quarta-feira, dezembro 06, 2017

O Tijolo

Tijolos constroem
Casas, edifícios, escolas, guaritas
Tijolos constroem um lugar
Não histórias para contar
Tijolos fazem paredes onde a vida habita

E a vida é quem pode se narrar
Com tijolo se faz artes, artesanato
Vira cenário, vira cena pro ato
Lembremos que o tijolo edifica,
Onde um grupo se une e solidifica
O tijolo ouve cada relato

De tão discreto, sequer critica
Após construir lugares
Vira entulho dispensável
Sem apego no canto largado
Não ligue se ele for quebrado
Numa queda é até bem provável

Que outro fim tenha alcançado
Tijolo, entulho, resto de construção
Tijolo, duro, sustenta ação
Tijolo, frio, que aguarda o cimento
Tijolo é um perigo ao alcance da mão
Tijolo constrói o sonho de união
O muro do ressentimento
Ignorância, o põe em ação
Vai da situação, tijolo expressa sentimento

terça-feira, dezembro 05, 2017

CensurOz

A Censura voltou
Podem comemorar
Já barraram show
Exposição, teatro popular

Na rua, na praça, na ocupação
Em todo lugar
Aqui em Osasco, no Calçadão
Já começaram a ocupar

E culpar artistas valentes
De ofensa moral aos princípios
Subvertem longe das lentes
Escondidos atos promíscuos

E na casa de lei, infringem-nas
Em envelopes nada cristãos
Discursos e ameaças misóginas
Exposta ao vivo em televisão

E ainda teve defensor
Quem inverteu a situação
Aplaudiu ato opressor
De censurar nossa expressão

É, minha gente, regime instalado
O desmonte cultural se implantou, é real
Osasco está encurralado
Resiste na Tenente e Marechal

Osasco, que asco dessa censura
Fiasco a legislatura
Que oprime
Artista, não o crime

Pois lhe falta envergadura
Ela só tem culhão
Contra encenação, exposição, canção
Declamação, literatura

Arte leva à reflexão
Hoje se leva a expressão
Ouve-se palmas à viatura

sexta-feira, outubro 27, 2017

Ódio x Amor

Com o ódio tão presente
Com o ódio instalado
Tem gente que odeia a gente
Sem motivo declarado


É como um óleo fervente
Por vingança, preparado
Queima quem é diferente
Só por isso é odiado


A gente precisa sim, é de mais amor
A gente precisa sim, pedir por favor
A gente precisa ter sim, mais compaixão
A gente precisa respeitar sim, a opinião


E quem duvidar que o amor é que pode mudar tudo isso
Faça então a reflexão no seu momento mais pessoal
Quem ganhou algo de bom sendo expansivamente destrutivo
Quem conquistou algo de bom só fortalecendo o mal


Amor quando a gente põe em canção ou declama em poesia
Não pode ser da boca pra fora nem somente aos mais chegados
Amor é algo que contempla uma tal de cidadania
Amor é rosto à mostra no baile dos mascarados


Ame igual o romantismo de um inspirado compositor
Ame igual amava como amava um pescador
Ame, por amar, para o ódio não se impor
Ame, ame, ame, seja amor, seja qual for


Seja pra cantar, pra dizer, pra ir na praça e declamar
Faça por onde, não deixar o amor silenciado
O ódio não cansa de se espalhar, de berrar, de gritar

Ele existia, com agonia, por covardia era calado

Agora, tão ostentado em qualquer lugar
Tal qual a peste, é facilmente proliferado
Você, quando está só você, já parou pra pensar
Se joga ódio no ar e busca ao fim ser amado?

sexta-feira, outubro 20, 2017

Dia da... Mas, sem poesia

Bem hoje, Dia da Poesia, vou desabafar aqui, sem rima, simplesmente pra tirar do meu peito esse incômodo que quase me sufoca. Hoje, me tira o sono. Por consequência, a paz. Paz? Que porra é essa de paz?!

Paz encontro na solidão, tão rara. Há quem possa entender o desejo de estar só, pois ninguém seria o suficiente pra mim; no entanto, vejo do lado oposto do prisma. Meu objetivo é não ser um estorvo, com minhas lamúrias (declaradas ou não), com minhas inseguranças.
Por vezes, escrevo pois vem inspiração. Por vezes, desabafo. Por vezes, a inspiração abafo. Por vezes, inspiro o desabafo. E não o expiro.
A esta hora da madrugada que escrevo, com sono perambulante, busco apenas passar pro papel a agonia de se sentir sem estar acordado e, ao mesmo tempo, sem sono. Como pode isso? É não procurar a renovação de energia pois não se sabe qual sua finalidade quando reposta.
Não se descansa pois não há motivo pra cansar e isso vira um ciclo.
Dizem: é o ciclo da vida.

Dizem que há uma para ser vivida, que há tanta vida lá fora... desculpe, mas não há nem aqui dentro...

Até pra ter coragem de ... enfim, deixa...

