terça-feira, novembro 27, 2018

Ao Entregar Uma Rosa



A sacada nem é minha, é do Criolo
‘Buquês são flores mortas, num lindo arranjo’
Aí eu me pego pensando
Ao entregar uma rosa
Eu sei que a atitude é generosa
É boa de coração
Mas, voa comigo na reflexão

Ao entregar uma rosa
Presenteamos em botão
Por vezes, nascente
Alguns decadentes
Na boa intenção

Ao entregar uma rosa
Embalamos.
Os espinhos? Retiramos
Depois que da terra arrancamos
Começa a contagem regressiva
O vaso com água amortiza
Mais um tempinho de sobrevida
Até secar a conexão
Com a natureza e seu habitat, o chão

Onde, por dias, cresceu
Até ser arrancada, toda lapidada
Pra ser entregue
Esperando retorno
O sorriso no rosto
De quem recebe

Ao entregar uma rosa
Será, de fato, que a intenção, por melhor que seja
Não vale que a gente reveja
Que, ao entregar uma rosa
Presenteamos-na morta
Toda emperiquitada, artificial
Artificializada, nem sei se essa palavra existe
Ao entregar uma rosa,
Começa a contagem do quanto ela resiste
E a gente insiste entregar uma rosa
Já sem coração, sem terra e pulsação, sem veias

Ao entregar uma rosa
Sejamos viscerais, integrais no ato
Entreguemos com vaso e tudo
Terra, semente e adubo,
Pra que ela floresça
Não padeça sem futuro

Ao entregar uma rosa
Deseje vida e continuidade
Não, o sorriso em troca para sua vaidade

Entregar uma rosa ou um buquê
Não faz o menor sentido
Se desejamos vida
Com tempo pra morrer
Em poucos dias definido

Ao entregar uma rosa
Não é essa a proposta
Seja rosa ou qualquer flor que ela gosta
Entregamos num gesto lindo, como o arranjo

Mas, será que ao entregar uma rosa
Entregamos em essência?
Essência do perfume e a nossa
Ou disfarçamos nossos espinhos e origem
Não são todos que se exibem
Nus, sem poupar imperfeições

Sua beleza e a de entregar uma rosa
Estão mais na terra e na história
Que no buquê de enfeitados botões

quinta-feira, novembro 08, 2018

E se desse Haddad

Gente, imagine se tivesse dado Haddad
Da nossa parte, seria felicidade
Se bem que... não sei se seria assim
Imagine quanta coisa ruim
Eles teriam capacidade
Adversidade seria o estopim

Bom, se a eleição eles tivessem perdido
Seria a urna, a fraude, o motivo
E se já mataram na comemoração
Imaginem na frustração,
na aceitação de ser vencido
Não estaríamos em vibração

Proteção seria a palavra de ordem
Pra que em nossos livros não recortem
Os tempos hoje exaltados, pretérito sombrio
No país tropical, por Deus abençoado, está frio
Esperando que as tropas aportem
Mesmo vitoriosos, a sensação seria um vazio

Pois se viu que muito civil se revelou
À paisana que nunca de fato aceitou
Queria ostentar a farda racista
Não fazia pra não dar na vista
Que o politicamente correto cercou
Agora o retrocesso virou conquista

Essa gente de bem brincalhona que só ela
Quer definir o limite do que flagela
Isso é mimimi, não é pra levar na maldade
Estarão com dedo em riste pra impor a verdade
Ai de quem não se curvar nessa era
Ou sequer questionar autoridade

Eles desfilarão orgulhosos batendo no peito
Fala sério! Isso não é preconceito
Ou não temos direito à liberdade
Livres, pra declará-las à vontade
Mesmo que seja ódio
Imagine se desse Haddad

segunda-feira, outubro 29, 2018

Vários Nãos


Não queria começar esse poema
Pedindo a você empatia
Por algo que não é seu problema

Não adianta eu pedir seu cuidado
Com quem sofre pelo que é, todo dia
E pedir que você fique ao lado

Não posso esperar sua comoção
Em um discurso pela democracia
Se não viveu sob opressão

