sexta-feira, novembro 11, 2022

Bolsonarismo

Como chama mesmo aquele negócio lá?
Aquele troço que dá na gente
Faz a gente se agoniar
Ter raiva do diferente
De odiar até parente
Mas, parente também, a gente não pode optar

É um tal 'dum' sentimento
Que o coração chega a ferver
Não tem aquele ar de lamento
É mais um negócio de arder
Queima, mas num chega a doer
A fervura que 'tá' por dentro

É uma mistura que tem quem acredita
Que é paz, chamam até de fé, boa postura
Que a palavra de Deus até explica
Como entenderam na escritura
Que, convenhamos, não é toda criatura
Que é de fato bendita

Sabe o "pegou pra Cristo"? É perfeito.
O povo de Cristo 'tá' louvando torturador
Pedindo matança em nome do respeito
Estão pegando DE NOVO pra Cristo o Senhor
Mata! Em nome do meu cristão valor
Que aí o doutor põe lá no B.O.: suspeito

Olha que eu nem falei o nome
Só pra quem tem visão apurada
Já sabe até o que ele come
Uma falta de empatia como entrada
Um rancor sangrando, uma alma gelada
Menu em branco não apaga fome

quinta-feira, outubro 27, 2022

Carta-Símbolo

Bom dia, tudo bem? Espero que sim. Bom, eu estou te escrevendo isso, pois, gostaria muito de sua atenção em alguns poucos minutos desta leitura. Como você está lendo, foi trazido até aqui por algum amigo, algum link, alguma pessoa da qual você tem um mínimo de consideração para que ela enviasse e você se desse ao trabalho de abrir. Obrigado desde já!

Queria muito só conversar contigo sobre esse momento de muita atenção e tensão que se aproxima. “Ah, mas, eu não ligo pra política”. Bom, eu tenho uma notícia triste pra te dar. Você ligando ou não, ela acontece e conforme acontece altera a sua vida e a minha. “Mas, pra mim, eu tenho que trabalhar pra ‘baralho’ do mesmo jeito, ganhe quem ganhar”. Sim, disso não estamos livres, afinal, estamos no mesmo grupo. Você pode ganhar 10, 50 vezes mais que eu ou metade, 1/3 do que ganho e, ainda assim, estamos no mesmo grupo. O dos pobres e trabalhadores. “Mas, eu tenho uma vida estável, casa própria, propriedades, carros, imóveis...” Enquanto você tiver que trabalhar para manter ou tudo isso não veio de herança, você está no mesmo grupo que eu e que muitos que ganham até menos. Mas, não é nisso que quero despender seu tempo.

Hoje, não vim aqui pedir voto, vim propor um papo, do qual estou inteiramente aberto a ouvir suas ponderações. Hoje, quero trazer pra conversa seu olhar mais crítico possível sobre nossa história. Não só do Brasil, mas, do mundo. Certa vez, aprendi no filme “V de Vingança” que um prédio, uma obra, uma construção, um monumento só têm importância pela sociedade que o cerca e o que ele representa pra ela. Por exemplo: imagine um atentado no Brasil. Se uma bomba ou um avião, como ocorreu nos Estados Unidos no 11 de setembro de 2001, atinge um monumento de uma praça qualquer em uma cidade qualquer. Para a população local, causa um impacto. Agora, imagine estes mesmos aviões atingindo o Cristo Redentor. Ambos são monumentos, ambos têm sua representatividade, no entanto, o ataque ao símbolo (talvez o mais) conhecido do Brasil tem outros olhares, e repito, quer você ligue pra isso ou não. Uma explosão ao Cristo Redentor simboliza um ataque à fé cristã, um ataque com o intuito de ferir a imagem do Brasil perante o mundo ou demonstrar nossa fragilidade em segurança, ou seja, há uma série de simbologias que cercam. Fosse uma obra qualquer em um canto qualquer, poderíamos até lamentar, mas, ok, bora pro próximo assunto, vida que segue.

Mas, o que isso tem a ver com a política e as eleições? TUDO, meu amigo, absolutamente tudo. Estamos vivendo um período em que as pessoas estão achando que um fato, uma fala, um ato ou negligência é só um fato, uma fala, um ato ou uma negligência. Tudo o que a gente faz simboliza algo. Aí, na sua família, sabe aquele cuidado em algum encontro de não fazer ou falar algo porque isso pode machucar a outra pessoa? Sabe quando você pensa 1000 vezes no que vai dar de presente para um irmão e pra outro para que não haja uma interpretação de preferência ou algo do tipo? Isso é política, meu amigo, quer você goste, queira ou não. Mas, meu foco não é um presente, nem a sua reunião familiar, mas, entendermos que qualquer ação vai além dela, tem continuidade, interpretações e desdobramentos.

Além dos exemplos explosivos ou familiares, poderia citar também simbologias e sinais de afetividade. Quando você vê um traje de um personagem do programa que adorava quando criança, você pode ter se tornado a pessoa mais fria e dura que há e respeito qualquer que seja o histórico de vida que te trouxe até isso, e, mesmo assim, essa memória, eu sei que dá aquele quentinho no coração de reativar lembranças afetuosas e agradáveis. Mas, no fundo, no fundo mesmo, é só uma roupa. Só que, pra você, não. Entende?

