, principalmente para mulheres, meninas e crianças em geral. Continuamos sendo um país repleto de Bolsonaros ao nosso redor. Sim, aquele seu tio do pavê que faz piada misógina, é um deles. Aquele seu vizinho crente que bate na mulher, idem. Aquele dono de comércio com nome de santo que assedia as funcionárias ou põe o segurança em total atenção com clientes negros, também. Tudo isso é o Brasil. O país sem vacina.

Mas, em 2018, você apertou 17, táoquei? Ah, você não apertou? Então, você é da turma que falou que políticos são todos iguais e anulou? Espero que você tenha aprendido. Não acredito nisso, mas, torço. Eles não são todos iguais. E a desigualdade deles reflete na nossa. Estamos desiguais a boa parte do mundo, que começou a tentativa de salvar vidas. Ele Não.

E daí? Não ligo pra isso – disse ele. E você também, quando apertou o Confirma. Plantamos um laranjal. De lá, não se colhe maçãs.

sexta-feira, dezembro 25, 2020

Papai Noel Cientista


Não quero nem começar
Falando o número do ano
Matematicamente par
Só que ímpar o que passamos

Não passamos ainda de fato
No horóscopo chinês, é o ano do rato
Contrariando a asquerosidade do roedor
O ano do rato era pra ser a favor

Oportunidades, abundâncias e bons projetos
Nada disso, falta de humanidade,
excesso de ignorância
e permaneçam sob seus tetos

De seus lares
A quem tem onde morar
E a moral da história
É que agora
A gente ainda tenta evitar
Que o vírus nos atinja
Com máscaras como ninja
Contra a crueldade, de uma certa autoridade
Que, por mais que finja
Não esconde a vivacidade
A cada morte em larga escala

Mesmo com toda essa dor
A gente sente que ela invade
Mas, não podemos deixá-la
Se instalar com propriedade
E fazer da nossa alma
O conforto de sua sala

Precisei de muitas linhas
Pra construir um pensamento 
Com ar esperançoso
Vem uma virada de ano novo

Que o Papai Noel virou cientista
Pois, só se pede a vacina
Bicicleta, boneca, carrinho de pista
Esse ano, não tem mesmo
presente de menino e menina

O bom velhinho de vermelho
Vai ter que superar o mau
de verde e amarelo
Não adiantou conselho
Não levamos a sério
Os que usam branco
Por isso, tanta roupa preta, de luto
Mas, eu sei, e não sou só eu, não
Que junto com o bater do coração
Algo me fala de longe e eu escuto
Que a cura está na razão

Na consciência que ecoa...
ciência... ciência... ciência...
Paciência
ciência... ciência... ciência...
E ela nos prove
Que o bom som ressoa
Saiu a notícia!!!
Vacina, liberada, aprovada, pronta pra ser aplicada
Unidades médicas preparadas, abastecidas
Causa resolvida!!!
vida... vida... vida...

Fica pro Próximo

Eu me cobro escrever pra datas especiais
Natais, Ano Novo, Dia das Mães e dos Pais
Mas, quando o faço, fico sem graça
Porque cada linha que minha inspiração traça
Não são verdes e brilhantes
Verde é a cor da esperança, né?
Temo que meu verso seja frustrante
Não sou aquele otimista de fé

Meu versos desequilibram a balança
Eles enxergam tempestade
Às vezes, a quilômetros
Mas não esperam a bonança
Quando tudo passa
Espera o ferimento com a ponta de uma lança
Que crava
E tudo de melhor que isso que vier
Ótimo, pois nem esperava

Então, esse ano terrível, vinte vinte
Vai terminar, virá o vinte vinte e um
Incrível? Creio que apenas possível
Passível também de progresso nenhum

Eu comecei essa página
Com a intenção de uma boa mensagem
Sem os clichês na escala máxima
Queria dar outros votos pra passagem
Não o blá blá blá de boas festas
Tentarei no próximo poema
No próximo ano
Com menos dores manifestas

Voltar no Tempo

Quantas vezes você quis voltar no tempo?
Com esse ano terminando
2021 chegando
Eu só penso

Assumo minha descrença na humanidade
Que a pandemia ensinou compaixão
Se fala de empatia, o mundo num mudou, não
Mas, uma coisa é verdade

Quem, no ano que vem, se isso passar
Vai pensar em dizer "que saudade do passado"
Ano que vem, mesmo se fosse ofertado
Não vejo quem vai querer voltar

Vamos supor: eis aqui a máquina do tempo
Pra que ano você vai?
Pra uma memória que não sai?
Ou adiantar esse momento?