Até pra escrever, falta...

quinta-feira, outubro 19, 2017

Covarde alcance

Não deixe ao meu alcance
Nada que me permita invadir
Nada que a pele avance
A ponto de o sangue cair

Nem uma ponta de lança
Nem um tambor pra munir
Se viva, a alma remansa
Na ânsia de se destruir

E viva, sem vivas e interjeições
Ela cumpre sua missão
Sem ousar fazer questões
Relega a emoção

Aceitou as frustrações
De um sorriso abriu mão
Projeta encarnações
Em troca dessa sem razão

Sem razão, ação, reações
Ligeira e fria pulsação
Roleta Russa em condições
Uma só! Libertação



segunda-feira, outubro 09, 2017

Nordeste libertado

No Sul, há um movimento separatista
Coisa essa que já vi aqui de paulista
Mas, sou mais o Bráulio Bessa, cordelista

Nordestino, orgulhoso de seu lugar
Poetizar sobre a questão de separar
Queriam do Nordeste se libertar

Tudo começou pós eleição pra presidente
Em que o Nordeste teve peso influente
Teve um povo que ficou revoltado
Indignado por ter sido no voto derrotado

E o debate por isso foi alçado
Pensar num Brasil, com o Nordeste separado
Será que isso ocorrerá um dia

Bráulio Bessa, o poeta citado
Perguntou e explanou em versos como seria
O Nordeste sim que se livraria
Desse povo todo cult e arrojado

O que eu queria mesmo é que me fosse perguntado
Qual posição tomaria
Eu nem por um segundo dúvidas teria
Se aqui por São Paulo continuaria
Ou minhas malas arrumaria

Nem precisaria ficar tão preocupado
Com o que pela frente encontraria
Eu aprendo o dialeto complicado

Se o Brasil fosse "libertado"
Eu já escolhi pra qual lado eu iria
Por onde o visto é carimbado?
Posso entrar pela Bahia?

sexta-feira, outubro 06, 2017

Desisti

Eu desisti
Não vou mais debater
Resistir
Vou calar
Sucumbi
Aceitar que caí

Sem forças, me rendi
Nada a dizer
Palavras perdi
Não vou procurar
Tanto que pedi
Pra escutar, não consegui

Sigo cumprindo apenas a função determinada
Com total apatia a tudo que me circunda
O tempo vai deixando a olheira marcada
E a dor mais frequente em coluna corcunda

E hoje meu impulso está transformado em nada
Abaixo do nível, imerso corpo se afunda
A respiração rende-se, sem garra, afogada
A água que invade, a ideia inunda

Afoga-se, parte, sem dor perturbada
A ideia se foi, não mais se aprofunda
No fundo, no fundo, não será nem lembrada
Nem boiando em qualquer praia imunda

Para essa passagem de vida findada
Quando o corpo encontrar, sempre tem um que assunta
Será que essa história seria mudada, continuada
Ou sequer pensarão em fazer a pergunta?

quinta-feira, outubro 05, 2017

Calam-me

Escrevo
Desbravo
Esquivo
Escravo

Agito
Reajo
O crivo
Um cravo

Cravam-me
Calam-me
Resvalo
Escapo

Travam-me
Barram-me
Reparo
Disparo

Gasto a letra na caneta ou digito
Tinta preta que não pinta, só escrito
Fico à margem desse ultraje infinito
A chantagem engrenagem onde habito

Não recluso, esse abuso eu relato
Não recuso, só acuso ou delato
Bolso cheio, só recreio em retrato
Vou no meio do recheio ou combato?

Sua posição, sua ação definirá
É aliado ou do outro lado, que lado está
Será o passado ultrapassado que voltará
Um novo Estado que deu errado retomará

Velho regime de novo imprime quem vai mandar
Não se redime e vem mais crime pra nos lembrar
Você nem finge, se não te atinge, o polegar
Que ele assassine a gente, assine pra nos calar
Tirar-nos a voz, devolver vosso ar

sexta-feira, setembro 29, 2017

Sentido

Uma arma na mão
na cabeça, pressão
agonia sem dimensão

Dedo no gatilho
comprimido
Pulso ferido

És vã, depressão
dada a condição
Agradeça em oração

Não faz sentido
Um infeliz sucedido
num disparo destruído

Sentido, palavra de ampla visão
Pode ter razão sem coração?
O que nos mantém vivo é pulsação
cabe a reflexão

Se você tem resistido
Merece ser aplaudido
Tem se mostrado aguerrido

Ao render-se à situação
O lado dor é o campeão
Sem comemoração

É um livramento concedido
Pros outros sofrido
Pro autor, sentido

Sentido no sentido de lesão
e sentido de por fim à depressão
É exatamente o contrário
Eu não quis chamar atenção

Ninguém desiste pra ser percebido
O descaso é a causa de ter desistido
É um triste combate definido
Não mais respirar em vão
O vão do disparo e no peito atingido

quinta-feira, setembro 28, 2017

Poesia no Horizonte



Certa vez, um poeta e professor
Ensinou, publicou
Que a poesia está no ar
Está no olhar,
no observar

Com pretensa ousadia
Digo que a poesia
Não apenas flutua
Esperando que a peguem crua
E em linhas, a molde
Isso não resolve
Sua definição

Poesia é sim, visão
Olfato, tato, paladar
Sistema nervoso, coração
Batimento e pulsar

A poesia não só não está presa em nós
Cegos, atados, em nós
A poesia é o outro,
o encontro

De se por no lugar
De se imaginar
Como se sente, se é que sente
Se contente, se consente, se ressente
Poesia não é só dentro da gente
É saber que o horizonte não está
somente à frente.

terça-feira, setembro 26, 2017

Campos iguais

Tá na reeedeee
A fome, a sede
Não elas, propriamente ditas
E sim, a fome e sede de vida

Uma copa no Brasil
Não o 7 a 1 que sucumbiu
Nossa amarela seleção
Copa dos refugiados da nação

