quarta-feira, abril 29, 2020

"E daí?"

Eu que sempre escrevi
Sobre o que vi
Sobre o que nos jornais, li, ouvi e assisti
Sobre o que senti
Sobre o que me abati
Quando refleti
Meus conceitos revi
Por vezes, desisti
De cena, saí
Ao desprezo, me permiti
Levei minha poesia, insisti
Com desdém, me feri
Mas, fingi
Está tubo bem, resisti
Continuei, não caí
Meu caderno reabri, redigi
Digitei, imprimi
À missão que vim, ainda não cumpri
Aos que se vão assim, não me despedi
A minha dor em versos e estrofes, reparti
Nem pra versos, nem pra mortes,
Ninguém ‘tá nem aí’
“E daí?”

quinta-feira, abril 16, 2020

Não Tem Volta

Será que tudo volta ao normal?
Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar
Será?
Quando eu falo de reencontrar
Falo da gente combinar de se ver
Eu hoje desabei de chorar
Comecei a me perguntar
Quando é que isso vai ser?

Quando é que eu vou poder voltar
Pro Morumbi pra torcer
Ver o Dani Alves jogar
Ver o São Paulo vencer
Será que meu banjo eu vou afinar
Pr’aquele samba no entardecer
Ou essas emoções só vamos lembrar
E não voltaremos a viver
No último jogo, eu estava lá
Levei meu filho pra ver

Era Libertadores e não estamos libertos
3 a 0; contra a LDU, lá do Equador
Os corpos lá estão com destinos incertos
Abandonados em calçadas, nada joga a favor
E o samba que eu nem lembro
Desse último sabor?
Da cerveja no copo americano
De puxar aquele antigo ao lado de um amigo
Batucando num tambor
Eu ali, relembrando no meu banjo
Um velho samba esquecido
Será que foi meu último, Senhor?

Eu confesso que hoje peguei meu cavaquinho
E as notas que toquei trouxeram canções
Que só na mumunha balbuciei
Desafinei, cantei baixinho
Temi as recordações
Pois vi um futuro como a canção do Peninha: Sozinho

Sem arranjos no plural
Violão, cavaquinho e percussões
Os refrões sem multidões
Somente um vocal, sem coral
Um link com alcance universal
Os views batem e geram milhões

Todo mundo assistindo
Conectados em TVs, celulares
Só temos ideia do que vem vindo
Nem certezas, nem verdades
E pensei: quando abraçarei
Novamente meus familiares

Sei que muitos nem os via tanto
O trabalho, a correria
Juro que não é porque eu não queria
Mas, agora, fico me perguntando

O que seria hoje voltar como era
Penso que aquele mundo acabou
O valor de cada coisa mudou
Só a Terra que continua uma esfera
Em seus giros nunca parou

E na nova era, já era tempo
Que o tempo que nos desespera
Desesperava, agora espera
E agora vemos acontecendo

A vida passando
E as roupas, não
Relógios de pulso ocupando espaço
No móvel, e o braço livre da pressão

As calças jeans e os paletós
Pendurados nos cabides
Poderoso Covid
Das gravatas desfizemos os nós
Preocupados estão os avós
Porque nessa faixa etária
Não se permitem vacilos
Eles querem viver para ver crescer
Os filhos dos filhos
Isolamento, fecha a área
Pra não deixar nos abater
A chegada desse vírus

Futuro é o maior inimigo do Corona
Nossa luta é no presente, pra que lá na frente
Eu tenho fé que a vida um dia retoma
Pra saudade, remédio não funciona
Saúde, saudade, só um ‘ad’ de diferente
Não, uma subtrai, a outra soma.

quarta-feira, abril 15, 2020

Choro Isolado


Hoje eu só quero chorar
E não estou passando vontade
Em meio à calamidade, por toda cidade
Parece que vai acabar

Acabar de nos destruir
Parece que vai chegar
E contaminar, nos matar
Sem direito a despedir

Nas despedidas, pessoas se abraçam
Lágrimas são derramadas
Pessoas consoladas, mãos dadas
E os vírus passam

Vão se multiplicando
E o cerco cada vez mais fechado
Meu caixão tampado, lacrado
Não é mais questão de “se”, mas, quando?

