terça-feira, dezembro 07, 2021

Poesia e Pão

Poesia põe pra pensar
Pão põe de pé
Palavras a passear
Por pântanos
Por pânico
Pelo prazer, se puder

Percorrendo poemas
Provérbios, profecias,
Passo por padres, pastores,
Pela pretensa pregação
Palavreados plurais preteridos
Principalmente pretos
Pelo Pai proibidos
Pelo pai?
Permita-me
Puramente preconceito

Percebo pessoas
Piedosamente pedindo 
Pedem paz
Pedem pólvora
Pra proteger propriedade
Paralelamente, pobreza
Pedem prato
Pedimos pausa

Precisamos... pela pressão
Pai, peço permissão
Parece prático pintar, poetizar
A própria poesia
Parece,
Pensamento pequeno
Poetas perpassam períodos, planetas, personagens
Perdas, paixões, paisagens
No papel, pleno
Poesia e pão, pura política
Pro povo, politicagens

A escola abre o mural
Pra oportunidade
EMEF Manoel, arma o varal
Pendura o papel, estilo sarau

Cola, prega lá seu verso
Igual na rede social
É a rede de verdade
Marca lá o local
Jardim Bonança, Osasco
Na rua de cima do ponto final

Se você dança,
Ensaia o passo, treina, faz a sua
Se canta,
Esteja com o bloco na beira da rua
Se escreve,
Não se atreva a parecer que atua

O pão nosso de cada dia, como se reza
Tem fermento no fomento
Onde a fome se despreza
A massa, depois de apanhar, processa

E cresce
Conforme os ingredientes
Um pouco de força,
Um tanto da gente
Um tempo de forno
Um pouco de prece

Mal o sol aparece
Já tem pão
O aluno na sala, 1 pão
Mais 1 dia, mais 1 pão
Isso se chama processo de fermentação

A escola no topo mais alto
A comunidade subindo a ladeira
Reproduz o passo no asfalto
O corpo inclinado pra frente
Fazendo a padoca e a feira
Mais que legume e verdura
Alimento e cultura
Pão é pintura, é sustento
É literatura, é alimento

Com todo mundo chegando
Sempre sai pão quente
Sim, é seu moleque, sua menina
Tendo a poesia presente

Aqui na nossa quebrada
O relógio ainda nem marcou sete
Falta um tiquinho
Pro sinal que anuncia
Da esquina, sobe o cheiro da fornada
Do mercadinho, da padaria
Aquele saco marronzinho
Aberto pra não murchar, saiu quentinho
Não é só pão, é poesia.

sexta-feira, dezembro 03, 2021

Primeiros Pretos

Ô, na moral, "cês" já repararam
Que "nóis tamo" em 2021
E ainda é bem comum
Ainda ontem publicaram

A primeira mulher a fazer isso
A primeira pessoa preta naquilo
Primeiro, primeira trans naquilo outro
Sabe de tudo isso o que é mais louco?

É que precisou tanto tempo
Pra um passo que ainda é pouco
Vozes que viraram silêncio
Além dos que seguem roucos

Claro, o passo merece aplauso
Palmas que deveriam ter batido
Seu avô ter ouvido
Ainda menino e descalço

Era pra ser como o carro voador
No passado, o previam
Nesse ar, que não congestionou
As frases que ouviam seu bisavô
Agora há pouco repetiam

Frases e comportamentos
Que o tempo não envelheceu
Vozes jovens as repetem
Com infeliz argumento
É um posicionamento
Direito meu
Ao crivo do crime não submetem

Tem um exemplo aqui
Você conhece Theodosina?
Theodosina Rosário Ribeiro
Esse nome foi o primeiro
Sabe como eu descobri
Primeiro ouvi,
Depois pesquisei e vi

Que, como vereadora, mulher preta
Foi precursora
Na Assembleia Legislativa também
Parece da hora, motiva
A voz preta ativa
Ali, representada, sendo alguém
Só que aí vem o porém

Ela só chegou lá em meia-oito
Em meio a ditadura
Quando o poder era ao meio
meio-censura, meio-tortura

Meio mundo sumiu
E depois da Theodosina
A próxima imagem preta feminina
Que o voto definiu
Exigiu 40 anos sem tanta melanina
Definindo o que é legal pro Brasil

De 83 a 2010
Nenhuma mulher preta botou os pés
A voz na tribuna, como eleita
Surge então, Leci Brandão
Sambista, cabeça feita, de posição

Que não seja mais preciso
Décadas de um intervalo nocivo
À nossa representação, miscigenação
Ao antirracismo
Pense nisso na eleição

Dizem... dizem...
Sabe o que não pode dizer?
Que não foi avisado
É triste a gente tão conectado
Sem nem se entender
Conectado, mas não 'tamo' ligado