Isso vale tanto lá quanto cá. Se dá aquele conforto, pode dar angústia também. Se você tiver em algum cantinho da sua memória algum período de dificuldade financeira, de saúde, de uma saudade, qualquer situação que te destrave essa lembrança, você sentirá o amargor na boca. Você já pode ter perdido um familiar e lembrar quando passa em uma rua, quando sente um cheiro, pode ser até do hospital, enfim, esses gatilhos quando disparam dificilmente conseguimos conter a munição.

Hoje, vivemos uma série de símbolos todos os dias, de falas que vão muito além de um texto ou de uma voz que pronuncia. Eu, por exemplo, não vivi a ditadura, porém, sou jornalista e estudei o que foi feito. Quando ouço alguém falar em prol disso, o sangue ferve, o refluxo sobe e a boca é consumida por um péssimo sabor. Quando todos os símbolos de um movimento são copiados representa que você se identifica com ele. Vamos a mais um exemplo: (hoje eu tô cheio de exemplos, né?) quem gosta de rock, como identificamos? Claro, há uma série de estereótipos, porém, quando se vai a um show desse gênero musical, você entende aquela tribo, aquele grupo, pela cor preta das roupas, pelos gestos com as mãos, pelos cabelos ou pela falta deles. Sim, isso é um estereótipo, porém, dificilmente, veremos junto ao grupo de roqueiros, estilos muito destacados. O estilo faz parte do contexto, do pertencimento.

Como eu disse que a adequação aos símbolos de um estilo aproxima quem se identifica e nos insere em um grupo, isso também vale para o bem ou para o mal. Na história, temos simbologias ditatoriais, fascistas, nazistas, e todas elas têm seus códigos que aproxima os interessados a pertencerem ao cenário e contexto. Hoje, no Brasil, ainda vemos denúncias e prisões de grupos que se utilizam da suástica, símbolo do nazismo. Outros símbolos e estéticas do movimento foram reprisadas recentemente, como um cenário, o copo de leite e até a trilha sonora. “Ah, mas é só um copo de leite”. (volte ao início e leia até entender, obrigado)

Passeios de moto ou motociata, como chamam agora, fizeram parte de movimentos fascistas com Mussolini, na Itália. E seguem rememoradas, revisitadas e na versão brazuca. Ou seja...

À parte disso, se eu só propusesse que você pensasse no nazismo, no fascismo e na ditadura, eu te perguntaria: as pessoas que exaltam esses movimentos, se engajam a eles, votaria em quem? É do lado dessas pessoas que você quer estar?

Tem uma frase do Ernest Hemingway que diz: “- Mas, quem vai estar ao meu lado na trincheira? - E isso importa? – Mais que a própria guerra”.

É sobre pertencimento. Quem são os seus?

Olha só o que aconteceu com a camisa do Brasil, da Seleção Brasileira, em pleno ano de Copa do Mundo. Seria porque só esse grupelho defende e representa o Brasil? Não, houve um sequestro com essa finalidade. A de mostrar que o verde e o amarelo pertencem a eles. Não, não pertencem. As cores e nossa bandeira foram símbolos roubados, usurpados. "Ah, mas é só uma camisa amarela, qualquer um pode usar". Não mesmo. Quem opta por usar já é identificado como sendo de um bando. Entende o quanto um simples pano de uma simples camiseta não é só um tecido com uma mera estampa? Assim como o Monte Fuji, no Japão, a Torre Eiffel, em Paris, você pode simplesmente ignorar a existência e isso não ter valor pra você. PRA VOCÊ. O que não tira o valor real destes pontos turísticos que levam interessados do mundo inteiro a conhecerem e, simplesmente, chegar perto, tirar uma foto no local simboliza para cada ser a história que o levou até lá. Você pode desprezar o que cada símbolo representa e, mesmo assim, ele ainda representa.

Quando você se junta a um grupo pela fé, há uma série de representações, seja pelas roupas, pelas palavras ou expressões do vocabulário que te incluem ali. E você pode, mesmo sendo de um determinado perfil, conviver, respeitar e até amar ao próximo, mesmo que o vocabulário, trajes e expressões sejam diferentes do seu. Sim, isso é possível e até permitido. Pode parecer ridículo o que escrevo, mas, não, no Brasil de hoje, não é, se faz necessário reforçar, escrever, deixar claro. Seguindo este conceito de amar ao próximo, quem você tem visto fazer exatamente o contrário? “Ah, mas tem dos 2 lados”. Sim, pode haver, mas, você sabe que não é na mesma proporção, você sabe. Outra coisa que você sabe é que Deus, Jesus, ou o nome que der para seu ser superior que acredita, é que ele era a imagem da bondade, da essência da expressão compartilhar (muito antes do uso atual). Hoje, se ataca quem combate a fome, quem defende o amor, quem aponta e critica o ódio. Que Deus é esse que você cultua? Será que se ele voltasse, vocês andariam juntos? Você o seguiria? Ou daria hate?