No Pacaembu, o jogo decisivo
O futebol, suado lenitivo
Na final, Marrocos e Nigéria
A bola rola, é coisa séria

À Nigéria campeã, o respeito
Os sobreviventes do preconceito
Copa onde todos competidores
Driblaram a guerra, os goleadores

Os gols? Nesse caso sim, um mero detalhe
E o placar que de fato vale
É abrirmos nossa meta pro cobrador do penal
Que ele corra pro abraço mais natural
De quem vai pra rede, seja ou não a final
E que a gente o tratasse, o abraçasse
Feito um gol no mundial

A bola vai pra rede, o chutador vibra, o juiz apita
E também por uma rede, há uma dor que limita
Um disparo e o gol que a torcida grita
Campo de guerra ou campo de jogo
Todo mundo é igual. Reflita.

terça-feira, setembro 19, 2017

Adoece

Dois mil e dezessete
Setembro, acordei

Olho na manchete:
Permitida a cura gay

Não sei o que acontece
No tempo viajei

Pr’um tempo que precede
À época, não enfrentei
Um tempo que o cassetete
Era o senhor da lei
O soldado com seu cap
Marchava e se achava um rei


Momento que entristece
Cujo choro segurei
Com medo que regresse
Ainda não me adaptei
Que meu cérebro processe
Quem sabe aceitarei


Meu coração se compadece
Com o que sinto que verei
Ah, quem dera se eu pudesse...
Voltar no tempo? Já voltei!


Arte aqui se impede
Fala-se até de cura gay
Doença que se reverte
Nesse caminho, sofrerei


Em Brasília, tudo se pede
Se concedido, votarei
Contudo, o povo se perde
Num destino que vislumbrei


Aplaudiu, então merece
Não me compadecerei
Não será oração ou prece
Que eu acreditarei
Que o país laico progresse
Nem tampouco, marcharei


Pena que o povo esquece
Eu não apagarei
Pois nossa memória padece
E hoje me aproximei
De um passado que aborrece
Que pela frente viverei


Enquanto não me decepe
Pensarei
E meu verso não emudece
Escreverei
O retrocesso me adoece
Será dele que morrerei

sexta-feira, setembro 15, 2017

Leco Fez Nossa Vez

Leco, você fez
Chegar nossa vez
Mundiais são três
Brasileirão, são seis

Você está conseguindo sua missão
Sofrimento à nossa nação
Rebaixar-nos de divisão
Omisso, sequer tem culhão

E fala com uma soberba nojenta
Humilhação que o torcedor aguenta
Veste o manto, o vexame enfrenta
Em nada, há anos, nos representa

Você não tem a dimensão do que é o Tricolor
Hoje presidente; há uma década, diretor
Década triste, da qual é o autor
Recolha sua corja e se vá, por favor

Nossas estrelas te representam nada
Nossa torcida na arquibancada
Nossa trajetória menosprezada
Sua incompetência arquitetada

O São Paulo que faz bater meu coração
É aquele que em 3 vezes no Japão
Em todas, voltou campeão
Time inglês, italiano e o catalão

Será que quando chega ao seu lar
Ninguém o ousa questionar?
Papai, vovô, o São Paulo como está?
Confiem, eu sei administrar

Olhe no espelho e essa frase repita
Eu sei administrar. Realmente acredita?
Se é que consegue, por favor, reflita
Ou será o nome dessa herança maldita?

Não creio ser coincidência
Seu período na presidência
Tamanha decadência
Vergonha em evidência

Amoroso declarou: 'viraremos MorumTri'
Nossa camisa 10 foi usada por Raí
No tri nacional, comandante Muricy
Tratou o Mito como qualquer um por aí

Nosso escudo tem estrelas e três cores
Ilustram conquistas, nossos valores
Somos formadores
Éramos referência como administradores

Porém na mão dos senhores
Indignos, incapazes diretores
Repleto de juristas, doutores
Na bola, não passam de amadores

A cada jogo, temores
A cada gol, as dores
Culpa de projetos devastadores
Intencionais destruidores

Nós somos os construtores
Dessa fé, mantenedores
O maior entre os amores

Vocês não, não são torcedores
Talvez de times de outras cores
Que as glórias não fiquem no passado
Como no hino é cantado

Nós sim, somos tricolores
São Paulo Futebol Clube
Clube bem amado
De glórias e vencedores

PPP: Perguntas Político-poéticas

O que você quer de verdade?
Acabar com a corrupção?
Vamos prender o ladrão?
O quê? Tem uma infinidade?

Até onde vai sua vontade?
Até todos estarem presos?
Ou quer alguns ilesos?
Quem não merece liberdade?

O ex-presidente?
O atual?
O concorrente?
É tudo igual?

O que temos na mão pra prisão?
Gravações de delação?
Qual delas é real?
Quem está com a razão?
Quem mente na cara-de-pau?

Qual dos companheiros mente?
Vai acreditar em qual petista?
Não era tudo vigarista?
Você fica com qual versão dos 'Batista'?
Na gravação entregue ao jornalista?
Ou na recuperada, já que deixou pista?

Quem merece crédito quando delata?
Por que o delator lá está?
Por questões morais?
Pra que o mal combata?
Quem ousa acreditar?

A palavra desses merece crédito?
Pela idoneidade, algum mérito?
Vamos falar de um recente pretérito?
Posso repetir o questionamento?