Eu nem sei o que eu posso ser o 1º pardo a fazer
Se um dia chegar a ser, eu não queria
Preferiria ser o de número 100, mil
ou até cem mil
Eu queria menos estreito o funil

Pra que, em 2021
Não vire notícia capaz de surpreender
A primeira pessoa X, Y, Z
A alcançar tal desafio

É da hora a notícia da chegada
Mas notícia boa, boa mesmo
Não é notícia atrasada

quarta-feira, novembro 10, 2021

Sofrência No Ar

A voz que cantava a sofrência
Agora, sim, no silêncio, entristece
Uma dor em sequência
Nada simples como suas canções
E multidões
Que viram sua trajetória
Cantaram seus refrões
Que o amor era a história
Na maioria, sofrida
Por traições,
Por despedida
 
Quem diria que um sonho comporia
O mais triste verso que você fez parte
Cachoeira de lágrimas, como sua arte
E você parte, hoje conta mais um dia
 
Sua música tinha identidade
A sua e de um monte de gente
Milhões em sua casa na live
Sua voz feminina e potente
Trouxe a quem ama suas verdades
Trouxe a quem sofre, um colo quente
Um aconchego, cumplicidade
Daquele amor que se arrepende
 
Sabiam de cor suas letras e melodia
E justamente no ar onde ecoavam
Desse mesmo ar, cada acorde caía
Chegou a notícia e todos pensavam
E esse filho que há pouco tempo nascia?
E essa mãe que ontem comemoravam
Era aniversário da Mãe de Marília
Mal sabia que em um dia se separavam
 
Não adianta maquiagem à prova d’água
Era uma cachoeira,
Caratinga, cidade mineira
Marília levou uma nação inteira
A chorar, não pelo amor mal resolvido
Mas, pela dor derradeira
De não ter dado nem tempo
Da gente ter se despedido
Tão nova, tão popular
Parecia ter um jeito divertido
Respeitada por várias tribos
Que ousava interpretar
Cantou uns pagodes, uns raps
Cantou de tudo, foi divertido
Não é por que do ar se foi
Que você não vai ficar
Nos bares, nos violões, 
nas rádios, NO AR!
 

Menções aos outros quatro falecidos neste acidente:
Henrique Ribeiro, Abicieli Silveira, Geraldo Martins e Tarciso Viana

quarta-feira, setembro 29, 2021

Óbito Também é Alta

Óbito também é Alta
Óbito é alta
Entendeu?
Óbito – alta
 
Sim, é alto o número de mortes
A sorte nos falta
Mas não é só sorte
É fruto de um golpe
De missão incauta
 
Tiram-se os lençóis
Tira-se a terra
Fecham-se paletós
Pais, tios, avós
Tira o ar e já era
 
Siglas: UTI, IML
Do leito ao luto
Do quarto aos sete
Palmos que despede
O fim absoluto
 
Respiro curto
Versos breves
Crime absurdo
Que nenhum insulto
Descreve
 
Tem nome, sobrenome e assinatura
Prevent, Senior, Bolsonaro
Essa foi a postura
Cada um pague a sepultura
Previdência é algo caro
 
Óbito também é alta
Deixar o hospital e o leito
O plano de saúde contrasta
O kit morte já não basta
Tirar o ar está no preceito
 
Já não bastasse Mandetta, Pazuelo, Teich
Queiroga e a cloroquina
Usaram a máxima do Reich
Lealdade e Obediência
Lema da ação assassina
 
Será que vivo pra vê-lo pagar?
Milhares de adeus
Mortes como alta hospitalar
Um plano sem carência pra matar
É esse povo que se diz de Deus?
 
Era, pra hoje, a Prevent estar em chamas
A sede queimando, derretendo
Seria uma calorosa vingança
A quem eles ceifaram a esperança
De uma avó se restabelecendo
 
Slogans replicados
Inclusive na crueldade
Brasil acima dos enterrados
Incinerando os cremados
Testando a humanidade
 
Nem precisa testar
Já fomos reprovados
Prontuários pra ocultar
Sem nem velórios pra chorar
Pra eles, só resultados
 
Nós perdemos
Braços que não dão mais abraços
Somos a cada dia um pouco menos
A cada dia, um pouco mais, morremos
Com tantos crimes macabros
 
Quero deixar público meu prontuário
Minha dose é a escrita frequente
Desabafo sempre que necessário
Eles mataram e nada diz o contrário
Só a corja de Jair e a Prevent

sábado, setembro 25, 2021

Quando Eu Escrevo

Quem dera eu tivesse o poder
De ser tudo o que eu escrevo
De ter vivido todas as cenas
Umas eu nem queria viver
Vivi algumas, apenas
 