Hoje, não estamos defendendo ‘o nosso’. Estamos tentando defender “os nossos”. Mas, está bem difícil de mostrar aos nossos que estamos no mesmo bote salva-vidas, não é nem um barco, não. Parece que quem pensamos ser os nossos, no fundo, almejam nos derrubar do bote, isso sim. Só esquecem que, se houver um remo e precisar remar, é melhor não estar sozinho se quiser ir mais longe. E mais, é melhor a remada ser coordenada para não andarem em círculos sem sair do lugar.

Ah, e cuidado, se aparecer um transatlântico, ele nem vai te ver ou ouvir. Só vai passar por cima. Vocês não estão no mesmo barco.


segunda-feira, outubro 24, 2022

Não Se Pinta

Sabe o que se pinta?
Quadros, paredes, gravuras
A lápis, verniz, spray, tintas
Primárias, secundárias, misturas
Tonalidades claras ou escuras

Pintam-se também muros
Grafitam cor e suavidade
Nem a arte os deixam menos duros
Pelo duro papel na sociedade
Um obstáculo à propriedade

Sabe o que não se pinta?
A verdade; é sem pintura ou maquiagem
Em idade de adolescência ainda
A inocência toma ciência do homem selvagem
Imposta à convivência, obriga a coragem

Sabe o que também não se pinta?
Clima com menores de idade
Esse clima é uma tempestade infinda
Pintar um clima não tem contexto que cabe
Não tem clima, é um quadro covarde
O nome do quadro?
Deus, Pátria, Família e Liberdade

segunda-feira, outubro 10, 2022

Nem Só Uma Segunda, Nem Só Uma Letra

É uma segunda-feira
Como qualquer outra
Uma manhã costumeira
Em que toca o despertador
E a gente se apronta
Pra luta diária, semanal, mensal...
Pra cair aquele valor
Que a gente ajeita a conta
Pra zerar no final

Só que hoje, essa segunda
Não é primeira, nem terceira,
Nem a última de luta
É uma segunda corriqueira?
Também não, de forma alguma

É uma segunda diferente
Pra alguns, pode estar alegre
Em outras expressões se percebe
A tristeza mais presente

Pode ser decepção, ter sido ilusão
Pode não ser nada disso
Pode estar indiferente
Mas, aquele com sorriso
Pode estampar estar contente

Minha estampa hoje é com letra
Feita à mão, na caneta, na sulfite
E acredite, ou não, a letra que faço
Em palavras não se omite

Sim, é o caso, faço questão
A letra que minha mão esquerda redige
Começa com L: luta como se exige
Liberdade, sim, mas antes,
Libertação!


(escrito dia 03.10.2022 - 1 dia depois do 1º turno)

Um exemplo: Professor

Quanto você tem mudado o mundo?
Seu mundo aí, seu quintal de fundo
Quanto será que você é assunto?
Quantos podem contar que você caminha junto?

Onde está, aí, nesse lugar
Algo você pode contribuir,
Pra evoluir, melhorar
De aprender a ensinar
Consumir, experimentar
Pode se omitir ou levantar

Pensei aqui num exemplo: professor
Que razão a vida teria só acordar
Pra degustar pó de giz, por um X valor
Será que é só isso?
Um papel em branco amassado
Pra uns, é só lixo,
Pra outros, cada linha é espaço
Onde dá pra compor

Uma aula não é só tempo
É uma chance
De um acolhimento
E bem capaz de fazer alguém bem capaz
Mais autoconfiante

A sala é só um espaço de teoria
O mundo é a prática
Cheio de análise, não só sintática
Vista por ângulos não calculados na geometria
Pois, nosso saldo não é pura matemática
Requer sociologia, filosofia
Professor não é só didática
Nem só diploma em pedagogia
É alma empática, arte dramática
Serve-se até de poesia

sábado, outubro 08, 2022

Como é Grande meu Foda-se por Você

Sabe aquela música?
"Mas, com palavras, não sei dizer"
No caso, não é de um amor tão grande
Que pretendo escrever

Sim, é de algo gigante
Talvez até maior que aquele amor
Inegavelmente intrigante
Cada vez mais constante

É também um sentimento
A cada dia mais distante
O alheio sofrimento
Ignorado, irrelevante

Importante é o nosso
E só
Se não me atingem destroços
Que explodam, 
sem dó
Sem ré
Avança, sufoca
O nó
A corda enforca
Do fogo faz pó

Cinzas, sejam quartas, domingos ou quintas
Todos os dias têm
Lágrimas de despedidas
Só de alguns quando se vai alguém

Só que meu país, nesse assunto, já foi bem
Hoje, o mal tomou conta
A ponto de perder a conta
De perder a ponta... da meada
Não se sabe onde o mal acaba
Nem se o bem um dia vem

O verde matou a esperança
Quem disse que ela morre por último?
O amarelo da fartura e bonança
Estampou luito e infortúnio
Não foi por azar, foi previsto
Não faltou avisar, insisto
Rindo, cumpriu-se o intuito

A revolta já deu meia-volta
Inverteu o sentido
Não sente mais pra que lado tem ido
Nem importa
Quem se importa com gente morta?
A gente nem liga pro choro de quem tá vivo.