O que você quer de verdade?
O que fez pra essa meta?
Manifestou-se pela cidade?
Optou pela passividade?

Ou vai esperar ano que vem?
Ano que vem tem eleição, né?
Vai votar em quem?

Por favor, pode não me dizer?
Mas você votou na anterior?
Em quem ganhou o poder?
Ou em quem tomou ao se impor?

Absteve-se na hora H?
Por que não quis se posicionar?
Nenhum merecia te representar?

Agora merece?
Não? O que fez pra mudar?
O que mudou pra agora?
Não vai mais lá fora manifestar?

Todo político é bandido?
Bandido bom é bandido morto?
Numa sociedade cristã?
Quer matar, mas, punir o aborto?

Quer desabafar no divã?
Pode me explicar esse afã?
Quer uma sociedade justa?

De fato?
Me ajuda a entender seu relato?
Quer vingança por assassinato?
Quer o filho cristão, sensato?
Mas só espalha ódio... e esse hiato?

Esse ato é condizente?
Ao princípio moral de sua fé?
A propósito, qual é?

Pode, de novo, por favor, não me contar?
Posso te pedir pra repensar?
Religião é pra unir e amar?
O que tem feito pra melhorar?
Tem se posicionado pra opinar?

Posso aqui propor?
Antes de se declarar, pode avaliar?
Há base pra falar?

Esta semana você viu o furor?
Aquele da exposição sobre sexualidade?
A quantas exposições tem ido?
Terias deveras propriedade?

E o assunto da escola sem partido?
Acredita em imparcialidade?
Sendo bovinamente conduzido pela Globo e sua grade?

Sério mesmo que sobre tudo opina?
Votou em qual dos que recebeu propina?
No PT onde corrupção é sina?
Ou no do helicóptero cheio de ... declina

Você sabia que essa poltrona reclina?
Vai respondendo... me ensina?
Quer condição que conjumina?
Será que refletindo a gente atina?
Sabia que silêncio também combina?
Ódio em plena valorização divina?
Por favor, responde aí e assina!

quinta-feira, setembro 14, 2017

Outro Beat

Que todos em casa me perdoem
Por mais que meus versos destoem
Das trilhas que me mostraram
O beat que vocês ouvem
Nos meus, nunca afinaram

E não tem o propósito dissonante
Exerço a pausa, silêncio constante
A ponto de ser apenas introdução
Ouço um a um, em seu tom vibrante
Não acrescento uma nota à canção

Se o fizesse, fora de tempo estaria
Pois ouço outra melodia
Que não adiantaria
Tentar detalhar, explicar

Pois já tentei isso dia após dia
Tamanha foi a apatia
Parece até que não se ouvia
Tanto faz meu calar ou falar

Já pensei calar de vez
Emudecer definitivo
Meu verso foi proibitivo

Ele me ouviu, foi cortês
Também mudo, compreensivo
Ao desabafo depressivo

Poesia no ar, no papel
Cada vez, menos linhas

Menos palavras ao léu
Menos conversas só minhas

Sozinhas

Minha bagagem

Minha bagagem não tem
Os grandes clássicos da literatura
Assumo a falha, mas, não aceito porém,
Questionar minha cultura

Li alguns grandes autores
Na escola e algum tempo depois
Que me desculpem os mestres doutores
Sou bem mais Nei Lopes, D2

Sou Bezerra, Dicró, Morengueira
Sou João e seu Nó Na Madeira
Sou Cacique, a tamarineira
Rainha Leci, Clara guerreira

Sou Martinho, partido e pandeiro
O lamento de Paulo Cesar Pinheiro
Leva Meu Samba, meu mensageiro
Almir e Da Cruz; Beth, as damas primeiro

Minha poesia pode até ser rebuscada
Culpa de Um Homem Na Estrada
Ao ouvir, minha alma é elevada
Num sarau, poesia declamada

Foram essas raízes, minha influência
Aos poucos, adquiri a consciência
Que estes construíram minha essência
Minha poesia? Só quer dar sequência...

segunda-feira, setembro 11, 2017

Casas Abandonadas

Como me fascinam as portas trancadas
De casas abandonadas
É imediata a reflexão
Quanta história já aconteceu aí dentro
Seja uma portinha ou um casarão

No meu caminho contra o fracasso
Em dois desses locais, eu passo
Na casa, ninguém mora mais
Nem sei se é uma casa
Ou um quartinho de materiais

No outro, era point de diversão
Música, baile, bar, curtição
Hoje sobrou a desbotada pintura
Poeira no vidro por dentro
Foram brindes sem literatura

Copos que mancharam balcões
Olhares e vãs ilusões
Que o destino às vezes apronta
O último giro da chave que tranca
É menos gran finale que a última conta

História é pessoa; o lugar é cimento
Foi tudo "Era UmaVez" no envolvimento
E o cenário, ao fiado não resistiu
Fraquejou ao boom imobiliário
Mesmo a chave na mão do proprietário
A porta trancada, minha mente invadiu

sexta-feira, setembro 01, 2017

Importunação ao Pescoço

Porra! Caralho!
Não são apenas interjeições
Elas têm ligação
Não são apenas palavrões
Nesta situação

Porra do caralho!
Parece grosseiro meu linguajar
Esporraram na moça no coletivo
Chegou pro juiz avaliar
Não houve constrangimento ofensivo

Vai se foder, seu filho da puta
E quando isso acontecer, que te esporrem
No pescoço, na cara, na boca pra se calar
Enquanto na moça, as gotas escorrem
Com qual cabeça mesmo é pra pensar?

