segunda-feira, maio 31, 2010

Selva africana

Faltam onze dias pra bola rolar
A Copa do Mundo vai começar
E começa no dia onze
Onze que faltam
Com mais onze
Que é o dia que começa
Somamos vinte e dois
Pronto, só falta o apito
Vuvuzelas e o grito
De gol, de xingamento
De alegria ou de lamento
E na África, de dor
Pelos campos minados
Que explodem carros
E pernas desavisadas
Que depois de amputadas
Não param as peladas
Com bolas inventadas
Com barbante amarradas
E muletas improvisadas

Pensamos no país-sede
A África do Sul
E por falar em sede
Lembro de sede e de fome
Onde a pobreza consome
Violência também se destaca
Quando não se defende, ataca
Guerras e ações terroristas
Aterrorizam os turistas

Solidariedade aos africanos
Às girafas, elefantes e leões
São assim nossas visões
Uma espécie de floresta
Mas a Copa trará festa
Alegria em cada filmagem
A miséria não é paisagem
Vamos mostrar o selvagem
Esse lado é o que fascina
Quando se para e raciocina
Tem que mapear, ter cuidado com a mina
Que mata, assassina
Os inimigos, elimina
Essa seria a sina
De uma nação assustada
Acuada, revoltada
Nesse mês, empolgada
Com a corneta empunhada
Vão fazer uma zuada
Um tanto quanto animada
Só que quando a Copa acabar
O que vai sobrar?

Assisti ao documentário
A bola é para Todos
A solidariedade do futebol
E fiquei pensando
Será que a bola-sol é para todos?
Seu brilho é para todos?
E fiquei me questionando
A alegria de ganhar a bola
Sem nem ter roupa pra vestir
Ter o fardamento da peleja
É possível distinguir
Os de muleta e sem muleta
É triste, tem campinho assim
O futebol é o que importa
Tem craque que nem tem pernas
E teve aquele de perna torta
O futebol é a melhor porta
O caminho de saída
De uma terra destruída
A estrada para a vida
Pra ter sossego e comida
Não muito sossego
O preconceito ainda cerca
O africano, o nego
Mas isso se concerta
É só marcar gol, fazer jus à raça
Que preconceito se esquece e passa
Negro toca música ou joga bola
Seja brasileiro ou de Angola
Ou qualquer grupo de quilombola
Fora isso, isola! Entra de sola
O crime de racismo assola

Copa da África 2010
Dez? Não!
Onze. Uma nação.
E para azar da seleção
Do país anfitrião
Um tabu quebrarão
Na fase de classificação
Virá a eliminação

Campo minado e campo de jogo
Em ambos, precisa poder de fogo
De artilharia e esquema tático
Enquanto há um povo fanático

Disfarçamos, olhamos pro lado
E começo a ficar preocupado
África do Sul, insegurança e fuzil
E a próxima é no Brasil.

sexta-feira, maio 28, 2010

Proposto... Imposto

Começa um novo dia no Congresso
Reuniões, discussões e sanções
De leis, impostos e outras ações
Há interpelações, intervenções
E mentirosos aos montões

E por que não dizer ou se esquecer
De escândalos e mensalões?

Somos bobinhos de tudo, espertalhões
Feito os Três Patetas ou Trapalhões
Pagamos tudo sem reivindicações

Votos daqui, votos dali, imposto
Próximo projeto na ordem do dia
Mais votos daqui, mais votos dali, mais um imposto
Imposto mesmo, sem pedir opiniões
Danem-se as reclamações
Imposto, taxa, cobrança, desprezo,
Mau atendimento, ignorância, estupidez
Tudo isso, todo dia, de uma vez
E pagamos tudo, tudo o que gastarem
Desde viagens aos cartões corporativos
Pagamos passagem e hospedagem
Afinal, seus impostos provisórios se tornam definitivos

