sexta-feira, setembro 29, 2017

Sentido

Uma arma na mão
na cabeça, pressão
agonia sem dimensão

Dedo no gatilho
comprimido
Pulso ferido

És vã, depressão
dada a condição
Agradeça em oração

Não faz sentido
Um infeliz sucedido
num disparo destruído

Sentido, palavra de ampla visão
Pode ter razão sem coração?
O que nos mantém vivo é pulsação
cabe a reflexão

Se você tem resistido
Merece ser aplaudido
Tem se mostrado aguerrido

Ao render-se à situação
O lado dor é o campeão
Sem comemoração

É um livramento concedido
Pros outros sofrido
Pro autor, sentido

Sentido no sentido de lesão
e sentido de por fim à depressão
É exatamente o contrário
Eu não quis chamar atenção

Ninguém desiste pra ser percebido
O descaso é a causa de ter desistido
É um triste combate definido
Não mais respirar em vão
O vão do disparo e no peito atingido

quinta-feira, setembro 28, 2017

Poesia no Horizonte



Certa vez, um poeta e professor
Ensinou, publicou
Que a poesia está no ar
Está no olhar,
no observar

Com pretensa ousadia
Digo que a poesia
Não apenas flutua
Esperando que a peguem crua
E em linhas, a molde
Isso não resolve
Sua definição

Poesia é sim, visão
Olfato, tato, paladar
Sistema nervoso, coração
Batimento e pulsar

A poesia não só não está presa em nós
Cegos, atados, em nós
A poesia é o outro,
o encontro

De se por no lugar
De se imaginar
Como se sente, se é que sente
Se contente, se consente, se ressente
Poesia não é só dentro da gente
É saber que o horizonte não está
somente à frente.

terça-feira, setembro 26, 2017

Campos iguais

Tá na reeedeee
A fome, a sede
Não elas, propriamente ditas
E sim, a fome e sede de vida

Uma copa no Brasil
Não o 7 a 1 que sucumbiu
Nossa amarela seleção
Copa dos refugiados da nação

No Pacaembu, o jogo decisivo
O futebol, suado lenitivo
Na final, Marrocos e Nigéria
A bola rola, é coisa séria

À Nigéria campeã, o respeito
Os sobreviventes do preconceito
Copa onde todos competidores
Driblaram a guerra, os goleadores

Os gols? Nesse caso sim, um mero detalhe
E o placar que de fato vale
É abrirmos nossa meta pro cobrador do penal
Que ele corra pro abraço mais natural
De quem vai pra rede, seja ou não a final
E que a gente o tratasse, o abraçasse
Feito um gol no mundial

A bola vai pra rede, o chutador vibra, o juiz apita
E também por uma rede, há uma dor que limita
Um disparo e o gol que a torcida grita
Campo de guerra ou campo de jogo
Todo mundo é igual. Reflita.

terça-feira, setembro 19, 2017

Adoece

Dois mil e dezessete
Setembro, acordei

Olho na manchete:
Permitida a cura gay

Não sei o que acontece
No tempo viajei

Pr’um tempo que precede
À época, não enfrentei
Um tempo que o cassetete
Era o senhor da lei
O soldado com seu cap
Marchava e se achava um rei


Momento que entristece
Cujo choro segurei
Com medo que regresse
Ainda não me adaptei
Que meu cérebro processe
Quem sabe aceitarei


Meu coração se compadece
Com o que sinto que verei
Ah, quem dera se eu pudesse...
Voltar no tempo? Já voltei!


Arte aqui se impede
Fala-se até de cura gay
Doença que se reverte
Nesse caminho, sofrerei


Em Brasília, tudo se pede
Se concedido, votarei
Contudo, o povo se perde
Num destino que vislumbrei


Aplaudiu, então merece
Não me compadecerei
Não será oração ou prece
Que eu acreditarei
Que o país laico progresse
Nem tampouco, marcharei


Pena que o povo esquece
Eu não apagarei
Pois nossa memória padece
E hoje me aproximei
De um passado que aborrece
Que pela frente viverei


Enquanto não me decepe
Pensarei
E meu verso não emudece
Escreverei
O retrocesso me adoece
Será dele que morrerei

sexta-feira, setembro 15, 2017

Leco Fez Nossa Vez

Leco, você fez
Chegar nossa vez
Mundiais são três
Brasileirão, são seis

Você está conseguindo sua missão
Sofrimento à nossa nação
Rebaixar-nos de divisão
Omisso, sequer tem culhão

E fala com uma soberba nojenta
Humilhação que o torcedor aguenta
Veste o manto, o vexame enfrenta
Em nada, há anos, nos representa

Você não tem a dimensão do que é o Tricolor
Hoje presidente; há uma década, diretor
Década triste, da qual é o autor
Recolha sua corja e se vá, por favor

Nossas estrelas te representam nada
Nossa torcida na arquibancada
Nossa trajetória menosprezada
Sua incompetência arquitetada

O São Paulo que faz bater meu coração
É aquele que em 3 vezes no Japão
Em todas, voltou campeão
Time inglês, italiano e o catalão

Será que quando chega ao seu lar
Ninguém o ousa questionar?
Papai, vovô, o São Paulo como está?
Confiem, eu sei administrar

Olhe no espelho e essa frase repita
Eu sei administrar. Realmente acredita?
Se é que consegue, por favor, reflita
Ou será o nome dessa herança maldita?

