quinta-feira, fevereiro 22, 2018

Intervenção no RJ

A nova geração conectada
Super antenada
Manja os hits da balada
Mas, ao mesmo tempo que sabe de tudo, sabe de nada.

Na real mesmo, nem tá ligada
Com o que acontece na sua quebrada
Se sente representada na rebolada?
Ô meu parceiro, minha aliada
Entre sua ideia e sua bunda
A 1ª tem que ser mais pesada

Não falo de pesar consciência
Falo de importância, representatividade
Não te imponho nada, rebole à vontade

Mas, somos mais que essa imagem
E nem falo de Cristo, de paisagem
Falo da nossa bravura, da nossa coragem
O exemplo aqui é bunda dura? 'Cês tão' de sacanagem!

Vai, malandra, peça a Deus um pouco de malandragem
Pra perceber que a cada queda de brincadeira
Um tiro de fato acontece, um corpo falece
E destrói uma família inteira

Que tiro foi esse?
Que tiros foram esses?
Por que tantos tiros?
Quando acabarão os tiros?
Quando acabar a munição?
Ou a bizarra canção?
Qual acabará primeiro?
Tenho uma opinião:
o Rio de Janeiro

A quantos tiros já resistiu?
Hoje, num hospital, no corredor
respira com dificuldade
O som do estampido invade

O céu que cruza a cidade sob olhar do Redentor
Com discurso de fatalidade
Mascara-se a crueldade
Da inerte autoridade
Inerte não
Por que ela age. A seu favor...
Sem pudor
Só vaidade de se impor

A sarrada é no ar,
na água, no chão, na cara da gente
E abusadamente
Eles chegarão, malandramente
Com aquela falação preparada
E quando você abraça a ilusão
É hora de levar madeirada

Mas, de batida em batida
Cai ali mais uma vida
Bala perdida, abatida
A mísera bala é recebida
A criança, uma idosa atingida
Disparo cruzou avenida
Uma mágoa sofrida
No peito, contida
Agora, escorre a ferida

Ferida toda a comunidade
Comunidade, favela, o nome que quiser
Quiser?! Nada mais vai querer.
Fim desse direito concedido
Nada poderá, disse o poder
Instaurado, aplaudido
Militarizado, estabelecido
E a arma do exército de uso exclusivo?
Está na mão do bandido
Como isso pode ter acontecido?

Lembram-se da última eleição?
E da anterior?
O prefeito Crivella abriu mão
Igual Pezão, o governador
Sem nem falar na nação
À frente, Temer. Temor.

Desespero é geral
Buscam a salvação
Isso abafa o racional
E até o coração
Conexão espiritual
Tem quem se apega nesse chão

E minha canhota caneta
Lamenta e relata a condição
Poesia impressa em tinta preta
Preta, cor alvo da repressão
Preto é luto
Não se camufla na intervenção
É a cor que chama atenção
Nada discreta na ocasião

Camufla-se jogado ao chão
Ah, e nas estatísticas da televisão
A gente já viu isso na lição
Não aprendemos,
ficamos pra revisão
Será que a gente passa na recuperação?