sexta-feira, outubro 07, 2022

Cores Mortas

Sim, tem cor que mata
Corrigindo: tem cor que faz morrer
No Brasil multicor, dependendo a paleta
É valeta
Caixão, vela preta
Na vala a descer

E aqui é sortido, nada sortudo
Sem sorte, muito menos sorteado
É sempre o mesmo grupo
Colorido, todo preto e vermelho estrelado

Nosso verde da mata mata
Não amarela
Seu progresso desordenado
Deixa sequelas
A união de cores da aquarela
Num tom fosco apagado

Às vezes, é preciso, melhor assim
Que apagado, deletado, 
no sentido de dar fim

Sim, aqui se matam vermelhos
De pele ou de partido
Pretos na pele, e esse é o motivo
Quem é pelo arco-íris identificado
Também muito arriscado
Se está na sigla definido

Sim, é tudo disfarce
Esse país tropical que se fantasia de carnaval
A nossa real face
É ser o país mais perigoso
A quem busque o gozo no sexo igual
Morre pela origem do prazer
Com dolo e com aval
Inclusive eleitoral

Sim, o povo brasileiro se encontrou
Assumiu a postura, impostora
Hipócrita, conservadora
Que tenta se impor
Sem pudor de disparar e matar
Armada, em nome do Senhor
Cristo que nem ouse voltar
Iriam confundí-lo pela cor

quinta-feira, outubro 06, 2022

As Verdades

O que seria a verdade?
O que se acredita?
Cada um teria a sua, podemos dizer, realidade?
Nem o que se publica
Nem a intimidade
São a verdade absoluta
Há verdades ocultas
E muitas

Talvez a verdade mesmo nem exista
Qual a sua? A que se avista? A do insta?
Ou do travesseiro? Elas falam mesma língua?
Há verdades tão distintas, tão distantes
Seu idioma de antes já virou estrangeiro

Há verdades atualizadas
Que não eram até então
O sistema te obriga a aceitá-las
O sistema te impõe nova versão
O sistema nunca te dá opção

Você já parou pra pensar...
quantas novas verdades você tem?
Por amor, pressão ou necessidade
Qual sua melhor versão já mostrou a alguém?
Qual nunca escondeu de ninguém?
Fala a verdade!

Não é falta de personalidade, nem vaidade
Ver o que nossa alma contém
Com os dados que o mundo retém
Do convívio em sociedade
O saldo é liberdade ou refém?

Sim, você mudou, eu também
Tenho ainda mais à pele a sensibilidade
Só quero propor que repense
Que se lembre de alguém de quem sinta saudade

Saudade não escolhe quem
Ela dói sem piedade
Nem precisa responder
Talvez já esteja até respondido
Sua vida, a minha, a de um desconhecido, 
será que o mesmo preço têm?
Diz aí: sua verdade de hoje
De verdade, te faz bem?

quarta-feira, outubro 05, 2022

Poesia ao Moisés da Rocha

Não, não é só 'Questão de Opinião'
O samba é uma das mais autênticas formas de expressão
Da cultura da nossa nação
Quem não ama nem preza pela preservação
Contribui com quem nunca quis nossa libertação

Falo das amarras além das correntes
Que carregaram pedras e ninguém ouviu
O soluçar de dor da nossa gente
Hoje se escuta, nos fazemos presentes
Contra quem sempre nos omitiu

Não, nossa história é rocha de castelo
Tem alicerce, tem chão firme pra pisar
Nossa rocha, Moisés, é a voz que faz eco
Moisés, sem cajado, com mic ligado é o elo
Entre a história e quem há de chegar

O talento do músico brasileiro
E a música instrumental
A fonte de aprendizado e conhecimento
Deu passagem ao Fundo de Quintal
Nelson Gonçalves, o Sinatra nacional
E uma seleção pro amor tem seu momento

Olha aí, paixão
Rádios ligados geração pós-geração
Conscientemente apaixonados por sua missão
O samba ser preservado nossa identificação
O Samba Pede Passagem, mas arromba o portão

Moisés da Rocha, o samba de escuta
Do cambaraximbacam ao axé, minha gente, muito axé
Você lapida nossa arte mais bruta
Você é o próprio samba que dá passagem à luta
A resistência, por isso, o samba é o que é

quinta-feira, julho 14, 2022

O Último

Eu queria que cada um
A quem esse verso chegasse
Pelo menos, um instante pensasse
Que é a última vez que vai lê-lo (ou ouví-lo)
Sabe por que digo isso?
Porque eu queria ter um aviso
Um alarme ativo de última vez

Pra que ao despedirmo-nos num abraço
Soubéssemos que não haveria um próximo
Quando acabaram as aulas no colégio
Quando se despediu na formatura da faculdade
Quando mudou daquele prédio
Ou deixou uma cidade

Hoje, não importa o dia que está
Pode ser a última vez
Eu não podia imaginar
Que aquele seria o último dos pavês

Sim, o pavê de limão da minha mãe
É meu doce preferido na vida
E eu que nem fotografo comida
Registrei aquela tigela já na metade
Tamanha minha felicidade
Ter devorado além da medida
Ficou a foto, a última foto
No facebook, ano a ano revivida