A máquina é você e o tempo é o presente
Há quem o passado é que conforta
Há quem passou e bateu a porta
E olha pro chão indiferente
Há quem com nada se importa
Tanto faz o que se apresente
Há quem já fez morrer a horta
E espera flor da tal semente

Desce a Primitiva


A Osasco que já pedalei
Que percorro em duas rodas
Tem em sua principal via
O caminho que corta
Que atravessa de São Paulo a Carapicuíba
Seja na volta ou na ida
Tudo está em volta, 
na saída da avenida
Autônomos, automóveis, Autonomistas
Automoças, se auto-vendendo, se auto-alugando
Autorizando serem conquistas

Viaduto, faculdade, shoppings, estação
Osasco é continental na sua união
A Câmara Municipal também está nessa direção
Sentido capital, lado direito da mão (e 'tá bem à direita lá dentro)
Tem o canteiro central, do outro lado o hospital
Cruzeiro é moeda antiga, não vale não

Ao lado, a Primitiva
Mais respeito
A "Dona" Primitiva Vianco
Rua que vende roupa, uns tecidos
E umas lojas de artigo santo
Tem umas lojinhas daqueles quase vencidos
Intercalando com uns bancos
Tem o Floresta, com seus históricos bailes
E pra quem toca, é o que tem por aqui como plano
Pra corda, palheta, que precise pra agora

Agora, lá no finalzinho, aí já se ouve
"Olha o Doutorzinho", "Suflair, 3 por 10"
Aquela fumaça deliciosa do churrasquinho
Caiu pra direita no farol, é mesa na calçada e barzinho

Pra esquerda, tem a estação, o bicicletário
Particularmente adoro quando ali na frente
Tem feira de artesanato, gastronomia ou stand literário
Ali também é contraditório
O quanto é precário

O guarda civil, sua viatura, sua base
Nesse mesmo ponto, fazem base
Quem anda sem base nenhuma
Quem o ponto de luz é uma ponta
Uma ponta baseada na fumaça
Que quem acende, se apaga
Apagados aos olhares de quem passa
Nunca passa dessa cena
Todo dia repete a mesma

Fardas, viaturas, uniformes, pressa, escada rolante
Trem, guarda-chuva, flores e balas
Pessoas que deixamos de enxergá-las
Em meio aos carrinhos de dog e refrigerante
Esperamos o tempo levá-las... valas
E no meio do caminho, no meio dos carrinhos, tem uma pedra
A sede e a fome que não podemos matá-las.

Amar Sem Lógica

Amar é fazer o que a lógica não explica
Você vai lá, e quando viu, já fez
Você pega todas suas regras metódicas
E rabisca
E o mais impressionante, você se contraria outra vez

Você se descobre, nem sei se descobrir é a palavra
Mas, você tira o que te acoberta
Aí sim, de cara exposta, aberta
Se destrava

Tira travas, cadeados
Do coração com correntes
Não enxerga concorrentes
Fica acelerado

É contraditório
Ele acelera com quem nos traz paz
Ele simplesmente só bate
Nada sente
Com quem a gente
Quer nada mais


terça-feira, dezembro 22, 2020

Rio de Dezembro

Faz mais de uma semana que voltei
Ainda não me debrucei
Ou melhor, não tinha me debruçado
Pra escrever o Rio

O Rio já tão declamado
Não há linha que eu possa puxar o fio
Que ninguém tenha falado
E começando pela fala, o "S" chiado e o "I" dobrado

Nunca perceberam o "I"?
Pede pro carioca falar Rio
O segundo "I" é meio tonzinho pra baixo
RIiO
E bota i no meixmo, eixtra, e por aí vai...

E lá, por onde você vai
É alertado, uma tensão do carai
Retorna de ré, fica abaixado

O Rio com suas praias
Não senti o mar salgado
O Rio de shorts e saias
De um calor exagerado

E sabe qual foi o maior exagero?
A maior discrepância?
Foi ver um morro equilibrado
Por esperança

E abençoado por uma igreja
Ali, quem mora, teme a tempestade
Ali quem prega, já conhece a bonança

Não sei se é mármore que fala
Mas, a fachada, por si só já fala
Não vou lembrar o nome
Mas, era letra por letra separada
Estilosamente fixado
Aço fosco, escovado

Luxuosa, a ponto de eu nem duvidar
Se me falassem que era o portal do céu
Bastava olhar
O que pra uns era lar
Ou o que era o caminho fiel
Não parecia difícil a escolha
Por qual iria andar
10% de dúvida cruel

Pouco à frente, já na curva
Perguntei o nome daquele morro
Pra fazer jus à referência no meu verso

"Não tem nome, não, ali foi invasão, ocupação"
Meu pensamento sempre em processo
Já pensou: 
se nem o local mereceu um endereço, uma localização
Imagina o cidadão que ali se alojou

E logo na entrada de outro morro
Chamou minha atenção
O armamento pesado, empunhado
Preparado pela corporação

Para que, em qualquer situação,
Estivesse engatilhado
Sobre rodas ou pé no chão
No banco de trás da viatura
Corpo na postura e arma na mão

Rodamos Mangueira, Vila Isabel,
Maracanã, Cacique de Ramos
Do Cristo, passei perto, olhei pro céu
Era tanta neblina que nem enxergamos

Pense numa fumaça
Que conforme a tarde passa
E o breu vem chegando
Foi melhor voltar pra casa
Na Ilha do Witzel, afastado como tantos

O Rio, às vezes, é de lágrimas
Da violência de cenas trágicas
Mas, também é de emoções, como o carnaval
Quando é ainda mais atração mundial
Pela Sapucaí e suas mágicas

Magias, encantos, efeitos especiais
Belezas esculturais
Em corpos humanos
Em construções naturais

O Rio de Janeiro, do samba, da Lapa
Do futebol, tema que não escapa
De Zico, Garrincha, Edmundo e Romário