Próxima votação do dia:
Comecemos a votar (secreto) de novo
Decisão: mais um imposto pro povo
Pro povo não, no povo
Desculpe, não enxergo os resultados
Nem a aplicação de cada centavo
Por meio ano, sou escravo
Trabalho pra pagar o governo
E pra seu governo, trabalho bastante
Pra sustentar o governante e às vezes, sua amante
Sigamos a diante; por mais que não adiante,
Insisto em ser relutante

Quase cinco meses inteiros, oito ou mais horas/dia
Pagando em prestações e, mesmo assim,
Sem escapar do imposto do imposto
Aquele de renda, renda que entra e sai
Direto pro cofre, pro tesouro nacional
E ai de mim, se não cobrir com esse custo
Serei cercado a qualquer custo
Quer ou não, concordando ou não se isso é justo
E justo nesse mês, maio, no finalzinho
É que lembro que há uns 10 dias, para ser preciso, 2 a mais
Há doze dias, se celebrou o dia daquela assinatura
122 anos atrás, a princesa assinou e os escravos libertou
Abolição da escravatura, daquela vida dura
De chibatadas e de exploração pura
Mas, será? As chibatadas viraram impostos
O trabalho foi registrado e aquele salarinho pra pagar moradia
Comida, saúde e o patrão
Mudou de receptor, mudou de mão
Agora cai direto na conta, na cueca, na mala, na meia
Disfarçado com gravata, sem deixar de ser ladrão
E, não mais como antigamente, em caráter de prisão
Esse chefe escolhemos; chamamos isso de eleição

quinta-feira, maio 27, 2010

Família

Complicado falar de família
Mais complicado ainda é a própria família
Convivência, desavenças e também confiança
Quando nascemos, trouxemos esperança
Dependemos dela a nossa sobrevivência
Sob o afago do lar e da segurança

Família tem seus entreveros
Brigas, tretas até feias
Mas o sangue que corre nas veias
Os diferenciam de terceiros

Pai, vô, primo, madrinha, cumpadre, irmão
Mãe, vó, cunhada, genro e o triste sogrão
Nora, sogra, tanta gente dividida até em grau
Tem os infiltrados; tem gente a dar com pau

Família conhece os defeitos e aponta manias
Também, são tantos boa noite e tantos bons dias
Dias, tardes, madrugadas de cumplicidade
Que protege e atende a toda necessidade
Um ciclo unido ninguém invade
E, na mínima distância, se transforma em saudade
Construção, teto e muros de privacidade

Apoia, aconselha, esbraveja no erro
Mas o grito qual seja não vaza paredes
Não pula o muro para a casa vizinha
Pra não criar buchicho de qualquer picuinha
Sabe aquele burburinho, aquela fofoquinha?
“Sabe quem ta grávida? Aquela mocinha...”
“Sabe o rapaz do 79? Eu ouvi que é bichinha”

No entanto, nada como ter alguém pra contar
Quando houver problema pra solucionar
Quando tiver histórias pra compartilhar
Quando quiser um ombro pra desabafar

Irmãos. Graças a Deus, tenho os meus
Sou até meio desnaturado, reconheço
Tenho dois que nem conheço
Mas, tenho mais do que mereço
Gêmeos de papai e gêmeos de mamãe
Quatro em duas levas e tem mais quatro por aí
Perdidos, espalhados pelo mundo
Ouvi dizer que desses dois que não conheci
Tem um rapaz e uma moça, não sei a fundo
Nem sei o nome, pode ser qualquer Raimundo
Carlos, Paulo, Felipe, Rafael, Edmundo
Sei lá, o da menina então, nem se fala
São mais irmãos que poltronas na sala

Porém, se o assunto é proximidade
Tenho dois, que te confesso a verdade
Não podia escolher melhor raridade
São parceiros, meus brothers, irmandade
Nesta semana, atingiram a maioridade
Além dos parabéns, puros e simplórios
Quero neste poema, deixar registros notórios
De um sentimento que envolve esse laço
Que não cabe em palavras, talvez num abraço
Que nossa história se estreite a cada passo
Reforce tudo o que podemos fazer
Sendo irmãos e companheiros até morrer,
Não importa a ordem que eu venha a dizer
Meus parabéns a Cauê e Luan
Ou parabéns a Luan e Cauê

quarta-feira, maio 26, 2010

Invicto

“Graças a Deus, todos os que eu votei, sempre ganharam. Nisso, sempre dei sorte”. Juro que ouvi isso há alguns dias. E, mais ou menos, uns 10 dias depois, veio à lembrança esta fala. Em seguida, surgiu a seguinte pergunta: “Eles ganharam”. E você? Ganhou também? Pelas condições que apresenta, parece que não.

