quarta-feira, junho 28, 2017

No Pé do Tenente


Em Osasco, na Rua do tenente
Tem muita voz, tem o Nós de Oz
E a gente sente o busão veloz

A rua treme e treme forte no no pé
Ninguém me contou, estou direto aqui e senti
Na rua da Escola de Artes Cesar Antonio Salvi

Poesia, música, interpreta/ ação, literatura
Do começo ao fim, longínquo enredo
De nome pomposo: Avelar Pires de Azevedo

E quando o tenente avança o sinal, cruza o Marechal
Nesse caso não é afronta à autoridade
Há tanta particularidade nessa cidade

Tão perto ali da rua que treme
Está o largo, o calçadão, o fluxo mais quente
Do cachorro, de gente, do comércio equivalente

Bares, feiras, representantes do mundo inteiro
Chinês, nigeriano, osasquense, pernambucano
Olha o chip! Aleluia, irmão! Passou! Faz um 10 no suco do baiano

A rua quando o busão passa, trepida
Foi num desses que esse verso chegou de carona
Nem dá sinal, desce, atravessa e me toma

Eu não pretendo pagar de conheço todas quebrada
Por onde ando e andei já tem muito poema no ar
Ultimamente, a pauta é polícia e a causa parlamentar

Tem espaço também pra violência urbana
Chacina, insegurança, parece que tá no gene
E aqui perto da rua que treme, tem o quarteirão que geme

De prazer nos hotéis onde se hospedam minutos
Suficientes pro objetivo nada formal e razão mais impura
Do outro lado da rua, geme e teme quando chega a viatura

Pela droga encontrada, vai perder tempo na chefatura
Do outro lado da rua, um albergue, um puteiro e uma igreja
A rua tem cheiro de tudo, inclusive de amanhecida cerveja

Todas essas estrofes partiram do tremor do chão
Dessa vez, busão. Mas, um terremoto no passado já foi noticiado
Na Tenente, se sente no pé Osasco e sua intensa vibração
E nem precisa ter bebido, e nem precisa estar chapado.

segunda-feira, junho 26, 2017

O Homem de Capa


O homem de capa
Não sai na capa (do jornal)
Sua capa o cobre
E o jornal não cobre
Por suas linhas,
Mas cobre nas noites frias

O homem que atravessa a rua
Enrolado num cobertor
Parecendo uma capa, tipo a do Batman
Escura, sombria
Não sai na capa no outro dia
Nem em qualquer página
Sua capa não é mágica
Não salva o mundo na hora trágica

Nem poderia,
Sua capa não aparece uma marca
Não tem nada de especial
Também... custa 8 e 90 no promocional

Aliás, a capa tem poder sim
Um poder que muitos gostariam por alguns minutos de ter
Ser invisível
Em um tempo em que todos têm que estar cada vez mais disponível
E olha que incrível
O homem de capa é totalmente destrutível
Pra um gibi, inconcebível
Dessa forma, o homem de capa não se enquadra em nenhum nível

Esse homem de capa não tem status de herói
Talvez, de heroína, de crack e cocaína
Sua capa, pra fumaça, vira cortina
Não as de renda dos casarões
Pois, não tem varões na esquina
Nem renda nos lixões

A capa deixa o homem sem face
Nem morcego, nem galã, nem aranha
Talvez um rato que lhe mordiscasse
Enquanto o frio noturno apanha

O homem de capa sem espaço na capa
Não escapa de, mesmo sem face, toda hora um tapa
O homem sem face já era invisível
Não precisava que o apagasse
Mas, parece que só assim foi possível
Que ganhasse uma capa
Foi justo com uma capa que o cobriram
Finalmente o cobriram
A identidade do homem de capa?
Nunca descobriram

sexta-feira, junho 23, 2017

Na Testa da Sociedade

Como ciclista, queria essa comoção social
Quando roubam uma bicicleta, quando nos fecham na rua
Queria que a população se revoltasse igual
Quando atropela um de nós na via
Seja expressa ou até naquelas que não requer pressa
Na vila, no bairro, na tensa relação do dia a dia
Queria tanto que houvesse essa comoção pra protegermos a ciclovia

Mas, ok, não dá pra esperar isso
É que a população se revoltou contra um cara que uma bike furtava
E foi pego no flagra por dois
E alguns instantes depois, esses dois, o ladrão levava
Um deles tatuava, o outro filmava
Na testa do rapaz gravava: sou ladrão e vacilão