Não despertarei seu sentimento
Sobre preconceituosas fobias
Em cada ataque violento

Não creio que assumirá tal postura
Quem releva, se abstém ou silencia
Posiciona-se: a opressão atura

Não ouvirei levantar sua voz
Por quem sofre covardia
De ataque como agora, feroz

Seus vários nãos são positivos
Indicativos de sua posição
Omitir-se, jeito um tanto expressivo

É uma forma de corrupção
Há o consciente infrator ativo
E o que encobre a visão

Há quem não veja motivo
Pra tanta preocupação
Curiosamente, se chama passivo
Ao discurso sem paz, ELE NÃO

Madeira de Lei

Meu sono anda perturbado
Por um sombrio passado
E a iminente volta
Tanto que massacre, tortura
Têm sido abrandados
Com nome de movimento e revolta

Revolta, reviravolta, revólver
Radical de revolução se dissolve
Sob a batuta nada musical do canadura
Será tudo como o tempo bom de antes
Anuncia: Se der no jornal, remove
Das bibliotecas, das escolas, das estantes

Militantes! Gritam e gritam os militares
Militar a limitar conteúdos escolares
O tira retira, raso como a patente
Afronte à sua pretensa postura
História não é Exatas, então são incontáveis
A dor de um passado, se faz tão presente, tristemente perdura

Transparente, sem gente no  cavalo de madeira
O pau vai cantar, não como na missão de Nogueira
Madeira de lei ou a lei da madeira, brutal?
Troncos quebrados por fúria
Publica-se um bolo de macaxeira
Versão espúria, editada a mando: ‘sim senhor, general’

domingo, outubro 28, 2018

O Olhar ao Sol

Olhar o sol nos fere
A vista, e com tempo, a pele
Acostumamos estranhá-lo
Escuridão prevalece
Quando se ousa encará-lo
Ao invés de luz, escurece

O olho estranha claridade
Luz que nos mostra verdade
Porque o escuro é o natural
Luz? Artificial, digital
Nosso olho se torna covarde
Retraído no mundo real

Encolhe-se ao sol, conforta-se à luz
À noite, o que aflige é o temor na rua
Cruel rotina que nos blinda do sol
Faz de nós escondidos, um figurante que atua
Ofuscados no holofote, ou no caso, um farol
O breu nos rende da forma mais crua; e nua

Mãos formam aba ou sobem em proteção
Espalmadas ao alto, têm maior dimensão
Perspectiva que o sol dá pra segurar
Nem na mão, nem no olhar cabe a imensidão
Nem o sol, nem o mundo podem se limitar
Se optar pela luz que se acende em botão

quarta-feira, outubro 24, 2018

Quando você diz: “eu sou do samba...”

Saiba que a cada acorde que suas cordas executam, a cada ‘tum’ de sua percussão, você carrega com você o samba ‘do tempo que quem fazia corria do camburão’. Se hoje você curte samba, é porque muita gente plantou e hoje você só semeia e balança a bandeira num ritmo diferenciado do que os pioneiros fizeram.

Muito antes do período de autoritarismo e bem pouco depois do registro do primeiro samba, nos anos 1910 e 1920, o preconceito com nossa música, com nossa dança, com nossa origem já eram tão presentes que calos nas mãos e até vestimentas eram os crachás de músico, razão suficiente para aprisionar um dos nossos como vagabundo.

Se você não sabe que sua música resistiu à ditadura, à repressão policial e sua principal razão é denunciar nossas dificuldades e toda a opressão que sofreu ao longo dos anos, militar ostensiva e política, por que você faz samba?

Ser do samba é ser combate à repressão, combate ao preconceito e acima de tudo, ser combatente. Contra quem queira diminuir nossas origens territoriais, culturais e religiosas.

Quando você cita Bezerra da Silva, você trata de denúncia das agruras do nosso povo. Zeca Pagodinho não fica atrás em seu microfone aberto berrando ao mundo tudo o que passamos aqui. Nosso samba não é só ‘mania da gente’. Invadimos os casarões, as avenidas e, a cada passo, repressão, preconceito e luta. O espaço só foi conquistado assim. Ninguém saiu abrindo as portas pra gente. Se não fossem os ‘números baixo’ meterem o pé na porta, ainda estaríamos restritos lá nos quintais da casa-grande.