Sou pé quente na eleição. Sempre depositei meu voto no campeão, ou melhor, no eleito. E, sei lá, sinto-me mais no direito, já que o ajudei a elegê-lo. Mas, como cidadão ocupado que sou, já fiz minha parte. Votei. Agora, cabe a ele cumprir o que prometeu e o motivo pelo qual mereceu meu voto. Tem aqueles que chegam a ser devotos. Independente da corrupção, no próximo pleito, não tem jeito, vota no mesmo cidadão.

Tem uns que vêm aqui em ano de eleição, pedem votos, dão uma ajeitada aqui, outra ali, mostram-se interessados e que estão olhando para esses lados também. Conseguem a confiança de um vizinho ou outro que, no dia certo, se lembram da visitinha e com sua carteirinha, aquela eleitoral, saem às ruas em procissão e exercem sua conquista democrática de escolher o governante. E, secos pela lei, após o voto, é festa.

Dia de eleição parece dia de comemoração. E é. A “festa da democracia”! Será que, dessa vez, vou acertar quem vai ganhar? Esse é o intuito do meu voto. Ganhar. Vencer junto com o candidato escolhido. Vencermos juntos: ele, eu e o povo. Não voto em derrotado! Depois da apuração, vamos tomar uma para comemorar. Agora pode!

Daqui dois anos tem mais eleições, mais visitinhas e mesmo com todas as dificuldades do dia a dia... ah, isso não importa. Dou sorte, voto em quem ganha.

terça-feira, maio 25, 2010

Idiota

Sou um idiota
Ainda me emociono
Com sorrisos e imagens
Com palavras e mensagens
Com meras homenagens
Com canções e paisagens

Sou um perfeito idiota
Porque ainda acredito
Que a violência cessará
Que miséria não haverá
Que a fome acabará
Que o humano evoluirá

Sou um completo idiota
Porque ainda insisto
Em acreditar na educação
Em sonhar e ter ilusão
Em ludibriar minha razão
Em votar pro bem da nação
Bobagem. Voto em vão
Só pela obrigação...

Sou um grande idiota
Pois ainda me iludo
Em tornar mais real
Um futuro ideal
O extermínio do mal
E a paz mundial

Sou mesmo um idiota
Porque ainda choro
Mesmo que por dentro
Por assistir a uma criança ler
Por ajudar alguém a aprender
Por ver absurdos e me conter
Por não ter nada a fazer

Sou um idiota de verdade
Porque ainda idealizo
Uma escola adequada pro desenvolvimento
Uma família com moradia e alimento
Uma realidade pacífica sem sofrimento
Um planeta onde o respeito esteja a contento

Sou realmente um idiota
Eu ainda boto fé
Que às injustiças, reagiremos
Que amanhã não aceitaremos
Que com promessas, nos enganemos
Que felizes, um dia, seremos
Torçamos e oremos,
Se não mais tivermos, morremos.

