sexta-feira, março 20, 2020

O vão entre o trem e a plataforma

Anunciou uma voz na estação
Cuidado com o vão entre o trem e a plataforma
Enquanto, repetidamente a voz informa
Eu foquei exclusivamente no vão

Há uma queda boa dali pro chão
Ratos no trilho, a distância conforta
Não vai descer, não fica na porta
Outra sonora orientação

No trem, mercadorias sem nota que vão
Outras tantas não se sabem de onde vêm
"Não compre de ambulantes", ouço a recomendação
O rapa faz vista grossa se pinga aqueles cem

Allan da Rosa tem esse nome numa publicação:
VÃO, poesias que abrem feridas
Grafite e caligrafia na exata medida
Vão é vazio? Pra mim, não!

Há tantos vãos que nos levam a outra dimensão
O vão entre a corda e o braço do instrumento
Essa pressão faz expressão no movimento
Do rouco, do silêncio, do pulsar à vibração

Do sol que com uma mísera fresta, faz invasão
Vãos são as linhas que pulo, as vírgulas de um verso
O vão não é o nada, ele pode ser o inverso
Do vazio se cria um novo universo, às vezes, em vão.

O Metrô e a CPTM nunca vão
Entender o quanto é estressante
Viajar esmagado e ouvir que o problema é o ambulante

Nunca vão
Dar espaço à arte itinerante
Eles vão
Dar desculpa pra falha constante
Eles vão aumentar a passagem logo adiante

E adiante dos pés, o vão
Um passo, fecham-se as portas
Cheios vagões se vão

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