Hoje, você paga VIP pra ouvir um ‘pagodin’ e tomar suas bebidas medidas em anos e energéticos. O Bar da Esquina não faz mais sentido pra você, jovem sambista.

A cada samba que você ‘exalta’ (sem demérito na referência, de verdade), lembre-se que, se não fosse Martinho, teríamos sido suplantados pelo iê-iê-iê e pelas guitarras da década de 70. Ah, se não fosse a batida de partido-alto e a resistência.

Se você diz que é do samba, você PRECISA saber que o samba ‘perdeu sua voz de lamento’. Se você nem sabe do que se trata isso, todos esses trechos em itálico contam um pouco do que me refiro. ‘Quem faz samba, faz a história de um lugar’. Se você só curte a música pela festa com os ‘parça’, pela balada e por ser um som agradável num churrasco com os amigos, você nunca vai entender que “NINGUÉM FAZ SAMBA SÓ PORQUE PREFERE”.

quinta-feira, setembro 13, 2018

O Prazer

O prazer pode ser carnal
O mais comum e normal
Pode ser intelectual
O que ele não pode, tem que ser
NA-TU-RAL

A sua natureza pode ser beleza
Sutileza, doçura, gentileza
Num prato ou num ímpeto, na mesa
Tesão
Como fosse a última sensação, certeza

Prazeres genitais, na frente, atrás
Sexo, foda, coito, sem regras formais
Sem princípios morais
Em seu corpo, suas regras valem mais

Quer saber? Vão todos se foder
No sentido mais literal que pode haver
Seja o parceiro ou parceira que escolher
Faça de verdade, faça valer

Conheça-se, desbrave-se, avance os sinais
Não existem fórmulas, sequer manuais
A 2, a 3, swing, orgia, grupais
Há orgasmo no oposto, pro ato em casais
Há quem prefira os iguais.

quarta-feira, setembro 12, 2018

O Mau Dia do Artista

Vermelho, fecha o farol
Segundos que valem trocados
Era meio-dia, havia sol a pino
O sotaque sulamericano, colombiano
Peruano, chileno, uruguaio, argentino
Não sei definir

Sei dizer que era o mau dia do artista
Sua arte não correspondia
Aquele não parecia ser seu dia
Um trabalho burocrático qualquer
Aceitam-se externas questões pessoais
Trabalhos formais, horários normais

Não era um sábado ou domingo
Como nesse caso
Era o artista de rua gringo
Enfrentando descaso
Onde tem que ser impecável
Pras moedas receber no chapéu
Em um intervalo de sinal

Tentou uma, duas, atuar seu papel
Caracterizado em um simples visual
Aquele parecia, pro artista, um mau dia

Até a luz do sol pode ter sido o fator
Que o apagou ofuscando-lhe à vista
E sua arte, seu talento, sem se impor
Poderia até causar ferimento
Ao hermano malabarista
Farol verde, dispara o movimento
Acabou o tempo.
Dou 2 conto e...
Boa sorte, malabarista de facas

terça-feira, setembro 11, 2018

De Fato, Em Si

Por vezes, meu verso se prende
Não escancara o que sente
Motivos? Talvez haja e eu nem sei
O que sei, é que mesmo entrelinhas, contei

Cantei, desabafei, reportei, relatei
Mas, quando o assunto é coração
Assumo, não flui fácil a redação
Muitas vezes travei, intimamente guardei

Mas, meu sono nesse amanhecer
Foi tomado em plena alvorada
Enquanto não levantei pra escrever
As palavras e rimas estavam aqui
Sufocando, entaladas

Tem sido tão bom cada momento
Momentos esses que nunca esperava
Em paradigmas, me apegava
Que sobrepunham o sentimento

Não me permitia o que não era minha lei
O que escapava do meu mapa, friamente calculado
Como tenho sido calado...Tens dia a dia revelado
Um lado inexplorado, feliz que sequer imaginei

