segunda-feira, abril 26, 2021

TRÊS MIL SEISCENTOS E CINQUENTA

Hoje eu também colaborei
No mar salgado
Enxugado por ombros e lenços
Enlutados
Eu chorei
 
Derramei lágrimas
Enquanto há sátiras
De pessoas sádicas
Em posição estratégica
Pra aumentar a trágica
Situação histórica
Uma figura patética
Abaixo da crítica
Que parece ouvir música
Em choros de dor
Em seus ouvidos, a marcha fúnebre
Soa como cântico clássico
No caixão sem acústica
 
Não se ouve o hino dizer do impávido
Colosso, nossa terra, nosso povo, ao contrário
Está pávido, pálido, ávido
Pelo remédio, pela vida do próximo
 
Chegou sua vez
Mas nossa vez, hoje matou 3
4 dígitos
TRÊS MIL, SEISCENTOS E CINQUENTA
Numeral, escrito por extenso
Assim como nomes
Que não são números
Com exceção ao 01, 02, 03 e 04
Aqueles são inomináveis
No sobrenome, igualmente abomináveis
Mas, esses números diários
Na casa do terceiro milhar
Parecem que ainda não reúnem
Dados necessários pra desengavetar
 
Pedidos em gavetas
Corpos em gavetas
Roupas de 300 mil mortos em gavetas
E as roupas dos vivos, pretas.


Esse poema escrevi antes até do que está postado anterior a esse 'Escalada'. Mas, como fiz esse em vídeo em rede social, nem o redigi para publicá-lo aqui na data. Espero que independente da dor que estamos vivendo com as perdas por Covid no Brasil, você possa apreciar o poema.

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