De camisas da escola
Tanto quanto as de time
São tantas peculiaridades
Que mesmo com tantas obras
Esse poema (e mais outro, e mais outro e mais outro...)
Todos seriam necessários
Porque pra um Rio, não há palavra que exprime
E expresse ou resuma o que traz o mundo inteiro
É pelo calor do ser brasileiro?
Não creio...
Pelo menos que seja só isso, nem a bossa
Nem aquele abraço, nem as Águas de Março
Que tudo isso é muito cosa nostra

As águas desse Rio não são
Nem de janeiro, nem de março
O Rio de Janeiro continua lindo
O Rio de Janeiro continua sendo
Miliciano e desigual  
Estou escrevendo em dezembro
De um próximo ano 
com fevereiro sem carnaval

O Primeiro e o Último "Eu Te Amo"

O primeiro "Eu te Amo" é mais fácil de dizer
Que o último
O primeiro, você ensaia, se prepara,
Se preocupa...

Será que 'tá' na hora?
Por maior a ansiedade que aflora
De repente, você dispara
E quem ouve, de repente, chora,
Não esperava

Agora, o último não tem ensaio
Não tem preparo
É quase um 'desculpa'
Porque ele nem ocupa a memória
Você percebe que ao longo da história
Não quer mais dizer

E não diz
Já foi dito
E se comparar o último com o primeiro
Só último "Eu te Amo" é infinito

Meu Xará Maradona


Yo no soy argentino
Sou Brasileiro, o maior rival
Mas, desde menino
Recebi o nome Diego e não foi casual

Diego Armando Maradona Franco
Só 60 anos e fim
Francamente, o 10 de azul e branco
Não termina assim

Diego, sempre Armando jogadas
Armando é amado, incondicionalmente
Além do gol, posições declaradas
Maradona foi Maradona pelo sangue quente

Por vários tons de azul é lembrado
Pelo branco também
Somente seu camarote iluminado
Na Bombonera agora, sempre faltará alguém

Genial com a bola, muitos são
Não a ponto de seu povo chamá-lo de Deus
E à sua despedida, estendemos a mão
Aquela mão que pôs fé até nos ateus

Eu só via a história no VT
Argentinos Juniors, Boca, Napoli, Barcelona
Hoje, um outro argentino é o E.T.
Na mesma Catalunha que desfilou Maradona

Não se discute quem é maior
Entre Dios e Rei, não é isso que entra em pauta
Pelé, pra alguns, até Mané
Foram maiores com a bola no pé
Mas, olha, ter um ídolo de uma nação,
Com opinião
Como faz falta...

Por falar em falta
Ele cobrava e guardava
O que lhe faltava de estatura
Sobrava na postura
Certamente, há quem discordava
Mas, sabendo o que ele pensava

O que deixou Dieguito
Foi em campo e foi bonito
Foi pra sempre, pros nossos vizinhos
Nossos maiores rivais
Em 86, sagrou os argentinos bimundiais

Dieguito parte deste plano
Deu os 90 minutos, apito final
Dieguito arte, craque hermano
Absoluto, fenomenal

Dieguito, 10 na camisa
Azul
Com amarelo
Com branco
Celeste
Tudo harmoniza

Letras brancas verticais
Somente o número 10 atrás
A vida realmente é um sopro
Estão morrendo até os imortais

sexta-feira, novembro 20, 2020

Preço da Promoção

Tem no mercado com a letra "S"

Sabonete, suco, sal, sangue

Tem no mercado com a letra "R"

Repolho, ralador, racismo, refrigerante


Já é um item comum, nem precisa procurar na prateleira

Está pelos corredores, no produto que corre a esteira

A carne mais barata também é a mais sangrenta

Preparada no soco, ela esfria, não esquenta


João Alberto Silveira Freitas, 40 anos

É preciso deixar o nome registrado

Hoje é 20 de novembro

Pra alguns, aquele papo de consciência dos humanos

Deixa esse negócio de racismo de lado

Que ele será esquecido e apagado


Carrefour, que ideia de promoção

Um dia antes da Consciência Negra

Estão em tudo quanto é mídia

Tempo de televisão

Sem gastar um centavo

O preço por tamanha divulgação?

1 João. 

sexta-feira, novembro 13, 2020

Eis Você

 Ô cara de pau, 
Você ainda não entendeu
O que está acontecendo no Brasil
O tal gigante não acordou
Tá mais que dopado, se drogou
O ódio ebuliu

A cada absurdo daquele boçal
Que você, mesmo que anulou, elegeu
Tem destruído o pouco que se construiu
Tá aí o desmanche que você optou
Tem quem reconheceu que errou
Mas tem quem se orgulha do que conseguiu

Peçam que eu não seja radical
"Tem gente que, por protesto, escolheu"
Peraí, quer que eu releve quem quis bala e fuzil
Sendo que os alvos são os "meus"?

