segunda-feira, maio 31, 2010

Selva africana

Faltam onze dias pra bola rolar
A Copa do Mundo vai começar
E começa no dia onze
Onze que faltam
Com mais onze
Que é o dia que começa
Somamos vinte e dois
Pronto, só falta o apito
Vuvuzelas e o grito
De gol, de xingamento
De alegria ou de lamento
E na África, de dor
Pelos campos minados
Que explodem carros
E pernas desavisadas
Que depois de amputadas
Não param as peladas
Com bolas inventadas
Com barbante amarradas
E muletas improvisadas

Pensamos no país-sede
A África do Sul
E por falar em sede
Lembro de sede e de fome
Onde a pobreza consome
Violência também se destaca
Quando não se defende, ataca
Guerras e ações terroristas
Aterrorizam os turistas

Solidariedade aos africanos
Às girafas, elefantes e leões
São assim nossas visões
Uma espécie de floresta
Mas a Copa trará festa
Alegria em cada filmagem
A miséria não é paisagem
Vamos mostrar o selvagem
Esse lado é o que fascina
Quando se para e raciocina
Tem que mapear, ter cuidado com a mina
Que mata, assassina
Os inimigos, elimina
Essa seria a sina
De uma nação assustada
Acuada, revoltada
Nesse mês, empolgada
Com a corneta empunhada
Vão fazer uma zuada
Um tanto quanto animada
Só que quando a Copa acabar
O que vai sobrar?

Assisti ao documentário
A bola é para Todos
A solidariedade do futebol
E fiquei pensando
Será que a bola-sol é para todos?
Seu brilho é para todos?
E fiquei me questionando
A alegria de ganhar a bola
Sem nem ter roupa pra vestir
Ter o fardamento da peleja
É possível distinguir
Os de muleta e sem muleta
É triste, tem campinho assim
O futebol é o que importa
Tem craque que nem tem pernas
E teve aquele de perna torta
O futebol é a melhor porta
O caminho de saída
De uma terra destruída
A estrada para a vida
Pra ter sossego e comida
Não muito sossego
O preconceito ainda cerca
O africano, o nego
Mas isso se concerta
É só marcar gol, fazer jus à raça
Que preconceito se esquece e passa
Negro toca música ou joga bola
Seja brasileiro ou de Angola
Ou qualquer grupo de quilombola
Fora isso, isola! Entra de sola
O crime de racismo assola

Copa da África 2010
Dez? Não!
Onze. Uma nação.
E para azar da seleção
Do país anfitrião
Um tabu quebrarão
Na fase de classificação
Virá a eliminação

Campo minado e campo de jogo
Em ambos, precisa poder de fogo
De artilharia e esquema tático
Enquanto há um povo fanático

Disfarçamos, olhamos pro lado
E começo a ficar preocupado
África do Sul, insegurança e fuzil
E a próxima é no Brasil.

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