segunda-feira, maio 24, 2010

Ser Mulher

Ser mulher é acordar
E primeiro se preocupar
Como está sua aparência

Cedinho logo se arrumar
Um bom café preparar
Com amor e paciência

É tentar não se atrasar
Com pressa disparar
Trabalhar com eficiência

Quando pensa em voltar
Na escola vai passar
Está cumprida a sequência

Preparada pra guerrear
A bolsa vai arrumar
A mais pronta assistência

Maquiagem pra embelezar
Espelhinho pra se olhar
Beleza com excelência

Uns remedinhos pra sarar
Tudo consegue ajeitar
É questão de sobrevivência

Sabe de tudo para confortar
Sabe a vida administrar
Com maestria e experiência

Ser mulher é ter coração
Agir mais pela emoção
Não importa o que houver

Consegue preterir a razão
A favor, em prol da união
Venha a desventura que vier

É chorar por desilusão
É se entregar a sua paixão
Pôr todo o amor que puder

É ter o poder da gestação
Ser mãe, a consagração
Faz o bem onde estiver

Prepara toda a refeição
A mestre cuca do fogão
Improvisa o que tiver

És a maior inspiração
Pra poesia e canção
Além do esforço que fizer

Desde a costela de Adão
Foi a maior premiação
É tudo que o homem quer

Amor, carinho, proteção
De nós, receba a gratidão
À perfeição do Ser Mulher

quinta-feira, maio 20, 2010

Contido, perdido

As lágrimas, segurei
Por dentro, chorei
Mix de ira com revolta
Dor, indignação
O que vejo à minha volta
Machuca meu coração

Tenho que prender, conter
E não mais sofrer
Quando ouvir um relato
A notícia de um fato
Violento, brutal, criminoso
Contra quem for
Será que é falta de amor
Ou de uma fé no religioso?
O motivo, desconheço
Sei que chego a chorar
Só por imaginar
Como seguir a vida
Fugir de bala perdida
Fugir de pessoa perdida
Fugir de uma história perdida
Fugir de um futuro perdido
Fugir desse mundo perdido
Fugir do meu eu perdido
Fugir do amanhã perdido
Fugir de um minuto perdido
Fugir de uma hora perdida
Fugir da minha vida
Sei lá o que é vida
Tenho que me esconder
Pra não ser alvejado
Por isso, estou indignado
Puto, revoltado
Com crimes ao meu lado
Sou inimigo ou aliado?
Estou cercado
Passou um tiro do meu lado
É melhor sair vazado
Ou serei o resultado
Mais um contabilizado
Morto, assassinado
Tem horas que reflito:
Será que sou eu o errado?

Hoje estava até sorrindo
Também por futilidade
Quando ouvi a verdade
Fiquei refletindo
Repensando, discutindo
Com meu dia conflitante
E nesse exato instante
Vi o quanto é discrepante
A dura realidade
Que dia a dia vai seguindo
Em frequência mais constante

E cada gota que arquivo
Na gaveta da amargura
É um processo, o motivo
Pelo qual beiro à loucura
Cadeia de gotas salgadas
Além do sal, são amargas
Ácidas, venenosas
Procuro remédio ou cura
Vacinas intra-venosas
Que ponham fim à secura
Às dores que o olho atura
Com receitas medicinais
Olhos não veem mais
A dureza de fatos reais
Preferem visões duvidosas
Ilusões mentirosas
Para não se abaterem
Não sofrerem
Não sentirem
O medo e a dor do vizinho,
Do seu próximo ou parente
Ou da próxima vítima
Do próximo peito ferido
Do próximo choro contido
Do próximo eu perdido

segunda-feira, maio 17, 2010

Virada, cultura, show e o que quiser

Milhões de pessoas na rua. Avenida São João lotada, em pleno domingo. Lentidão, na velocidade de um passo. E é isso mesmo, a pé. Não era nenhum protesto, passeata ou coisa do tipo. Era a Virada Cultural.

Esses milhões estavam em bandos, excursões, grupos, tribos casais ou até... sozinhos (?!). Em cada palco, uma arte. Algumas delas, reconheço, sou ignorante no assunto, mas a Virada é isso mesmo, cultura pros mais diversos gostos. Também tinha tanta coisa!

Quando soube da Virada, não hesitei. Recorria à programação do site, destaquei minhas preferências e fui me juntar a esses milhões. A minha, foi bem eclética, garanto. Programação em mãos, roupa leve e tênis confortável para aguentar as caminhadas de um palco para outro e assim cumprir o cronograma de acordo com as atrações que escolhi. Deu tudo certo, como planejei. Vi tudo o que eu queria. Pena que algumas eram no mesmo horário e em palcos diferentes. Pena mesmo.