Meu avô e minha mãe partiram num sábado
Em ambos eu os vi na quinta
Dei um beijo e o último abraço
O de despedida

Saí pela porta sem ter noção
Como eu queria
Que nossos encontros dia a dia
Trouxessem a notificação
Que o último seria

Já que tudo hoje nos notifica
Quem sabe a gente notaria
E desse mais atenção

Já que dizem que tudo está no destino
Nossos últimos encontros devem estar lá
Talvez ilustrado, tudo escrito
Certeza que está
É esse o último capítulo
Desse personagem atuar

A página avança
Próxima linha no sumário
A gente só não lê no rodapé
O asterisco necessário
Nem ao fim lá no glossário
A definição exata
Alerta de última data
Último almoço, última janta
Última trepada

Sempre haverá novos últimos
Aqui, ao seu redor, tem muitos
A gente só não vai saber o número da página

Antes de dar o ponto final
O último e consciente ponto final desse poema
Qual a última vez que você lembra
Que fez algo pela última vez
E nunca mais fará igual
Um último beijo, um último adeus
Um último encontro, o último tchau

Últimos...
Escrevi certa vez que o último "eu te amo"
Foi mais fácil que o primeiro de dizer
Quando não se diz mais
O último já foi dito
Nada mais a se fazer

Tem últimos que são livramentos, desapegos
Só que tem últimos disfarçados de primeiros
Disfarçam tão bem que viram últimos costumeiros
Repetimos que é o último e nunca é de verdade
Pois, tem últimos que deixam saudades

Últimos sabores como o toque de limão do pavê
Último toque de um incomparável prazer
Últimos giros do ponteiro
Não alertam da validade
Da última vez, da última chance
Da última página do romance
Da última onda que invade
Pra que o castelo de areia desmanche

A vírgula dá pausa à frase
Na vida, não há esse sinal
Só que respira e segue adiante
Meu poema eu defino, ponto final.

quarta-feira, julho 13, 2022

Mais Difícil Falar da Alegria

É mais difícil falar da alegria
Que da tristeza
Você já reparou?
Não é só coisa da minha cabeça

Uma amiga me contou
Que ouviu isso outro dia
Eu concordei
Argumentar o contrário, nem poderia

Afinal, minha própria poesia
Poucas vezes contemplou
O amor de um casal feliz
De lábios em beijos sutis
Ter um amor pra dar bom dia
Lembranças doces, pueris,
Ou o orgasmo que sacia

Tristezas são lindas em versos
Chorosos, minguantes, contidos
A felicidade, repleta de superlativos
Adjetivos e excessos

Tristeza, o poeta decifra
De tão habitual, verbaliza
A linha do verso, sucinta
Uma palavra e a pausa, respira

Já a felicidade
Com seu quê de rara
Embaralha a frase

Às vezes, nem sai
O poeta começa e para
O verso não vem 
A caneta não vai

quarta-feira, maio 04, 2022

O Olhar Mais Distante da Turma

Ela tinha um olhar tão distante
Diria até indiferente
Eu falava em sua frente
Ela via outro horizonte

Seu olhar flutuante
Não estava presente
Sem rima suficiente
Pra trazê-la um instante

Era itinerante
Uma leitura nada fluente
Talvez nem o melhor palestrante
Na fala mais convincente
Seria o bastante

Bastante longe aquele olhar
Não sei se carente
De um vazio flagrante
Um silêncio gritante
Tão quanto valente

Era um olhar gigante
Escuros, pretos possivelmente
Eram arregalados constante
Esperavam algo relevante
Poesia é perfumaria
Nunca vista como urgente

Pra sua manga longa, estava quente
De mangas curtas, o restante
Ela não sentia o ambiente
Nem calor, nem verso
Nem uma batida dançante
Àquele olhar disperso 
Nenhuma prosa era atraente
Não achei nada que a encante
Não invadi seu universo
Minha poesia não deu acesso
Deu esse verso como ingresso frustrante


terça-feira, abril 26, 2022

O Poema Que Não Houve

Eu estava nesta terça
Numa tristeza que vou te contar, viu?
Notei minha distância da poesia
De fevereiro até agora em abril
A distância em tempo e espaço
Nenhuma linha redigiu

Nesse tempo sem escrever
Houve cenas pra contar
Houve críticas a fazer
Teve até o que se admirar
O que não se ousou dizer
Ninguém irá imaginar

Não houve versos, rimas
Nem prosas, linhas corridas
Não houve (nem se ouvem) notas musicais
Não houve histórias escritas
O que não houve, não há mais

Sim, haverá outras paisagens
Dores então, nem se fala
Só que serão outras
Aquele sol na janela da sala
Não tem mais aquele, naquela escala
Aquela árvore bonita no outono
Não descrevi a folha ao deixá-la

Não é que eu fugi
De contar ao papel o que vi
Mas quando não escrevo
Acumulo o que senti
As palavras então se embaralham
Me embaraçam, ao ponto que eu nem consegui
Lembrar tudo, escrever tudo
Tanto que eu fiquei pensando

Não ficou uma palavra transcrita
Será que eu só guardei tristeza
E apaguei a parte bonita?
Bom, pelo menos agora, escrevendo, registra
O dia triste ontem foi certeza
A melancolia pra um poeta
Dá muito mais na vista

