sexta-feira, abril 30, 2010

Queria...

Alienação:
Indiferença às questões
Políticas ou sociais
Uma das definições
Do dicionário Houaiss

Infelizmente não fico alheio
Nem tenho a pretensão
Pois estou bem lá no meio
De uma alienada população

Não sou de todo antenado
Visões críticas não faltam
Tento ao máximo ficar ligado
Muitas vezes, os nervos saltam

Afeto-me com absurdos
Banalidades corriqueiras
E quando guardo, fico mudo
Morro aos poucos, pelas beiras

Crimes ao longe me consomem
Vão lentamente me destruindo
Esperanças dia a dia morrem
Com tudo o que acabo ouvindo

Queria ouvidos indiferentes
Ou conseguir umas respostas
Ter mais atos incoerentes
E pros problemas dar as costas

Ser mais crente nas pessoas
Em espíritos ou divindades
Botar fé nas coisas boas
E desprezar adversidades

Queria crer que Deus existe
Que tudo vai se resolver
Mas a cabeça só persiste
Participar e me envolver

E por isso, sofrer...

sexta-feira, abril 23, 2010

A questão é quando...

Sempre ouço por aí
Tal coisa é pecado
Isso e aquilo é errado
Sou sempre julgado
Vivo réu e culpado
Mas por Deus, perdoado

Mas nem tudo é assim
Tem atos imperdoáveis
Terríveis, condenáveis
Proibições sustentáveis
Por dogmas inabaláveis
Regras bem questionáveis...

Leis só para proibir
Ações humanas racionais
Chamam de crimes brutais
O aborto, entre muitos mais
Causam polêmicas sociais
Indignam os tradicionais

Revoltam um povo fértil
De ideias e de gestações
Sempre as prevenções
Foram melhores soluções
Para nossas frustrações
Resolvem mais que correções

Claro, quando se pode corrigir
Nem sempre é fato viável
Por isso, sou favorável
A prevenir o desagradável
Pra que não seja degradável
Em um futuro indesejável

Temo mais o que está por vir
Drogas, armas, tiros e morte
Precisamos é muita sorte
Pra que o aborto vivo e forte
Não nos mate, não nos corte
Prefira a paz, a vida suporte

Amanhã triste, infeliz
Para três será uma tortura
Enfrentar outra vida dura
Divisão de tempo e mistura
Enquanto a miséria perdura
Reproduzimos na loucura

Maluquice de fazer rir
Cadê meu direito arbitrário
De cessar um passo contrário
A não procriar proletário
Num sistema de cota e horário
Nasce mais um... Funcionário

segunda-feira, abril 19, 2010

Trabalhar...

Terrível mesmo é acordar
Chega a me angustiar
Abrir os olhos e pensar:
Tenho que trabalhar!
Há quem vá argumentar
Pior seria procurar
Posso até concordar
Mas, é de amargar
Sem prazer, se ajeitar,
Banho e café tomar
E, de casa, pilotar
Até onde vou dedicar
Muitas horas vão passar
Minha vida vou gastar,
Meu dia, desperdiçar
Produção pífia de desprezar
E quando o dia acabar
Volto para o lar
Cansado, me preparo pra deitar
E descansar
Quando o mês acabar
Um salário vou ganhar
Mas, tenho que controlar
Não dá pra esbanjar
As contas vou pagar
E o que sobrar...
Sobrar?
Pare de ironizar!
Não dá pra guardar
Ao contrário, tem que usar
Pra se sustentar
Só isso, nem dá pra planejar
Investir, aplicar
Dinheiro, melhor nem falar
Gostaria de melhorar
Ter prazer, me motivar
E, todo dia ao despertar
No espelho vou parar,
Roupa e cabelo arrumar,
E, mesmo cedo, me aprumar,
Sorrisos estampar
E ver a vida andar
Não como um fardo a pesar
De outra forma analisar
Quero sim, trabalhar
Não sou de vagar
Sem ter metas pra alcançar
Só quero ao elaborar
Qualquer plano que idealizar
O caminho a rumar
Mas, hoje, sem ter medo de errar
Foi muito duro levantar
Enquanto eu não mudar
Tenho que aguentar
E resistir sem chorar
O peito chega a apertar
Mas, sou duro de tombar
Vou resistir, me estruturar
E esse dia vou lembrar
De um passado pra apagar
E quando eu sair e voar
Quero satisfeito me esticar
Para enfim relaxar
Do cansaço nem quero escapar
Mas quero me orgulhar
Que meu dia a labutar
Não foi inútil, de dispensar
E sim, ter coisas para mostrar
Fiz isso e aquilo sem me estressar
Sei que percalços vão me cercar
Obstáculos atrapalhar
Independente, vou enxergar
Mais cores onde eu olhar
Felicidade há de chegar
Quando o sol no quarto entrar
E com prazer eu levantar
Para me entregar...
Para trabalhar...

quarta-feira, abril 14, 2010

Fórmula poética

A mim foi proposto um desafio
Explicar meu gosto por poesia
Como escrevo e me inspiro
Como cada ideia surgia