Diversidade de estilos, acessórios das roupas, tribos, características físicas, nacionalidades, cores, opções sexuais e de gostos artísticos, claro. Todos num mesmo espaço, curtindo a mesma música, o mesmo som, o mesmo ambiente. Curtindo a Virada Cultural.

A principal conclusão que cheguei foi que, apesar de sermos a cidade com maior diversidade cultural e artística, ainda somos carentes nesse quesito, visto que em um evento como este, milhões de pessoas foram ao encontro de tudo isso, só que de forma gratuita. Não somos uma população desinteressada; sem condições, talvez. No entanto, não pode haver prova maior que cultura e arte está no nosso sangue, só falta ser mais acessível.

Foi indescritível o prazer que senti em caminhar no meio da rua em uma das maiores e mais importantes e movimentadas avenidas dessa grande metrópole. São Paulo mostra ao mundo nesse evento que tem, não só durante a Virada, um rosto, um sotaque, um Estado, um país em cada esquina.

Parabéns, São Paulo e Obrigado pela Virada Cultural. Até a próxima.

sexta-feira, maio 14, 2010

Saímos e concluímos que...

Passo a passo saímos
Em grupos nos unimos
Subgrupos dividimos
Pelas ruas prosseguimos

Rotas e rumos definimos
Estreitos becos exibimos
Luzes, câmera e sorrimos
Nada novo e persistimos

Os monitores, seguimos
Alunos, meninas e meninos
E assim nos conduzimos
E a cada passo refletimos

As dificuldades que sentimos
As histórias que repetimos
As questões que discutimos
E os problemas, redigimos

Descemos escadas, invadimos
Muito equilíbrio e não caímos
Depois de tudo só concluímos
Que soluções não atingimos

Entrevistamos, arguímos
Aos nossos próximos, pedimos
Ideais e motivação induzimos
Incentivamos e construímos

Valoramos o que produzimos
Mas é triste quando decidimos
Que está tudo errado e não agimos
Mas também não consentimos

Com tudo o que nós vimos
Nossos corações contraímos
Mesmo assim, nos ferimos
Somos fortes e resistimos

“Dinheiro e saúde”, exigimos
Em voz e eco, nós ouvimos
A educação, preterimos
Será que com isso suprimos?

Junto a isso, coincidimos
A estrangeiros, traduzimos
Explicar, não conseguimos
Como vivem irmãos e primos

Fé e Deus, são os arrimos
O provedor do que ingerimos
Junto às promessas, digerimos
Ainda votamos, nos iludimos

Sei que beleza, nós possuímos
Em músicas, reproduzimos
O mundo, nós aplaudimos
E nas telonas, nos assistimos

Com muito orgulho, exibimos
Não cabe em filme, resumimos
“O dia em que reagimos”
Ou “Percebemos que existimos”

Se for terror, por vezes, rimos
Gargalhadas, nos divertimos
Com Brinquedos Assassinos
Porém, se for suspense, dormimos

quinta-feira, maio 06, 2010

Futebol e razão: impossível missão

"Hoje tem jogo, tem futebol", já cantou o Grupo Fundo de Quintal. Tantos outros já interpretaram o tema também, com tamanha propriedade. Tem músicas pros zagueiro, pros goleiros, pros craques, enfim, até pro juiz. E nem é xingando o cara...

No país do futebol, não onde ele nasceu, mas onde ele melhor se desenvolveu, todo torcedor é um estrategista de primeira. Tinha que tirar o fulano, porque ele, no encaixe deste time, não desenvolve uma função tática adequada; tem garra, mas, precisa melhorar o lado defensivo e tal... Bla bla bla, bla bla bla... Amante de futebol manja muito, sempre mais que o técnico, principalmente o da Seleção, independente de quem seja.

Ninguém gosta de futebol. Ou ama ou odeia. Acho difícil acreditar que qualquer torcedor que tenha seu clube de coração aceite, indiferente, derrotas, vexames e títulos. É vergonha ou festa geral! Dizem que o amor é cego; e eu completo: cego, surdo e tonto!