Se há padrões que estabeleci, esqueci, me perdi,
E me perco, é recorrente, basta olhar pra frente
Presente, meu presente, que assim que conheci
Descobri que posso ver mais do que defini, percebi

Que faz minha vida feliz, sem que ninguém represente
Atue, interprete,
Estejamos, de fato em si, pois senti e não omiti
Amor é união, não algo que compete.

segunda-feira, setembro 10, 2018

Sem Copa e Sem Casa

Passando de carro pela marginal
Sou avisado a olhar pro lado
Uma bandeirinha do Brasil no beiral
De um escombro improvisado
Eu trafegava a via expressa
E passei depressa pela cena
Que ficou impressa na retina
E trouxe o verso à tona

O verde-amarelo tremulava
Pensei se a pessoa que ali morava
Estava na torcida também
Pensando será que o hexa vem?

Não veio, tudo bem, mas estava lá
A bandeira a se agitar,
a balançar com o vento

E foi nesse momento
Que lembrei o que é grafado
Ordem e progresso, em meio ao estrelado
Assim como o céu do marginalizado
Acomodado num cômodo mal-acabado e sujo
Porém, seu único lar, seu bem e seu refúgio

Deixando claro o verso dos Racionais
Apropriado e adaptado
Pro torcedor à margem, diariamente atropelado
Linguajar no futebol muito usado
Quando um time é goleado

Nesse caso, não há sentido figurado
Só um sentido: desfigurado
Um rosto não identificado, não registrado
Mas, contabilizado nos institutos e censos
Que mostram o abismo imenso
Entre o que deveria fazer
E o que faz o Estado

E pros craques eliminados do Mundial
Foram até onde poderiam ter chegado
Agora, todos retornam à vida normal
Em países evoluídos, tudo muito desenvolvido
Com o Brasil comparado, quase igual
Só que não, nem a pau

Que a bandeira desse nosso povo aguerrido
Traga além da Copa, um motivo
De a gente se sentir representado
No caderno social
E a bandeira não só um decorativo sazonal
Pra que, na vida marginal, seja um sentimento vivo
Estampado, não coberto com jornal.

sexta-feira, agosto 24, 2018

Sigam-me!

Seguidores, e mais seguidores
Do quê mesmo? De quem?
Procura-se, vende-se, compramos
Sim, pagamos por admiradores
Eles são a nossa credibilidade
Goste você ou não, é a realidade

O número de amigos já foi a medida
A métrica hoje está diferente
O chique é ser seguido por mais gente
E ter pouca gente ‘seguida’
Quanto menos do outro, melhor é
Quanto mais de si mesmo, é top
O que vale é o que recebe de ibope
Seguidor é indicador de fé

Botam fé nesse nesses trocentos K
É como se falam os milhares
De exemplares obedientes a acatar
As novas e críveis autoridades
Que em até 1 minuto alarde
Seu repentino dom de influenciar

Usam roupas, makes: referência
Sigam! É esse o style padrão
Sem encontrar qualquer razão
Busco, quem sabe, explicação
Ou um resquício de coerência

Pessoas que nunca vimos
Com roupas que não usaríamos
Fazendo até coisas que não gostamos
Ou até pior: nem concordamos
São o novo referencial do que parecer
Parece que nos perdemos no caminho
Pois, nesses nos espelhamos
Quando estamos no espelho sozinho

Não quero saudosismo do irreversível
Não voltaremos a ter amigos da rua
Não sentaremos de novo em calçadas
Mas, será que pode parecer cabível
Ter amigos ser o que pontua
E não planos de pessoas compradas

Não, não invejo K, nem M, quem queira dizer
Pode definir por recalque, palavra que evito
Só não consigo, ao fim, compreender
Geração carente em que a atenção faz viver
O mundo de seguidores não é onde habito
E, se só um pouquinho, paro e reflito,
Por mais que, no insta, está seu ser mais bonito
E de você, no fundo, no fundo, ninguém quer saber

quarta-feira, agosto 01, 2018

A Mulher Sub

Ferida, fera, fora (Temer), fora a faca fincada
Todos os dias, na rua, no trampo, no ‘buso’
Todos os dias, todas as horas, destratada
Todas as idas, todas as voltas, abuso
Todas partidas, todas chegadas, te uso
Toda sua vida, submetida por nada