Não digo que confio no que acusa o Jornal
O nível de crueldade não surpreendeu
Era tudo previsto, sim, você contribuiu
Por favor, não venha dizer que se enganou
A Amazônia, o Pantanal, tudo incendiou
Seu voto no táoquei, tudo isso consentiu

Ele avisou que acabaria com ONG de cunho ambiental
E olhem, que surpresa, adivinha o que aconteceu
O tal posto Ipiranga brochou e o PIB não subiu
O dólar que ia cair na metade, já quase dobrou
Diz a plenos pulmões que com a corrupção acabou
E na conta da Michele, Queiroz pôs 89 mil

Vou rasgar o ECA, em nome da fé cristã e moral
Livros que tratavam de ditadura, esses, já recolheu
Vamos reensinar que a repressão nunca existiu
Foi demitido quem discordou
Na Saúde,  numa pandemia, trocou e de novo trocou
Quem não quis a Cloroquina que pro Trump pediu 

Como se não bastasse, essa doença mundial
Propagou mentiras, como as que o elegeu
A medicina desmereceu e a população confundiu
O genocídio do "E daí" de terra das covas, a mão sujou
Enganado quem pensa que as mãos lavou
Seu tanto faz, tudo isso permitiu

Moralidade, família tradicional, um laranjal
Milícia representada com seu voto, não o meu
Moro e sua justiça que logo desistiu
É aquilo que você no fundo, e nem tão fundo, sonhou
Brasil, mostra tua cara. Atendendo a pedidos, mostrou
Bolsonaro e sua corja é você no espelho mais vil

Só não tinha coragem de dizer
Achou quem falasse por você
Quis alguém que o refletisse no poder
A mim, dá nojo. A ti, a imagem do seu ser

quinta-feira, novembro 12, 2020

Sempre em Seu Abraço

Já te abracei
E nesses segundos
Cheguei a crer
Que o chão não era asfalto e cimento
Era tudo algodão e nada cinzento

A cidade nem era tão urbana
Tinha um quê de ingenuidade
Bem de interior
Era justa e humana
Tinha sua identidade

Mais linda, mais cor
E ainda no abraço
Quando seus cabelos em mim encostaram
Em meus ombros repousaram

Percebi que os movimentos que faziam
Em alguns sonhos me acordaram
Pude acarinhá-los quando dormiam
Sonhei que pude pausar o mundo

Se eu pudesse de fato
Sim, eu o faria
Somente quando de novo te encontrasse
Nesse instante que eu te abraçasse, eu pausaria

Nessa hora, eu pediria que o controle quebrasse
Por mim, ele só funcionaria
Se seus braços do meu desatasse 
Pra que eu rebobinasse, recomeçasse

Pra ter final feliz
Pra sempre, boa noite, 
Pra sempre, bom dia.

quarta-feira, novembro 11, 2020

Depois Que a Gente Vai

Depois que a gente vai
Ainda virão Natais
Revéillons, páscoas, feriados
Aniversários, não mais

Os nossos, não, só lembrados
Mas, sem as festas
Sem aqueles salgadinhos habituais
Sem bolos, adorava os gelados
aqueles no papel alumínio 
Todo embrulhado

Ou aquele que comia de manhã
Que pega na geladeira
Depois de ter a noite, numa prateleira fria repousado
Passaram... os parabéns com nosso nome no final
Não será mais cantado

Nem ouviremos mais: "muitos anos de vida"
Pois quando a vela da nossa vida apagou
O bolo se repartiu
Sempre terá um que se refastelou
Pegou um pedaço e outro e outro e repetiu

Quando nossa festa termina
Outras ocupam a agenda
A saudade do que a gente foi se destina
A uma lembrança 
A dor com o tempo assenta

Coloca no coração como um presente
Não aqueles com papel e laço 
O presente foi o passado
O convívio, o que aprendemos
O que trocamos, o último abraço

Depois que a gente vai
Ainda trocarão chocolates na Páscoa
Romantismo no Dia dos Namorados
Talvez se lembrarão no dia do seu aniversário 

A vida vai seguir e os presentes que gostava
Serão apenas rosas e vasos
Urnas e memórias cinzas
O fim no começo de novembro
Finados

Sinto

A gente não pode ser
de jeito algum
A gente não tem nada a ver
Talvez algum gosto em comum

Prefiro escrever que dizer
Pois não saberia falar
Você nunca, nunca iria me ver
Não seria capaz de enxergar

Quando meu olhar não encontra o seu
Cala algumas coisas que eu nem posso acreditar
Ele prefere assim, pois pra que falaria
Se não vê o desejo meu
Algo que em voz alta eu jamais ousaria
Será que em meu silêncio me ouviria?

Eu sinto você no ar, mesmo distante
Flutuo buscando encontrar seu perfume
A distância não é infinita, só o bastante
Pra olhar na janela tornar-se um costume

Vê-la na lua crescente, tê-la, uma esperança minguante
Sob o breu da lua nova, não se assume
Brilha como a fase cheia, excitante

E tanto que meu verso não resume
Não reúne condições de sua voz não inebriar
O som harmoniza no ouvido
Melodias e refrões que levam a te achar
Em mim, dão e fazem sentido
E eu sinto... 
Que jamais a sentirei

sábado, agosto 08, 2020

Corações

Corações sofrem
Todos, isso é fato
Alguns por afeto
Alguns são aflitos
Por alguns tão nefastos

Alguns por paixões
Amorosas, viciantes
Algumas ressentem
Nem é coisa de ontem
São passados distantes

O coração tem suas funções
Manter-nos vivos e matar a cada dia
O morrer diário atordoa
A cada meia noite se habitua
A naturalizar melancolia

Não reage
Corações são feitos pra sofrer
Por razões que não se explicam
Mesmo que todas as vozes digam
Ele não sabe obedecer

sexta-feira, agosto 07, 2020

Sua Entrega de Racismo Chegou!