Muitas vezes, é sobre dor
Algumas que vejo
Outras, a empatia me faz supor
E passar por elas, não desejo
As de amor,
Aí que eu não quero mesmo
 
Quando escrevo, eu posso olhar um casal na rua
Imaginar que são amigos, namorados
Posso criar um personagem que atua
Ou de fora, assiste calado
 
Posso ser narrador de um ato
Posso ser um terceiro
O amante,
o traído
Posso nem ser percebido
Como um mero figurante
 
Quando do papel e caneta me aposso
Se eu quiser, posso ser
O par da atriz principal da novela das nove
No meu texto eu posso
 
Posso amar, posso estar num romance
Que só um lado sofre
Posso escrever, escrever
E às vezes, o enredo não desenvolve
 
Tudo isso que eu posso, eu faço, eu verso
Quando eu escrevo, eu posso hoje
Do ontem ser o inverso
E do amanhã, ser o avesso do avesso
 
Vão se acabando as folhas
Até os cadernos
Mas, pra um poeta
O que nos pauta é o universo.

sexta-feira, setembro 24, 2021

A Esperança é a Última

Desde criança
Aprendemos um ditado
Que a última que morre
É a esperança
Crescemos repetindo
Esse aprendizado
 
Com o tempo, até perdemos um pouco
Deixamos nos levar
Porque só na frase se apegar
Cansa...
Aí a gente para e faz um repouso
Encontra um no ombro do outro
Onde se apoiar
Aí a gente avança
 
Já imaginou desistir de quem se ama
E pode estar em qualquer lugar
Podemos o mundo circular
Como quem dança ciranda
Sem nenhuma das mãos soltar
 
Trazendo na fé a frase de infância
A última que morre é a esperança
Então, eu vou procurar
Por maior que seja a desconfiança
Nós vamos achar.

Ele Na ONU Não É Nóis

Sabe quando a gente nem quer mais falar?
É esse o limite pra aceitar a derrota
Eles não querem apenas triunfar
Eles querem além da vitória
Nosso direito ao sonho e lugar
Eles querem roubar
Como a luta e história

Eles tomaram sim e falam pela gente
No espaço público, na TV, na Organização das Nações Unidas
Ele está lá, afinal, é o presidente
Pela votação (na urna eletrônica) a ele conferida
Perante o mundo, indiscriminadamente, mente
A recepção estrangeira é condizente
Ao desdém e nojo com que ele trata vidas

Em 12 minutos, mentiu, mentiu e mentiu de novo
De tão abjeto, desfilou sua arrogância
800 dólares de auxílio pro povo?
Omitiu que no Brasil a ganância
Deixa o agro (nada pop) resolver no fogo
As reações são asfixia e ânsia

Amazônia, índio, tudo por ele era extinto
Como qualquer decoro e diplomacia
Covid sufocando, ele imitando e rindo
Testemunhou que usou remédio que não servia
Falou pro mundo de cloroquina e não entendia
Porque ninguém estava seguindo
O tratamento precoce que ele vem insistindo
E a ciência séria não consentia

Não acabou por aí o pronunciamento
Disse que afastou socialismo e corrupção
Não faz ideia do que está dizendo
Envergonhando muito a nação
Milhares de mortos, quase seiscentos
Por ignorância... por ignorância, não
Por criminosa omissão

Aqui, temos outras verdades a dizer
Vacinas escassas à necessidade
Prevent Senior testou humanos pra ver
Se o Kit Covid tinha efetividade
Teve empresário que deixou a mãe morrer
Testando seu direito de escolher, sua liberdade
merecia uma estátua pra homenagear a saudade
Duvido que ele deve ter
O significado de humanidade ele nem deve conhecer

Corrupção em família, sob aplausos na cerquinha
Da turma do cercadinho, seu gado de auditório
Perante o mundo, aquela mesma ladainha
Sem ouvidos nem respeito ao falatório
Vai te restar a última linha
No seu futuro torpe e inglório

Diante do mundo, nos rebaixa
A cada frase que pronuncia
Quando descer a rampa e entregar a faixa
Vai pagar a dor que nos impelia
Aí vamos ver se encaixa
Tudo que fala de tortura, de minoria 
De toda essa porra que cê acha
Aí eu quero ver
Vai ser nóis e a tua valentia

quinta-feira, setembro 23, 2021

Ignóbil Heinze

Senador Heinze, do Rio Grande do Sul,
Já comecei com uma boa rima
Mas, como na poesia e gramática
Sempre fui nota azul
Prefiro forma mais pragmática
Educada e fina

Ele, que sempre defende cloroquina
Colocou Mia Khalifa em estudo de medicina
Também fala direto de um médico
Concorrente ao Nobel da Paz
Sabe, seu Heinze? Ignóbil, Heinze?
Sabe quem merecia o Nobel da Paz?

