O homem de capa
Não sai na capa (do jornal)
Sua capa o cobre
E o jornal não cobre
Por suas linhas,
Mas cobre nas noites frias
O homem que atravessa a rua
Enrolado num cobertor
Parecendo uma capa, tipo a do
Batman
Escura, sombria
Não sai na capa no outro dia
Nem em qualquer página
Sua capa não é mágica
Não salva o mundo na hora
trágica
Nem poderia,
Sua capa não aparece uma
marca
Não tem nada de especial
Também... custa 8 e 90 no
promocional
Aliás, a capa tem poder sim
Um poder que muitos gostariam
por alguns minutos de ter
Ser invisível
Em um tempo em que todos têm
que estar cada vez mais disponível
E olha que incrível
O homem de capa é totalmente
destrutível
Pra um gibi, inconcebível
Dessa forma, o homem de capa
não se enquadra em nenhum nível
Esse homem de capa não tem
status de herói
Talvez, de heroína, de crack
e cocaína
Sua capa, pra fumaça, vira
cortina
Não as de renda dos casarões
Pois, não tem varões na
esquina
Nem renda nos lixões
A capa deixa o homem sem face
Nem morcego, nem galã, nem
aranha
Talvez um rato que lhe
mordiscasse
Enquanto o frio noturno
apanha
O homem de capa sem espaço na
capa
Não escapa de, mesmo sem
face, toda hora um tapa
O homem sem face já era
invisível
Não precisava que o apagasse
Mas, parece que só assim foi
possível
Que ganhasse uma capa
Foi justo com uma capa que o
cobriram
Finalmente o cobriram
A identidade do homem de
capa?
Nunca descobriram
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