Submissão, submersa, suburbana
Subemprego, sub-amada, subtraída
Não traída no sentido de traição profana
Falo desde a renda diminuída
À saia sexy desprotegida
Que ao estupro lhe atribui a fama

Mulheres, senhoras, minas, ou como quiserem
Esse machismo nojento é culpa nossa
Nunca nos preocupamos se esses atos te ferem
Olhamos se a bunda é boa, o peito é grande e a coxa é grossa
Se reclamar, a gente se apossa
Os tempos mudaram, alguns não percebem

O quanto esse machismo foi perpetuado
Mais novo, não percebia o quão escroto era
Se não era estimulado, também não era criticado
Hoje mais ligado, o que de mim se espera
Meu filho educado, esse erro se encerra
Machistas não passarão, já são passado

Assumir que pensava errado não reduz o erro
Só nos torna mais consciente pra mudança
Ao ser percebido, levante a bandeira primeiro
Ao retrocesso crescente, não deixe essa herança
Homem não quer ser o fo...? Seja a segurança
Pra confiança dela te enxergar como parceiro

Hoje ela teme a rua, o trampo, o busão
Voltamos então à estrofe inicial
Vamos proporcioná-las evolução
E não ser encoxada por seu asqueroso pau
Nem pela impunidade do juiz Eugênio do Amaral
Que entende ejaculação como importunação
Sem constrangimento moral

A substância gosmenta, nojenta, submete
Não mete, mas invade a privacidade,
A privê cidade, a perversidade
Onde o sexo em local público
Local público, não corpo público
Não causa espanto de novidade

E sob o sol a pino do dia
A ferida doía, não apenas a pele melecada sentia
No coletivo, ato tão repulsivo que lhe agredia
Na avenida ou sob a via
Em estação subterrânea
Habitual, corriqueira infâmia

Contra a sub-moça, submissa, sub-assalariada

Sempre cercada
Sem subterfúgio pra não ser caçada
Sem refúgio, sem ter fuga momentânea
Pra se sentir tranquilizada

Do submundo onde ela vive
Coisificada em línguas várias
Ela provocou, não me contive
Imputei-lhe punições sumárias
Invadi-lhe proibidas áreas
À sua vontade nem um pouco me ative

Ativei, ativo, ataquei, meu motivo
Agressivo, reativo ao sex appeal
Pistola criminosa é só no estilo fuzil
Pênis agrediu, é crime abusivo
Criminosos de pen, pens, pênis, permissivo
Representantes legais do Brasil

A mulher deve ser sub sim
Sublimada, sublinhada
Em cada traço, colorida em todo espaço
Espaçada em toda cor
Espaço pra que não haja atentado ao pudor
E ela seja de novo violentada
‘Respeita as mina’, camarada
E fique ciente: ISSO NÃO É UM FAVOR!

quinta-feira, maio 03, 2018

Chamas Sem Ter a Quem Chamar

Um prédio caiu, desmoronou
A imprensa cobriu, noticiou
Houve quem de fato sentiu, lamentou
A queda? Doria atribuiu ao invasor

Porém, na narrativa do fato, ninguém percebeu
Nem estimativa, nem se sabe exato se alguém morreu
A construção falida, um retrato que o escombro escondeu
O resquício de vida jogado aos futuros planos de Deus

Sabe por que não se sabe se morreu alguém?
Porque eles já não eram vivos
Invisíveis e temidos
Lá bem no alto, largados no Largo, no centro de São Paulo
No Paissandu escondidos

Não sabemos se houve mortos
Não há a quem noticiar
Nem familiares a aparecer no lugar
A chorar, pra mídia filmar
Se houver corpos,
o repórter não terá a quem reportar

E diante da tragédia, jornais foram atrás
Do Ministério Público, Defesa Civil e laudos periciais
E entre as informações fundamentais
Um dos repórteres globais
Diz que não havia extintores... capaz...
Ô meu chapa, estava abandonado há 17 anos, queria o que mais?
Elevador funcionando e espirrando essências florais?

