terça-feira, março 31, 2020

Corona Sem Abraço






Se alguém te dissesse
Você acreditaria
Que, em 2020, o elemento mais escasso
Seria um abraço
E, se voltando ao passado, soubesse
Que viria uma pandemia
E o combate seria justamente dar espaço

A gente que já se sentia tão preso
Via risco em todo canto
Vê outro risco no presente
No gráfico, na crescente
Tento escapar ileso
“Histeria, não é pra tanto”
Declarou Boçalnaro, Jair, o presidente

Precisamos fechar os acessos
Municipais, estaduais e federais
Limite, divisa, fronteira
A disseminação em terra brasileira
Teve na desordem, o progresso
Enquanto a família B de boçais
Contamina a pátria inteira

Aplaudir médicos na varanda
Panelaço contra o Jair
Semaninha movimentada
Uma coisa precisa ser lembrada
Cada cidade tem sua demanda
Se bateu palmas ao Mais Médicos ruir
Vai dizer que com a saúde é preocupada?

Precisamos lembrar de quem temos saudade
De cumprimentos efusivos
Que a mão encaixa a batida
De um abraço em seguida
Nessa atualidade, estão proibidos

Corona, um vírus que nos prendeu
Não dá pra restaurar sistema
O PC não roda o anti
Estamos percebendo o importante
A liberdade que não se viveu
É prisioneira em quarentena
Trancada a cela? A chave está na estante.

sexta-feira, março 20, 2020

O vão entre o trem e a plataforma

Anunciou uma voz na estação
Cuidado com o vão entre o trem e a plataforma
Enquanto, repetidamente a voz informa
Eu foquei exclusivamente no vão

Há uma queda boa dali pro chão
Ratos no trilho, a distância conforta
Não vai descer, não fica na porta
Outra sonora orientação

No trem, mercadorias sem nota que vão
Outras tantas não se sabem de onde vêm
"Não compre de ambulantes", ouço a recomendação
O rapa faz vista grossa se pinga aqueles cem

Allan da Rosa tem esse nome numa publicação:
VÃO, poesias que abrem feridas
Grafite e caligrafia na exata medida
Vão é vazio? Pra mim, não!

Há tantos vãos que nos levam a outra dimensão
O vão entre a corda e o braço do instrumento
Essa pressão faz expressão no movimento
Do rouco, do silêncio, do pulsar à vibração

Do sol que com uma mísera fresta, faz invasão
Vãos são as linhas que pulo, as vírgulas de um verso
O vão não é o nada, ele pode ser o inverso
Do vazio se cria um novo universo, às vezes, em vão.

O Metrô e a CPTM nunca vão
Entender o quanto é estressante
Viajar esmagado e ouvir que o problema é o ambulante

Nunca vão
Dar espaço à arte itinerante
Eles vão
Dar desculpa pra falha constante
Eles vão aumentar a passagem logo adiante

E adiante dos pés, o vão
Um passo, fecham-se as portas
Cheios vagões se vão

quinta-feira, março 19, 2020

O Abraço do Drauzio

É doutor, mais um massacre pra conta
Agora, um linchamento virtual
As redes sociais caíram de pau
Robô capta mensagem pronta
E acha que o argumento confronta
Ah, essa gente de bem tão do mal

Direitos não devem entrar no presídio
Humanos, ao martelo, a sentença
Juridicamente fria, humanamente tensa
A vingança é triste como princípio
Lava-se honra e ódio com homicídio?
Na missa ou culto, a gente compensa

É, seu Dráuzio, boa visita, boa labuta
A cada história ouvida na cela
Produziu, humanizou, pôs na tela
Ninguém aprova crime e tal conduta
Paga a pena, a rua será ainda mais bruta
Sua casca mais austera

Esse confinamento não filmado
Sem audiência na TV ou debate na padaria
Tem sede de sangue e aval da maioria
Não deveria ter abraçado um culpado, viado, tarado
Ei, Jesus, nem volta, tá ligado?
Pessoal nem liga com quem 'cê' andava do lado
Imagina lembrar o que você fazia.

Sobre 2 rodas

A buzina vem fazendo fade in no ouvido
Vem aumentando a cada metro percorrido
Corrido, muito corrido, no corredor espremido
Então já de longe, ouve-se o ruído
Dificilmente confundido
No trânsito, é som, barulho do mais poluído
É um apito muito reconhecido
Contínuo, desperta o distraído
Quando não, lamentamos o ocorrido

Também sobre duas rodas, rodo sem motor
E observo o jaco, mano, que calor
E o capacete então, não é escapamento
mas é tipo panela, pressão e vapor
Fumaça na cara, lembra tipo inalador
Regressivo é seu contador
- ACELERA A ENTREGA! - "Sim, senhor"
Acelero como manda o governador
A pressa é seu opressor
Ô tiozão, olha o retrovisor
Mão na placa pra não se expor

Evita a multa e segue a luta
Se atrasa, carrega na bag a culpa
Aumenta índice de mortes e número assusta
Uma epidemia, é todo dia, SAMU se escuta
E eu, ciclista, escutei no rádio, campanha bem filha da ...
Aaahhhh, bem astuta

Pedia prudência ao que não tem previdência
Que corre por quem não tem paciência
Na mais intensa disputa
A campanha falava na cara dura
Vocês da moto que tomem providência
Vai ter mortes se mantida a postura
Acelerou? Viaturai
Não acelerou? Toma dura
Acelera, São Paulo, pediu Dória na candidatura
Acelerar vai da gorjeta na fatura
À saudade que põe na alma a fratura

No dia seguinte, se entrega sem pressa
Se vela e a vela sem cronômetro, derrete
Assim como a lágrima a essa altura