Vixi, o caso repercutiu e teve gente contra e a favor
Do ladrão e do torturador
Pesada a palavra né? TOR-TU-RA-DOR!
É, mas, não tem outro nome
O menor que roubou estava errado perante a lei
O outro também. Agora, me responde:
Friamente, torturar é uma reação pertinente?
Nossa lei não prevê olho por olho dente por dente

Sendo esta a reação aceitável e por você apoiada
Você não é contra o crime. De alguns, é até a favor
A reação do tatuador torturador indignada
Só mostra quem é você, sem coragem de expor

Manchete: Ladrão rouba bicicleta
Passaria facilmente batido
Justiceiros o pegam e o tatuam na testa
Parece torcida, em lance de perigo
Vai levantando, preparando o grito
Vou ter dó de vagabundo que não presta?
Ah, como eu queria que fosse comigo
Vingaria toda a raiva que me infesta
Que por covardia, em mim, abrigo

Surgiram então, aqueles que na rede postaram
Com os direitos humanos se revoltaram
Porque fizeram captação de recurso coletivo
A popular vaquinha
Mas, a raiva não é por esse motivo
É por causa mesquinha
Que suas empreitadas não atingem as metas
E esse ladrão torturado na testa
Terá seu amparo enquanto outras causas não causam comoção
O Brasil é uma sociedade que apoia ladrão
Sim, basta ver a eleição, basta ver a nossa corriqueira corrupção

Em Brasília, por exemplo, não é caso raro
Mas, meu caro, você que sobre todos os assuntos opina
E posta
Pode ficar tranquilo que não vou dar sequência à rima acima
Pra não baixar o grau, o tom do poema não combina
Seja quem você é, mas, bota no papel se seu discurso afina
Tipo arranjo musical
Não misture sua raivinha boçal
Com defender princípio moral

quinta-feira, junho 22, 2017

Lendo Reações

Hoje resolvi começar diferente
Andei pela rua sem muita atenção
Tirei o celular da minha frente
E resolvi andar de livro na mão

Confesso que minha percepção
Além da leitura, foi na reação
Das pessoas que olhavam
Testas franziam, se perguntavam

Como andava eu pela rua desatento
Com um livro aberto fechando a visão
Poderia tropeçar a qualquer momento
Numa pisada, desagradável sensação

Segui lendo, o conteúdo era atrativo
Não era tela, muito menos aplicativo
Meus passos seguiram pra onde eu ia
Quem com cel fica off,  pouco entendia

Como eu não tropeçava, como eu não caía
Dos buracos desviava, mantendo a postura
Eu também me questionava se ninguém percebia
Que o pescoço trava e entorta a curvatura

Ficar vidrado nos tablets e aparelhos multifuncionais
Tais quais antivírus nos nossos sistemas operacionais
Desabilitam nossas funções essencialmente racionais
Somos plugados no fone, ligados em likes, buscando virais

terça-feira, junho 13, 2017

Eu me Recuso

Eu me recuso a acreditar
Que uma doutora
Que teve tanto que estudar, se especializar
Fez isso
Foi até a porta de uma emergência
De uma criança com urgência
E deixou o caso omisso

A criança morreu
Um ano e meio de idade
E isso só aconteceu
Porque a doutora percebeu
Que estava ficando tarde

Quase na hora dela ir e encerrar o expediente
Ela rasgou o chamado e seguiu em frente
O motorista da ambulância partiu
A criança também, a mãe nunca mais verá seu neném
E todos os dias, se um dia ainda rezar e disser amém
Vai se perguntar: E se?
E se fosse outra médica?
Seria tão antiética
Seria tão histérica
Por não ser especialista na pediátrica
Daria esta pontuação final trágica?

Eu me recuso a crer que este abuso, este ultraje
A qualquer humanidade tenha partido de alguém que salva vidas
Nesse caso, não fez questão alguma
A mãe ficou lá e não foi atendida
Uma vida perdida, uma família destruída
Almas sofridas, compaixão nenhuma

Eu me recuso a aceitar isso, essa falta de compromisso
Eu me recuso a tanta coisa no dia a dia
A banalidades, a coisas que eu não concluiria
E todo mundo já se recusou um dia
Mas, você tendo uma vida em suas mãos, o que faria?