Juiz José Eugenio do Amaral Souza Neto
Quero este nome no poema registrado
José foi um Zé no tom mais negativo
De gênio, o Eugênio tem vacilado
De Amaral, daria boa rima neste ocorrido

Segundo ele não foi estupro ato tão escroto (do escroto do escroto)
E se fosse sua mãe, sua filha, o que acharia?
Houve até esse absurdo no debate
Seriam mais duas mulheres que a esta situação exporia
Elas não mereceriam abuso tão covarde

Nem elas, nem nenhuma outra, sem consentimento
Já ouvi relatos de quem foi roubado
Não se pode ir ou voltar dormindo
Você pode até ser esporrado
Sem tempo do pau ficar de novo armado
O estuprador já está saindo

Ah, não configura estupro, seu juiz
“Importunação ofensiva ao pudor”, definiu
Ofensiva ao pudor, não à moça violentada
Cobrador, inteligente o modo que agiu
Chamou a polícia e aguardou a chegada

Foi conduzido, protegido sem ser agredido
Teve o respaldo da condução policial
E ainda foi salvo de um linchamento
Que, nesse caso, seria reação natural
Da excitação do povo, não aquela do seu... Amaral
Achou normal, não foi violento
Não houve conjunção carnal
Entre aspas: “Não houve constrangimento”

Afinal, pra Justiça nossa cara é alvo banal
Pra ejacular a todo momento
Lembro de Raimundos, Esporrei na Manivela
Mas, a Justiça, se ao nível dela nivela,
Pro que ela faz...
Julga esse ato até pouco nojento.

quinta-feira, agosto 31, 2017

Discurso Grato


É com imensa satisfação
Que cumprimento estes nobres senhores
Pela sábia decisão
De preservar nossos valores
Com aval da população

Deste povo brasileiro aguerrido
Fez coro à nossa missão
Foi amplamente difundido
Revista, hashtag, televisão
Sou realmente agradecido
Pela manifestação

Foi esse nosso povo trabalhador
Que agraciamos com a reforma
Ao estudante que lutou
O ensino médio se transforma
A quem é aposentado, minha senhora, meu senhor
É com prazer que o país informa
Que é por quem tanto se planejou
O benefício que conquistou, estorna

E de estorno em estorno, um retorno
A um passado de transtorno, estorvo
Em que tudo ao em torno
Volta a ser como era, morno, retorno
E eu retorno ao retrocesso do suborno
Daquele que não aceita o visível corno
De que foi o recheio e o contorno
Para tirar da engrenagem, o torno
E novamente botar o país no forno

Não no fogo gostoso de lareira
É fogo que corrói nosso verde bandeira
Não é a evolução brasileira
Manja o inferno? Estamos à beira

Num aquecimento hostil
Mercantil, municiado com fuzil
Que expressa em ódio viril
O sentimento mais vil
Preconceito no Brasil
De raça, de credo, de classe,
De formação estudantil

Olha pro Rio
Nosso cartão postal que se esquive
Da munição do novo Steve
Entre a bala e você, pode crer,
Ela é mais livre

Camisas Guardadas

Abro a gaveta
Ainda vejo lá a camiseta
Ou melhor, as camisetas
Com o símbolo da CBF
E a cada dia me entristece
A vergonha de usá-la
De sair na rua e ostentá-la
Com suas 5 estrelas

Em campo, fizemos por merecê-las
Isso, nenhum argumento abala
O que pouca gente fala
É o sentido que ela tomou
Quando o Brasil se separou

De um lado, um partido
De outro, um ideal curtido
Ideal que usou como vestimenta
A camisa do penta
Pra tirar a presidenta
E quem mais vier, o povo enfrenta

Enfrentariam qual faziam os esquadrões
De nossos times campeões
Mas, assim como a Copa no Brasil
Marcada pelo 7 a 1, nosso escudo caiu
Não põe medo algum
A não ser pelo Rio

Lá, o medo é comum
Mas, o assunto é a camisa canarinho
Pra andar na rua, dá vergonha de usar
Mas, guardo a 10 amarela, Ronaldinho
E a 8 azul, do Tricolor Kaká

E as duas que guardo, são pelos craques
Com a bola faziam truques
Enganando os beques
Com velocidades nos piques
Nas arrancadas, nos toques
Nos rankings, os tops
Troféus, hat-tricks

As camisas dobradinhas, guardadas
Será que serão de novo usadas?
O símbolo no peito terá sentido?
Não pela CBF, essa é caso perdido

Será que nossa nota será 8 ou 10,
Igual o número da camisa?
Em condição tão imprecisa,
A média não daria 9
Não creio que tão cedo, alguém prove
Que esta nota mereça recebê-la

A não ser pelo que a mídia promove
Nosso escudo teria sequer uma
Nem uma, solitária e única estrela 

Bolt e a Linha



Foi pela TV que eu vi
Um ou dois dias já tinham passado
E todos já tinham passado
Ultrapassado
O ultra, passado
O passado ficou marcado
E dali pra frente
Seria presente

Um músculo fisgado, uma dor latente
Fez justamente naquele instante
Que todos à frente olhassem pra trás
Assim como ele pouco antes
Passava rindo dos demais
Quem viu, viu; quem não viu, não verá mais

Nunca fui fã de atletismo
E das provas de corrida
Mas, naquela cena sentida
Naquela fisgada doída
Pelo menos, uma vez na vida
Meu pensamento foi mais veloz
Que a última linha vencida

