quinta-feira, abril 29, 2021

Noite de Libertadores


Ah, aquela avenida
Dobrou ali da Francisco Morato
ou atravessou ali do shopping
Do Metrô, da Linha Quatro
Ali, é nossa caminhada preferida
Que não cansam os pés,
Nem na volta, muito menos na ida.
 
Ah, aquela avenida,
Já vemos camisas, bandeiras, boné, corrente
Tem água, e 3 latas por 10
Pra molhar o grito que vem logo à frente
As camisas, têm de todas as eras
E cada uma com número diferente
Afinal, são tantos ídolos
Que só 1, ou melhor, só 01 é unanimidade entre a gente
 
E hoje, era pra estarmos com ingresso
Camisa já preparada
Esperando na hora o progresso
Que em dias como hoje parece em retrocesso
Esperando a primeira apitada
 
E nada, nada da hora passar
É um desespero a cada minuto lento que escorre
Enquanto a gente pede que o tempo colabore
Usamos em camisas, artigos ou na própria pele nossas cores
Cores que têm feito nossos olhos chorar
Foram tantos recentes dissabores
Que nos fazem sofrer, mas nunca deixar
 
De usar no peito as faixas vermelha, branca e preta
E não há verbo, nem palavras, nem caneta
Que possam ilustrar, rimar ou explicar
O que a gente sente em noites como essa
Não adianta, o relógio não tem pressa
Ele nos aprisiona em seu segundo compassado
Nada libertador
Que hoje, os deuses Telê, Muller e Raí
Possam nos fazer sentir
Voltar no tempo
Abençoar o templo
O nosso lar, o Morumbi
 
Que o grito de gol seja dado a plenos pulmões
Que as próximas terças sejam de igual alegria
Para todos os outros, é uma competição
Sim, muito importante que vale milhões
Para nós, é a obsessão
Que mantém vivos nossos corações
Que faz desde a manhã, nos embriagar de euforia
É só uma bola, um campo, um estádio e nossos 11 jogadores
Não é só isso, mesmo.
Para nós, tricolores
Não importa a fase nem as condições
Hoje é noite de Libertadores.

quarta-feira, abril 28, 2021

É... Guedes

É... Guedes, a gente quer viver
Por isso que a gente tanto contraria
O seu trabalho pra gente morrer
Nossa ambição nos diferencia
 
Vocês nos calculam na economia
E a gente calcula os presentes
Os sobreviventes
Desse genocídio na pandemia
 
Nosso cálculo não é no Fundo de Garantia
É na garantia que no Fundo do coração
Não vamos perder um irmão
Seja de sangue, seja da vida
 
Guedes, sim, queremos saúde e chegar aos 100
Três dígitos na identidade
Um a menos do que vocês matam por dia
Sorrindo, zombando da saudade
 
Guedes, imagina bater 101, 102, 103
E ter quem nos ama agradecendo
Não, por você não terá tal intento
Pra você, o que conta é a Previdência
E sim, seremos sempre seu tormento
O pesadelo, se tiver uma consciência
 
Vocês nunca entenderão
Que são o mais tenebroso momento
Que matou uma multidão
 
O tempo os levará muito além da prisão
Seremos a assombração do seu pensamento
Sempre caminhando contra o vento
Vocês roubaram o documento da nossa nação
 
Nossa bandeira é o tecido que embrulha caixão
O verde e amarelo tão vivos
São a cor do luto pro mundo e nós sabemos a razão
Os culpados e os omissos
 
Pela vacinação, pelo pão, arroz e feijão, pela refeição
Sem fundos pra garantia no prato
Sem doses pra garantia no braço
Sem um verbo que seja exato
Só não digo que não tem verbo
Porque deixar morrer também é ato.

segunda-feira, abril 26, 2021

TRÊS MIL SEISCENTOS E CINQUENTA

Hoje eu também colaborei
No mar salgado
Enxugado por ombros e lenços
Enlutados
Eu chorei
 
Derramei lágrimas
Enquanto há sátiras
De pessoas sádicas
Em posição estratégica
Pra aumentar a trágica
Situação histórica
Uma figura patética
Abaixo da crítica
Que parece ouvir música
Em choros de dor
Em seus ouvidos, a marcha fúnebre
Soa como cântico clássico
No caixão sem acústica
 
Não se ouve o hino dizer do impávido
Colosso, nossa terra, nosso povo, ao contrário
Está pávido, pálido, ávido
Pelo remédio, pela vida do próximo
 
Chegou sua vez
Mas nossa vez, hoje matou 3
4 dígitos
TRÊS MIL, SEISCENTOS E CINQUENTA
Numeral, escrito por extenso
Assim como nomes
Que não são números
Com exceção ao 01, 02, 03 e 04
Aqueles são inomináveis
No sobrenome, igualmente abomináveis
Mas, esses números diários
Na casa do terceiro milhar
Parecem que ainda não reúnem
Dados necessários pra desengavetar
 
Pedidos em gavetas
Corpos em gavetas
Roupas de 300 mil mortos em gavetas
E as roupas dos vivos, pretas.


Esse poema escrevi antes até do que está postado anterior a esse 'Escalada'. Mas, como fiz esse em vídeo em rede social, nem o redigi para publicá-lo aqui na data. Espero que independente da dor que estamos vivendo com as perdas por Covid no Brasil, você possa apreciar o poema.

quarta-feira, abril 07, 2021

Escalada

Escalada é a manchetada do jornal
Mas, no Brasil tem outros sentidos
No Brasil, se escala pra baixo
No Brasil, nos sobram motivos
Não é só uma fala que “eu acho”
 
No Brasil, a morte virou quantia banal
Seguimos inertes e passivos
Passamos os 4 mil naturalmente
Matar sempre foi o objetivo
E com ironia do presidente
 
É genocídio
Sem alívio,
Sem auxílio
Com dízimo
 
É Genocida
É contra vida
É descabida
A covardia
 
Estamos em escalada
Quando morriam centenas na Itália
Era comoção, dor verdadeira
Hoje, o símbolo mundial da mortalha
É o verde-amarelo bandeira
 
Está sem estrelas na esfera azulada
Elas se descosturaram
Estão no universo, cada uma por si
Algumas, como decadentes figuraram
Do céu se descolaram, enquanto ele ri
 
Ri da morte em escalada
Ri sem termos piada
Ri e passa a boiada
Ri, porque a nossa dor é a parte engraçada
 
Ri de pedirmos vacina
Ri sob efeito de cloroquina
Ri receita ivermectina
Ri de sua obra assassina
 
Enquanto a vacina segue atrasada
O Congresso aprova o fura-fila
Vacina pra empresas e patrões
Se era pequena a esperança de consegui-la
Ela reduz e se reduz em frações

Com a parte que importa vacinada
A notícia perderá força na crítica
Enquanto ainda navegamos no mesmo mar
Em iates, botes, a nado, a se afogar
Há intensa cobertura jornalística
E ela aos poucos se acaba
Quando a vez de quem tem voz chegar
 
A fila... fura
A vacina... fura
Havia cura
A faca... não
 
O que não houve foi procura
Lisura
E há genocídio
Uns vão dizer que foi surpreendente
De um presidente que sempre idolatrou tortura
 
Pra COVID, falta ar
Pro Brasil, falta ar
Pra esperança, falta ar
Em vacinas, aplicam ar
 
Faltam leitos pra deitar
Faltam carros pros corpos levar
Tiveram a ideia
De como amontoar
Em uma das imagens mais tristes
Mortos e mais mortos por COVID
Empilhados numa perua escolar