sexta-feira, fevereiro 12, 2021

Olha, me desculpa...

Olha, me desculpa, viu?
Às vezes a gente se perde
Perde a razão, o senso
E faz algo tão imbecil 
Que o pior dos piores olhares está vendo
O seu, aí dentro
Remoendo, tentando se entender

Olha, me desculpa, viu?
Eu não queria te fazer sofrer
E eu pensei em como me redimir
Pensei em te dar flores,
Só que no caminho, eu desisti.

Sabe por quê?
Porque eu sei que gosta de receber
Buquê ou arranjo, do mais simples até
Cores vivas, com vasinho, raiz
Aquele pequenino pé

Olha, me desculpa, viu?
Eu não trouxe mesmo as rosas
Porque se eu tivesse trazido
Eu só seria clichê, pra fazer o pedido
Aquele de desculpas, arrependido
Pra você, eu quero dar flores de vários jeitos
Pra te fazer sorrir, pra enfeitar sua estante
Te trazer vasinhos em várias datas
Fazer com que todo dia seja importante

Quero que receba flores minhas
Com alegria e não com lágrima presa
Olha, me desculpa, viu?
Às vezes, plantamos sementinhas
Que destroem a natureza

Olha, eu entendi que mesmo desculpando
A dor fica agulhando, cutucando,
Vamo falar a real? Doendo pra cacete!
Eu entendo suas angústias,
Sempre repletas de contexto
Mas, eu te peço, imploro, na moral,
Não quero ficar inventando pretexto
Pra me eximir das minhas culpas

Olha, me desculpa, viu?
Espero que, pelo menos, um dia consiga totalmente
Deixo as flores pra te dar como presente
Nessas ocasiões
Flores pra chorar? Só na última partida
Não vou trazer lacinhos e orquídeas
Quando nossas emoções forem cinzas

Deixarei pras manhãs floridas
Quero que receba flores minhas
Mas, quando pudermos ser jardim
Pra que essas ocupem suas lembranças
E não decorem só a cena do fim. 

quarta-feira, fevereiro 10, 2021

Você está no Presente?

Um belo dia, você acorda e se enxerga no presente mesmo. Acredito que não sou só eu que vive a maior parte do tempo revisitando o passado nas ideias e vislumbrando o futuro nos sonhos. Sempre fiz muito isso e, enquanto faço, o presente vai virando passado; o futuro vai virando presente, em seguida, passado, e nem o vi. Hoje, não simbolicamente falando, a data de hoje mesmo, é um marco na minha vida. O dia que eu tomei a atitude de deixar o passado no lugar dele e quanto ao futuro, claro, tenho que ir fazendo meus planinhos, mas, esses planos não podem ir ocupando meu presente de forma que eu nem o sinta. 

Eu vivi muitos anos no tal saudosismo. Tudo isso que estou contando acontece dentro da minha cabeça, não é uma coisa de vivências, no mundo externo, visível a todos. É tudo aqui dentro. Parei! Parei mesmo. Não é fala emocionada de um dia qualquer. É fazer de um dia qualquer interessante o bastante pra ter o que falar com emoção. Hoje, eu não quero mais. Hoje, eu quero isso pra sempre. Sim, tudo hoje. Hoje mesmo. Dá pra gente acordar num dia qualquer, como hoje amanheceu com sol e falar: nisso eu quero ponto final. Nisso, eu quero reticências. E assim como o sol que clareou o dia às 6 da manhã, agora, 6h06 da tarde, ele ainda está lá, mas, totalmente escondido pelas nuvens escuras que já dão tom noturno aqui, na Zona Oeste de São Paulo e também, na minha querida Osasco, como informou um amigo poucos minutos atrás. Chove forte aqui, chove forte em Oz, chove forte em muitos olhos todos os dias.