Há poucos meses andava agoniado
Acordava pensando que morreria
A cada sol que nascia, meu último dia
A terapia tinha me tranquilizado

Hoje, parece que nada ameniza
É a morte nas imediações
Não chega a 3 conexões, só 2 ligações
Um vizinho do seu prédio, o marido da sua amiga

Quando era só no estrangeiro
A gente, inocentemente, achava
Que gringo que pegava, que aqui não chegava
Isso era nada pro brasileiro

Até que o Coronavírus se instalou
Politizaram as medidas de prevenção
Dos cientistas, a recomendação: fique em casa é solução
O presidente contrariou

Nem vou gastar muita linha
Pra não perder a linha de raciocínio
O cara tem fascínio pelo extermínio
Pra ele, é gripezinha

Estou num medo de morrer
Que o ar que falta enquanto choro
Eu peço a Deus, eu oro, eu imploro
Que nada mais grave há de ser

E há quem ainda duvide
Que é um truque, um golpe chinês
Que parou o mundo há um mês, e põe no mínimo mais três
Esse tal de COVID

Meu medo de morrer até que é um bom sinal
Em dezembro, eu queria por fim
Mas, cuidei de mim e não quero assim
Entubado por um vírus mortal

Medo de morrer no Brasil, já é comum a nós
Violência, desemprego, fome, e abandono
Tudo aqui sempre teve dono, desde o trono
E o tronco é o troco que tranca muita voz.

terça-feira, abril 14, 2020

Isolamento

Só se fala em isolamento
Vertical, horizontal, social,
Ou da atração global
É um intenso movimento
Militante e virtual

O mundo já traçou diretriz
Pediu comprometimento
Veio da Organização Mundial
O que a ciência diz
Tem caído em descrédito
Tem gerado discussão
E discursos desconexos

Do Palácio da Alvorada
À casa mais vigiada
A conversa quando atravessa
Fica tão desencontrada
Que, no fim, o que resta
É a confusão implantada
Que a ordem mais expressa
Toma a rota inversa
Na desordem calculada

O ministro da Saúde
Está em quadro instável
Sem nenhuma ironia
A quem está dia após dia
Enfrentando uma batalha
Pela vida

A luta de Mandetta é pela sobrevida
No cargo, no ministério
Em que o necrotério,
Crematório, cemitério, velório
São palavras mais no páreo
Pelo pódio

Aqui não se fala em sobrevivência
Aliás, como falar em sobreviver
Se gente vai morrer, paciência
Morre, bota a culpa na China e já era
Só o robô que abraça
E reverbera
Os robôs das redes sociais
São os únicos conectados nesse tempo
Pra gente, é distanciamento

Gente, que eu falo, é humano
Quando eu digo humano, não é só biologia
É a parada da humanidade
De querer preservar
A vida antes da economia
Sem focar na letalidade
Da idade que vai pegar
Se pela idade morreria

Acredite, o vírus não para no blindado
Isso serve pra tiros, não pro coronavírus
Na lotérica, ele entra muquiado
Lança sua sorte a algum premiado
Dois podem ser contami... contemplados
Saindo dali, os valores são multiplicados

E quando ele falou da escola?
Tinha que estar tudo liberado
Um ponto a favor tem que ser destacado
Ele confia no inspetor que controla
Vírus aqui não entra, não ‘tá’ uniformizado

Naquele balança caixão
Tipo o meme do velório ganês
O Mandetta parece treinador que tomou três
E veio alguém da diretoria
Garantir a permanência
Não dura um mês
Com tanta inconsistência,
Desobedecendo a presidência
Nem essa madrugada, talvez

O gráfico em cada país
Conversa plenamente com as ações tomadas
Em algumas, o choque foi necessário
As que começaram despreocupadas
Com o índice primário
Foram logo despertadas
Mortes em subidas inclinadas
De menos mil em menos mil, diário
Pergunta lá se a economia foi preservada
Nossas relações abaladas, cortadas
Nossas mortes exportadas, noticiadas
Caixão em 6 aceita crediário?
Pra quem não sabe, a Terra não é plana
E como esfera, gira
Só a gente que está ao contrário

segunda-feira, abril 06, 2020

Seu Hélio e João Pedro

Já não bastava a tensão habitual
Esse aprisionamento fragiliza
Situa, atualiza
Do que é bom dar mais moral

Em um dia, senti a lágrima chegar
Por uma via de duas mãos
O fim de uma geração, o último irmão
E um novo João a estrear