Não parece muito inteligente, nem normal, um cidadão que sai para assistir a qualquer coisa, por pior que ela seja, que este pague caro para ter em troca conforto e respeito nenhum. É, no mínimo, burríssima essa ideia. Mas, como diz outra canção: É o amor...

Muitas vezes defendi meu amor pelo esporte bretão com a alegação que um homem, no decorrer de toda a sua vida, só não troca de time. Mudanças acontecem no campo amoroso, profissional, financeiro, de moradia, de todas as partes; mas, de time, jamais. O que nos entristece, muitas vezes, é o risco iminente com uma inocente e despretensiosa ida a um estádio de futebol.

Já parou pra pensar que, em pleno domingo ou em plena quarta-feira, mesmo tarde da noite, deixamos nossas famílias e, tal como guerreiros, nos dirigimos ao nosso campo de batalha e nos julgamos importantes naquele exército que formamos ao redor do campo e acreditamos empurrar o time para as vitórias. Doce ilusão... O pior: nosso lado racional sabe disso. No entanto, amor não se escolhe! Agimos irracionalmente em prol de... sei lá o quê

Criamos ídolos, símbolos de superação, exemplos para nossas vidas. Simplesmente pelo cara defender nosso time. Loucura, contudo, futebol é isso. Copa então, é a hora do mundo parar. Nações se unem, a guerra dá uma trégua, pelo menos, durante os 90 minutos. Que poder tem a bola!

Apaixonados pelas peladas, esquecemos a data do niver de mamãe; a escalação de todos os tempos ou de idos títulos, nunca. Datas, lances, jogadores e detalhes, em hipótese alguma. Quando chega o Mundial então, vestimos amarelo. Saímos às ruas, com walk ou discmans, ipods, acompanhando tudo, pensando nas chaves, nos placares e chutando os resultados e próximos desafios que, claro, venceremos; somos os penta, os melhores, os imbatíveis, somos o Brasil sil sil! Tabelinha no bolso, anotamos, jogo a jogo, quanto foi e, por toda a áurea que vivemos nesse mês, somos os maiores entendidos e interessados no assunto.

Escalamos, convocamos, xingamos, choramos, rezamos, abraçamos e vibramos. Muito! Muito mesmo! Há quem discuta e discuta com entusiasmo, com a bandeira do clube ao lado da cadeira ou com o escudo na camisa ou na pele ou até com imparcialidade. Ãhn? Imparcialidade? Mentira deslavada. Não dá e, para nós, sempre os comentaristas estão a favor do inimigo, nunca são imparciais. E o pior: todos pensam assim.

Com nossa extensa experiência (de torcedores), somos revolucionários e inventamos esquemas e formas para sermos imbatíveis. Cada um tem a sua e todos estamos certos. Futebol é isso!

quarta-feira, maio 05, 2010

Ontem, 04 de abril de 2010, 73 anos sem Noel Rosa

Eu, com apenas 25, sinto saudades. Um poeta que de Tipo Zero não tinha nada. Era um Bom Elemento, mas não Devo Esquecer que se intitulou Rapaz Folgado. Mentir não era muito seu hábito. Quanto às acusações, o título de Malandro Medroso também não lhe cabe.

Um poeta como Noel não deixou dúvida, nem É Preciso Discutir, resta-nos apenas deixar Cordiais Saudações ao malandro. Malandro não! “Malandro é palavra derrotista, que só serve pra tirar todo o valor de um sambista”. Apesar de sua tenra idade compôs algumas Ingênuas canções, mais de cem. Um A.B.Surdo para a idade! Você, por exemplo conhece alguma destas?