Eu me recuso, gente, a aceitar que isso foi um humano
Eu me recuso quando dizem que pra tudo Deus tem plano
Qual seria então o plano divino nesse caso?
Colocar aquela pessoa, naquela ambulância
Naquele horário, pra ocorrer o descaso
De salvar a criança e deixa-la morrer num abraço
Da mãe, do pai, que apelavam ao mesmo Deus pra que os médicos chegassem
Resgatassem o bebê, levassem, salvassem
E, se não fosse possível, se esforçassem


Pois, pode crer não há amor maior no mundo que um filho
E não deve haver também dor maior
Que pensar que o que aconteceu foi um trem no trilho
Cujo maquinista é o destino traçado
Sem mudar a plataforma do percurso
Deu quase tudo certo, não faltou recurso
Faltou lembrar do discurso, do juramento que fez ao pegar o diploma
E depois que o desprezou deixou um hematoma


Invisível
Interno nesses pais, que jamais, podem ser cobrados de serem desconfiados
Vão confiar em quem mais, nas preces divinais?
Nos hospitais?
Junto com a frase do aqui jaz
Esses pais, terão outra frase, ou melhor, uma pergunta
Que por toda vida vão os perseguir:
E se?
E se?
E se?
E se?
...

quinta-feira, junho 08, 2017

Unidade

Como é bom se inspirar por paixão
Sentir o peito daquele jeito, apertado
Como se a saudade tivesse tomado
Por inteiro o coração

Mas, paixão pode ser fogo de palha
Só um desejo momentâneo
Um prazer mais instantâneo
Pra se entregar, talvez não valha

Paixão também cresce e evolui
Sem proporção pra qual tamanho
O batimento fica estranho
E só aí que se conclui

O que poderia ser banal
Só um caso de momento
Abre então pro sentimento
O caso passa pra casal

E quando isso acontece
Sem motivo alheio
É tão bonito de se ver
Declarações, cartões, flores, corações
Bombons com recheio
E naquele meio, naquele espaço
Entre um beijo, um amasso
Um carinho
Ouve-se ao longe um compasso
Se for o caso, dão uns passos
De dança bem lentinho
Pra marcar aquela canção
Como o som da esperança
Um novo passo avança
Do que era só uma paixão

Não se pode tratar paixão como só
Ela nunca é só
A não ser amor platônico
Arranjo não sinfônico
Cordas musicais com nó

as, quando as cordas se afinam
Compõem a mais bela sinfonia
Seja ela erudita ou popular
Tem que ser bonita no cantar
Compreensível melodia
Pra qualquer um interpretar

Talvez esta minha canção
Pode um dia encontrar-se num tom
Pois foi feita como mero poema
Talvez alguém a coloque num som
Para algum casal vire tema

Mas, palavras de amor sempre rendem
Histórias, romances, livros, coleções
Personagens nos despertam emoções
Sensações que os amantes não entendem
Sentem
Às vezes, com todo o repertório não aprendem
Compreendem o que cabe em dois corações
E suas mais insanas razões atendem

Mas, amor de verdade é um pouco insanidade
Vontade, saudade, mais vontade que invade
Toma conta, atropela sem piedade
Mas, se eles assim se permitem
Não há forças que dividem
Não há forças que duvidem
Que paixão e amor
Podem sim ser felicidade e realidade
As duas, em dois, em duas, numa só unidade

terça-feira, junho 06, 2017

NÃO SOU DE AMORES

Não sou de escrever as palavras mais doces
Não sou daqueles que falam de amores
Não sou romântico, sou sentimental
Não escrevo sobre paixão; e sim, questão social
Não me inspira um cartão; e sim, o que sai no jornal
Não me encanto com ilusão, sou pé no chão, a real

Eu treino o fundamento pra não ser bla bla banal
Com tudo isso, eu não sou cinza, sou das cores
Nos muros, nas ruas, nos gestos, nas flores
Meus novos versos ainda um dia serão senhores

E mais ainda, pra fugir de ser igual
Trago referências, compositores
Sambistas, rappers, escritores
E insiro, entre as vírgulas, meu lado emocional

Eles prontos não vão pra casa de penhores
Eles mudos não provocam os sabores
Nem amargos, nem doces, nem apurados no sal
Eles não saem tais quais favores
Ah, até que saem, mas, só no racional
É tipo notícia só de rumores
É um B.O. sem prova cabal

Eu até que já fiz versos pra falar de casal
Tradicional, extra conjugal, homo, bi, heterossexual
Já falei das formas de amor, talvez todas
Falei de separações, de prateadas e douradas bodas

Mas, não é que hoje a inspiração me levou
Pra rota quase nunca habitual
Nem saquei qual start despertou
Nem sei porque começou
Ou melhor, porque comecei
Talvez, no inconsciente até sei
Mas, é tão fora do normal, do meu natural

Bom, seja qual for a onda que me puxou
O jeito agora é embarca-la
Coração duro no amor
Até permito e vou que vou