Aquela mãe que tem um filho preto baleado
E falam que foi bala perdida
Pra essa caberia, uma honra merecida
Se ela não pega um cano e vai pro arrebento
Essa merecia mais que o reconhecimento

Sabe quem mais?
O Nóbel ou Nobél
Poderia ser dado
A quem revida no papel
Tudo que lhe é roubado

O Nobel da Paz deveria ir pro moleque
Pr'aquela menina
Que cresce na rua, passa fome e ainda sorri
Pra essa criança que a gente vê na esquina
E não cria em si
Naturalmente uma intenção assassina

O Nobel da Paz, seu Heinze, 
Deveria ser sempre de um brasileiro
Viver no Brasil que recusa vacina
E a gente não incendiar o planalto
Com aquele sequestrador lá dentro
Que nos tomou a esperança de assalto
Só confirma

Somos muito da paz
Pacíficos, passivos e pacientes
Intubados, inconscientes
Desacordados, condescendentes
Já imaginou a gente situado
Preparado pra linha de frente
O Nobel, pode deixa quieto, tá ligado?
Eu só quero a paz pra vida da gente.

sexta-feira, setembro 17, 2021

Das Ideias Que Eu Queria Ter Tido

Fala aí, quantas vezes já viu esse tema discutido?
Pr'um compositor, sempre se questiona
Quais canções queria ter escrito

Quais versos queriam que fossem de sua autoria
Por sua mente fosse concebido
E, como um alguém da poesia, brisei nessa ideia outro dia
Das ideias que eu queria ter tido

Nesse curto instante que comecei a enumerar
Já pensei que a poesia está solta no ar
Ao alcance de qualquer um
As ideias que não pude pegar
Ocuparam a folha de algum...
Alguma compositora, poetisa
Das ideias que não consegui rabiscar
Faltou-me a vivência daquele olhar
Aquele repertório pra observar
É disso que a linha de um verso precisa

Das ideias que eu queria ter tido
Dataria em meu registro, outra década de nascido
Outro Estado ou cidade, talvez
Em vez do meu instrumento com quatro
Ter aprendido aquele mais clássico, com seis
Trocado meus calos das cordas de aço
Por nylon e timbres mais versáteis

As ideias que eu queria ter tido
Eu não poderia ter tido
O ângulo que enxergo o mar
Estaria em outro andar
Ou até por posição invertido
Ao de quem pôs-se a versar

Eu não poderia ter escrito
As coisas de um lugar
De um ambiente não vivido
Nem o que eu não acredito
Mas, o que eu não escrevi, eu repito
Eu canto, mesmo sem saber
Eu declamo, eu recito
Eu admito
Que mesmo não tendo escrito
Como eu queria ter tido
Aquela ideia pra escrever

Eu queria ter escrito a Magia Negra, do Sergio Vaz
E tantos outros poemas dele, fenomenais
E aquele que faz os versos na Fátima,
Sabe aquele rapaz? Bráulio Bessa
Das ideias que eu queria ter tido
Está aquele cordel
Se o Brasil fosse dividido
E o Nordeste ficasse independente
Eu queria ter propriedade
Junto com versatilidade
Pra falar de terra seca e quente
Como falo do frio asfalto da cidade (Não existe amor em SP...)

Eu queria ter ideias do Nei Lopes, do Chico
O Buarque, do GOG, do Brazza e Mano Brown
Ou pelo menos em um pouco dessa fonte ter bebido
Ter visto de perto, assistido
Tudo o que fazem de genial

Das ideias que eu queria ter tido
Eu tive outra
Aguçar meu ouvido
Meu faro, visão, paladar e o tato
Um por um, cada sentido
Pra que tudo que eu senti, de fato
Em cada verso, escutado ou lido
Tenha em mim assimilado, acumulado
Pra que, na próxima ideia,
Não seja mais a que eu queria
Num tempo imperfeito e passado

Será a ideia que eu tive
Que escrevi e trouxe comigo
De um pretérito, agora perfeito
Que eu trago ao presente do indicativo
Que ao me lerem, eu tenha um pouco de cada
Das ideias que eu queria ter tido

quinta-feira, setembro 16, 2021

Senta

Pra não ficar de fora
Excluído do momento
Do repetitivo movimento
Que tudo manda sentar
Resolvi participar

Ligo o rádio, batidão
E senta, senta, senta
Nem é mais só o funk pesadão
Antes era o tal proibidão
Hoje, o sertanejo, que era só modão
Já troca o "Aôôô, peããão"
Pelo senta, senta, senta

Ó, tá tudo na boa!
Quem quer sentar, que sente,
que sinta a sentada, sente à vontade

Agora, eu também vou mandar sentar

- Mas, na poesia, Machado?
Sem música, sem compasso?

