sexta-feira, dezembro 09, 2016

Como de Costume! (02)

Esse título "Como de Costume" vai render novas publicações frequentemente. Esse texto Em Prosa é mais no tom de reflexão, a proposta para um debate que, invariavelmente, precisa da sua opinião.

OPINIÃO PÚBLICA x MÍDIA

Uma antiga campanha publicitária propunha o questionamento: Tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?

...

Seguindo essa máxima, a minha reflexão é essa: a mídia reproduz o que o público gosta ou o público gosta daquilo porque é o que a mídia reproduz?

Sinceramente, aposto na 2ª fórmula. O povo brasileiro gosta muito de televisão por ser um veículo (digamos) mais fácil em questão de acesso, de assimilação de conteúdo, pois reúne imagem, som e mais que isso, a credibilidade dos transmissores desta informação, seja uma notícia, seja uma propaganda de remédio.

Dessa forma, acredito que ela é muito mais o modelo que o público segue do que a máxima de que ela mostra o que o povo pede. Basta ver que reproduzimos bordões, estilos no visual que copiam personagens até espelhados em pessoas comuns (não-famosas), no entanto, remodeladas de acordo com pesquisas de marketing que identificam todas as características que seriam simpáticas à aceitação popular.

Além dos bordões e da moda, a mídia define o comportamento da população em relação aos seus interesses. Ela mostra de forma legal o que a ela agrada e com a credibilidade adquirida, a população reproduz aquele mantra. E rebaixa o conteúdo desfavorável a ela para que a aceitação também seja diminuída perante o público.

Quando trabalhei em rádio, atendendo ouvintes e tudo mais, pude constatar algo muito interessante. Primeiro, darei a frase, depois detalho a explicação. "O povo gosta do que ele lembra". Se em determinado dia eu tocava uma canção do Cazuza, Biquíni Cavadão ou Titãs, ou qualquer outra banda de rock nacional dos anos 80, que não fazia muito o estilo do programa (variado, porém predominantemente sertanejo) era praticamente certa a participação de outro ouvinte no mesmo dia ou no dia seguinte pedindo Legião Urbana, Capital Inicial, Ira. Logo, a pessoa conhece, gosta daquele som, mas, como não ouve, não se lembrava. O mesmo acontecia com trilhas de novela. Acabava o último capítulo, no dia seguinte, a música que estava nas mais pedidas, caía bruscamente ou nem entrava mais na relação dos pedidos de ouvintes.

Quer outro exemplo? Vá em algum barzinho que toca MPB ao vivo, pop rock ou até alguma roda de samba. Perceba o que é tocado nesses ambientes, quantas pessoas conhecem o repertório executado e cantam junto e comparem com o que ouve-se no rádio e na tv. Nos palcos por aí, o pessoal destaca muitas músicas que não tocam nas mais pedidas das emissoras, mas, a galera canta, conhece e gosta. Estranho, não é?

Quando me referi ao comportamento, que tal analisarmos por essa vertente?

Hoje, devido às redes sociais e a conexão direta entre espectador e artista/ emissora, temos uma geração que tudo quer comentar, opinar, analisar. A opinião tem que ser livre mesmo, mas, chegamos ao estágio que tamanha abertura a essa conexão sem intermediários deu a todos o "direito" de sair por aí descendo a lenha, sem qualquer receio ou discernimento sobre ser capaz de sair julgando e, principalmente, atacando isso ou aquilo.

Na minha humilde cabecinha, muito me conflita a participação definitiva do público para escolher, por exemplo, os ganhadores dos programas de cantores. Que o voto fosse mais um, com determinado peso, ok; mas, ser o único fator de decisão é, no mínimo, confuso. A população ouve, se encanta, por determinado candidato e é desse público que vai depender o futuro sucesso dele, porém, só faria sentido se nessas disputas, ele já mostrasse trabalhos autorais, e, nesse contexto, o povo escolhesse, no geral, o que mais lhe agrada (voz, estilo, música, carisma...). Mas, isso não seria interessante como atração pra TV. Agora, como apresentação de canções já conhecidas, a avaliação de quem executou melhor a música, deveria ser feita por quem tem capacidade para fazê-la, ou seja, alguém minimamente capacitado pra tal missão.

Outro exemplo: esse, na minha concepção, o mais bizarro de todos. Programa de comida. Ahn?! O cara na casa dele julga, participa escolhendo qual cozinhou melhor? PUTAQUEOPARIU! O cara não está sentindo o cheiro, o gosto, assistiu, de forma bem editada, o preparo. E vai lá na internet... e JULGA. Esse, de todos, é o que eu acredito ser o mais estranho.