As cidades alagam. Os travesseiros também. Corações flutuam. E quando o seu flutuar, você saberá de fato para que margem do rio irá. São muitas correntezas, o tempo todo. Mas, o remo está na sua mão e, por mais que a água tenha a sua força, você pode escolher se vai se permitir nadar, se molhar, se vai remar de cima da canoa ou se vai só ficar admirando a água passando com a correnteza.

Já fui mais contemplativo. Vi tanta água correr e eu seco, na beira, hoje, mergulho. Não imaginei que mergulharia novamente disposto a encarar a correnteza.

segunda-feira, fevereiro 08, 2021

Desisto... e tudo bem!

Às vezes, a gente só desiste
E é tão bom quando isso acontece
Não, não falo que é pra ser frouxo, sem revide
É só que às vezes não vale mesmo o estresse

A gente com tempo ganha maturidade
Que não é só o tempo que traz
É a vivência que dá essa liberdade
De só se afastar de quem nos tira a paz

Julgamentos sempre nos cercarão
Isso, te garanto, é inevitável
Mas, o poder que damos à opinião
Esse pode ser bem mutável

Quantas vezes nos magoamos por adjetivos
Que nem pedimos e recebemos
Administramos com nossas dores e crivos
E seguimos. Caminhemos!

A treta é sempre sobre tamanho e quantia
Tamanho dos óculos, da cabeça, do nariz
Quanto a gente se importa com o que o outro diz

Quantia de grana, na conta e no bolso
de liberdade pra ser quem quiser,
quantia de coragem pra beijar qualquer gosto
Qualquer gênero ou letra que houver

Quantia de melanina na pele
Não só repele, como expele as palavras
E impede que a identidade se revele
Alguns preferem ocultá-las
Pra evitar a dor da rejeição que fere

Quando não se encaixa em si
É preciso reformar
Nosso espaço, que é o mundo
Ninguém virá medir
Onde eu devo me encaixar
Ou me delimitar o fundo

Pode ser que não dê pé
Farei dar
Megulhadas, braçadas, respiradas
Puxo todo ar que em meu peito couber

Mas, não deixarei sufocar
Pela água ou pelas paredes que me desenham em volta
O que me desdenham, isso que não tem volta
Tem revolta

E tem uma porta que quando se bate de fora
Tem aquele seu mundo em frente
E se você não o afronta e o desafora
Ele te encaixa milimetricamente
No que ele permitiu: até aqui você explora
Dali em diante, nem tente.

Sim, a gente tenta, e vai na caruda
Mas a desistência também pode ser positiva
Um amor que com tempo muda
Deixa muda a relação, nada mais ativa

Um sonho de uma profissão
Permite que, jovem, a gente se iluda
Com toda a garra combativa
Mas, a vida te desperta e te imputa
Trilhas por onde sobreviva

São nesses caminhos que se abrem
Que antes a gente nem cogitava
Que nossos 'eus' se definem onde cabem
Onde faltam espaços, mesmo que nem internamente sabem
Onde se começa e onde se acaba

O que não acaba é o nosso espaço
Não importa onde comece
Ninguém me define,
Por mais que desenhe ou escreva meus traços
Nenhuma fórmula que se conhece
Mesmo que com expressões se combine

Será o seu eu, sempre serão escassos
Os verbos, adjetivos, os sujeitos
Em Humanos, nem tudo são resultados
Entre os incertos, são todos aceitos

sábado, fevereiro 06, 2021

Sexta é foda!

Era uma sexta-feira
Data propensa à animação
À expectativa
de um final de noite que o tesão
Encontrasse uma pele lasciva
Naquela intenção
Da musculatura ativa
Rija no confronto à passiva

Era depois de um banho quente
Que ele já vestido a esperava
E enquanto ele, de bruços, lia
Não viu que, perfumada, ela chegava
Ela sem nenhuma gentileza,
Mas com toda energia
Nesse instante atacava
Ele, claro, nem um pouco defendia
Permitia pois lhe amava

Era então um corpo em brasa
Que acendia o outro, ambiente
O carvão aos poucos foi pegando
Nem gel nem álcool presentes
Só alma e peles se esfregando
Não iria aos finalmentes
Era o que ele estava pensando...