Dessa vez, não teve recorde
Medalha, troféu e o raio
Parecia sim, um raio forte
Que poderia ter tido mais sorte
Ter sido disputado no esporte
Seria retardatário

Acabou, linha cruzada
Sem medalha pra estante
A Jamaica sentiu com a gente
Não haverá prova seguinte
Uma revanche que desponte
Que no futuro, alguém pergunte
Quem foi esse Bolt?
Como se fala? Usain ou Usein?
Faz assim, como falar, tudo bem
Cite-o como o raio que encantou o Brasil
Nas Olimpíadas 2016, no Rio
Aqui ele correu, ganhou, se divertiu

De praxe, fecharia o revezamento
Simbólico momento
Recebe o bastão e parte
Fisga, repuxa, arde
E aquele ar de campeão, ali, no chão
Deixará saudade, será inspiração
Pra que a adversidade
Trombe um moleque de coragem
Que vai correr na contramão

segunda-feira, julho 24, 2017

O Preço do Gosto

Ah, mas, o dinheiro vale a pena...
E a grana que está ganhando?
Com esse tanto não vê problema
Vê lá se ele está reclamando

Grana é bom; e pior, necessário
Só ela, por si, pelo numerário
Que estampa a nota do cachê ou salário
Não completa meu valor, maior que monetário
Nem sendo funcionário, nem sendo empresário
Não prego o mundo ideal no imaginário
Mas, quero o sal do mar, não o motor do aquário

Conta chega, custo de tudo que é lado
Pago, porém, aquele dinheiro suado
Você escolhe! Você o move ou por ele é guiado?
Ele engrena seu sonho ou já está alugado?

Bate ponto, vende 1 conto
Tem seu ponto, dá desconto
Chega o rapa, eu desmonto
Se bem cedo me apronto
Estou pronto, pro encontro e pro confronto
Alugue, venda seu sonho, eu compro

Você quer sonhar? Sonhe tendo dinheiro
Quer trabalhar? Faça o que dá dinheiro
A grana é boa, vai recusar?
Ó o trouxa perdendo dinheiro
O que você quer fazer da vida? Ganhar dinheiro

Tem tantas coisas que o dinheiro não compra
Puta clichê babaca, coisa de cabeça fraca
Faz por onde que a grana te tromba
Com bolso cheio se destaca

Cada um corre pelo que acredita
Respeito, mas, no fundo, lamento
Por quem nem sabe do que estou falando

Não tem nem ideia por mais que reflita
Do que é fazer por sentimento
Ter o pelo do braço arrepiando

E a alma transcendendo, viajando
O coração, pressão padrão, não palpita
O motivo do que está fazendo
São apenas notas se somando
Não o 10 na prova de outro tempo
Notas e níqueis na conta do banco

Não consigo estabelecer proporção
Entre o valor que pinga e satisfação
O cachê tentador trazer frustração
Num outro voluntário, ó lá o otário
Ser puro tesão

Tesão, emoção, arrepio, pulsação
Nada paga boleto fatura e imposto
Dê seu preço pra cumprir a missão
Recebendo, não há desgosto
O numeral junto ao cifrão
Diz se há refluxo no gosto

quinta-feira, julho 20, 2017

Transcende

Aí do nada, surge, aparece...
E junta tudo de mais foda
O jeito, o cheiro, a forma, a pele
Em mim, a reação incomoda
Mistura-se ao foco e à moda
E o olhar que entorpece
Domina o jogo, põe na roda

Sabe aquele olhar invasor
Que se bate de frente intimida
Não ouse tentar se impor
É tipo beco sem saída
É sem liberdade concedida
O sol só resolverá se expor
Se os lábios juntos ganharem vida

E nesse ar, nesse gesto, pode ser noite ou dia
Você tem todas as estações e ações fenomenais
O vento, um beco, trança o enigma que sorria
Sinto de químicos temperos aos sabores naturais
A paisagem verde, o grafite urbano, no preto e branco dos jornais
É a ação que nem a confissão perdoaria
Mas, pra quê? Se já vai ao céu, vai querer o que mais?
Por você? Sim, tudo, todo pecado, profanação valeria
Transcenderia razões: espirituais e carnais.
A ordem (ou desordem) tanto faz

quarta-feira, junho 28, 2017

No Pé do Tenente


Em Osasco, na Rua do tenente
Tem muita voz, tem o Nós de Oz
E a gente sente o busão veloz

A rua treme e treme forte no no pé
Ninguém me contou, estou direto aqui e senti
Na rua da Escola de Artes Cesar Antonio Salvi

Poesia, música, interpreta/ ação, literatura
Do começo ao fim, longínquo enredo
De nome pomposo: Avelar Pires de Azevedo

E quando o tenente avança o sinal, cruza o Marechal
Nesse caso não é afronta à autoridade
Há tanta particularidade nessa cidade

Tão perto ali da rua que treme
Está o largo, o calçadão, o fluxo mais quente
Do cachorro, de gente, do comércio equivalente

Bares, feiras, representantes do mundo inteiro
Chinês, nigeriano, osasquense, pernambucano
Olha o chip! Aleluia, irmão! Passou! Faz um 10 no suco do baiano

A rua quando o busão passa, trepida
Foi num desses que esse verso chegou de carona
Nem dá sinal, desce, atravessa e me toma