Outra votação que fica nas mãos do povo, que vota sem ter entendimento algum de todo o processo são as Eleições para vereadores e deputados. Essa tem que continuar com o povo sempre, porém que tal pensarmos na complexidade de seu formato? As contas dos quocientes necessários para ganhar A ou B de partido X ou Y não é pra qualquer um. Então, a gente vai lá no dia da eleição, digita os números do cara, vota, sem nem saber como funciona a contagem se ele ganha ou não a partir do momento que fecham as urnas. É um tanto maluco dizermos que um candidato com 10 mil votos, por exemplo não seja eleito e outro com 5 ou 4 mil vençam. A lei eleitoral tem suas regras estabelecidas e todos entraram pro jogo sabendo, no entanto, é fato que determinado candidato que bateu os 10 mil votos na urna tem, na cidade, muito mais representatividade que outro que alcançou 3 mil. Porém, os de 3 ou 6 ou 7 mil entra e o outro, não.

Resumidamente: com o acesso a opinar sobre tudo e em todas as áreas e ocasiões, estamos criando uma geração de opinião. Sem embasamento, mas, de opinião. E vai contrariar essa opinião pra ver. Tudo isso nada mais é do que um costume que vamos criando e hoje, a qualquer nova polêmica no facebook, vixi, o bicho pega. Todo mundo corneta. E corneta forte.

Falando em corneta, lembrei de buzina. Olha outro costume que temos: a pressa. Farol vermelho, vamos todos parando. Abriu, o carro da frente não saiu? Tome buzina! Bãããããããã!!! Essa até eu me incluo no grupo dos buzineiros de plantão. Não sou fã de dirigir. Mas, hoje, em mais um momento de reflexão, no trânsito, ao volante, percebi minha costumeira reação. Nada lógica, porém, habitual. Porém, quebrei o costume. Parei atrás de um veículo que queria virar à esquerda, mesmo estando na faixa direita da via, exclusiva para quem pretendia a conversão para aquele lado. Eu, naturalmente, buzinaria, sem temor. Por 1 segundo, parei e pensei que aquele barulho incomodaria muito mais a mim que a ele; nesse mesmo segundo que tirei os olhos da buzina e retomei à frente, notei que a placa do automóvel era de Curitiba - Paraná. Logo, pensei que ele poderia estar perdido ou desconhecer que quela faixa que ocupava atrapalharia quem pretendia seguir na mão contrária a dele. Enfim, tal parada atrás daquele carro (sou péssimo com nomes de carros) não tomou 30 segundos do meu dia que não mudaram em nada minha rotina. Mas, nesse pequeno intervalo, o veículo atrás de mim, sem temor como eu naturalmente agiria: Bããããããããã! Sem dó.

Por fim, tive que ouvir aquele barulho desagradável pra manhã de qualquer pessoa; isso não mudou nada ele conseguir a conversão pretendida segundos antes ou depois; a buzina do carro atrás de mim não criou asas no carro da frente para que ele voasse e eu e esse de trás passássemos; assim que esse carro curitibano passou, eu passei, o de trás passou, mas, eu nem reparei o destino e vida que segue. Sigo quebrando minhas atitudes que considero "Como de costume".

quinta-feira, dezembro 08, 2016

Vixi, Osasco

Vixi, quanta polícia
Osasco é notícia
De novo no impresso
Não teve sucesso
Tamanha imperícia
Nenhum réu confesso

Vixi, é tanta viatura
Pra caber a alma pura
Dos que não sabem a razão
Da condução para a prisão
Bateu na porta o canadura
Com mandado e camburão

Vixi, é a Rota aí na frente
Ainda nem escovei o dente
Cedinho abriu a caça
Aos legisladores da Casa
Quem tava aqui, já tá no pente
Explica aí o seu fantasma

Vixi, tá "os jornalista e os fardado"
O galo mal tinha cantado
Se perguntado: EU NADA SEI.
"São abusado" esses da lei
Mas, agora, engaiolado
Vou explicar que eu não roubei

Vixi, esse MP é arbitrário
Dizer que eu leso o erário
Ao contrário, sou funcionário do povo
Foi vereador e o prefeito novo
Todo mundo procurado
Povo alienado, feito de bobo

Vixi, "os homi ta aí, a casa caiu"
Destaque na mídia de todo Brasil
Foi logo 15 dos 21
21: vereadores e milhões que sumiu
Quem tá 'lá fora', também viu
Sabe o que é pior? Espanto nenhum
O povo chancela, até bate panela
Mas, no fundo, no fundo, é nesse que vota
Querendo um algum

quinta-feira, dezembro 01, 2016

Ser Contra o Aborto

Você pode ser contra o aborto
Só não abortar
Só não vem com esse papo torto
Que a vida quer preservar
Gabriel, o Pensador, já ousou cantar
Pátria que me pariu
Essa letra já bem definiu
E foi lá em 97 que o disco saiu
E ainda hoje se faz enquete
19 anos, até maioridade atingiu
E no topo do ranking, o Brasil compete
Nada de FIFA, nem CBF
Mortalidade infantil
Abortos mal feitos, mãe não resistiu

Se a vida é o tema em debate
Tem mulher que quer; e essa vida?
Cai na clandestinidade
Mesmo dona de si, é um ato covarde
Fosse então, mais precavida
Essa mulher vai lá pra grade?
Como assassina ela é tida?