Não é coincidência
Nem lapso de inconsciência
É isso mesmo, assim que a banda toca
E toca alto saiu da toca
Toca na rua, condomínios, avenidas
A banda toca as notas que ficavam escondidas

Dó, ré, ra-cismo
Dó, ré, pré-conceito
Dó, ré, mi-soginia
Dó, ré, mi, fa, fobia

Fobia seria medo, mas, é ódio
E esse ódio está na cara
E no resto da pele
Por mais que pra respirar se apele
Que a internet cancele
Isso não para

Assim como o relógio bacana que o Matheus comprou
E em poucas voltas do ponteiro do segundo
O mundo girou e ele foi encurralado
Pelo racismo, cercado, humilhado
Queria que esse relógio pudesse voltar ao passado
Uns minutos atrasado
Nada disso ter acontecido

Atraso é palavra que pesa no vocabulário
e salário do Mateus entregador
Como o racismo não vê cara, mas, vê cor
Outro Matheus, também entregador, viu um racista se impor
O racista também era Matheus, só que contador

Aos 2 Matheus, sua entrega de racismo chegou!
Contou vantagem, que o entregador teria inveja, 
De sua casa, de sua pele, de sua grana.
Não se engane, não se inveja o que se enoja

Uma dose de Surto

Chuta, quebra tudo
Bota 'pa fudê'
Enche uma dose de cana
Abastece o surto
A ponto de querer morrer

E matar até quem ama
O ódio nem parece absurdo
Absurdo é fingir viver
Enquanto tudo em volta sangra

quinta-feira, julho 30, 2020

Minha Sombra

Reencontrei minha sombra
Deitada, um vulto, um luto
Por desistir da luta
Minha alma, por mais que se esconda
Dominou meu lado mais oculto
Desculpa
No lençol que meu corpo repousa
Fechou minha respiração de modo abrupto
A falta do ar me tirou do inferno
Desconheço o destino da fuga

quarta-feira, julho 29, 2020

Matérias

Não sei se é química
a razão do meu desequilíbrio
Sei que não é história
Minha confusão geográfica
É complexa como a gramática

Todas as formas geométricas
Precisam da matemática
Talvez, por isso, nada se encaixa
Se bate, como calcula a física
Tempo, distância e velocidade

Eu sempre lento nas contas
Preferi palavras, sociedade
Passando sempre nas pontas... dos cascos
Ia na média
Às vezes, vermelho
Antes, se buscava enciclopédia
Hoje, nas mãos, um aparelho

O Google não tem respostas
Nem com todo vocabulário
Não se lê no dicionário
Se a vida der as costas,
o que se pode fazer?

As notas ainda são baixas
Saíram do boletim pra conta
Todo mês, o imposto desconta

A semelhança entre os cadernos e a vida
Está no espiral que nos traz a lição
A diferença? Pensa hoje
Qual sua chance de recuperação?

terça-feira, julho 28, 2020

Choro Vingado

Homem não chora
Chora sim, ô se chora
Chorei quase agora há pouco
No outro dia e naquele outro também

O homem que chora
Tem uma dor que berra
Por dentro, já ficou rouco
Voz acaba, lágrima vem

Chorar não é nem de longe fraqueza
É materializar emoção
É de um sentimento fazer água salgada
Marejar a visão

Homem chora e eu sou desses
Choro numa canção, numa cena
Numa poesia, numa saudade
Choro escrevendo frases

E às vezes, escrevo frases pra chorar palavras
Porque palavras me fazem chorar
Sinto-me vingado
Quando choro, não sei quando vou parar

Já quando me ponho a escrever
O poder está do meu lado
Em quantas linhas, ideias e versos
Faço o meu desabafo
Eu decido, ponho ponto final
E caso encerrado.

segunda-feira, julho 27, 2020

Atrás da Máscara

Por trás daquela máscara
Não sei o que havia
O olhar não contava
Se atrás do pano, sorria

Por trás daquelas máscaras
Havia gente de todo jeito
Havia gente bem triste
De luto, em respeito

Por trás da máscara
Há gente que nem é tão gente
A máscara é um mero detalhe
Que só se esconde a frente

Por trás de cada máscara
Há uma vida cercada de vidas
Que máscaras não escondem
Lágrimas escorridas

Por trás da máscaras
Há um trabalhador comum
Que tenta proteger a casa
Reparte pra cada um

Por trás daquela máscara
A moça negra passava o café na padaria
Além da máscara, a fumaça
O rosto dela escondia

Retira-se a máscara
Um gole no café da moça que não vi o rosto
Tem tanta máscara com sorriso estampado
E acima, no olhar, vejo tamanho desgosto

domingo, julho 26, 2020

Reflexão: Vaticano

O Vaticano apresentou manual para se combater a pedofilia nas igrejas. 
Leia essa frase 5x em voz alta que já vai entender o quanto é absurda.