Sim, da forma que eu faço
Você não vai ficar parado
Aí nesse mesmo lugar

Senta
Senta do dedo na caneta
Senta o verbo no discurso
Senta a ideia, dá a letra
Levanta e se apropria do recurso

Senta,
Senta a mão na cara
Senta a bronca em quem merece
Senta a porrada, se preciso
Em quem senta e se atreve

A sentar no lugar
Pra gente ocupar
Senta, senta o braço
Senta o risco, passa o traço
Em quem senta em nosso espaço

Esses tentam nos calar
Dão uns tiros de 'ameaço'
Muitos outros pra matar
Sentam o dedo nos nossos
Depois, sobre o crime vão sentar
Engavetam folha e corpos
E a gente sentado a olhar

Depois de tanta sentada
Senta a bica
Manda pra longe
Quem acha que define aonde
A gente vai ou fica

Senta, dá aquela estudada
Que aí, "cê" levanta e anda
Não sobra só o senta e quica

segunda-feira, agosto 30, 2021

Feijão, Fuzil e Violão

Com os punhos se ergue uma guerra
Se faz um gesto, se empunha um fuzil
Ou violão 

Quando esse mesmo punho se cerra
Em postura e protesto não mais servil
Revolução 

Esse mesmo punho se solta e circula
Vai mexendo, remexendo, temperando
O caldeirão 

Esse mesmo punho é quem mistura
Sentimento, escrevendo, musicando
O feijão 

A rigidez ou leveza
Está em como se senta à mesa
Se a faca é para refeição
Ou para agressão 

O punho posicionado
Dedilhar ou engatilhado
Diz se é capaz de fazer melodia 
Ou só entoar agonia 

Então, peço a sua gentileza
Feijão e violão de sobremesa
Fuzil não tem afinação
Só produz choro sem canção 

Já tem ferro no feijão preparado
Pro nosso povo esfomeado
Desse alimento já se fez tanta poesia
Agora, posar de arma um violão, 
É desarmá-lo, desarmonia

sábado, agosto 21, 2021

Perdida

A palavra PERDIDA
Me achou, me confundiu, me perturbou
A bala, só costumamos citá-la
Se ela se alojou
 
Em um corpo,
geralmente,
quase sempre todos
Da mesma cor
 
Até ela tem endereço
O destino do seu feito
Recebe até flor
 
Perdida
Quando se fala em vida
Pega a via em qualquer mão
Dizia que perdida era a da prostituição
Perdida? Como perdida?
Tão achada e consumida
Por um troco de tostão
Perdida é a partida sem razão
Que poderia ser prevenida
Perdemos de um em um
Mais de meio milhão
A mensagem ficou perdida
 
Ignorada, não respondida
Por omissão
GE-NO-CI-DA
Vidas que poderiam ser encontradas,
abraçadas, nem tiveram despedida
Aproximação proibida
Distâncias limitadas
Só que perdemos a medida
 
Rotas
Entramos em ruas erradas
Contornamos pontes e avenidas
Os GPSs indicam
Recalculando
Para, encosta e retoma
O caminho ali se desenhando
 
Enquanto há caminhos no escuro
A gente segue estudando
Se formando, trabalhando
Tudo em nome do futuro, inseguro
Construindo nosso chão
Mesmo com ele nos pisando
 
E toda condição sofrida
É vista como etapa
Que vai ser vencida
Na frase mais contraditória
Uma vitória perdida
 
Vencem boletos, meses
E cai o salário
A gente ainda sonha, às vezes
E desperta pro mundo contrário
Quem levanta pra levantar o necessário
Faz da rotina seu pão,
O alimento diário
Matutino
E a palavra perdida, quando vai pro masculino
Ganha um tom intencional
Uma fuga pra não ser percebida
Por alguma ação escondida
No mundo filmado e transmitido
Em tempo real
Do perdido planejado
Ao nada plano, social
 
Socialmente pensada
Pra não ser dividida
Duelo de mão contra espada
Arma contra alma, L ou R na parada
Para! Essa luta, só por existir já está definida
 
Se uma munição está preparada
Engatilhada
Nem a bala nem a mira
Que deveria se chamar de perdida

sexta-feira, agosto 20, 2021

Dog de Osasco

Papo bem reto e direto
Dog é com purê e isso não se discute
Ah, mas você é muito intransigente
Deixa cada um fazer como quiser
Em Oz, é dogão,
no máximo, chama de cachorro-quente
E o purê reboca na colher
Pra sustentar os ingredientes
 
Ah, mas vocês colocam milho
Repolho
Vinagrete
Diz aí meu filho
Se você não cresce o olho
Naquele no prato
Colorido de ketchup, maionese e cheddar
Até queijo ralado
 