27, 28, termina e começa
Seu Hélio, o irmão mais velho, uma peça
Falava tanto palavrão, brincalhão
Que nem lembro seu jeito sério
De irmão, tinha ele, o Nininho, o Dalton
E meu avô era o Célio
Eram os Machado da Silva
Quando revir seu irmão
Fala da minha saudade, seu Hélio

Um papo aqui, em particular
Depois de mamãe, meu maior apoiador
Como poeta e escritor
Dizia: cabecinha boa tem esse menino, grande valor
Estou no quase pro novo livro publicar
E desde o primeiro rascunho, fiz questão de te entregar
Agradeço cada minuto como leitor

Falei da saudade, da fase que finda
Falei de partida, falo agora de vinda
Falo de vida que finaliza
Falo de vida que se realiza
Votos à família que se edifique, frutifique, multiplique
Bem vindo, João Pedro, Maiza e João Henrique

O discurso é clichê e padrão
Sei que a vida ainda está contada em horas ou por dia
Na ordem progressiva
Só desejo sabedoria, inclusive a emotiva
E mais pra frente, bons resultados na educação

Não haverá outra data tão expressiva
Desejo que vocês estejam sãos
Vão lembrar dessa pandemia
Pois, se fosse a gente e pudesse escolher
Lá de dentro, não sairia
Sobrenome aqui é valentia
E o nome herdado é João.

sábado, abril 04, 2020

Infectados Faz Tempo

Vai muito além nossa contaminação
Já estamos infectados faz tempo
Pro Corona, logo mais, surge vacina
Fisicamente, se cura por dentro
Só não tem cura pra razão
Se o ódio no coração confina

Esse, espalha na digitação
Viraliza e não há medicamento
Até a palavra, nesse caso, combina
RG? Não, IP é o documento
Que na bio, se diz cristão
E defende quem extermina

Nem precisa de arma na mão
Só uma caneta, BIC não,
porque é francesa
Até com Macron, ele arrumou treta
Ofendeu a mulher do cara
Foi falar dela e julgar beleza

Deixa eu voltar aqui no papo do “extermina”
Além do Corona que, facilmente, contamina
A desinformação e o desserviço oficial
Não estavam escritos como uma sina
Foi uma escolha racional e eleitoral
No mocorongo que é contra mina, contra mano, contra mona
Contra isolamento social

Sabe o que ele é a favor
De dizer que é gripezinha o Corona
E com seu histórico de atleta
Tem imunidade natural

Olimpíada, Champions, Fórmula 1, NBA
Itália, França, Espanha, China,
Hoje, 29, passou das duas mil mortes nos USA
Covid-19,
Já teve uma tal gripe suína, datada de 2009
Agora, tive uma dúvida, por favor me informe:
Se, pro gado, não é perigosa
Vacina da febre aftosa serve pra gripe bovina?
Sinceramente, não sei

Eles só pegam carona num ódio febril
E fazem carreata, cheio de bandeira do Brasil
#FiqueEmCasa é mamata
A demissão é a munição do fuzil
Onde o jogo nunca empata
Mira e não dá tiros
Deixa que o Coronavírus mata

sexta-feira, abril 03, 2020

Quando o Corona Passar


E como será?
Quando tudo isso, esse Coronavírus passar
Quando acabar a quarentena
Esse lance de não se encostar
Não é muito da gente
O negócio da gente é abraçar
É exatamente esse sangue quente
Brasileiro, latino, caliente
Que faz o mundo nos visitar

É essa forma calorosa,
De receber, de agregar
Que faz o mundo nos ver
Querer conhecer
Mas, foca no papo aqui
Esquece quem tá pra vir
A turistaiada só volta lá pelo Carnaval
Enquanto isso, vai pra Salvador,
Maceió, Floripa, Natal

O papo é sobre nossa convivência
Eu tô vendo uma galera bem otimista
Que as pessoas estão percebendo, tomando consciência
Que ficar em casa abre a vista
Faz a gente se trancar
Pra ver o horizonte

Maluco isso, né?
Quando estávamos livres
Ficamos presos no engarrafamento
Em vez de olhar o pôr-do-sol
Acabamos dizendo: olha o trânsito que tá naquela ponte

Falando desse nosso instinto mais brasileiro
De abraço, de beijo
A gente é tão da intimidade
Que dependendo da região
Varia a quantidade