(12.04.2022)

Destrava o Gatilho

Ontem, destraquei meus olhos
Pras lágrimas chegarem
No caminho se perderam
Até secarem

Hoje, elas não molham as linhas azuis da folha
Somente a tinta preta da caneta que corre
A tristeza tem seus dias de escolha
Um gatilho que em um disparo resolve

Eu me afasto, conscientemente
Porque a vontade mesmo envolve arma
Coragem e munição no pente
Uma é suficiente, mas a gente para
Sente que a dor alarma
O alarme da sanidade desarma
E a gente tá de cabeça quente

Esfria, respira, não aperta
Se apertou, já era
Fim da dor, a minha
Pro mundo, nada se conserta
Só em mim
A dor que eu tinha


(12.04.2022)

terça-feira, fevereiro 15, 2022

Balas Amargas

Mais um corpo preto assassinado
Mais um corpo preto assassinado
A cada dia, um novo caso
Sem A pra virar acaso
Não é acaso, é descaso

Ou melhor dizendo, tem causa
Só não tem pausa
É um atras do outro
Em comum, a cor do corpo

Dessa vez, um vendedor de balas
Das doces, não das amargas
De por na boca, não nas armas

Balas todos os dias são vendidas
Algumas saboreadas
Outras perdidas
Algumas encontradas
Após perdermos vidas

Uma é 3, duas é cinco,
É um racismo cínico
À luz do dia em Niterói
E o que mais me destrói
É que não acabou
Logo terá outro, sempre preto,
Que, no susto, a arma disparou
 
E não tem idade,
Menino de 9 anos, mesma do meu filho
Também virou alvo do gatilho
Pra ferir o pai, líder na comunidade

Disputas territoriais
Litígio agrário, áreas rurais
Anunciaram-se policiais
Invadiram a casa e sem menos nem mais
Pegaram o moleque embaixo da cama
E mataram na frente dos pais
Nesse caso, vingança, mais que desumana
mas, adivinhe a cor do rapaz
 
Esse, em Pernambuco, Barreiros
De criança, tinha uma charada que eu ouvia
Qual dos estados brasileiros
Com 10 letras e nenhuma repetia
O que de fato o estado brasileiro repete
É o R-A-C-I-S-M-O
Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete

sexta-feira, fevereiro 11, 2022

Empatia Sem Empate

Congolês morto a pauladas
Ao cobrar duas diárias ao patrão
Outro, com 3 balas disparadas
Ao pegar a chave no próprio portão

Um comete crime em palavras
Que o nazismo deve ter seu quinhão
É um direito à opinião
Enquanto o presidente ameaça
Deputados envenenam nosso arroz com feijão

Só que a casa que preocupa é a da tela
De vidro mesmo é nosso telhado
Das paredes ao teto, apedrejado
Com nossa cara na janela

Aí surge a palavra empatia
Apelos e vídeos de arrependimento
Eu não me rendo a essa hipocrisia
De desconstruído e aprendendo

Juro, de boa, que eu até me esforçaria
Se houvesse humanidade aí dentro
Se não causasse ou vibrasse nossa agonia
Não empata, não dá harmonia, 
A fala vazia com o procedimento

Enquanto Choro

Escrevo enquanto choro
Choro enquanto escrevo
A qualquer fé, eu imploro
Amenize essa dor no meu peito
Que não encontra termos, nem meio-termo
Que me faça fugir desse modo
Um modo extremo
Com qualquer água, me afogo

Escrevo em meio ao barulho intenso
Aspirador, avião, teclas, notificações
Uma janela de metal em movimento
A colcha da cama, molhada em porções
Nas tristezas, sempre vem à cabeça, canções
"Mas, a minha lágrima o vento seca"
A lágrima que seca com o vento
A causa, que nem sempre tem claras razões
Só desaguam a dor por dentro

Dor que solta o choro preso
Choro que às vezes nem se entende
Choro que se cobre no leito
Ao travesseiro se prende
A fronha não questiona, compreende
A linha do caderno faz o mesmo
Hoje, eu chorei novamente
E novamente chorando, eu escrevo

terça-feira, fevereiro 01, 2022

Por Moïse Kabangabe

Quanto vale o seu dia?
É exatamente isso que eu ‘tô’ perguntando
Quanto vale seu dia?
É... custa quanto?
 