Só aí que me atentei
Tentei chegar à conclusão
Tem horas que eu nem sei
Às vezes, vem da sensação

Tudo que me causa efeito
Em palavras, é o desabafo
E cada verso alivia o peito
À angústia ponho fim, acabo

Temas, fatos, sonhos, loucura
Viagens físicas, imaginárias
Tudo em minha mente conjura
Para fluírem, sem rotas contrárias

Principal mote para escrever
É olhar a fundo a vida da gente
Cada detalhe e seu redor perceber
Frustrações, prazer ou meio ambiente

É desenvolver um simples relato
De amor, solidão ou revolta
É captar no momento exato
E expor o que está a sua volta

É rimar (ou não) acontecimentos
Observar o cenário das cenas
Românticos ou até violentos
Rimas quentes, até obscenas

Improvisações se formam poemas
Canções são poemas na memória
O poeta é um transmissor apenas
Um redator conhecedor de histórias

Essa é a forma que serve pra mim
Tentar destrinchar com primazia
E a poesia não pode ter fim
Pois amanhã começa outro dia...

terça-feira, abril 13, 2010

Habitat natural do sonho

Era uma vez, um país onde todos têm bom humor, todas as pessoas sorriem o dia todo pela felicidade da vida por lá. Fartura é o que não falta. De tudo, se tem muito. Água à vontade, diversão sem limites, atrações que convidam gente do mundo inteiro para nos conhecer. E o clima então, perfeito!

Este país não é só um dos maiores, é também um dos que mais tem esperança e confiança que, mesmo tudo estando muito bom, ainda há de melhorar. Nessa terra sonhada e vista como um dos mais queridos e promissores pólos mundiais, os representantes são pessoas boas, falam bem e representam, de forma fiel, a sociedade.

A ânsia por alcançar a perfeição é tão grande que, quando o povo de lá tem o poder de escolher seu representante, seu rei, todos, sem exceção vão ao local que constrói o futuro da nação (a escola) e exercem, com plena consciência sua força e sua garantia legal de escolher sua majestade. Nossas crianças têm seus probleminhas, mas a educação está preparada para resolvê-los. Escolas realmente capazes de preparar e fazer a manutenção de toda a estrutura que já temos e, futuramente, seremos mais eficientes e eficazes ainda.

Cumprida sua missão, retorna ao seu digno lar com sua grande família e acompanha o que acontece no mundo em notícias bem claras, concisas, imparciais e realmente boas e de seu interesse. Sonhar não custa nada... ah, ia me esquecendo, por falar em custo, lá os impostos são corretamente aplicados em seus devidos desígnios. E nada se esvai, garante o rei e sua escolhida corte. Como honestidade e respeito aos seus súditos são suas principais virtudes, não há por que desconfiarmos.

Espiritualmente, somos incomparáveis. Cada um com sua seita, sua religião e todas com seu Deus, sem preconceitos e condenações de qualquer parte. Livres por lei e por todos os critérios a se avaliar, conscientes de cada ato, com respeito também às diferenças étnicas, de opção sexual ou outra qualquer. Esperançosos, religiosamente cultos, politicamente coerentes e informados, perfeitamente éticos, moralistas com razão e tradicionais por excelência. Uma sociedade excelente

Você já ouviu falar de algum país que seja tão perfeito? Gostaria de viver lá? Você sabe como se chama esse país? Brasil... sil... silllllll!!!

Somos felizes, somos a terra da alegria, a terra da esperança, o país do futuro, nosso rei é “o cara”. Os anteriores e os próximos foram e serão também. Estamos no foco do mundo. Todos amam o Brasil, somos os bem humorados, rimos de tudo; afinal, tudo é tão bom por aqui. Recentemente temos sofrido com catástrofes ambientais, mas, com toda nossa união e poder, faremos os reparos e esqueceremos até de procurar os responsáveis... Somos felizes... Punição? Deixe que Deus a dê da melhor forma. O julgamento também.

Pensemos que em um conto de fadas, com reis, rainhas, príncipes, princesas, castelos, sobra-nos apenas duas opções de papel: o mais ralé dos plebeus ou outro, que combina até mais com nossa cara. Repleto de cores na vestimenta, alegrando toda uma corte, motivo pelo qual os nobres riem o tempo todo, herdaremos o papel de bobo da corte. O que acham?

Toda essa lenda só será confirmada se sobrevivermos à fartura: de câmeras que nos seguem, de mentiras que aceitamos, de impunidades que colecionamos, de crimes que assistimos, de punições que aplicamos, de condenações que demos, de julgamentos que fizemos, de ações que não tivemos, das vezes que nos julgamos informado, das vezes que acreditamos num amanhã melhor, dos dias que resistimos a tudo isso e à água, que ainda não chegou ao topo da minha torre para me matar. Enquanto isso, assisto, de cima, a meu país crescer, mesmo que seja boiando, assim como nossa vida e nossa consciência.

segunda-feira, abril 12, 2010

O que é pior?