O paulista, apressado, dá um
O carioca, um de cada lado,
Se não me engano, lá no Sul
São 3 e alternado

E o aperto de mão
Esse não é exclusivo nosso
Tem uns que ‘inventa’ uns troço
Num toque combinado de irmão

Mas, diz aí, você acha, REAL,
Que os vizinhos vão entender
O negócio do convívio social
Que vai rolar uma cooperação
Que seja pra vaga do estacionamento
Eu acho que passada essa comoção
Voltaremos à antiga situação
A preocupação só com seu apartamento

Claro, temos aqueles nossos companheiros
Que já tá dando uma saudade da porra
Aqueles que defendem que ninguém morra
Aqueles que pedem que você corra
Pra casa
E lá permaneça
Assim pede o mundo inteiro
Pra que menos mortes aconteça

Chinês, italiano, francês, espanhol, sulamericano
Menos o miliciano
Que usou tempo em cadeia nacional
De rádio e televisão
Pra despejar conteúdo irracional
Pra tudo voltar ao normal,
Confundindo a nação

E o boçal levantou a questão
Se quem morre é acima dos sessenta
Por que escola fechada?
Pela forma que argumenta, taí a explicação
Cada hora da sua vida em aula foi mal aproveitada

Aliás, você esqueceu que na reforma da previdência
A classe dos professores também foi prejudicada
As tia da merenda, da limpeza, da secretaria
Tem sempre aquele tio figura na inspetoria

Essa galera sex, sexagenária
Está na luta com a criançada
Na outra luta, foi derrotada
A previdenciária

Bom, ele, empresários, banqueiros
Já mostraram que, na enchente
Como dizia Moreira
É preciso ser girafa
Pescoço grande por natureza
Ou pegar a madeira, do Maderero
Pra não se afogar
Que vai morrer uma galera, certeza
Abre aspas pro presidente: “paciência”
#OBrasilNãoPodeParar
Vamos contrariar ciência
Uma luxuosa carreata buzinava pro povo voltar
O médico daquela conhecida televisão
Foi distorcido, fakeado
Fakeado, não esfaqueado
Fake, faca, bom, deixa isso pra lá
Assunto passado

Eu sigo aqui guardado
A insegurança por si já me faz prisioneiro
E pra ser Justus
O Corona é terrível
Mas o vírus mais temível 
Em 2018 foi instalado
A ignorância tomou posse
2019: dia primeiro de janeiro

quinta-feira, abril 02, 2020

A Canção que eu nem Ouvia

Eu nem sei explicar
Tem horas que quero fugir
Deixar o barco navegar
Outros mares conhecer
Em cada um me banhar

Mas, cada vez que isso acontece
Basta eu lembrar de você
Tudo em volta se enternece
A canção que eu nem ouvia
Repetiria se pudesse

Ela toca no rádio e eu procuro
Nos aplicativos musicais
Sinto tipo adolescente imaturo
Num sazonal amor pra valer
Que nem dá tempo de escrever futuro

Quando eu penso aonde quero ir
Eu te vejo na chegada
Se eu imaginar me divertir
Sua presença é confirmada
Só não quero a cortina fechada
E a luz apagada após aplaudir

Cortina fechada, só numa condição
Pra te ver dormir, sem claridade
Até o sol pra te alcançar, precisa permissão
Ele não precisa decifrar sua noite
Éramos só nós, ele estava ocupado no Japão

quarta-feira, abril 01, 2020

O Corona Une (?!)





A convivência humana
Entrou em quarentena
A pandemia se dissemina
O vírus chamado Corona
Pede que ninguém se reúna

Prevalece postura insana
A burrice não se encena
Ao contrário, contamina
E quando o resultado vem à tona
Não encaixa na lacuna

Dito isso, vi personagens de fama
Falarem que esse problema
Fez se instalar um clima
De estarmos no mesmo barco ou redoma
E que sua parte cada um assuma

Do home-office da cama
Com tudo ali, no esquema
O que postou, reafirma
Todo mundo é peso igual na soma
Porra nenhuma

Tudo fechado
também causa medo
Do vírus “demitido”
Sair passando o rodo
E levando tudo

Não estamos do mesmo lado
Não cantamos o mesmo enredo
O médico é quem deve ser ouvido
E não aquele escroto, aquele engodo
A propalar seus absurdos