E seu dissesse que seu expediente vale uma vida?
Eu ouviria: como assim? Que exagero...
Pois, eu vivo no Brasil brasileiro
Onde um congolês fez cobrança devida
A grana de 2 dias de lida
Trampando no Rio de Janeiro
 
A cobrança não foi bem recebida
Ali mesmo fizeram o acerto
Espancaram até a morte um corpo preto
Em covardia mais descabida
Eram 5 na mesma batida
Sem prestações
Racismo aqui não é segredo
Ripa de madeira e bastões
15 minutos de agressões
Mataram sem medo
 
Naturalizou-se a tal ponto
Um imigrante morrer espancado
Ainda por cima, amarrado
Por alguns poucos contos
Que o país, mesmo noticiado
Não está em luto pelo rapaz do Congo
Nem se encontra inflamado
Pronto para o confronto
 
E olha que ironia
Quiosque Tropicália
Nem o movimento referencia
Nem o sentimento de um País Tropical
Abençoado por Deus
Ao contrário, parece que fomos abandonados
Cada um que se vire com os seus
 
Barra da Tijuca, 24 de janeiro
24 também a idade
De Moïse Kabangabe
Rio, do mês que ele morreu
Pra ele não será o Rio de fevereiro e março
Pra essa família, o Rio não continua lindo
Ele continua indo
Como se nada tivesse acontecido
Só que aconteceu, eu não disfarço
Meu verso grita escrito
Mas não faz estardalhaço

sexta-feira, janeiro 14, 2022

Navegando...

Nesses últimos dias, me peguei numa situação tão agoniante que é até difícil de descrever com precisão o tamanho da aflição. Claro, é difícil mesmo dimensionar sentimento, seja ele bom ou ruim. Quando é bom, nem é bom (perdoe a repetição do adjetivo) falarmos mesmo. Não fale muito das coisas boas. Os ouvidos são geralmente agourentos. Mas, quando é ruim, muitas vezes (como agora) é necessário dizer, escrever, enfim, botar pra fora de algum jeito.
 
Sem tentar usar métricas ou unidades de medida, aliás, nem sei qual seria mais adequada para a agonia, ela chegou, se instalou e se pendurou em meu pescoço, mais precisamente em meus dedos que, involuntariamente, repetiam movimentos sem que meu cérebro os comandasse.
 
Estou falando de celular e rede social. Certo de que as redes em nada me agregam no uso pessoal, repito constantes acessos quase que involuntários. Há num sub do sub do subconsciente uma necessidade de estar ali e se revezando naquela do “F” para sua filial de fotos e vídeos, da camerazinha, e fico nesse ping-pong, caçando... o quê? Não sei. Não sei mesmo, eu nem queria estar lá. Há pouco mais de 1 mês, excluí meu perfil da outra rede azul do passarinho. Nela, passava também horas, mas, como são textos, eu os lia, ria em muitos, compartilhava outros e me indignava a ponto de responder em vários deles. Percebendo minha indignação infrutífera e minha insignificante relevância social naquele meio, preferi falar comigo mesmo em meus pensamentos do que falar pra ninguém. Escrevendo agora isso, estou pensando qual seria pior. Não tem melhor, ambas são ruins.
 
Aliás, qual rede é boa? E boa pra quem? Durante a formação em jornalismo, aprendi que sol não é tempo bom se a referência é um vendedor de guarda-chuvas. Acredito piamente que as personalidades das redes têm uma convivência menos dolorosa, pois fazem dela sua vitrine, sua gôndola de produtos e de lá, recolhem a sangria do caixa. Se bem que... pensando bem... não sei não se esse pessoal sofre menos porque, mesmo sendo de onde tiram o pão e o champanhe através de @s e menções, recolhem também todo o ódio peculiar a esse campo tão colorido cheio de sorrisos expostos em lágrimas que escorrem nas fronhas ou se misturam na água do banho.
 
Nesses acessos quase adestrados que por incontáveis vezes ao dia somamos índices aos algoritmos, entregamos nosso bem mais precioso, a vida. Sim, a vida é o tempo que você tem nesse plano terrestre e, muitas vezes, sem qualquer resistência, vamos entregando parcelinhas e mais parcelinhas até virarem parcelas ou até parcelonas significativas. Só que minha agonia surgiu exatamente desta resistência a essa entrega. No meu caso, a tentativa de resistir perdeu o cabo-de-guerra e a tristeza desta derrota que foi a vencedora.
 
Navegar é o verbo usado para o tempo de viagem em redes sociais. Sem motor ou remo, estamos todos à deriva, tentando chamar atenção num mar bravio onde só se enxergam transatlânticos iluminados, enquanto náufragos (nem sei se a definição cabe, pois, todo mundo se jogou no mar por vontade própria e não está por acidente) tentam chamar atenção como podem, cada um a seu modo, com seus talentos, com suas habilidades, com boias mais coloridas para serem vistos na neblina. São tantos ao mar, buscando a luz do farol para ter o resgate que muitos acabam se afogando no percurso. São mares de marés cada vez mais altas, cada vez mais salgados, água do mar com lágrima mistura fácil.
 
Há outros rios de menor movimento pela correnteza, porém, diversas vezes, esse passeio se faz sozinho, aí também perde a graça. O passeio é melhor com todo mundo junto. Por falar em graça, sinto que é necessário rir, mesmo se afogando, afinal, lá também aprendemos com inúmeros exemplos de sabedoria que é necessário levar a vida com entusiasmo e alegria. Sabe aquele lance de meritocracia? Não, não é necessário ficar rindo e ao dizer isso, você ganha acolhimento ou acolhe pessoas? Não. Você se mostra um mal-agradecido, afinal, você poderia estar no deserto e morrendo seco. Agradeça ter água, mesmo que seja do mar. Parece graça, mas, não é. Mas, parecer já está bom, pois é disso que vive o algoritmo. Que se diverte conosco. Rindo da nossa cara.
 