Pena, pena mesmo ter-nos deixado tão cedo. O Silêncio de um minuto serve como homenagem, mas Agora, quase tudo que se faça, mesmo tantos anos depois não será suficiente para suprir a falta de Noel para o Brasil e, claro, pra música brasileira. Ensinou aos poetas desde o A.E.I.O.U., e Nunca... Jamais o esqueceremos. Se a sorte me ajudar, Estamos Esperando, Pela Décima Vez, novos Palpites. E só surge Palpite Infeliz e João Ninguém. Precisa-se de uma Estátua da Paciência para procurarmos e, raras vezes encontrarmos por aí sambas como o dele e Conversas de Botequim. Ando cismado...

O maior castigo que te dou, ou melhor, que ele nos deu, foi ter partido e será que foi ele que organizou a Festa no Céu? De Qualquer Maneira, Deus Sabe o Que Faz. Não digas que sou do contra, tenho até Positivismo, mesmo sendo esta evolução (?!) do samba O X do Problema, sua Filosofia e seu Feitiço são uma Vitória para todos que amam a poesia, a música, o país e o samba.

No filme Noel, o Poeta da Vila, seu pai lhe diz que faz um verso a cada vez que tosse. A tuberculose foi cruel e levou Noel ainda novinho, muito novo, com apenas dois anos a mais que tenho hoje. E nos deixou tanto, encantou o Coração de toda uma época; e de uma época 70 e tantos anos depois. Não tem tradução o que sinto quando ouço um violão, cada acorde e palavra de suas canções.

Envio essas mal traçadas linhas, Para o Bem de Todos Nós, para que reforcemos suas lembranças e hoje poder apenas decidirmos Com Que Roupa iremos à Esquina da Vida e com Feitio de Oração cantarmos Noel e cada verso de seus sambas.

Desculpe-me o atraso para nascer, mas mesmo assim, Prazer em conhecê-lo e Até Amanhã, seja lá quando for.

terça-feira, maio 04, 2010

Até quando?

Até quando?
Vou ficar justificando
Desculpas inventando
Pra não ficar pensando

Até quando?
Continuo subestimando
Vou ficar me enganando
Falsidades criando

Até quando?
A vida vou levando
Com impunidades machucando
E a ira vai guardando

Até quando?
Não fico olhando
À espreita, disfarçando
O vidro fechando

Até quando?
Vão ficar perguntando
Direi que está mudando
Fico só esperando

Até quando?
Vou ver tudo passando
O calendário virando
E o relógio andando

Até quando?
Vou ficar cronometrando
Segundos vou contando
Mas a vida está voando
Relógio fica disparando
Correndo, atropelando
O que está nos cercando

Até quando?
Ficam questionando
O poder do comando
No poder, vão transformando

Até quando?
Vou ficar optando
Bandidos em bando
E lei nos obrigando
Mantenho-me votando
Meu poder executando
E depois me envergonhando

Até quando?
Ficam homenageando
Os discursos empolando
Aos pobres, doando
E a mim, enganando

Até quando?
Verei miséria onde ando
Sonho com povo sonhando
E a fome acabando

Até quando?
Vai ficar imaginando
Que está se informando
Que pro mundo está ligando

Até quando?
Palavrões fico gritando
Se tem jogo rolando
E depois fico julgando

Até quando?
Regras vão modificando
Conforme vou desejando
Conforme vou concordando

Até quando?
Vou ficar adequando
Respostas elucubrando
E viver me conformando?

Até quando?
Uma criança vem indagando
Por que estou estudando
Se o sucesso é rebolando

Até quando?
A TV ficará mostrando
A seu favor vai opinando
E a notícia direcionando

Até quando?
Meu coração vai suportando
Explosões vou segurando
Vou ficar me revoltando

Até quando?
Vou ficar idealizando
Se estamos aceitando
A vida que estão nos dando

E vamos sorrindo, vamos cantando
Até quando?

segunda-feira, maio 03, 2010

Tô nem aqui

Jornais (em qualquer mídia), informes, livros, revistas e tudo o mais. Nos tempos atuais, fica muito fácil saber de tudo. Política, tecnologia, celebridades e claro, muito futebol. Lembrando que falta pouco pra começar a Copa do Mundo, pouco mais de um mês. Legal! Como sempre, somos os favoritos. Vai, Brasil!