Eu não pretendo pagar de conheço todas quebrada
Por onde ando e andei já tem muito poema no ar
Ultimamente, a pauta é polícia e a causa parlamentar

Tem espaço também pra violência urbana
Chacina, insegurança, parece que tá no gene
E aqui perto da rua que treme, tem o quarteirão que geme

De prazer nos hotéis onde se hospedam minutos
Suficientes pro objetivo nada formal e razão mais impura
Do outro lado da rua, geme e teme quando chega a viatura

Pela droga encontrada, vai perder tempo na chefatura
Do outro lado da rua, um albergue, um puteiro e uma igreja
A rua tem cheiro de tudo, inclusive de amanhecida cerveja

Todas essas estrofes partiram do tremor do chão
Dessa vez, busão. Mas, um terremoto no passado já foi noticiado
Na Tenente, se sente no pé Osasco e sua intensa vibração
E nem precisa ter bebido, e nem precisa estar chapado.

segunda-feira, junho 26, 2017

O Homem de Capa


O homem de capa
Não sai na capa (do jornal)
Sua capa o cobre
E o jornal não cobre
Por suas linhas,
Mas cobre nas noites frias

O homem que atravessa a rua
Enrolado num cobertor
Parecendo uma capa, tipo a do Batman
Escura, sombria
Não sai na capa no outro dia
Nem em qualquer página
Sua capa não é mágica
Não salva o mundo na hora trágica

Nem poderia,
Sua capa não aparece uma marca
Não tem nada de especial
Também... custa 8 e 90 no promocional

Aliás, a capa tem poder sim
Um poder que muitos gostariam por alguns minutos de ter
Ser invisível
Em um tempo em que todos têm que estar cada vez mais disponível
E olha que incrível
O homem de capa é totalmente destrutível
Pra um gibi, inconcebível
Dessa forma, o homem de capa não se enquadra em nenhum nível

Esse homem de capa não tem status de herói
Talvez, de heroína, de crack e cocaína
Sua capa, pra fumaça, vira cortina
Não as de renda dos casarões
Pois, não tem varões na esquina
Nem renda nos lixões

A capa deixa o homem sem face
Nem morcego, nem galã, nem aranha
Talvez um rato que lhe mordiscasse
Enquanto o frio noturno apanha

O homem de capa sem espaço na capa
Não escapa de, mesmo sem face, toda hora um tapa
O homem sem face já era invisível
Não precisava que o apagasse
Mas, parece que só assim foi possível
Que ganhasse uma capa
Foi justo com uma capa que o cobriram
Finalmente o cobriram
A identidade do homem de capa?
Nunca descobriram

sexta-feira, junho 23, 2017

Na Testa da Sociedade

Como ciclista, queria essa comoção social
Quando roubam uma bicicleta, quando nos fecham na rua
Queria que a população se revoltasse igual
Quando atropela um de nós na via
Seja expressa ou até naquelas que não requer pressa
Na vila, no bairro, na tensa relação do dia a dia
Queria tanto que houvesse essa comoção pra protegermos a ciclovia

Mas, ok, não dá pra esperar isso
É que a população se revoltou contra um cara que uma bike furtava
E foi pego no flagra por dois
E alguns instantes depois, esses dois, o ladrão levava
Um deles tatuava, o outro filmava
Na testa do rapaz gravava: sou ladrão e vacilão

Vixi, o caso repercutiu e teve gente contra e a favor
Do ladrão e do torturador
Pesada a palavra né? TOR-TU-RA-DOR!
É, mas, não tem outro nome
O menor que roubou estava errado perante a lei
O outro também. Agora, me responde:
Friamente, torturar é uma reação pertinente?
Nossa lei não prevê olho por olho dente por dente

Sendo esta a reação aceitável e por você apoiada
Você não é contra o crime. De alguns, é até a favor
A reação do tatuador torturador indignada
Só mostra quem é você, sem coragem de expor

Manchete: Ladrão rouba bicicleta
Passaria facilmente batido
Justiceiros o pegam e o tatuam na testa
Parece torcida, em lance de perigo
Vai levantando, preparando o grito
Vou ter dó de vagabundo que não presta?
Ah, como eu queria que fosse comigo
Vingaria toda a raiva que me infesta
Que por covardia, em mim, abrigo

Surgiram então, aqueles que na rede postaram
Com os direitos humanos se revoltaram
Porque fizeram captação de recurso coletivo
A popular vaquinha
Mas, a raiva não é por esse motivo
É por causa mesquinha
Que suas empreitadas não atingem as metas
E esse ladrão torturado na testa
Terá seu amparo enquanto outras causas não causam comoção
O Brasil é uma sociedade que apoia ladrão
Sim, basta ver a eleição, basta ver a nossa corriqueira corrupção

Em Brasília, por exemplo, não é caso raro
Mas, meu caro, você que sobre todos os assuntos opina
E posta
Pode ficar tranquilo que não vou dar sequência à rima acima
Pra não baixar o grau, o tom do poema não combina
Seja quem você é, mas, bota no papel se seu discurso afina
Tipo arranjo musical
Não misture sua raivinha boçal
Com defender princípio moral

quinta-feira, junho 22, 2017

Lendo Reações

Hoje resolvi começar diferente
Andei pela rua sem muita atenção
Tirei o celular da minha frente
E resolvi andar de livro na mão

Confesso que minha percepção
Além da leitura, foi na reação
Das pessoas que olhavam
Testas franziam, se perguntavam