Ah, mas é bom rir. Concordo, é ótimo. Há quem ri de uma gracinha de um bebê, há quem ri de uma fofura de um pet, de uma piada, de uma encenação qualquer e há quem foi condicionado a rir e rir, sem nem saber por quê. E eu me peguei rindo repetidamente da mesma piada, juro, incontáveis vezes. E pior, eu nem queria. Esse condicionamento a fazermos os mesmos movimentos ao interesse alheio ao nosso consciente me doeu muito. Quis mudar e não estava/ estou conseguindo. Parece que estamos fazendo parte de um ballet, que inconscientemente nos ensina uma coreografia que só vamos imitando e repetindo. Todos. Todos ligam as câmeras, ensaiam, ensaiam e ensaiam para um espetáculo que não tem plateia. Os mesmos movimentos, as mesmas cenas, sem criatividade alguma, sem nada de artístico e a arte é o inovar. A arte é o inesperado que arrepia a pele, seja de um prazer indescritível como a agonia que me afligiu desde a primeira linha desse texto, seja de uma alegria proposital de satisfação, e não dessa alegria de sorrisos e risadas fabricadas em nada com verdadeira graça, seja o arrepio de algo que nos causa nojo ou repugnância. A propósito, nossa rede tão americanizada, com termos estrangeiros que aprendemos a transformar até em verbo e conjugá-los como floppar, hitar e por aí vai, essa mesma língua tem o termo disgusting, que, pra mim, tem som e me traduz como poucas palavras em português tal sensação de asco.
 
A arte precisa ser inovadora e causar algo. Quanto mais se tem igual, menos valor se dá e menos valor se tem quem a produz. Quando foi a última ocasião que você ouviu alguém cantar pela primeira vez e te provocou a apurar melhor os ouvidos pra apreciar aquela identidade vocal? Qual foi a última vez que você viu alguma obra artística e visual que te instigou a dedicar sua visão aos detalhes? Nas redes, está cheio de ‘Criadores de Conteúdo’. Só esse termo já me caberia mais um texto do tamanho do que escrevi até agora. Quando se dizia até certo tempo que alguém tinha conteúdo era um elogio similar a inteligente, que a pessoa sabia conversar sobre vários assuntos com certa propriedade. Hoje, a pessoa cria conteúdo às vezes até sem ter. E deste nada, surgem compradores deste produto. O preço? A vida, as horas, os minutos e até os sorrisos que se desperdiçam. Compram e indicam. Mais gente compra e o vendedor de vários nadas vira referência, vira espelho, inspiração para aspirantes a ter sua lojinha também procurada para consumo de um conteúdo que se tem de graça e em fartura.
 
Assim como disse que entramos nas redes porque quisemos, ela parece convidativa, afinal, está todo mundo lá, nós encontramos nela onde falarmos o que pensamos, não importa se alguém quer ouvir. Aliás, importa sim. Causa frustração o vácuo. Mas, não importa. Fala-se, não ecoa, frustra e esse círculo se replica continuamente. Falamos só porque queremos falar. Ela acaba sendo nossa confidente de nossas maiores fragilidades e só nos devolve mais dor a essas angústias e, mesmo assim, há quem recuse o bote que leve à praia. Sempre vale tentar mais um pouco a luz do farol por alguns segundos em roupas coloridas, movimentos coordenados, dancinhas e vozes que nem são as nossas pedindo socorro, no caso, atenção.
 
Não importa quanto você tenha remado pra chegar nesse alto mar, não importa se você é um náufrago de uma embarcação mesmo, se você estava num transatlântico e resolveu pular, não importa se você, de fato, nem precisava estar ali por já ter seu próprio barco, por ser bom nadador, por saber remar jangadas ou canoas. Não importa sua habilidade, ali o farol só dá luz a quem dança no embalo da maré.

quinta-feira, janeiro 13, 2022

Tenho Sentido

Nunca vivi o que tenho sentido
De um sentido ter encontrado
E após definido o lado
Nele, ter me mantido
 
A ponto que o sentido aponta
Para uma rota desconhecida
Finalmente um rumo na vida
Onde a morte perdeu a conta
 
De quantas vezes quis chegar
Em quantas já foi presente
Em amor tão ausente
Na intenção de gozar
 
Contraditório dizer fogo frio
Conflito que me confronta
O mundo devolve, desconta
Esse cio, sombrio, vazio
 
Sentir tem definição vasta
Serve do sexo ao coração
Do eterno à ocasião
Do sempre sim ao basta
 
Sentimos a hora de ir e parar
De encontrar-se no espaço
Hoje, é o que faço
Pro meu mundo girar
 
Tem giros em falso
Frouxos, fracos, frágeis
Energias dispensáveis
Em passos descalços
 
Compassado aos batimentos
Que nesse chão molhado
Tem choro e prazer derramado
Orgasmos e sofrimentos
 
Sem arrependimento do prazer vivido
Assimilo que estavam na estrada
Que precisava ser caminhada
Pra então ter entendido
 
Quem o corpo pede uma gozada
Quem a alma pede um bom dia
Quem uma pernoite resolvia
Quem se quer andar de mão dada