Você pode ser contra o aborto
Mas, coerência, amiguinho
Não diga: bandido bom é morto
Também é vida em desalinho
Não queira mandar no corpo
Cada qual sabe o caminho
Em qual pressão está envolto
Pois, cada um sofre sozinho

Aí, ok, vamos partir do seu princípio
Que uma vida não se assassina
Nasce enfim o tal menino ou menina
Tendo essa mãe, ou não, auxílio
Do pai que mete o pé e sai de fina
Deixou-a frágil; no colo, um filho
Em baixo da ponte, na beira do trilho
E nesse crime, qual lei assina?

Aconteceu, foi sem prevenção
Pensasse, não agisse no tesão
Não usou preservativo
Nenhum método contraceptivo
Ou qualquer outra situação
Mas, sem fazer qualquer juízo
Vamos ver o que é preciso
Se for o caso, adoção
Mas, não fica na ilusão
Que quem vai pro orfanato
É igual televisão
Chiquitita não é relato

Aí cê é contra quem aborta
A saúde da mãe não importa
Que vai fazer na boca de porco

Aí cê é contra que adota
Se um casal gay bate na porta
É mau exemplo pro garoto

Aí é mimimi, uma revolta
É um lixo, não se comporta
O que fazer com esse estorvo?

Ih, esse aí não desentorta
Não pôs os méritos à prova
Prova de fogo e ele morto

Com a bênção geral

O merecido e tardio aborto.

Retorno Notório


Ao mesmo tempo que tudo parece revirado
Que tudo está voltando ao passado
E isso muito me desanima
Vejo que ganha espaço a rima
Quem está na classe que domina
Surta se eleva nossa autoestima

Ocupando espaços, posições
Chegando algo da periferia
Pra quem sempre a preteria
Nas mais diversas situações

Na TV, por exemplo, só porcaria
Mas, hoje tem até filosofia
Tem debates de opiniões
E as novas gerações
Da comunicação veloz e vazia
Não entendem as lições
Saem dando sentenças e visões
Cuja causa sequer conhecia

Bate o martelo, está julgado
Com tanto julgamento atravessado
Não dá tempo de reflexão
Então, mesmo com tanta informação
Com o controle na mão,
Você ter opção
Parecemos zumbis teleguiados
Por celulares controlados

Nas redes sociais, professores se destacam
Karnal, Clóvis, Pondé, Cortella disparam
Os views em cada guia ou janela
Não tanto quanto à telenovela
Nem aqueles hits padrões
Mas, colocam no foco da tela
Raciocínio, argumentações

Não imunes, são atacados
Por juízes supremos da rede
Pois se sentiram contrariados
Pra eles, define-se tudo em dois lados
O deles e os errados
Entre nós, uma parede.

Intransponível muro
Tal qual o sonho americano
Criamos um no convívio humano
Já que eu nada aturo
Quero aqui ficar seguro
Aqui nem me misturo

E com tanta barreira
Tem quem anda de bigorna e marreta
Pra quebrar trincheira
Cruzar fronteira
Com sangue na veia
Contar essas treta
Com microfone e caneta
Tinta no papel, preferencialmente preta

Tem cara bom demais na versada
Está mais que em alta na parada
A galera nova está ligada
Mas, de que adianta só ouvir
Decorar e repetir
Sem pensar e entender nada?

Tem que sacar a jogada
A rima bem casada
Do Braulio Bessa em seu cordel
Fabio Brazza, improvisa com moral
No samba, fez escola, o Martinho da Vila Isabel
No rap, Racionais, verso preciso sem igual
Trilha sonora do gueto, honroso papel
Voltando a tal da batucada
O Xande que foi revelação
Toca e versa com pegada

E tem os feras da nova geração
Emicida monstruoso nas batalhas
Trucida uns sem mostrar falhas
Tem o Projota que agita multidão
Sabe usar as palavras normais
Sem versos formais, nada banais
E com rimas leais

Então, tendo filosofia
Rap, samba e poesia
É, no mínimo, contraditório
Nosso retorno notório
Ao que já superamos um dia
Em tempos não tão lá atrás
Sem sair de casa, a atitude voraz
Desafiar o mundo, pregar ideais
Isso me apraz
Eu vou fundo, no meu sofá imundo
Guerrear pra defender minha paz.