Não creio ser coincidência
Seu período na presidência
Tamanha decadência
Vergonha em evidência

Amoroso declarou: 'viraremos MorumTri'
Nossa camisa 10 foi usada por Raí
No tri nacional, comandante Muricy
Tratou o Mito como qualquer um por aí

Nosso escudo tem estrelas e três cores
Ilustram conquistas, nossos valores
Somos formadores
Éramos referência como administradores

Porém na mão dos senhores
Indignos, incapazes diretores
Repleto de juristas, doutores
Na bola, não passam de amadores

A cada jogo, temores
A cada gol, as dores
Culpa de projetos devastadores
Intencionais destruidores

Nós somos os construtores
Dessa fé, mantenedores
O maior entre os amores

Vocês não, não são torcedores
Talvez de times de outras cores
Que as glórias não fiquem no passado
Como no hino é cantado

Nós sim, somos tricolores
São Paulo Futebol Clube
Clube bem amado
De glórias e vencedores

PPP: Perguntas Político-poéticas

O que você quer de verdade?
Acabar com a corrupção?
Vamos prender o ladrão?
O quê? Tem uma infinidade?

Até onde vai sua vontade?
Até todos estarem presos?
Ou quer alguns ilesos?
Quem não merece liberdade?

O ex-presidente?
O atual?
O concorrente?
É tudo igual?

O que temos na mão pra prisão?
Gravações de delação?
Qual delas é real?
Quem está com a razão?
Quem mente na cara-de-pau?

Qual dos companheiros mente?
Vai acreditar em qual petista?
Não era tudo vigarista?
Você fica com qual versão dos 'Batista'?
Na gravação entregue ao jornalista?
Ou na recuperada, já que deixou pista?

Quem merece crédito quando delata?
Por que o delator lá está?
Por questões morais?
Pra que o mal combata?
Quem ousa acreditar?

A palavra desses merece crédito?
Pela idoneidade, algum mérito?
Vamos falar de um recente pretérito?
Posso repetir o questionamento?

O que você quer de verdade?
O que fez pra essa meta?
Manifestou-se pela cidade?
Optou pela passividade?

Ou vai esperar ano que vem?
Ano que vem tem eleição, né?
Vai votar em quem?

Por favor, pode não me dizer?
Mas você votou na anterior?
Em quem ganhou o poder?
Ou em quem tomou ao se impor?

Absteve-se na hora H?
Por que não quis se posicionar?
Nenhum merecia te representar?

Agora merece?
Não? O que fez pra mudar?
O que mudou pra agora?
Não vai mais lá fora manifestar?

Todo político é bandido?
Bandido bom é bandido morto?
Numa sociedade cristã?
Quer matar, mas, punir o aborto?

Quer desabafar no divã?
Pode me explicar esse afã?
Quer uma sociedade justa?

De fato?
Me ajuda a entender seu relato?
Quer vingança por assassinato?
Quer o filho cristão, sensato?
Mas só espalha ódio... e esse hiato?

Esse ato é condizente?
Ao princípio moral de sua fé?
A propósito, qual é?

Pode, de novo, por favor, não me contar?
Posso te pedir pra repensar?
Religião é pra unir e amar?
O que tem feito pra melhorar?
Tem se posicionado pra opinar?

Posso aqui propor?
Antes de se declarar, pode avaliar?
Há base pra falar?

Esta semana você viu o furor?
Aquele da exposição sobre sexualidade?
A quantas exposições tem ido?
Terias deveras propriedade?

E o assunto da escola sem partido?
Acredita em imparcialidade?
Sendo bovinamente conduzido pela Globo e sua grade?

