segunda-feira, agosto 30, 2021

Feijão, Fuzil e Violão

Com os punhos se ergue uma guerra
Se faz um gesto, se empunha um fuzil
Ou violão 

Quando esse mesmo punho se cerra
Em postura e protesto não mais servil
Revolução 

Esse mesmo punho se solta e circula
Vai mexendo, remexendo, temperando
O caldeirão 

Esse mesmo punho é quem mistura
Sentimento, escrevendo, musicando
O feijão 

A rigidez ou leveza
Está em como se senta à mesa
Se a faca é para refeição
Ou para agressão 

O punho posicionado
Dedilhar ou engatilhado
Diz se é capaz de fazer melodia 
Ou só entoar agonia 

Então, peço a sua gentileza
Feijão e violão de sobremesa
Fuzil não tem afinação
Só produz choro sem canção 

Já tem ferro no feijão preparado
Pro nosso povo esfomeado
Desse alimento já se fez tanta poesia
Agora, posar de arma um violão, 
É desarmá-lo, desarmonia

sábado, agosto 21, 2021

Perdida

A palavra PERDIDA
Me achou, me confundiu, me perturbou
A bala, só costumamos citá-la
Se ela se alojou
 
Em um corpo,
geralmente,
quase sempre todos
Da mesma cor
 
Até ela tem endereço
O destino do seu feito
Recebe até flor
 
Perdida
Quando se fala em vida
Pega a via em qualquer mão
Dizia que perdida era a da prostituição
Perdida? Como perdida?
Tão achada e consumida
Por um troco de tostão
Perdida é a partida sem razão
Que poderia ser prevenida
Perdemos de um em um
Mais de meio milhão
A mensagem ficou perdida
 
Ignorada, não respondida
Por omissão
GE-NO-CI-DA
Vidas que poderiam ser encontradas,
abraçadas, nem tiveram despedida
Aproximação proibida
Distâncias limitadas
Só que perdemos a medida
 
Rotas
Entramos em ruas erradas
Contornamos pontes e avenidas
Os GPSs indicam
Recalculando
Para, encosta e retoma
O caminho ali se desenhando
 
Enquanto há caminhos no escuro
A gente segue estudando
Se formando, trabalhando
Tudo em nome do futuro, inseguro
Construindo nosso chão
Mesmo com ele nos pisando
 
E toda condição sofrida
É vista como etapa
Que vai ser vencida
Na frase mais contraditória
Uma vitória perdida
 
Vencem boletos, meses
E cai o salário
A gente ainda sonha, às vezes
E desperta pro mundo contrário
Quem levanta pra levantar o necessário
Faz da rotina seu pão,
O alimento diário
Matutino
E a palavra perdida, quando vai pro masculino
Ganha um tom intencional
Uma fuga pra não ser percebida
Por alguma ação escondida
No mundo filmado e transmitido
Em tempo real
Do perdido planejado
Ao nada plano, social
 
Socialmente pensada
Pra não ser dividida
Duelo de mão contra espada
Arma contra alma, L ou R na parada
Para! Essa luta, só por existir já está definida
 
Se uma munição está preparada
Engatilhada
Nem a bala nem a mira
Que deveria se chamar de perdida

sexta-feira, agosto 20, 2021

Dog de Osasco

Papo bem reto e direto
Dog é com purê e isso não se discute
Ah, mas você é muito intransigente
Deixa cada um fazer como quiser
Em Oz, é dogão,
no máximo, chama de cachorro-quente
E o purê reboca na colher
Pra sustentar os ingredientes
 
Ah, mas vocês colocam milho
Repolho
Vinagrete
Diz aí meu filho
Se você não cresce o olho
Naquele no prato
Colorido de ketchup, maionese e cheddar
Até queijo ralado
 
Pra rebater umas ideia furada
Já vi quem faz dog de salsicha fatiada
Quem põe frango, carne moída, umas parada errada
Os dog de gringo, só pão, salsicha, ketchup e mostarda
 
Sem essa, somos a capital nacional
Nova Iorque tá na frente, mas logo ali
Aqui tem quem faz prensado, acrescenta catupiry
Prensar já é opção, não o tradicional
Aí, ok, você pode decidir
 
