quinta-feira, dezembro 01, 2016

Retorno Notório


Ao mesmo tempo que tudo parece revirado
Que tudo está voltando ao passado
E isso muito me desanima
Vejo que ganha espaço a rima
Quem está na classe que domina
Surta se eleva nossa autoestima

Ocupando espaços, posições
Chegando algo da periferia
Pra quem sempre a preteria
Nas mais diversas situações

Na TV, por exemplo, só porcaria
Mas, hoje tem até filosofia
Tem debates de opiniões
E as novas gerações
Da comunicação veloz e vazia
Não entendem as lições
Saem dando sentenças e visões
Cuja causa sequer conhecia

Bate o martelo, está julgado
Com tanto julgamento atravessado
Não dá tempo de reflexão
Então, mesmo com tanta informação
Com o controle na mão,
Você ter opção
Parecemos zumbis teleguiados
Por celulares controlados

Nas redes sociais, professores se destacam
Karnal, Clóvis, Pondé, Cortella disparam
Os views em cada guia ou janela
Não tanto quanto à telenovela
Nem aqueles hits padrões
Mas, colocam no foco da tela
Raciocínio, argumentações

Não imunes, são atacados
Por juízes supremos da rede
Pois se sentiram contrariados
Pra eles, define-se tudo em dois lados
O deles e os errados
Entre nós, uma parede.

Intransponível muro
Tal qual o sonho americano
Criamos um no convívio humano
Já que eu nada aturo
Quero aqui ficar seguro
Aqui nem me misturo

E com tanta barreira
Tem quem anda de bigorna e marreta
Pra quebrar trincheira
Cruzar fronteira
Com sangue na veia
Contar essas treta
Com microfone e caneta
Tinta no papel, preferencialmente preta

Tem cara bom demais na versada
Está mais que em alta na parada
A galera nova está ligada
Mas, de que adianta só ouvir
Decorar e repetir
Sem pensar e entender nada?

Tem que sacar a jogada
A rima bem casada
Do Braulio Bessa em seu cordel
Fabio Brazza, improvisa com moral
No samba, fez escola, o Martinho da Vila Isabel
No rap, Racionais, verso preciso sem igual
Trilha sonora do gueto, honroso papel
Voltando a tal da batucada
O Xande que foi revelação
Toca e versa com pegada

E tem os feras da nova geração
Emicida monstruoso nas batalhas
Trucida uns sem mostrar falhas
Tem o Projota que agita multidão
Sabe usar as palavras normais
Sem versos formais, nada banais
E com rimas leais

Então, tendo filosofia
Rap, samba e poesia
É, no mínimo, contraditório
Nosso retorno notório
Ao que já superamos um dia
Em tempos não tão lá atrás
Sem sair de casa, a atitude voraz
Desafiar o mundo, pregar ideais
Isso me apraz
Eu vou fundo, no meu sofá imundo
Guerrear pra defender minha paz.

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