Sério mesmo que sobre tudo opina?
Votou em qual dos que recebeu propina?
No PT onde corrupção é sina?
Ou no do helicóptero cheio de ... declina

Você sabia que essa poltrona reclina?
Vai respondendo... me ensina?
Quer condição que conjumina?
Será que refletindo a gente atina?
Sabia que silêncio também combina?
Ódio em plena valorização divina?
Por favor, responde aí e assina!

quinta-feira, setembro 14, 2017

Outro Beat

Que todos em casa me perdoem
Por mais que meus versos destoem
Das trilhas que me mostraram
O beat que vocês ouvem
Nos meus, nunca afinaram

E não tem o propósito dissonante
Exerço a pausa, silêncio constante
A ponto de ser apenas introdução
Ouço um a um, em seu tom vibrante
Não acrescento uma nota à canção

Se o fizesse, fora de tempo estaria
Pois ouço outra melodia
Que não adiantaria
Tentar detalhar, explicar

Pois já tentei isso dia após dia
Tamanha foi a apatia
Parece até que não se ouvia
Tanto faz meu calar ou falar

Já pensei calar de vez
Emudecer definitivo
Meu verso foi proibitivo

Ele me ouviu, foi cortês
Também mudo, compreensivo
Ao desabafo depressivo

Poesia no ar, no papel
Cada vez, menos linhas

Menos palavras ao léu
Menos conversas só minhas

Sozinhas

Minha bagagem

Minha bagagem não tem
Os grandes clássicos da literatura
Assumo a falha, mas, não aceito porém,
Questionar minha cultura

Li alguns grandes autores
Na escola e algum tempo depois
Que me desculpem os mestres doutores
Sou bem mais Nei Lopes, D2

Sou Bezerra, Dicró, Morengueira
Sou João e seu Nó Na Madeira
Sou Cacique, a tamarineira
Rainha Leci, Clara guerreira

Sou Martinho, partido e pandeiro
O lamento de Paulo Cesar Pinheiro
Leva Meu Samba, meu mensageiro
Almir e Da Cruz; Beth, as damas primeiro

Minha poesia pode até ser rebuscada
Culpa de Um Homem Na Estrada
Ao ouvir, minha alma é elevada
Num sarau, poesia declamada

Foram essas raízes, minha influência
Aos poucos, adquiri a consciência
Que estes construíram minha essência
Minha poesia? Só quer dar sequência...

segunda-feira, setembro 11, 2017

Casas Abandonadas

Como me fascinam as portas trancadas
De casas abandonadas
É imediata a reflexão
Quanta história já aconteceu aí dentro
Seja uma portinha ou um casarão

No meu caminho contra o fracasso
Em dois desses locais, eu passo
Na casa, ninguém mora mais
Nem sei se é uma casa
Ou um quartinho de materiais

No outro, era point de diversão
Música, baile, bar, curtição
Hoje sobrou a desbotada pintura
Poeira no vidro por dentro
Foram brindes sem literatura

Copos que mancharam balcões
Olhares e vãs ilusões
Que o destino às vezes apronta
O último giro da chave que tranca
É menos gran finale que a última conta

História é pessoa; o lugar é cimento
Foi tudo "Era UmaVez" no envolvimento
E o cenário, ao fiado não resistiu
Fraquejou ao boom imobiliário
Mesmo a chave na mão do proprietário
A porta trancada, minha mente invadiu

sexta-feira, setembro 01, 2017

Importunação ao Pescoço

Porra! Caralho!
Não são apenas interjeições
Elas têm ligação
Não são apenas palavrões
Nesta situação

Porra do caralho!
Parece grosseiro meu linguajar
Esporraram na moça no coletivo
Chegou pro juiz avaliar
Não houve constrangimento ofensivo

Vai se foder, seu filho da puta
E quando isso acontecer, que te esporrem
No pescoço, na cara, na boca pra se calar
Enquanto na moça, as gotas escorrem
Com qual cabeça mesmo é pra pensar?

Juiz José Eugenio do Amaral Souza Neto
Quero este nome no poema registrado
José foi um Zé no tom mais negativo
De gênio, o Eugênio tem vacilado
De Amaral, daria boa rima neste ocorrido

Segundo ele não foi estupro ato tão escroto (do escroto do escroto)
E se fosse sua mãe, sua filha, o que acharia?
Houve até esse absurdo no debate
Seriam mais duas mulheres que a esta situação exporia
Elas não mereceriam abuso tão covarde

Nem elas, nem nenhuma outra, sem consentimento
Já ouvi relatos de quem foi roubado
Não se pode ir ou voltar dormindo
Você pode até ser esporrado
Sem tempo do pau ficar de novo armado
O estuprador já está saindo

Ah, não configura estupro, seu juiz
“Importunação ofensiva ao pudor”, definiu
Ofensiva ao pudor, não à moça violentada
Cobrador, inteligente o modo que agiu
Chamou a polícia e aguardou a chegada

Foi conduzido, protegido sem ser agredido
Teve o respaldo da condução policial
E ainda foi salvo de um linchamento
Que, nesse caso, seria reação natural
Da excitação do povo, não aquela do seu... Amaral
Achou normal, não foi violento
Não houve conjunção carnal
Entre aspas: “Não houve constrangimento”

Afinal, pra Justiça nossa cara é alvo banal
Pra ejacular a todo momento
Lembro de Raimundos, Esporrei na Manivela
Mas, a Justiça, se ao nível dela nivela,
Pro que ela faz...
Julga esse ato até pouco nojento.