Enfim, os já não vivos na visão geral
Viviam malocados na região central
Gente que veio dali, de uma esquina brasileira
Gente que veio de fora, pra escapar da trincheira
E tal qual uma bomba na guerra
Sua base segura é só fumaça e terra

Terra que ruiu, num dia primeiro
Maio, Dia do Trabalhador
Trabalhador, cada vez mais em segundo plano, terceiro...
Escravizado como um favor
Rendido a um líder opressor
De gravata, de farda, de camiseta de qualquer cor

O incêndio por dentro consumiu
A audiência subiu, motivou
Quem sempre e somente proferiu
Palavras de rancor
Fez o que o editor pediu
Lamentou como tragédia: "o prédio caiu"
Mas, logo um culpado, que não seja o Estado, apontou

A mídia fez seu papel
De tirar da reta os seus, de forma sutil
Seu discurso sentido, construiu
A culpa dos culpados, implodiu, omitiu
Culpado é quem invadiu
E ninguém, repito, ninguém vai reclamar
Já que nunca existiu
Sem existir, pra que um lar?
Seu lar é o chão, Seu Brasil.

Quem joga no seu time?

Preso, finalmente
Festa no país
Cadeia, ex-presidente
Corrupto, roubou nossa gente
Foi o cerne, a matriz

Tudo isso virou colorido
Verde, amarelo. pintou
O juiz que foi aplaudido
Camiseta e cartaz estampou
Em um muro, seu rosto erguido
Só uma coisa não se explicou

Ok, o povo queria "o cara" preso
Cara pálida, de que povo falamos?
O povo de bem que se sente indefeso
Defensor da moral nessa zona que estamos
Na zona, na sua fachada mesmo
Pôs-se a foto do juiz e festejamos

Lugar propício, perfeito ao tal ato
Uma mulher despida, oferecida à geral
Com a boca tapada, num cenário exato
Pra uma fila pronta ao ato sex... moral
E quem diria: um cafetão e um juiz, o retrato
Pra estampar o Brasil no jornal

Quem disser que está entendendo
Tudo o que está acontecendo
Ou está mais perdido que sei lá o quê
Ou está só fingindo saber

Pra qualquer versão, eis a sugestão:
Se ficar na dúvida de qual lado crer
Faça a seguinte reflexão: 
Separe igual pelada na rua pra escolher sua seleção

Vai lá na qualidade por posição
Confira a escalação. Ó o esquadrão:
De um lado: Marone cafetão, 
Feliciano, Malafaia, Bolsonaro e Frota
General, capitão
e uma pá de lustrador de bota
Jornalistas e artistas, facebook, whats,
E as fake News, tão na moda

Do outro lado, a oposição:
Professores, atores, Chico Buarque, Leci Brandão e Caetano
Poetas, rappers do cotidiano
Mano Brown, exemplares como Juca Kfouri e Trajano

Diante dos times, qual escolheria?
Eu teria opção formada
Analisaria qual proporia jogada
Ou na tática da porfia, você preferiria pancada?

segunda-feira, março 26, 2018

Acorda Brasil, c****** (#abcBrasil)


(em breve, poema em texto também; enquanto isso, dê o play)

Execução Pedagógica

Marielle, confesso que ainda não te conhecia
Sou paulista, e assim como a maioria
Desconhecemos nossos eleitos representantes
Por parte, fazem por onde, são insignificantes
Em ação, pois, o custo é bem significativo
Do legislativo, judiciário e executivo

Marielle, ao iniciar a intervenção militar
Os generais alertaram, pediram permissão
Pra chacinas, execuções, com a condição
De uma nova Comissão da Verdade não perturbar
Pediram a chancela já dada pela população
Queriam um cartão, sem limite de munição pra atirar