Pra rebater umas ideia furada
Já vi quem faz dog de salsicha fatiada
Quem põe frango, carne moída, umas parada errada
Os dog de gringo, só pão, salsicha, ketchup e mostarda
 
Sem essa, somos a capital nacional
Nova Iorque tá na frente, mas logo ali
Aqui tem quem faz prensado, acrescenta catupiry
Prensar já é opção, não o tradicional
Aí, ok, você pode decidir
 
40 mil dogs por dia
600 carrinhos pela cidade
No calçadão da Antonio Agu, a maioria
Mas, opções tem à vontade
Tem uns ali na entrada da Primitiva Vianco
Tem na Praça Padroeira
Tem pra quem vem do centro, ali na Maria Campos
Aqui o dog é tão foda que a gente faz até feira
 
E tem quem ousa cometer a heresia
De dar pitaco, eu logo rebato
Meu argumento nem abre outra via
Pra contraponto sensato
 
Você, por acaso, vai pro Rio Grande do Sul
Ou pra Argentina
Chega num gaúcho e palpita como fazer churrasco
Não?
Então,
A mesma regra vale pro dog em qualquer esquina
Quando você está em Osasco
 
O papo tá dado e com purê

quinta-feira, agosto 19, 2021

Amor Tem Tamanho?

Não importa o tamanho do papel 

ou da tela 

que você está lendo isso, 

o amor cabe aqui.

Como assim?

Escreve-se amor em um grão de arroz, 

em faixas, em outdoor, em artes que ocupam prédios inteiros.

Mas o tamanho da fonte realmente importante é de onde esse amor emana. 

Amor não é sobre tamanho de frases e versos

quarta-feira, agosto 18, 2021

Ponteiros

É madrugada
Outro dia, tive umas frases pensadas
Sobre questões de amor
Só que agora, depois das doses viradas
Ideias embaralhadas não jogam a favor
 
Se bem que... quer metáfora mais apropriada
Para esse estro?
O jogo roda sentido horário
Começa no seu braço destro
 
E percorre os ponteiros
Que se encontram, se cruzam
E seguem
Ponteiros, o amor passageiro
Que se conseguem, se conquistam
Macetes e sinais despistam
 
As intenções momentâneas
E exclusivamente momentâneas
De satisfazer a si
De forma instantânea
 
Se o prazer de outrem vem
De forma simultânea, espontânea,
Tanto faz
 
O que importa é faturar a rodada
E outras tantas mais
Rodadas de baralho,
De falsos amores carnais
 
Como os ponteiros do segundo
Que cruza toda hora com todo mundo
Enquanto o da hora
Só encontra o do minuto
Nas passagens cheias e pontuais

terça-feira, agosto 17, 2021

Erres e Erros

Ele, aquele lá, que inflama
Ódio a quem ama
E conclama
Que a população se arme
E não se ame
 
Que diferença faz um “r”...
 
Portanto, não erre!
Que, por esse erro, olha o vexame
  
Tem horas que parece
Que Deus olhou pro Brasil
E deu-nos essa sina
Uma mente assassina
 
Subiu a rampa do Planalto
Verde e amarelo na faixa
Ordem e Progresso na bandeira
 
Da ignorância, o arauto
Da cultura mais baixa
De crueldade rasteira
 
Eu só escrevo poesia
Deixo o samba pros compositores
Mas, lamentos não nos faltam
Pessoas sim, números saltam
Mortos por corruptores
 
Negacionistas da doença que mata
O que mata é que a mensagem
Sequencialmente ignorada
Negligenciada
Poderia ser respondida
E pior, foi proposital
Mas, afinal,
O que esperar de um brutal e boçal genocida?



Coincidência: esse poema entra no blog num dia 17.

segunda-feira, agosto 16, 2021

Samba com Um Bocado de Tristeza

“Pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza”

Vinícius compôs e cantou
Olha, sendo assim, certeza
Que na hora de fechar a conta e por na mesa
Inspiração não faltou
 
A gente anda triste
Luta, luta, luta e luto
Luta, luta, luta e luto
Não sei você, mas, fake News eu refuto
Tem umas e uns que nem discuto
 
Não vale a saliva do papo,
Valeria, como antes se dizia
Uns ‘catiripapo’
Mas, não é no sopapo, nem no tapa
Que a gente escapa da melancolia
A minha melhor forma
É a caneta que transforma
O que me transtorna, em poesia
 
Agora, me fala: haja samba pra fazer
Com tanta tristeza em volta
Nosso enredo anda sem revolta
Pouco ousa dizer
 
A gente anda triste
Você, eu, nossa gente
O medo é frequente
Cada vem mais presente, ele persiste
Pra ver se a gente resiste
 
Ele quer ver até onde vai, até onde vamos
Ver quem primeiro cai, quem não seguramos
Será que esse samba sai,
Se há muito tempo nem cantamos?