Como andava eu pela rua desatento
Com um livro aberto fechando a visão
Poderia tropeçar a qualquer momento
Numa pisada, desagradável sensação

Segui lendo, o conteúdo era atrativo
Não era tela, muito menos aplicativo
Meus passos seguiram pra onde eu ia
Quem com cel fica off,  pouco entendia

Como eu não tropeçava, como eu não caía
Dos buracos desviava, mantendo a postura
Eu também me questionava se ninguém percebia
Que o pescoço trava e entorta a curvatura

Ficar vidrado nos tablets e aparelhos multifuncionais
Tais quais antivírus nos nossos sistemas operacionais
Desabilitam nossas funções essencialmente racionais
Somos plugados no fone, ligados em likes, buscando virais

terça-feira, junho 13, 2017

Eu me Recuso

Eu me recuso a acreditar
Que uma doutora
Que teve tanto que estudar, se especializar
Fez isso
Foi até a porta de uma emergência
De uma criança com urgência
E deixou o caso omisso

A criança morreu
Um ano e meio de idade
E isso só aconteceu
Porque a doutora percebeu
Que estava ficando tarde

Quase na hora dela ir e encerrar o expediente
Ela rasgou o chamado e seguiu em frente
O motorista da ambulância partiu
A criança também, a mãe nunca mais verá seu neném
E todos os dias, se um dia ainda rezar e disser amém
Vai se perguntar: E se?
E se fosse outra médica?
Seria tão antiética
Seria tão histérica
Por não ser especialista na pediátrica
Daria esta pontuação final trágica?

Eu me recuso a crer que este abuso, este ultraje
A qualquer humanidade tenha partido de alguém que salva vidas
Nesse caso, não fez questão alguma
A mãe ficou lá e não foi atendida
Uma vida perdida, uma família destruída
Almas sofridas, compaixão nenhuma

Eu me recuso a aceitar isso, essa falta de compromisso
Eu me recuso a tanta coisa no dia a dia
A banalidades, a coisas que eu não concluiria
E todo mundo já se recusou um dia
Mas, você tendo uma vida em suas mãos, o que faria?

Eu me recuso, gente, a aceitar que isso foi um humano
Eu me recuso quando dizem que pra tudo Deus tem plano
Qual seria então o plano divino nesse caso?
Colocar aquela pessoa, naquela ambulância
Naquele horário, pra ocorrer o descaso
De salvar a criança e deixa-la morrer num abraço
Da mãe, do pai, que apelavam ao mesmo Deus pra que os médicos chegassem
Resgatassem o bebê, levassem, salvassem
E, se não fosse possível, se esforçassem


Pois, pode crer não há amor maior no mundo que um filho
E não deve haver também dor maior
Que pensar que o que aconteceu foi um trem no trilho
Cujo maquinista é o destino traçado
Sem mudar a plataforma do percurso
Deu quase tudo certo, não faltou recurso
Faltou lembrar do discurso, do juramento que fez ao pegar o diploma
E depois que o desprezou deixou um hematoma


Invisível
Interno nesses pais, que jamais, podem ser cobrados de serem desconfiados
Vão confiar em quem mais, nas preces divinais?
Nos hospitais?
Junto com a frase do aqui jaz
Esses pais, terão outra frase, ou melhor, uma pergunta
Que por toda vida vão os perseguir:
E se?
E se?
E se?
E se?
...

quinta-feira, junho 08, 2017

Unidade

Como é bom se inspirar por paixão
Sentir o peito daquele jeito, apertado
Como se a saudade tivesse tomado
Por inteiro o coração

Mas, paixão pode ser fogo de palha
Só um desejo momentâneo
Um prazer mais instantâneo
Pra se entregar, talvez não valha

Paixão também cresce e evolui
Sem proporção pra qual tamanho
O batimento fica estranho
E só aí que se conclui

O que poderia ser banal
Só um caso de momento
Abre então pro sentimento
O caso passa pra casal

E quando isso acontece
Sem motivo alheio
É tão bonito de se ver
Declarações, cartões, flores, corações
Bombons com recheio
E naquele meio, naquele espaço
Entre um beijo, um amasso
Um carinho
Ouve-se ao longe um compasso
Se for o caso, dão uns passos
De dança bem lentinho
Pra marcar aquela canção
Como o som da esperança
Um novo passo avança
Do que era só uma paixão

Não se pode tratar paixão como só
Ela nunca é só
A não ser amor platônico
Arranjo não sinfônico
Cordas musicais com nó

as, quando as cordas se afinam
Compõem a mais bela sinfonia
Seja ela erudita ou popular
Tem que ser bonita no cantar
Compreensível melodia
Pra qualquer um interpretar

Talvez esta minha canção
Pode um dia encontrar-se num tom
Pois foi feita como mero poema
Talvez alguém a coloque num som
Para algum casal vire tema

Mas, palavras de amor sempre rendem
Histórias, romances, livros, coleções
Personagens nos despertam emoções
Sensações que os amantes não entendem
Sentem
Às vezes, com todo o repertório não aprendem
Compreendem o que cabe em dois corações
E suas mais insanas razões atendem

Mas, amor de verdade é um pouco insanidade
Vontade, saudade, mais vontade que invade
Toma conta, atropela sem piedade
Mas, se eles assim se permitem
Não há forças que dividem
Não há forças que duvidem
Que paixão e amor
Podem sim ser felicidade e realidade
As duas, em dois, em duas, numa só unidade