Notei minha distância da poesia
De fevereiro até agora em abril
A distância em tempo e espaço
Nenhuma linha redigiu
Nesse tempo sem escrever
Houve cenas pra contar
Houve críticas a fazer
Teve até o que se admirar
O que não se ousou dizer
Ninguém irá imaginar
Não houve versos, rimas
Nem prosas, linhas corridas
Não houve (nem se ouvem) notas musicais
Não houve histórias escritas
O que não houve, não há mais
Sim, haverá outras paisagens
Dores então, nem se fala
Só que serão outras
Aquele sol na janela da sala
Não tem mais aquele, naquela escala
Aquela árvore bonita no outono
Não descrevi a folha ao deixá-la
Não é que eu fugi
De contar ao papel o que vi
Mas quando não escrevo
Acumulo o que senti
As palavras então se embaralham
Me embaraçam, ao ponto que eu nem consegui
Lembrar tudo, escrever tudo
Tanto que eu fiquei pensando
Não ficou uma palavra transcrita
Será que eu só guardei tristeza
E apaguei a parte bonita?
Bom, pelo menos agora, escrevendo, registra
O dia triste ontem foi certeza
A melancolia pra um poeta
Dá muito mais na vista
(12.04.2022)