domingo, agosto 15, 2021

Te via

Sonhei que te encontrava por acaso
E por acaso você vinha ao meu encontro
Estávamos em vias opostas
Não sei dizer exato se naquele ponto
Eu era ida ou era volta 

Eu não era, eu estava, você também
Em movimento, a via tinha sentido
Eram contrárias as direções
Destinos não definidos
Cruzaram-se sem previsões 

Permitidos por luzes e segundos
Que dizem quem vai e quem fica
Conspirou a favor o universo
A vermelha, a pé, me diz: siga
Veio a desordem ao meu progresso 

O verde e o amarelo do farol
Param meus passos nos cruzamentos
E tudo combinou pra que eu te olhasse
Nem meu rumo eu sabia, quanto mais dos ventos
Quem estava a favor e quem o enfrentasse 

Sei que o desejo tomou conta
Dois olhares se devoraram
Passos às frente, encorajaram-se
Pararam, decidiram, voltaram, 
Conversaram, desejaram-se 

As velocidades que corriam
Eram nada perto dos batimentos 
A temperatura fria da rua
Era nada perto do calor de dentro
Desejando a outra pele nua 

Não havia lugar, era uma via
Pra que pudessem expelir tamanho ardor
As roupas quentes não faziam mais sentido
Só que ali, seria atentado ao pudor
Com agravamento de pena merecido 

Amar tem sentimentos e sentidos no plural
Uma rotatória, uma via que se cruza
Às vezes, continua, às vezes, atravessa
Às vezes tem placa que tal direção recusa
Às vezes, tem colisões, por ordem nem sempre expressa

sexta-feira, agosto 13, 2021

Portões

Os portões do bairro onde cresci
Continuam os mesmos
Até a ferrugem nos cantos são as mesmas
Minhas lembranças de infância são poucas
Mas quando os revi
Revivi as vezes que subia aquela ladeira
Para pedir prendas pra festa junina 
Ao revê-los, tive a certeza
De que é uma pena nos dois sentidos
Um lamento e uma punição 
Na fase adulta, amadurecidos
Na infância, em evolução 
Não, não e não. 

Somos agora os mesmos portões
Outrora, vistosos, a referência da rua
Sabe aquela casa de portão de tal cor?
Com o tempo, a ferrugem atua

E somos os mesmos portões 
Nhec, nhec, soam as nossas dobradiças
Que tem sempre um jeitinho de abrir
Passaram-se várias vezes as 4 estações 
A rua continua a descer e subir

E nós não sabemos de fato nosso sentido
O que sabemos é que sentimos 
O tempo enferrujar nossos portões.

quinta-feira, agosto 12, 2021

Pra Te Tornar Real

Nem se eu dedicasse
Uma década de versos
Eu poderia te tornar real
Em minha poesia 

Nem se o tempo parasse
Pra que você me alcançasse
Ou meu tempo em retrocesso
Eu óbvio que aceitaria 

Pra te tornar real
Em minha boca você
Desaguar seu prazer 

Pra te tornar real
Você é o sonho 
Que eu não devo ter 

Mas sonho a gente só sente
Não tem previsão
Tem um coração que bate frequente
Coração também bate em vão 

Eu queria que fosse a gente
Acordando e eu tendo a visão
Do seu beijo ao sol que é nascente
De um te amo, sem qualquer previsão

sexta-feira, agosto 06, 2021

Minha Paisagem

Eu nem consigo imaginar
O quão abençoado
O que faria jus ao prêmio
De acordar a teu lado 

Porque acordar e te ver
Deve ser como abrir a janela
Ter a paisagem do prazer
Na mais artística tela 

Ao desejar bom dia, te beijar
Ao viver o dia, te admirar
Vê-la no tom do sol a se por
Escrevê-la vendo o sol se impor 

Impor o clarão amanhecendo
Seus olhos, meus sóis, brilhando
Nos lençóis, te envolvendo
Dando nós
Nós? 
Só sonhando...

quinta-feira, julho 29, 2021

Frio

Está frio, bem frio
Acusam meus pés, mesmo aquecidos
Ou tentando
Em meias de não tão grossos fios
Congelando
 
Claro, tem aí certo exagero
Força de expressão
Não é pra tanto
O frio dos pés não é o primeiro
Que incomoda a sensação
 
Há os sem meias, sem blusas, sem teto
Sem calças, descalços nos concretos
O que não é nada abstrato, nem arte
É na esquina de uma cidade
Chão áspero que arde
Uma criança ao relento,
Desse cenário ser parte
 
Campanhas do agasalho
Campanhas de inverno
Sem colcha de retalho
Sem apoio, sem trabalho
Sem ambiente interno
É tudo, tudo externo
De tudo está fora ao extremo
 
