quinta-feira, outubro 31, 2019

Hoje Nem Sempre É Presente

Nem o encontro do rio com a praia tem graça
Não que a paisagem não tenha encanto
Tem lá sua beleza, seu quê de santo
Mas, parece que não há nada que eu faça
Eu me encontrar, eu enxergar
Nem a canção da menina que vem e que passa
Tem harmonia com a linha da onda que traça
E a natureza espaça onda por onda no mar

Nem o céu azul, azulzinho
Nem o pássaro ao sol, à beira
Nem o som da mais alta cachoeira
Faz eu não me sentir sozinho
Nem o silêncio, a mim, confortante,
Consegue me mostrar um caminho
E sem qualquer sentido, não defino
O que esperar do horizonte adiante?

Nem mar, nem praia, nem som, nem silêncio,
Nem rio, nem pássaros, nem nada aqui dentro
Nem flor, nem cheiros, nenhum sentimento

Nem eu estou onde estou realmente
Pode ser que eu esteja, um dia, pra frente
Sem você, como chamar meu hoje de presente?

sexta-feira, outubro 25, 2019

'Me' Deixa Chorar

Setembro, 11, 2019
Data que a história marcou
E não há o que volte
Os ataques, os prédios, as mortes
E o concreto se desmanchou

Mas, a coincidência da data
Foi mesmo um acaso
Com que componho esta ata
Minha poesia relata
A dor que toma espaço

Desabei também, mas no final do mês
Não de setembro, de junho, mês 6
Minha estrutura desabou
O horizonte desbarrancou
Fez cinzas da rigidez

E de lá pra cá
A tristeza imperou
A alegria do rosto, tirou
O rosto pro beijo, acabou
O resto de luz, apagou
O resto de fé, se rezou
O resto do resto, o que sou

Chorar é tão corriqueiro
Que o motivo, se me perguntar
Eu vou te pedir um tempo
Organizar as ideias primeiro
Pra então enumerar

Como olhar lá na frente
Se acha que o 'lá na frente' não haverá
Como ouvir "tenha força"
Se às vezes faltam até pra chorar

E, na boa, me deixa chorar
Me deixa desaguar,
Me deixa desabar
Esfarelar como cimento implodido
Pra dentro, caindo

Calculado
M i l i m e t r i c a m e n t e
O que eu ando sentindo?
Desespero, dor, desesperança
Sem cálculo estimado

De milímetros e centímetros,
coração não entende
De profundezas, talvez
E de céu
Num primeiro beijo ou no adeus,
Certamente.

quinta-feira, outubro 24, 2019

Visto na Primavera

Estamos na primavera
Recém iniciada
E a cena mais observada
É da alma que desespera
A lágrima que não dá trégua
Faz trilha pela calçada
Sonora, salgada

Deixa o sal e o chão molhado
O sol faz questão de apagar
Não há rastros ao voltar
Há primavera em todo lado
E o que eu mais tenho enxergado
Gente, flor não dá pra se imitar
Ela brota e desabrocha
E as pessoas, a chorar

Tenho visto, do motorista ao caminhante
Olhos de emoção derramada
Quase sempre, via de quebrada
Sem VIP de very importante
O que é de fato relevante
É desistir da caminhada
É ter a vida abreviada

A dor não é seletiva
Por isso é repetitivo
Um alguém caminhar perdido
Com a mente pensativa

Pense na palavra partida
Ela vai do início ao fim com sentido
A palavra, não o ‘estar vivo’
E a primavera dá seu colorido
No ponto de partida
Ou na partida com ponto
.
Definitivo