terça-feira, maio 23, 2017

Segunda à noite

A porta se abre, está na hora de ir
Junto à liberdade concedida
Para dar o próximo passo
O vento lhe bate na face
Pois nem viu a noite cair
A lua seguiu seu compasso
Subiu e não foi percebida
Há medo em todo pedaço
Mas não vá se deixar combalir

Combalir não é verbo que uso,
Não é verbo que ouso deixar existir
No meu vocabulário inserir
Pois combalido é aquele que declarou-se já vencido
E no meu raciocínio, nem se for derrotado
Eu terei desistido
O radical foi mantido, o final trocado

Prefiro sempre o combatente ao combalido, derrotado
E sou sim um combatente, que o frio não abate
Assusta, mas, não sou covarde
Só fico atento, pois não há alarde
Nem alarme, mesmo tarde
Vacilou, ele invade
Sua casa, sua cidade, sua privacidade
Sua estabilidade, sua coragem

Sua bravura de pisar na rua
Segunda-feira noturna
Gelada vazia, no rescaldo do dia
A marmita que cedo vai fria
Ondas quentes e vem caloria
Alimenta, volta leve e enxuta
Gasolina pra labuta, pra luta
Seja trampando usando a cuca
Ou então na força bruta
Injusta, disputa
E a rua à noite de segunda
É prova sem consulta

Abre a porta pra sair
E de cara vem pergunta
E parece que quando soma todo o frio, todo o medo
Na esquina, tem segredo
Que sem luz, não se aponta
Só se aponta, aquela ponta
Da faca mais pontiaguda
Te ameaça, num instante a vida passa
O seu medo não disfarça
Entrega o valor da conta
Da compra, que ainda não se fez
E mal começou o mês
Vida segue, vida longa
Vida longa e muito 'loca'
Louca, devastada, abandonada
Tipo noite de segunda
Com a sexta comparada
Rua cheia, pé na estrada
Parece até comemorada
Pois semana que se enfrenta
Merece até uma recompensa
Pois, pensa
Enfrentou segunda fria
Viela mais que sombria
A luz da rua não acendia
A um palmo da cara mal se via
A mão que te agredia, te açoitava, te feria,
A arma que carregava
Te furava ou te atingia
Mas, que tensão, mas, que agonia
Que início de semana mais hostil
Numa noite de segunda,
Meu pensamento se aprofunda
No deserto de cimento
Onde nem vejo o meio fio
Ao meu redor um sentimento
Parece que a qualquer momento
O que eu sinto é arrepio
Serei cercado pelo vento
Por um ato violento
E então nesse relento
É que enxergamos o Brasil

sexta-feira, maio 19, 2017

Seu Arnaldo

Era uma vez, seu Arnaldo
Amava política e futebol
Discursava de Lula a Ronaldo
Assuntos variados no rol

Esse Arnaldo chamava atenção da galera
Era o tal Arnaldo falar e todo mundo ouvia
O pessoal acreditava, também pudera
E todo mundo comentava, repercutia

Ê seu Arnaldo, que gosta também de canções
Nesse tema, até bato palma pro Arnaldo
Nisso, ele manja bem quando faz seleções
Linhas boas, tipo aquela com o Rivaldo

Seu Arnaldo viu o tri, o tetra, o penta
E como eu disse: leva o povo na prosa
Sabe aquele papo na porta da venda
Que vai bem com a cachaça de roça?

Seu Arnaldo de terno tem toda pompa e estica
Vira outra pessoa, mas não perde o talento
O que ele fala, ‘é pouco’ os que duvida
Sabe dom de convencimento?

Você deve conhecer o Seu Arnaldo
Ele está sempre aí falando e falando e falando
Do que ele fala, eu não tiro um caldo
Eu só fico atento observando

O que o seu Arnaldo fala, o povo repete tipo escola
Tipo sala de aula, o que ele fala o povo cola
Mal aí a rima falha, o que ele fala em mim não cola
Esse seu Arnaldo... apita o jogo e mata a bola!

quarta-feira, maio 17, 2017

Panelistas


E as panelas continuam ecoando seu som de vazio...
Cheias, vão às mesas, enchem pratos e calam bocas
Nas varandas se batem, ouve-se o som do aço frio
Razões pra batê-las, pode crer, não são poucas

É tipo um alarme padrão, dado pelo pato de cor amarela
Vermelho na tela, janela; se a cor do discurso que antecede a novela for outra...
Mesmo que lhe tire a quirela
A batida vira palma ou silêncio e se afrouxa

E tudo se resume numa pessoa e sua imagem
Ao mesmo tempo, burro e mentor da sacanagem
Prendam-no e aos seus e tudo volta à calmaria

Águas límpidas e claras enfim navegaremos
Como sempre, até então, vivemos
E tudo voltará a ser bom, como já foi um dia

Panelas, ah... as panelas, saudade do tempo que eram apenas um utensílio doméstico
Se bem que... ainda são. Não saem mais de casa, nem batem que vão pra rua
Quando iam, modelito em dia com seu valor ético e na moda do padrão estético
Mas, não mais as ouço enquanto nos tiram as cobertas e nos deixam a pele nua

O país gira em torno de um só processo
Delatores libertos, levando tudo que o culpava
Ao final, a decisão nos trará o progresso
Uma única pessoa ameaçava

Era a ameaça que carecia nossa mais viril linha dura
Mas, diante de todo o desejo, cadê quem tem a dita dura
Pra batê-la na mesa e seguir adiante?

Faça o que se espera de sua moldura, de tudo que se espera de sua postura
Com candura, com bravura, de quem se espelha em sua figura
Te homenageia num quadro na estante

Eu queria ter deixado esse poema menor
Mas, precisei me estender um pouco mais
Afinal, diz aí, né, o país agora tá bem melhor?!

Reconquistamos nossos valores nacionais
Readotamos como comportamento a meritocracia
Equidade é uma porra, corre aí e faz o seu
Se você não teve o que merecia

É que não fez o corre, se fodeu
E esses protestos são tudo coisa de vagabundo sindicalista
Que não quer perder mamata e só fica gritando golpista
Mudando é melhor, vou economizar na diarista

Esses que no fundo no fundo, entra no grupo caviar esquerdista
Quando aguçar sua vista, direitista, esquerdista, centrista,
Não terá mais patrão, bem vindo (de novo) à era escravagista
Sugiro um nome à profissão
O que acha de PANELISTA?