quarta-feira, abril 29, 2015

Trilhos nos braços

Ao mesmo tempo que me fascina o fluxo das manhãs, 
sinto-me como parte de uma boiada, 
sendo tocada pelos apitos dos trens 
e ruídos das escadas rolantes

Entre os pontos mais fascinantes 
está a diversidade de fluxos
Não apenas as plataformas, 
com ida e volta 
São infinitas variantes

Uns indo amar, talvez com pressa. 
Outros, voltando cansados de amar ou labutar
Há os que encontramos com ar de quem vai; 
outros de quem vem, seja no ônibus, metrô ou trem, 
(como esse, sentido Osasco, em que estou)

E eu ainda vou. Vou com o sol e volto sem ele
(que saudade do horário de verão)
Eu vou com um livro, olhos atentos e sempre aberto à poesia que 
"está no ar, ao alcance de qualquer um" (como escreveu Ricardo Dias). 


Nessa intersecção de destinos, cruzamos de tudo um pouco. 
Tinha até um cara,  de camisa,  calça social, com seus 50 e alguma coisa, 
e ele carregava, embalados em papel branco, dois braços de guitarra Dolphin (novinhos)

Como vejo poesia em quase tudo, fiquei pensando quanta história futura ele carregava ali
Quanto som, quanto bem aqueles dois singelos braços fariam a alguém, que faça o som ou o ouça.  
E quantas horas cada músico leva pra aprender a tocar guitarra. 

Que os dedos percorram mais linhas/ cordas que o trem que eu peguei outro dia, 
com uma placa que datava 1997.
Quanta história e quanta poesia ele já carregou... caberia em um solo de guitarra?

terça-feira, abril 28, 2015

Três pontos

Manhã comum como qualquer outra
Sol porém nem frio nem calor de arder logo cedo
Contudo, é apenas mais um dia
Rotina
E como gosto de transporte público...
Todo mundo estranha
Mas vejo no aperto tanta história que a curiosidade me fascina
Assim como a beleza feminina e sua variedade
A primeira a entrar foi uma negra escultural, cada curva do corpo desenhada à mão.
A pele chegava a brilhar, assim como os lábios, também desenhados, 
contornados em um tom mais escuro que a pele. 
Não sei seu nome, mas tem 'cara' de Regina. A primeira a entrar e a primeira a sair. 
A blusa branca a contrastar, calça vermelha a colorir.


Uns 3 pontos depois, desceu uma jovem estudante. 
Mochila nas costas,  com quem por vezes já pouco conversei, se bem me lembro, de nome Bianca. 
Deve ter seus 19. Jovem, rosto inocente e com jeito de guerreira. 
Deve trabalhar, estudar, levar no peito a canseira. 
Desceu, acho que hoje sem me ver por aqui.


E mais alguns pontos depois, desceu a que estava em minha frente. 
E nessa altura do percurso, o sol entrava pela janela e nela brilhava. 
No sorriso bonito,  nos olhos amarelados como o sol que nasce,  
nos cabelos cacheados nesta manhã sem vento que o balançasse
Usava tênis, calça colorida e uma mochila cinza estourando de tão cheia
Pela roupa parecia ir à academia, mas pela maquiagem, não.
Bem feita como quem vai ao trabalho ou a uma importante reunião.
A moça era bonita, talvez entre seus 28 e 32. Parecia tranquila e feliz. 
É bom ver gente assim. E logo depois deu sinal e saiu. 
O nome Não sei talvez Renata, Fernanda ou Marilia. 
As três partiram, eu segui com um livro de poemas
e inspirado, por agora, pelo menos, esqueci os problemas 
e os dilemas que em vez de inspiração têm me trazido agonia.
Mas não da tempo pra isso desci do ônibus, peguei trem, metrô e assim continua o dia.  
E ainda são 8h13 da manhã...

quarta-feira, abril 22, 2015

Foi real?

Ela tem um quê que eu não sei explicar
Misteriosa que só ela
talvez ela nem exista
seja coisa da minha imaginação
mas penso que não
a minha não é tão fértil a ponto de desenhá-la como a vejo
como em sonhos passados, me esbaldei com desejo
não pode ser real
como dizem por aí: é muita areia pro meu caminhãozinho
mas como imaginar é permitido, quero acreditar que foi real
era tanto fluido...
corporal, espiritual, sentimental, carnal
era poesia pura, essências além do normal
eram olhos que me encaravam sem a doçura de amor,
tinha tudo menos ternura
Como disse, era poesia pura,
porém aguda, ofensiva, direta sem meneios
era pra frente pro ataque
e quando me atacou como presa fácil fui ao chão
sem acreditar no que sentia
nem havia bebido pra delirar tanto e viajar para aquele novo mundo
Tudo parecia novidade, tanto que nem soube direito o que fazer e assim aquele dia ganhou novos ares
apresentou um novo limite ao céu, que eu sequer conhecia
E a cada manhã que abre o próximo dia, visito meus sonhos,
Lá está o manto negro, misterioso, de silhueta definida,
para colocar em questão:
toda vez que te vejo é mais um sonho
ou o sonho ideal ganhou vida?