quinta-feira, maio 22, 2014

Saúde pública em UTI e sem médico

22/03/2013
Como é uma merda o atendimento da saúde pública em meu país. E olha que estamos às vésperas da Copa do Mundo 2014. Virá muita gente pra constatar o estado caótico que vivemos. Dentre as diversas áreas de serviços públicos que são um lixo, talvez a saúde seja o pior, alterando essa “liderança” com a educação, dependendo do ângulo que se observa. E tão revoltante quanto o presente descaso, é a total falta de qualquer perspectiva otimista; muito pelo contrário. Nesta manhã e início de tarde em Osasco, sigo esperando o atendimento médico à minha mulher, Paloma, com possibilidades de estar com dengue.

27/03/2014
Depois de alguns dias, retomo a partir desta linha. Interrompido pelo chamado médico (finalmente), fomos ao consultório. Nem vale se estender muito na consulta em si, pois os próximos passos de exame e espera são desanimadores demais. Até para a medicação (com o perdão da rima nessa prosa) foi necessário um chacoalhão: “e aí? Vão ficar conversando ou nos atender?”

Lamento muito por viver num país em que pouquíssimas coisas (quase nada) funciona naturalmente. 

quarta-feira, maio 21, 2014

Crônica: Asa e portão brancos


Bora trabaiá! De novo, paro pra escrever na praça. A 2 minutos a pé da entrada do prédio da TV e mais oito lances de escada. Sob os assovios afinados de um pintor que executava sua arte com tinta branca e um portão, vim.

Desci escadas para chegar ao ponto de ônibus. Mal deu tempo de chegar, já veio o coletivo. Entrei. Vazio. Bendito contrafluxo que me leva e me traz do trabalho. Li o livreto de Fernando Pessoa, com poemas assinados também pelos heterônimos do escritor. Desci no mesmo ponto que um senhor que não tinha uma das pernas. Apesar do peso do homem (que não parecia pouco), ele mostrou desenvoltura na manobra. Imaginei quanta dificuldade este já passou (e passa) para ter tamanha prática.

No ônibus, (voltando a ele) praticamente vazio, tinha uma moça morena, bonita (nada exagerado) e que carregava consigo um jeito de quem trabalha muito. Uma cara de quem já tem uma carga de sofrimento e que estava pronta pra batalha naquele dia. Desceu em frente ao Shopping União. Trabalhar em shopping não deve ser moleza. Longe de grande elegância, a moça de seus 23 anos usava um jeans cinza (já mais surradinho), blusinha azul, dessas baratinhas de baciada, um anel prateado e com figuras, no dedo anelar direito. Em compensação, o tênis, que pode ser o responsável (um dos) por mantê-la em pé (talvez) e firme no trabalho, esse era de marca e não dos mais baratos. Afinal, trabalhamos pra isso e eu ainda estou lembrando dos assovios afinados do porteiro entoando Asa Branca, de Luiz Gonzaga.

Ao voltar à noite, subi as escadas que desci de manhã. Já não estavam mais nem o pintor, nem a Asa Branca. Nem reparei se o portão estava finalizado, se já estava tudo branquinho, mas já do primeiro degrau da subida, não dava pra não sentir o cheiro da tinta que estava no ar.


Escrito em 03/04/2014