Mas nessas vibe eu vou sem mala
Pra voltar logo desse assunto
De poucas linhas, sem conforto
Hoje nem mais eu me pergunto
Porque tomei o rumo torto
De não pousar meu coração
Pra ser feliz em algum porto

Pra alguns, eu estou morto
Por não deixar o amor ser solto
Eu o aprisiono entubado
No caninho da caneta

Ele fica represado
É a véspera da letra
E sempre sendo véspera
Sempre espera
Só espera
Quando escreve, o verso erra
E, nesse caso, ele se apaga
Aí já era

quinta-feira, junho 01, 2017

Café com mesóclises

Somos uma nação de 200 milhões
Um povo que desperta emoções
Ainda únicos, pentacampeões
Recentemente marcado por manifestações

Somos também um povo lutador
Hospitalidade, nosso grande valor
Há sim, frentes que tentam se opor
Nada que ofusque nosso fulgor
Mas, com tantos pontos a nosso favor
Quero ver quem aceita o que aqui vou propor

Não quero de forma alguma desafiar
Quero apenas questionar, pôr pra pensar
Quais próximos passos vamos andar?
Qual caminho tomar pro país não parar?

Recessão, crise, corrupção
População vive de enganação
Percepção permite reflexão
Televisão proíbe apuração
Em reunião, se define a posição

Caos se instalou, gigante acordou
E agora que a rua lutou
O poder mudou, objetivo alcançou
A presidenta tirou, o Brasil não parou (e nem pode)
o que faremos agora
Há tanta vida lá fora, Lulu Santos cantou
Bora continuar o que começou?

O discurso que o povo gritou
Era que despertou, se ligou
Que todo mundo que roubou
Pra esses acabou, o fim da linha chegou

Mas, sem defesa, sem um lado partidário
Eu só acho, agora estou retardatário
Cortaram-nos o salário, aumentaram o horário
Emolduraram-nos o vocabulário
Com mesóclises no plenário
Prejudica-lo-emos, operário
Nós nem sequer entendemos
Pois nem temos dicionário
Nem usar nós sabemos
Então, nem dá pra ser contrário
Sendo assim, aplaudi-lo-emos

Ou então nos revoltemos e continuemos
A rua está lá, o país continua
Ou vamos nos calar, mesmo com tanta falcatrua
Bora moralizar, pões hashtag vem pra rua

Que tal agora misturar o amarelo e o vermelho
Talvez num tom alaranjado
Não tão laranja quanto o Trump
Ou um laranja que te banque
Ele só quer que você trampe
O que é propina não estanque
Ele só quer o resultado
Igual a fruta, não pó Tang
Te espremer até o caldo

Quer a polpa, a pura nata
O cafezinho que é por fora
Na medida mais exata
Que você tão bem o trata
O seu bem ele destrata
E gentilmente ele te mata
Vai que você abre a boca e delata
No jornal não vai errata
O custo daquela capa
Chega uma grana, trinca, empata

Jogo rápido, bate-bola
O que o povo quer?
Diz aí, não enrola
Saúde, segurança, escola
E o que acontece que não rola?
Vixi, o dinheiro escapa em sacola
Em maleta, na cueca se embola
Sabe o esquema e ninguém cola
nesse cara e esfola?
Mas, são muitos, quase todos tem cartola?
Não dá mágica que sai coelho
É sem magia, é só dinheiro
Mas, o povo brasileiro
Não acaba com essa raça
Nada, a gente come o que ele amassa
Papel na carne também passa
Não os vê como ameaça
Não importa o que ele faça
E qual seria a solução?
Lembra do discurso inicial?
Da nossa indignação
Precisa agitar o pessoal
Pois na estagnação, antes tão habitual
Se aceita a condição
Tipo adestramento animal

Então, vai lá o que fazer?
- Tirar o presidente, explodir nosso Congresso
Botaram fogo, jogaram bomba, o povo ficou possesso
É vandalismo, é retrocesso
Queremos ver o progresso
Dessa forma, é sem sucesso
Enquanto você os defende
Quem jamais será réu confesso
Ladrão que é ladrão não se rende
Quer gritar do sofá? OK, não impeço!
Já que você não teve culpa e votou no Aécio
Bora unir e lutar pro país?
Pra não dar na mão de quem tem corrupção na raiz
É só isso que te peço
Vamos escolher, vamos ouvir o que o povo diz
Botar alguém que o povo quis
A meta é igual, o progresso
Senão fomos força motriz
O cafezinho segue no expresso.