O teto é o invariável breu
Luzes de faróis e da lua
Das estrelas e do poste da rua
E o que aconteceu
Antes de amanhecer
Só quem sub-viveu ou sobreviveu
Que pode dizer
 
Está frio e à noite, aperta
O tempo espaça, passa lento
Será que o sol de manhã conserta
Esse clima de frio (e) violento?

sexta-feira, maio 07, 2021

Chão

Nosso chão
Além de grama e cimento
Traz nossa origem
O nascimento 

Você é de onde?
Pergunta frequente
O que importa saber 
Seu chão se faz presente
E geralmente
Diz um pouco de você 

Nosso chão Brasil
Tem sido pisado
O capacho, de verde
Pela bota, enlameado 

Sabe? Deve ser sangue
Nosso fertilizante do chão
Tanto, todo dia se derrama
Do mundo, o tal do pulmão
Sofre pela inalação
De tanta fumaça pela chama 

Chamas pela evolução? 
A terra queima e morre
A gente morre e queima
Nem morto, a terra cobre
Custa caro ter um lote
Na urna, cinzas do sistema

Nem só sangue indígena aduba a terra
Nessa hora, o sangue é igual
Então, tira de quem já tá na merda
Aí sobe a média do capital 

Olha a chacina do Jacarezinho
Não precisa pensar no meio
Os fins os justificam
No hino, ó liberdade, em teu seio
Porra nenhuma, tudo suspeito
Isso os Datenas ratificam 

Jacarezinho, chacina,
Jacaré na vacina
O que nos resta é sobreviver
Em meio a tanta crocodilagem 

terça-feira, maio 04, 2021

O Voto

O que diz seu voto?
Sim, começo assim, direto
Pergunto no ato
 
Sim, eu me importo
Pode ter mais de um correto
Há também um pior, é fato
 
Eu friamente anoto
Quem votou no abjeto
Pra cobrar o pato
 
Hoje pago em mortos
Num futuro incerto
Ou um plano exato
 
Seu voto significa
O que interfere
O que te atinge
O que te fere
 
Seu voto também diz
Quais pessoas verbais
Além das primeiras
Seu intuito traz
 
O que diz seu voto
Quando nenhum te representa
Há lutas que se discorda
Há monstros que se enfrenta
 
Sabe o que também diz seu voto?
Qual bandeira você agita
Se os seus, ela acolhe
Diz o que tu acreditas.
 
Seu voto também fala de você
Não se isente, por favor
Não é cochicho, nem fofoca
É o que te dói pra se opor
 
Seu voto diz onde te dói
E o que tanto faz
Seu voto pode não querer guerra
Mas não primar pela paz

quinta-feira, abril 29, 2021

Noite de Libertadores


Ah, aquela avenida
Dobrou ali da Francisco Morato
ou atravessou ali do shopping
Do Metrô, da Linha Quatro
Ali, é nossa caminhada preferida
Que não cansam os pés,
Nem na volta, muito menos na ida.
 
Ah, aquela avenida,
Já vemos camisas, bandeiras, boné, corrente
Tem água, e 3 latas por 10
Pra molhar o grito que vem logo à frente
As camisas, têm de todas as eras
E cada uma com número diferente
Afinal, são tantos ídolos
Que só 1, ou melhor, só 01 é unanimidade entre a gente
 
E hoje, era pra estarmos com ingresso
Camisa já preparada
Esperando na hora o progresso
Que em dias como hoje parece em retrocesso
Esperando a primeira apitada
 
E nada, nada da hora passar
É um desespero a cada minuto lento que escorre
Enquanto a gente pede que o tempo colabore
Usamos em camisas, artigos ou na própria pele nossas cores
Cores que têm feito nossos olhos chorar
Foram tantos recentes dissabores
Que nos fazem sofrer, mas nunca deixar
 
De usar no peito as faixas vermelha, branca e preta
E não há verbo, nem palavras, nem caneta
Que possam ilustrar, rimar ou explicar
O que a gente sente em noites como essa
Não adianta, o relógio não tem pressa
Ele nos aprisiona em seu segundo compassado
Nada libertador
Que hoje, os deuses Telê, Muller e Raí
Possam nos fazer sentir
Voltar no tempo
Abençoar o templo
O nosso lar, o Morumbi
 
Que o grito de gol seja dado a plenos pulmões
Que as próximas terças sejam de igual alegria
Para todos os outros, é uma competição
Sim, muito importante que vale milhões
Para nós, é a obsessão
Que mantém vivos nossos corações
Que faz desde a manhã, nos embriagar de euforia
É só uma bola, um campo, um estádio e nossos 11 jogadores
Não é só isso, mesmo.
Para nós, tricolores
Não importa a fase nem as condições
Hoje é noite de Libertadores.