sexta-feira, abril 27, 2012

Ondas do Jequi


Nos pés que se vão, a sandália de couro
Feita a mão, com mãos desta terra
Onde a cultura, um conhecido tesouro
Espalha-se nos palcos, na voz do poeta

Araçuaí, Jequitinhonha, Vale, Minas,
Na ausência do sal nas ondas, o suor
Muitos preferem a seca nas rimas
Prefiro falar do aconchego ao redor

Do café e biscoito sempre à mesa
Das expressões, do requeijão
Da cachaça e da esperteza, uai
Da calorosa e que calor na recepção

A estrada estará lá quando eu voltar
As ondas que estive, talvez flutuem
Boas lembranças que levo, espero deixar
Nosso futuro? Que nossos destinos atuem.

quinta-feira, abril 05, 2012

Invasão

Cala a boca, não perguntei se você quer
Não me interessa o que você gosta ou não
Fica quieto, senta todo mundo no sofá
Eu que mando; você não tem opinião

Que parte do cala a boca você não entendeu?
Acabou seu direito, sua liberdade
Tomei a propriedade, agora tudo é meu
Você vai agir contra a vontade
Quem manda aqui sou eu

Vontade? Que ironia...
Esse direito você não tem mais
Já te prendo em janelas e celas por insegurança
Tirei o direito ao seu filho de poder ser criança

Já era seu direito de abrir a porta
Eu invado mesmo, arrombo a fechadura
e seus miolos; sem direito à defesa
Como uma inofensiva presa, seus direitos violo
Devoro

Junto meu charme mais esbelto, mais atraente
Com sua fragilidade, você tão carente
Eu domino facilmente
Abuso da sua pouca consciência, da sua nula combatividade

Empurro todo meu lixo
Na sua goela abaixo
E você mastiga... com o tempo, saboreia
Digere e engole

Ao dividir o prato com a prole
Acostuma-se ao sabor e se delicia
Nem mais te agonia, pede outro gole

A mesa em minha frente
Hipnótica visão, reflexão
e a revolta se volta em calmaria
Em mais uma tragédia que se noticia
Você assiste o que transmite
Não resiste
E nas infinitas cores que não refletem,
não se vê.

Lápis por tinta

Ouve-se um choro; mais um
Nada anormal, muito comum
Natural, em toda a vida
Da saudade da mãe à juventude perdida
Da dor de crescer, da palavra sentida

Desse choro, desses olhos, dessas lágrimas
Nascem versos, rimas, páginas,
O ‘beabá’, as expressões, as emoções
Neste caderno, desde as letrinhas do cabeçalho
Escritas a lápis e com borrões

Faço dele um diário
Repleto de sonhos e pretensões
E tal qual o enunciado
Enfrento o mesmo questionário
E desenho as opções

Bombeiro, polícia, cantor ou boleiro
Qual garoto não teve esse ideal?
Assim como o choro normal
Não sou o único, nem primeiro

Primeiro, toda a criança quer ser
A chegar na escola, a pegar a fila
A ser escolhida, na nota que tira

Longe disso, nem zero nem dez
Nesse meio termo, um seis talvez
E nesse meio tempo, acaba o recreio
Hora de aprender, não tem revés

E na sala, ao olhar a janela
Queremos passar por ela
Fugir dali, encarar o mundo
E quando bate o sinal
O som da liberdade, sabemos tudo

A aula acabou
Mal dormimos na volta pra casa
E o que era um desenho, o choro manchou
E agora, o empenho
O sonho acordou


E aquele sinal que a escola soava
Até hoje mantenho,
ai como eu sonhava
Na lembrança de um tempo
em que a hora durava

E hoje, em rascunho
Troco lápis por tinta
Borracha, por rabiscos
A criação que não pinta

Em minhas mãos, transformo aquarelas
Sem as cores tão belas de outras eras
Em letras, versos e riscos