Eram dias como os que tem todo mês
Mas daquela vez, ela queria
Ele achou que em sua boca saciaria o prazer
E ambos se lambuzariam
Mas, ela escancara, 'e aí não vai meter?'
Ele nem esperava o que ela pedia
Achou que em seus lábios se acabaria
Mas haveria ainda mais a fazer
0
Era o momento que ela se ajeitava, se posicionava
Para o seu membro receber
Enquanto ele penetrava
Demonstrava seu desejo
Numa foda que nem teve beijo
Eles deixaram acontecer

Eram carnes vermelhas em fogo alto
Eram estocadas firmes e apertos
Eram gemidos tímidos sem estardalhaço
Rosto de encontro aos travesseiros

Era um cenário propício como a sexta
Um abajour de cada lado
De apagar puxando a cordinha
Era uma cama que caberia folgado
Mais uns dois casais numa orgia
Ainda bem que eram mudos os criados
Pra não contar nossa putaria
O livro de Chico e os óculos ficaram do lado
A câmera apontava pro teto e o celular não nos via
Nem deu tempo de deixar marcado
Dobrado a orelha na página que lia
Só deu tempo de ambos terem gozado
E na manhã seguinte,
ele transformar em poesia.

terça-feira, fevereiro 02, 2021

Meu Doce Brasil

Ah, meu Brasil

Esse país é uma doçura
O problema é a fatura
E aquela criatura

Aqui é terra de fartura
E de fratura
Na conta pública
Exposta, posta, reposta
Só a resposta que é impura
Ou puramente suja

Aqui, o leite condensado
Não é só ingrediente
De pudim e rapadura
Ele serve pra mostrar que o presidente
Nessa lata se lambuza

Ah, Moça, quanto você custa?
162 reais a lata,
sem pechincha, sem desculpa
Você pode me distribuir no Exército
Para todos os soldados
Pode me por em fervura
Pode me usar na receita
Pode me usar na suruba

Depois, um chicletinho pra relaxar
Liptus, mentol, pra dar frescor
Afinal, não tenho frescura
Atendo do Planalto à prefeitura
Da democracia à ditadura
Todos apreciam meu sabor

Docinho, saboroso, do início ao fim
Misturo com amendoim
Pagam R$5,45 por uma de mim
Paçoca, soca, soca, soca assim
E pode botar chantilly
É assim que o povo gosta
E juntinho, a gente ri

Ah, num ri não? Ri sim.
Coletiva: a lata de leite condensado
É pra vocês enfiarem na bunda
Aplausos, risos e gritos
Enumero as classes de filhos da puta

Ministros, inclusive o da Cultura
Agora, não é mais ministério
É secretaria, e é uma fria cada dia que dura

Os sertanejos, alguns tiveram a cara dura
De querer separar a postura
Não foi um encontro político
Então, vamos excluir o modo crítico nesse caso

Caso, o goleiro Bruno o convidasse
Pra um churrasco num sítio você iria
Pra bater uma bola seria

Se a Richtofen fosse sua fã
E te chamasse pr'um almocinho aleatório
Compareceria?

Não, Sorocaba, não acaba de foder o rolê
Que já ta mais que fodido
Falo dele porque veio se defender
Pois foi atacado, ofendido
Convenhamos, merecido

Não se senta à mesa da ditadura
E finge não sentir a agrura
O refluxo apura
Na boca, secura
O silêncio é o gesto que atura

Não se senta à mesa
De quem não tem defesa
De quem ironiza a morte
Da carne compartilham o corte

Não se senta à mesa e se cala
De quem prefere bala
E não se abala
Com mais de 220 mil perdas

Não se senta à mesa
E se serve da mesma bandeja
Não se compartilha da mesma bebida
Que molha as palavras de um genocida