Padres e líderes precisaram se reunir para elaborar um manual de como combater os crimes de pedofilia. Uma pergunta aqui (de boa mesmo, despretensiosa): não era só o padre ser padre, com aquele negócio de não transar com ninguém e muito menos com criança?


(notícia de uns dias atrás)

sexta-feira, julho 24, 2020

Chamada Recíproca

Se você tem alguém nessa vida
A quem ligar pra dizer "FODEU"
E esse alguém terá a chamada atendida
Pra pedir socorro pro que aconteceu

Sim, você tem um amigo
Recíprocos ombros e ouvidos
Talvez o laço mais antigo
Que é permitido, escolhido
Que esse mundo conheceu

quinta-feira, julho 23, 2020

Ponto Final do Ônibus

Sim, eu já pensei em por um fim
Covardia ou coragem?
Tanto faz o que os outros falassem
Eu já quis que fosse assim

Uma cápsula colorida pra virar cinza
A se espalhar em um jardim
Da última vez, esperei um ônibus
Que quando chegasse, ao ponto final me levasse
Passasse por cima de mim

quarta-feira, julho 22, 2020

Reação

A vida provoca reação
Remédio provoca reação
Tudo que nos provoca reação
Tira nossos pés de onde estão
Para onde nos levam
Não há prévia direção
Só vamos, sabendo que somente chorar
Não é simples omissão
A bula previa
Que a empatia poderia virar apatia
Comprimidos
Comprimida minha reação.

terça-feira, julho 21, 2020

Triste Sol

Hoje eu só tô querendo chorar
Só que as lágrimas me faltam
Não sei se secaram
Não sei se acabaram
Aos olhos, desfalcam

Eu até tentei, parei pra tocar
Só que as notas não se encaixam
As cordas desafinaram
Os acordes se destoaram
Meus tristes olhos se abaixam

Tem dias que tudo parece bem
Bem, no sentido de sob controle
Definitivamente, esse dia não é hoje
Em que a angústia beira a porcentagem 100

Quase 100 também para a agonia
Que se instala fácil como um aplicativo
O pior não é entender o motivo
Mas, sentir o que ela propicia

Queria que uma vez nessa pandemia
Do nada, chegasse uma intensa felicidade
Que ela viesse com a mesma voltagem de energia
Com a mesma coragem e valentia

Que a tristeza tão covarde
Pega no momento à toa de fragilidade
Ah, se a felicidade fosse verdade, realidade
Não só uma tempestade e que logo o sol viria
O triste sol que faz amanhecer cada triste dia.

quinta-feira, junho 11, 2020

Não me peça Toalha

Precisou o mundo parar pra você perceber
Que não há empatia no mundo real
Só #SomosTodos no virtual
E ainda assim, não vai entender
Que um “E Daí” com tanta gente a sofrer
Não pode ser frase presidencial

É imoral, inescrupuloso, digno de nojo
Mas, não... é algo avisado, previsto
O abismo foi anunciado e tem registro
“Podia ter matado 30 mil”
E olha que ele falava de ditadura
O vírus gripezinha já machuca o Brasil
E quem foi lá, gritar, se aglomerar
Tinha como figura peculiar o Paulo Cintura

Saúde é o que interessa, dizia o bordão
Nada disso, é a economia, disse o Bozão
E com isso, não se economiza em caixão
Em vala, em descaso, em omissão
Enterram-se corpos, dados e informação

Isso já é ditadura,
Essa era a desculpa
Que na época dos generais, não havia roubalheira
Corrupção, falcatrua, sacanagem
Havia sim, em forma de opressão e tortura
A qualquer reportagem

Os hospitais, sem novidade, sem condições
O recurso nessa área é do Estado
Como está seu histórico de votações?
Aqui, São Paulo, está sempre o tucanato
Há algumas gerações

E o ônibus? Devido, a pandemia,
só pode todo mundo sentado
Isso devia ser todo dia, todo dia
Eu não deveria ficar espantado

E o que mais me agonia
É quem pede que eu releve quem votou 17
Ou até quem anulou naquele dia
Como disse Brecht, lavou as mãos na bacia de sangue
Não venha me pedir pra pegar a toalha
Pra ajudar a secar
Você, no fundo quer que eu também sangre
Eu disse que eu seria o alvo
Que os meus seriam o alvo
Você só dizia que eu exagerava
Sabe o Ninguém solta a mão de ninguém
Que você ironizava
Eu continuo com a mão grudada aos meus
E os meus, não levaram tudo aquilo na piada.

domingo, junho 07, 2020

Dor Ímpar (Miguel)

Era uma vez um menino
Resolvi começar esses versos
como as histórias que ouvimos,
éramos pequeninos,
nossos pensamentos eram dispersos, viajávamos nos contos infantis
Mas, hoje, o meu "era uma vez"
não tem nada de final feliz
Tem dor, perda, tristeza e descaso,
um prédio de cenário
e uma omissa atriz