40 mil dogs por dia
600 carrinhos pela cidade
No calçadão da Antonio Agu, a maioria
Mas, opções tem à vontade
Tem uns ali na entrada da Primitiva Vianco
Tem na Praça Padroeira
Tem pra quem vem do centro, ali na Maria Campos
Aqui o dog é tão foda que a gente faz até feira
 
E tem quem ousa cometer a heresia
De dar pitaco, eu logo rebato
Meu argumento nem abre outra via
Pra contraponto sensato
 
Você, por acaso, vai pro Rio Grande do Sul
Ou pra Argentina
Chega num gaúcho e palpita como fazer churrasco
Não?
Então,
A mesma regra vale pro dog em qualquer esquina
Quando você está em Osasco
 
O papo tá dado e com purê

quinta-feira, agosto 19, 2021

Amor Tem Tamanho?

Não importa o tamanho do papel 

ou da tela 

que você está lendo isso, 

o amor cabe aqui.

Como assim?

Escreve-se amor em um grão de arroz, 

em faixas, em outdoor, em artes que ocupam prédios inteiros.

Mas o tamanho da fonte realmente importante é de onde esse amor emana. 

Amor não é sobre tamanho de frases e versos

quarta-feira, agosto 18, 2021

Ponteiros

É madrugada
Outro dia, tive umas frases pensadas
Sobre questões de amor
Só que agora, depois das doses viradas
Ideias embaralhadas não jogam a favor
 
Se bem que... quer metáfora mais apropriada
Para esse estro?
O jogo roda sentido horário
Começa no seu braço destro
 
E percorre os ponteiros
Que se encontram, se cruzam
E seguem
Ponteiros, o amor passageiro
Que se conseguem, se conquistam
Macetes e sinais despistam
 
As intenções momentâneas
E exclusivamente momentâneas
De satisfazer a si
De forma instantânea
 
Se o prazer de outrem vem
De forma simultânea, espontânea,
Tanto faz
 
O que importa é faturar a rodada
E outras tantas mais
Rodadas de baralho,
De falsos amores carnais
 
Como os ponteiros do segundo
Que cruza toda hora com todo mundo
Enquanto o da hora
Só encontra o do minuto
Nas passagens cheias e pontuais

terça-feira, agosto 17, 2021

Erres e Erros

Ele, aquele lá, que inflama
Ódio a quem ama
E conclama
Que a população se arme
E não se ame
 
Que diferença faz um “r”...
 
Portanto, não erre!
Que, por esse erro, olha o vexame
  
Tem horas que parece
Que Deus olhou pro Brasil
E deu-nos essa sina
Uma mente assassina
 
Subiu a rampa do Planalto
Verde e amarelo na faixa
Ordem e Progresso na bandeira
 
Da ignorância, o arauto
Da cultura mais baixa
De crueldade rasteira
 
Eu só escrevo poesia
Deixo o samba pros compositores
Mas, lamentos não nos faltam
Pessoas sim, números saltam
Mortos por corruptores
 
Negacionistas da doença que mata
O que mata é que a mensagem
Sequencialmente ignorada
Negligenciada
Poderia ser respondida
E pior, foi proposital
Mas, afinal,
O que esperar de um brutal e boçal genocida?



Coincidência: esse poema entra no blog num dia 17.

segunda-feira, agosto 16, 2021

Samba com Um Bocado de Tristeza

“Pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza”

Vinícius compôs e cantou
Olha, sendo assim, certeza
Que na hora de fechar a conta e por na mesa
Inspiração não faltou
 
A gente anda triste
Luta, luta, luta e luto
Luta, luta, luta e luto
Não sei você, mas, fake News eu refuto
Tem umas e uns que nem discuto
 
Não vale a saliva do papo,
Valeria, como antes se dizia
Uns ‘catiripapo’
Mas, não é no sopapo, nem no tapa
Que a gente escapa da melancolia
A minha melhor forma
É a caneta que transforma
O que me transtorna, em poesia
 
Agora, me fala: haja samba pra fazer
Com tanta tristeza em volta
Nosso enredo anda sem revolta
Pouco ousa dizer
 