Voltando ao lance de se informar. Os informativos diários são excelentes narradores de nossa história, nossa vida e nossa realidade. Parece até um seriado que acompanhamos, com ansiedade, cada capítulo. Pena que, ultimamente, só temos duas opções: suspense ou terror. Mas, comédias e romances às vezes aparecem para dar uma aliviada nos pesados e tensos episódios jornalísticos.

Boa noite! Acabou o jornal, agora vamos reunir a família para assistir à novela. Beleza! O mais novo, já com sono, começa a ensaiar o primeiro cochilo. Os outros dois, os primeiros bocejos. De quarta, depois da novela tem um futebolzinho pra dar uma relaxada e, nos outros dias, vamos rir um pouco para termos boas lembranças do dia e bons sonhos. Benhêêê, trancou a porta? Pôs o lixo na rua? Beijo de boa noite, (smack!) e até amanhã.

Bom dia, amor! Acorda as crianças! Criançada, se arruma pra escola rapidinho. Vou dar uma sapeada no jornal. Mais um dia começa, os fatos começam a acontecer. Trânsito, pequenas colisões, mais um motoqueiro acidentado na marginal, dia de sol com probabilidade de chuva no final da tarde. Faróis fechados. Malabarismo de limões ou bolinhas de tênis, independe o horário. Trocado aqui, trocado ali. Mendicância, abusos, crimes violentos e fome. Chegando ao trabalho, rola aquele stress habitual, mas vai... Passa o dia. Ou melhor, meio dia. Hora do almoço. Pra quem tem, né?
- Hora de almoço?
- Não!
- Almoço mesmo.

Satisfeito, a volta ao trabalho já começa na contagem regressiva para o final do expediente.
- Seus filhos ainda estão na escola? Será? Esqueceu deles? É por que não os ama?
- Não; os amo mais que tudo. Não os esqueci. Já estão em casa com a Cida, que cuida deles.

É perigoso vacilar com pessoas que não são de tanta confiança assim. Babás que não gostam de crianças. Professores idem. Mas são poucos, dentre muitos; contudo, tem alguns. Vai que dá o azar... Tem até pais que maltratam... Cuidado também com os loucos, doentes, estupradores e pedófilos por aí. Cuidado mesmo!

Passam as horas de trabalho no período da tarde. Seis horas. Final do expediente. Happy Hour? Talvez. De vez em quando. Mais um dia chegando ao fim. Ao retornar pra casa, feche bem os vidros do carro e não relaxe nos faróis. É perigoso.

Já em casa, olhe bem ao guardar o carro e preste atenção ao movimento na rua. Querida, cheguei! A frase da era dos dinossauros (Família Dinossauro) é praxe na chegada. Beijo de oi. Cansaço e, nada melhor que um banho enquanto sai a janta.

De banho tomado, jantar à mesa, comida para todos e com variedade, jantemos. Criançada, pra sala! Deixa a mamãe arrumar aqui. Deixa eu ver o jornal: desgraça (assassinatos), desgraça (acidentes no trânsito), desgraça (discursos políticos), alguma coisa de razoável pra boa. Intervalo. Desgraça (crimes absurdos que indignam a população, envolvendo crianças ou idosos), desgraça (atentados ao nosso bolso), desgraça (leis que nos prejudicarão ou qualquer outra ignorância social, seja ela bruta ou não). Intervalo. Mais algumas desgraças (guerras e mortes em série por acidentes de proporções gigantescas como, por exemplo, relacionados a fenômenos naturais); e, para encerrar, alguma notícia leve e geralmente, positiva. Boa noite!

Benhêêê, vai começar a novela. Depois, o humor ou o futebol e, no final de semana, vamos sair um pouquinho pra relaxar.

Como posso ficar alheio a esta estagnação e não me indignar com tudo o que ocorre a minha volta e, se vejo, finjo não ver? Se não vejo, é porque não quero... Não consigo ignorar tudo isso! Infelizmente. Mas, vai melhorar...

- Benhêêê, cadê o controle remoto da TV?