Era uma vez um menino
Era mesmo, não é mais,
ele deixou a história, saiu desse livro
virou números banais
Ele ficou na capa dos impressos
mas sua capa não é capaz
o tempo não tem retrocesso
não dá para correr para trás
nem nos sonhos pode voar
Agora então, jamais
se ele pudesse, eu daria ao "Era Uma Vez", mais opções de finais

Mirtes, a mãe, chora
Ela estava a passear lá fora
com o cão ou os cães da senhora
primeira-dama,
que se encarregou de Miguel
Pois, em isolamento, seus cães precisavam passear
e se é para alguém se arriscar
Mirtes, vai lá, esse é o seu papel

Miguel entrou no elevador 5 anos,
a porta abriu no sétimo andar
ele decidiu ficar
o elevador subiu, a porta abriu
no nono, ele saiu
e por uma janela quis olhar
não se sabe se de lá, a mãe ele viu,
desequilibrou e caiu
5 anos, 7⁰ e 9⁰ andar, 35 metros
tudo ímpar,
como essa dor que não tem par

sexta-feira, junho 05, 2020

Debates Atuais


Ligo a TV, o rádio, leio portais
Debate-se se militares podem tomar o poder por caminhos legais
Entra uma vinheta da programação
E a próxima pauta é racismo
Deputados eleitos chamam atos contrários de terrorismo
Uma publicidade corta a tela ao meio
Vamos falar agora da pandemia e dos números de mortes?
O presidente diz que lamenta, mas o destino está na sorte

Acaba um jornal, começa outro informativo
Esperança, a ciência estuda a eficácia de uma nova vacina
O presidente especialista em porra nenhuma, receita a cloroquina
Boletim Esportivo
Clubes debatem se voltam aos treinos e ensaiam retorno aos gramados
É gol contra atrás de gol contra, estamos cada vez mais rebaixados

Fake News

Notícia falsa e difamatória é liberdade de expressão?
Isso parece óbvio como o Gabinete dos robôs e do ódio
Mas, sim, em 2020, é um tema em discussão

Aliás, discute-se de que lado o nazismo era
Se a Terra é plana ou uma esfera
Discute-se levar em conta quem domina a medicina

Estamos no 3º ministro da Saúde, agora um general
E tem gente que pondera...

Laranjal, Queiroz, notas altas de gasolina
Avião com 39 quilos. Quem leva 39 quilos de cocaína?
Ou são 40 ou são 50, discute aí e me dá uma tubaína.

Semana Tudo Menos Negra

Que semaninha filha da puta
Alguns diriam que são negros tempos
Nesta semana, os negros estiveram no topo
Mas, como sempre, de sofrimento

Começamos a semana, com a repercussão mundial
Daquele policial, que matou George Floyd,
por pura questão racial
Ele foi sufocado, cara no chão, rosto esmagado
Joelho pressionado, apagado
Uma pele escura em pleno claro dia
E assim que amanheceu, volta à pauta a pandemia

Às famílias de sentimento enlutado
O presidente diz: lamento é o destino
Lamentamos a sua existência, cretino
Muitas dessas mortes, você é o culpado

As pessoas foram às ruas pelo americano assassinado
Aqui, João Pedro há alguns dias, dentro de casa, foi baleado
Não houve nada nem parecido
Até porque aqui quem se opõe ao fascismo implantado
Vira alvo de Douglas Garcia, um deputado
Que listou quem deve ser perseguido

Sim, ele foi às redes sociais e pediu indicações de antifascistas declarados
Pediu aos seguidores, endereço, nome e fotos para serem fichados
Assim claramente?
Sim, claramente, desse jeito.
Deu o e-mail e pediu que listassem aqueles que discordassem
Aqueles que se posicionassem contra o livre preconceito.

Esta semana, ainda teve Sergio Camargo,
Escancarou seu lado capitão do mato
Vagabundos, escória maldita
Se você falar para qualquer cidadão do mundo
Que esse arrombado é o presidente da Fundação Zumbi
Aposto que ninguém acredita
Mas, não me espanta ele estar colocado ali
É a pessoa certa pra missão ser cumprida

Nas redes, hashtags e fotos de tela preta
Que falta fez uma tela
Mais uma criança preta, menos uma criança preta
O filho da empregada, Mirtes Renata

Ela saiu para passear com os cachorros da patroa
Sari Corte Real, esposa do prefeito de Tamandaré,
Nada vai sarar, a dor muito além do real,
que só ela sabe qual é
5 anos, nono andar, uma janela que deu pé
E ele de lá se pendurou
Quem devia não viu, a preocupação dispensada ao seu cão não retribuiu
Mais um luto
Mais um luto negro, que essa mãe desabafou

Se fosse ela a culpada pela criança que caiu,
Sua foto estaria estampada em todos os canais, jornais,
Na putaquepariu,
Mas, como foi com o filho dela,
A polícia não confirma a identidade da empregadora
E a fiança foi 20 mil
Agora fala: a Mirtes mentiu?

E ainda vai começar a sexta, ainda nem sextou
Nem sabadou
E deu tempo de jovens brancos racistas
Zombarem da morte
Fotos se espalharem com a nova brincadeira virtual
Reproduzir a cena do policial Derek Chauvin
Fizeram isso mesmo? Sim. Desse jeitinho que eu tô falando, assim.