Sinceramente, fico sempre em dúvida e um tanto receoso em estabelecer comparações entre algo ser pior que outra coisa; ou melhor, quem sabe. Essa incerteza é resultado de fatos que nos enchem de indignação e de raiva pela impossibilidade de ações que possam reverter o que nos incomoda.

Em um país cada vez mais violento e cada vez mais vulnerável a revides ambientais à nossa falta de cuidados, ao nosso ataque descontrolado ao nosso próprio futuro e ao nosso próprio bem, os problemas não são poucos e, para um futuro próximo, não aparenta qualquer ameaça de atitudes para solução dos mesmos. Este é o Brasil.

Crimes cada vez mais brutais nos indignam por algumas horas. Passadas estas, esquecemos; e outro tal qual, semana que vem, não nos causa qualquer efeito. O que é pior que a pedofilia? O que é pior que a impunidade? O que é pior que o crescente e desenfreado consumo de drogas por todas as classes sociais? O que é pior que dar direito a voto para presidiários? O que é pior que mortes de torcedores indo ou vindo dos estádios? O que é pior que maus tratos a idosos? O que pode ser pior que maus tratos a crianças? E o que pode ser pior que políticos como os nossos?

Revoltante é assistir a discursos políticos. Aos berros, proclamam suas benfeitorias, suas críticas e ofensas aos adversários e convencem os cidadãos de sua falsa intenção em fazer algo em prol de seus eleitores. A máxima que qualquer generalização é burra, nesse caso, não aplico. Políticos me dão nojo, mais que qualquer animal, por mais asqueroso que seja. Idem a esses profetas, são esses pastores de rebanho, que tocam o gado para a rota que querem. Geralmente ao seu favor, independente de qual seja esse lado.

Ódio e revolta estão cada vez mais constantes em nossa vida; junto também, alienação. Parece contraditório, mas não. Somos sim um bando de alienados. Assistimos ao jornal e depois, qualquer outra trama ou bobagem e esquecemos tudo. Até nossos jornais nos batem, batem, espancam, dão um soprinho e, depois, voltam a nos violentar com mais sangue, pancadas e tiros aos borbotões. E o pior, recebemos cada crime, cada violência, cada notícia da forma que nos é conveniente saber. Analisamos o fato em si, fora de um contexto.

Em 2009, não me lembro o mês, ouvi a seguinte notícia: Menino de 16 anos mata menino de 3 anos e o coloca escondido na casinha do cachorro. Brutal. Assassino. Sem coração. Crápula. Nojento. Bandido. Maldito. Vamos à conjuntura do fato: esse rapaz de 16 teve o pai morto pela mãe, que cometeu o crime em prol de um novo relacionamento... com uma mulher. Esta nova companheira repetiu a dose, matou a mãe do garoto. O que é pior? Culpemos o garoto pelo crime? Claro. Porém, qual a visão que esse jovem teve e terá em sua vida? Mais um preso ou não mais, é a solução de um poço de desgraças e de uma impensada procriação.

O que é pior, hein?

sexta-feira, abril 09, 2010

Intolerância, violência, ignorância...

Recentemente percebo mudanças
Uma intempestiva intolerância
Reagimos na ignorância
Em fatos de pouca importância

Perdemos o controle de situações
Em meras e pífias ocasiões
Cada vez mais, afloradas emoções
Enervam-nos a ponto de explosões

Nosso limite está mais restrito
Por nada, me estresso, me irrito
Depois de tudo, paro e reflito
Que extrapolei, admito

Tal qual uma química reação
Nosso poço de solitária lotação
Na cidade que já foi a solução
Hoje, iminente risco ao coração

Ataque, derrame, disritmia
Precisamos sobreviver o dia a dia
Num inferno onde impera hipocrisia
Mortes banais à revelia

Ignorância leva ao fato violento
Armados pra qualquer contratempo
O vier e bater, eu enfrento
Mato e bato sem ressentimento

Um fato qualquer faz reagir
Ofendo, agrido, até ferir
Da guerra, não vou fugir
Sou forte, se me atingir

Também rotulo-me intolerante
Preparado a qualquer instante
Um arsenal auto-falante
Palavras, metralhadora possante

Precisamos discutir a violência
Muitas vezes é a penitência
Por ações de inconveniência
É a devolutiva, a resistência


Talvez esse desabafo vá resolver
Toda ira que eu possa trazer
E fui obrigado a conter
Em poesia, prefiro dizer

Sei que só há de piorar, encurtar
Nossa gota a se derramar
Mas, a vida não dá pra voltar
E a fórmula da paz criar

Revolta, intolerância, violência, resultado
De cada cidadão iludido, indignado
Crimes impunes, e o governante safado
Dão-nos a sensação que está tudo liberado

A raiva e o ódio estão mais aparentes
Na rua, em bares, com nossos parentes
Sistemas mais nervosos e até doentes
Mas ainda sorrimos, mesmo sem dentes.