Francamente, Franco, você serviu de lição pedagógica
Viram, pessoal, o que vai acontecer com quem denunciar?
Quem crê de fato que a corregedoria vai investigar?
Silêncio e conivência adquiridos à quantia módica
Punição só terá se a gente um dia acordar
Ao toque de despertar dessa fúnebre voz melódica

Sem cantar, contava, contou
Maldita boca aberta, ouviu-se de um fardado
A farda não camuflou, executou
Entrou no carro e partiu.
À frente, cercado
UM, DOIS, TRÊS, QUATRO! NOVE DISPAROS!
4 projéteis no alvo
Ainda vão apontar um não militar
como autor do atentado

Haverá defensores a essa alienada teoria
Pelo partido que estava, dirão que teve o que merece
E palmas baterão à milícia imponente
Covardia, ironia, armas, aval, autonomia
Quem dera se nossa gente lesse e soubesse
Morreu o motorista Anderson e Marielle
Do Rio pro Brasil, a ditadura reinicia
Já assusta a sensação,
pois doeu no coração
E ainda vai doer na pele.

quinta-feira, fevereiro 22, 2018

Intervenção no RJ

A nova geração conectada
Super antenada
Manja os hits da balada
Mas, ao mesmo tempo que sabe de tudo, sabe de nada.

Na real mesmo, nem tá ligada
Com o que acontece na sua quebrada
Se sente representada na rebolada?
Ô meu parceiro, minha aliada
Entre sua ideia e sua bunda
A 1ª tem que ser mais pesada

Não falo de pesar consciência
Falo de importância, representatividade
Não te imponho nada, rebole à vontade

Mas, somos mais que essa imagem
E nem falo de Cristo, de paisagem
Falo da nossa bravura, da nossa coragem
O exemplo aqui é bunda dura? 'Cês tão' de sacanagem!

Vai, malandra, peça a Deus um pouco de malandragem
Pra perceber que a cada queda de brincadeira
Um tiro de fato acontece, um corpo falece
E destrói uma família inteira

Que tiro foi esse?
Que tiros foram esses?
Por que tantos tiros?
Quando acabarão os tiros?
Quando acabar a munição?
Ou a bizarra canção?
Qual acabará primeiro?
Tenho uma opinião:
o Rio de Janeiro

A quantos tiros já resistiu?
Hoje, num hospital, no corredor
respira com dificuldade
O som do estampido invade

O céu que cruza a cidade sob olhar do Redentor
Com discurso de fatalidade
Mascara-se a crueldade
Da inerte autoridade
Inerte não
Por que ela age. A seu favor...
Sem pudor
Só vaidade de se impor

A sarrada é no ar,
na água, no chão, na cara da gente
E abusadamente
Eles chegarão, malandramente
Com aquela falação preparada
E quando você abraça a ilusão
É hora de levar madeirada

Mas, de batida em batida
Cai ali mais uma vida
Bala perdida, abatida
A mísera bala é recebida
A criança, uma idosa atingida
Disparo cruzou avenida
Uma mágoa sofrida
No peito, contida
Agora, escorre a ferida

Ferida toda a comunidade
Comunidade, favela, o nome que quiser
Quiser?! Nada mais vai querer.
Fim desse direito concedido
Nada poderá, disse o poder
Instaurado, aplaudido
Militarizado, estabelecido
E a arma do exército de uso exclusivo?
Está na mão do bandido
Como isso pode ter acontecido?

Lembram-se da última eleição?
E da anterior?
O prefeito Crivella abriu mão
Igual Pezão, o governador
Sem nem falar na nação
À frente, Temer. Temor.

Desespero é geral
Buscam a salvação
Isso abafa o racional
E até o coração
Conexão espiritual
Tem quem se apega nesse chão

E minha canhota caneta
Lamenta e relata a condição
Poesia impressa em tinta preta
Preta, cor alvo da repressão
Preto é luto
Não se camufla na intervenção
É a cor que chama atenção
Nada discreta na ocasião

Camufla-se jogado ao chão
Ah, e nas estatísticas da televisão
A gente já viu isso na lição
Não aprendemos,
ficamos pra revisão
Será que a gente passa na recuperação?