A gente anda triste
Você, eu, nossa gente
O medo é frequente
Cada vem mais presente, ele persiste
Pra ver se a gente resiste
 
Ele quer ver até onde vai, até onde vamos
Ver quem primeiro cai, quem não seguramos
Será que esse samba sai,
Se há muito tempo nem cantamos?

domingo, agosto 15, 2021

Te via

Sonhei que te encontrava por acaso
E por acaso você vinha ao meu encontro
Estávamos em vias opostas
Não sei dizer exato se naquele ponto
Eu era ida ou era volta 

Eu não era, eu estava, você também
Em movimento, a via tinha sentido
Eram contrárias as direções
Destinos não definidos
Cruzaram-se sem previsões 

Permitidos por luzes e segundos
Que dizem quem vai e quem fica
Conspirou a favor o universo
A vermelha, a pé, me diz: siga
Veio a desordem ao meu progresso 

O verde e o amarelo do farol
Param meus passos nos cruzamentos
E tudo combinou pra que eu te olhasse
Nem meu rumo eu sabia, quanto mais dos ventos
Quem estava a favor e quem o enfrentasse 

Sei que o desejo tomou conta
Dois olhares se devoraram
Passos às frente, encorajaram-se
Pararam, decidiram, voltaram, 
Conversaram, desejaram-se 

As velocidades que corriam
Eram nada perto dos batimentos 
A temperatura fria da rua
Era nada perto do calor de dentro
Desejando a outra pele nua 

Não havia lugar, era uma via
Pra que pudessem expelir tamanho ardor
As roupas quentes não faziam mais sentido
Só que ali, seria atentado ao pudor
Com agravamento de pena merecido 

Amar tem sentimentos e sentidos no plural
Uma rotatória, uma via que se cruza
Às vezes, continua, às vezes, atravessa
Às vezes tem placa que tal direção recusa
Às vezes, tem colisões, por ordem nem sempre expressa

sexta-feira, agosto 13, 2021

Portões

Os portões do bairro onde cresci
Continuam os mesmos
Até a ferrugem nos cantos são as mesmas
Minhas lembranças de infância são poucas
Mas quando os revi
Revivi as vezes que subia aquela ladeira
Para pedir prendas pra festa junina 
Ao revê-los, tive a certeza
De que é uma pena nos dois sentidos
Um lamento e uma punição 
Na fase adulta, amadurecidos
Na infância, em evolução 
Não, não e não. 

Somos agora os mesmos portões
Outrora, vistosos, a referência da rua
Sabe aquela casa de portão de tal cor?
Com o tempo, a ferrugem atua

E somos os mesmos portões 
Nhec, nhec, soam as nossas dobradiças
Que tem sempre um jeitinho de abrir
Passaram-se várias vezes as 4 estações 
A rua continua a descer e subir

E nós não sabemos de fato nosso sentido
O que sabemos é que sentimos 
O tempo enferrujar nossos portões.

quinta-feira, agosto 12, 2021

Pra Te Tornar Real

Nem se eu dedicasse
Uma década de versos
Eu poderia te tornar real
Em minha poesia 

Nem se o tempo parasse
Pra que você me alcançasse
Ou meu tempo em retrocesso
Eu óbvio que aceitaria 

Pra te tornar real
Em minha boca você
Desaguar seu prazer 

Pra te tornar real
Você é o sonho 
Que eu não devo ter 

Mas sonho a gente só sente
Não tem previsão
Tem um coração que bate frequente
Coração também bate em vão 

Eu queria que fosse a gente
Acordando e eu tendo a visão
Do seu beijo ao sol que é nascente
De um te amo, sem qualquer previsão

sexta-feira, agosto 06, 2021

Minha Paisagem

Eu nem consigo imaginar
O quão abençoado
O que faria jus ao prêmio
De acordar a teu lado 

Porque acordar e te ver
Deve ser como abrir a janela
Ter a paisagem do prazer
Na mais artística tela 

Ao desejar bom dia, te beijar
Ao viver o dia, te admirar
Vê-la no tom do sol a se por
Escrevê-la vendo o sol se impor 

Impor o clarão amanhecendo
Seus olhos, meus sóis, brilhando
Nos lençóis, te envolvendo
Dando nós
Nós? 
Só sonhando...