Desafio George Floyd, mas com nome em inglês
Pra inglês ver os posts oportunistas
Que como se diz na rede, posta querendo biscoito
Mas, no fundo, ou melhor, no raso mesmo
Não passa de um bosta que apertou 17
ou lavou as mãos na bacia de sangue
Eu sei o que fez em 2018.

Eu sei quem é de fato antirrascista
Eu sei quem é de fato antifascista
Eu também tenho a minha lista

terça-feira, junho 02, 2020

De Joelhos





Geralmente cabeças ficam acima do joelho
Nesse caso, ficou bem embaixo
Ao ponto de nenhum apelo
Parar o esculacho

“Eu não posso respirar”
Vendo a cena, não sei quem pode
Não pôde o George Floyd
E o João Pedro, onde está?

Aqui, foi João Pedro, Ágata e outras várias
80 tiros num carro
Justificativas primárias
Aos corpos, um escarro
Um escárnio

Derek Chauvin matou ajoelhado
Não adiantou súplica
De joelho, Deus, também é pecado?
Ao lado da viatura, uma morte acústica

Só a voz sem amplificar
Depois virou mídia e correu mundo
Sem mãos ao alto
Não era um assalto
Era um asfalto,
Uma cabeça e um joelho
O joelho de um branco
A cabeça de um preto

Tudo isso a cores
Em mortes de guerra, usamos vermelho
Que cor se usa pra asfixia por joelho?
Uma farda? Por lá, o traje é preto.
Luto?

Não sei se os Estados
Estão realmente Unidos
Mas, as ruas denunciam, se revoltam
No Brasil, é frescura racismo
Fascistas aqui, policiais escoltam
Nas redes, mimimi ou coitadismo
Não me omito: #VidasNegrasImportam

O racista no jornal virou supremacista branco
Vamos chamar só de racista que todo mundo entende?
Infelizmente
Melhor seria se ninguém tivesse ideia do que estou falando

Mas, tem.
Ninguém pode pisar-te ao ponto
De abaixar seu olhar
Pra que um joelho ou uma sola
Fique acima do seu pensar

Sim, o asfalto esfola
A nota preta dá desconto
A pele preta, o encontro
Do preconceito e uma pistola

No dicionário, alvo é branco
Pra polícia, é preto
Não só em Mineápolis, Minesota

E notícia de última hora

Teve choque pra abordagem
Não é só pré, é conceito
Os racistas estão de passagem
Passando... e passando
É preciso parar
Ruas, avenidas, é preciso falar
Racistas estão se armando,
Amando ver isso multiplicar
Se nesse estado de ódio ficam unidos
Já sabemos o que, pra quem e que cor vai dar

quinta-feira, maio 21, 2020

Canções e Versos de Amor


O Compositor
O poeta
O escritor
O contador

Eles são as marginais de uma metrópole
As vias de caminhões pesados
E de motos velozes
Eles são a fiação da energia
Que recarrega seus Androids e Ipods
Que mantêm sua geladeira fria
Da lata, o primeiro gole
O combustível que move

Uma palavra bem colocada
Um acorde bem arpejado
Faz o cupido acertar a flechada
Traduz a dor de um amor acabado

Eu assumo que ainda reluto
Falar de romantismo, de casais
Considero-me um ignorante absoluto
Nesse tema, incapaz
As palavras de mim, parecem falsas
Não soam reais

E as canções?
Essa é minha música, aquela é a nossa...
Enquanto percorre a extensão do seu rádio de frequência modulada
Um mundo de notas
Num segundo são cantadas
Timbres, tons
Pelo locutor
Anunciadas, desanunciadas,
Dedicadas

Tem horas, parece que está falando da gente
Popular, então, muito da gente,
Quem escreve, canta, toca, dança, é da gente

A sua vida amorosa pode chorar de saudade, de tristeza
Pode se identificar
Pode se espelhar na beleza
E a lágrima molhar
Seja uma moda sertaneja
Uma lua de mel em Veneza
Um violão e aquela canção pra todo mundo cantar
A mim agrada mais um banjo oco, seco, sem muito ressoar
Um surdo ou só um repique de mão
Mais um pandeiro pra percussão,
Mesmo no fundo vazio de um bar.

Uma Medalha e um Porta-Retrato

Perto do Dia das Mães, ano passado
Te dei uma medalha e um porta-retrato
Ainda está na sua estante
Mas, não está o mais importante
O significado

Aquela manhã de domingo
Eu levantei cedinho e corri 10K
Pra que, no final,
Eu pudesse fazer um vídeo e te mandar
Pra que você pudesse se orgulhar

Se estivesse aqui, de corpo presente
Certamente me desmentiria
Que nada disso precisava
Pra ter orgulho do seu mais velho
O seu mais velho sabe que você se orgulhava

Mãe, te peço desculpas se não me encaixava
Se minha chatice sempre interrogativa,
Questionadora, tanto importunava
Sim, sei disso, tenho consciência,
Só não sei se consigo e quero mudar

Você me ensinou que palavra não se dobrava
E o combinado precisava pagar
Recentemente, minha outra mãe foi te ver
A sua... e nunca mais voltou

Uma coisa eu posso dizer
Você dá o que aprendeu receber
Mãe e vó, entre nós, amor nunca faltou.