terça-feira, abril 26, 2022

O Poema Que Não Houve

Eu estava nesta terça
Numa tristeza que vou te contar, viu?
Notei minha distância da poesia
De fevereiro até agora em abril
A distância em tempo e espaço
Nenhuma linha redigiu

Nesse tempo sem escrever
Houve cenas pra contar
Houve críticas a fazer
Teve até o que se admirar
O que não se ousou dizer
Ninguém irá imaginar

Não houve versos, rimas
Nem prosas, linhas corridas
Não houve (nem se ouvem) notas musicais
Não houve histórias escritas
O que não houve, não há mais

Sim, haverá outras paisagens
Dores então, nem se fala
Só que serão outras
Aquele sol na janela da sala
Não tem mais aquele, naquela escala
Aquela árvore bonita no outono
Não descrevi a folha ao deixá-la

Não é que eu fugi
De contar ao papel o que vi
Mas quando não escrevo
Acumulo o que senti
As palavras então se embaralham
Me embaraçam, ao ponto que eu nem consegui
Lembrar tudo, escrever tudo
Tanto que eu fiquei pensando

Não ficou uma palavra transcrita
Será que eu só guardei tristeza
E apaguei a parte bonita?
Bom, pelo menos agora, escrevendo, registra
O dia triste ontem foi certeza
A melancolia pra um poeta
Dá muito mais na vista

(12.04.2022)

Destrava o Gatilho

Ontem, destraquei meus olhos
Pras lágrimas chegarem
No caminho se perderam
Até secarem

Hoje, elas não molham as linhas azuis da folha
Somente a tinta preta da caneta que corre
A tristeza tem seus dias de escolha
Um gatilho que em um disparo resolve

Eu me afasto, conscientemente
Porque a vontade mesmo envolve arma
Coragem e munição no pente
Uma é suficiente, mas a gente para
Sente que a dor alarma
O alarme da sanidade desarma
E a gente tá de cabeça quente

Esfria, respira, não aperta
Se apertou, já era
Fim da dor, a minha
Pro mundo, nada se conserta
Só em mim
A dor que eu tinha


(12.04.2022)