quinta-feira, outubro 27, 2022

Carta-Símbolo

Bom dia, tudo bem? Espero que sim. Bom, eu estou te escrevendo isso, pois, gostaria muito de sua atenção em alguns poucos minutos desta leitura. Como você está lendo, foi trazido até aqui por algum amigo, algum link, alguma pessoa da qual você tem um mínimo de consideração para que ela enviasse e você se desse ao trabalho de abrir. Obrigado desde já!

Queria muito só conversar contigo sobre esse momento de muita atenção e tensão que se aproxima. “Ah, mas, eu não ligo pra política”. Bom, eu tenho uma notícia triste pra te dar. Você ligando ou não, ela acontece e conforme acontece altera a sua vida e a minha. “Mas, pra mim, eu tenho que trabalhar pra ‘baralho’ do mesmo jeito, ganhe quem ganhar”. Sim, disso não estamos livres, afinal, estamos no mesmo grupo. Você pode ganhar 10, 50 vezes mais que eu ou metade, 1/3 do que ganho e, ainda assim, estamos no mesmo grupo. O dos pobres e trabalhadores. “Mas, eu tenho uma vida estável, casa própria, propriedades, carros, imóveis...” Enquanto você tiver que trabalhar para manter ou tudo isso não veio de herança, você está no mesmo grupo que eu e que muitos que ganham até menos. Mas, não é nisso que quero despender seu tempo.

Hoje, não vim aqui pedir voto, vim propor um papo, do qual estou inteiramente aberto a ouvir suas ponderações. Hoje, quero trazer pra conversa seu olhar mais crítico possível sobre nossa história. Não só do Brasil, mas, do mundo. Certa vez, aprendi no filme “V de Vingança” que um prédio, uma obra, uma construção, um monumento só têm importância pela sociedade que o cerca e o que ele representa pra ela. Por exemplo: imagine um atentado no Brasil. Se uma bomba ou um avião, como ocorreu nos Estados Unidos no 11 de setembro de 2001, atinge um monumento de uma praça qualquer em uma cidade qualquer. Para a população local, causa um impacto. Agora, imagine estes mesmos aviões atingindo o Cristo Redentor. Ambos são monumentos, ambos têm sua representatividade, no entanto, o ataque ao símbolo (talvez o mais) conhecido do Brasil tem outros olhares, e repito, quer você ligue pra isso ou não. Uma explosão ao Cristo Redentor simboliza um ataque à fé cristã, um ataque com o intuito de ferir a imagem do Brasil perante o mundo ou demonstrar nossa fragilidade em segurança, ou seja, há uma série de simbologias que cercam. Fosse uma obra qualquer em um canto qualquer, poderíamos até lamentar, mas, ok, bora pro próximo assunto, vida que segue.

Mas, o que isso tem a ver com a política e as eleições? TUDO, meu amigo, absolutamente tudo. Estamos vivendo um período em que as pessoas estão achando que um fato, uma fala, um ato ou negligência é só um fato, uma fala, um ato ou uma negligência. Tudo o que a gente faz simboliza algo. Aí, na sua família, sabe aquele cuidado em algum encontro de não fazer ou falar algo porque isso pode machucar a outra pessoa? Sabe quando você pensa 1000 vezes no que vai dar de presente para um irmão e pra outro para que não haja uma interpretação de preferência ou algo do tipo? Isso é política, meu amigo, quer você goste, queira ou não. Mas, meu foco não é um presente, nem a sua reunião familiar, mas, entendermos que qualquer ação vai além dela, tem continuidade, interpretações e desdobramentos.

Além dos exemplos explosivos ou familiares, poderia citar também simbologias e sinais de afetividade. Quando você vê um traje de um personagem do programa que adorava quando criança, você pode ter se tornado a pessoa mais fria e dura que há e respeito qualquer que seja o histórico de vida que te trouxe até isso, e, mesmo assim, essa memória, eu sei que dá aquele quentinho no coração de reativar lembranças afetuosas e agradáveis. Mas, no fundo, no fundo mesmo, é só uma roupa. Só que, pra você, não. Entende?

Isso vale tanto lá quanto cá. Se dá aquele conforto, pode dar angústia também. Se você tiver em algum cantinho da sua memória algum período de dificuldade financeira, de saúde, de uma saudade, qualquer situação que te destrave essa lembrança, você sentirá o amargor na boca. Você já pode ter perdido um familiar e lembrar quando passa em uma rua, quando sente um cheiro, pode ser até do hospital, enfim, esses gatilhos quando disparam dificilmente conseguimos conter a munição.

Hoje, vivemos uma série de símbolos todos os dias, de falas que vão muito além de um texto ou de uma voz que pronuncia. Eu, por exemplo, não vivi a ditadura, porém, sou jornalista e estudei o que foi feito. Quando ouço alguém falar em prol disso, o sangue ferve, o refluxo sobe e a boca é consumida por um péssimo sabor. Quando todos os símbolos de um movimento são copiados representa que você se identifica com ele. Vamos a mais um exemplo: (hoje eu tô cheio de exemplos, né?) quem gosta de rock, como identificamos? Claro, há uma série de estereótipos, porém, quando se vai a um show desse gênero musical, você entende aquela tribo, aquele grupo, pela cor preta das roupas, pelos gestos com as mãos, pelos cabelos ou pela falta deles. Sim, isso é um estereótipo, porém, dificilmente, veremos junto ao grupo de roqueiros, estilos muito destacados. O estilo faz parte do contexto, do pertencimento.

Como eu disse que a adequação aos símbolos de um estilo aproxima quem se identifica e nos insere em um grupo, isso também vale para o bem ou para o mal. Na história, temos simbologias ditatoriais, fascistas, nazistas, e todas elas têm seus códigos que aproxima os interessados a pertencerem ao cenário e contexto. Hoje, no Brasil, ainda vemos denúncias e prisões de grupos que se utilizam da suástica, símbolo do nazismo. Outros símbolos e estéticas do movimento foram reprisadas recentemente, como um cenário, o copo de leite e até a trilha sonora. “Ah, mas é só um copo de leite”. (volte ao início e leia até entender, obrigado)

Passeios de moto ou motociata, como chamam agora, fizeram parte de movimentos fascistas com Mussolini, na Itália. E seguem rememoradas, revisitadas e na versão brazuca. Ou seja...

À parte disso, se eu só propusesse que você pensasse no nazismo, no fascismo e na ditadura, eu te perguntaria: as pessoas que exaltam esses movimentos, se engajam a eles, votaria em quem? É do lado dessas pessoas que você quer estar?

Tem uma frase do Ernest Hemingway que diz: “- Mas, quem vai estar ao meu lado na trincheira? - E isso importa? – Mais que a própria guerra”.

É sobre pertencimento. Quem são os seus?

Olha só o que aconteceu com a camisa do Brasil, da Seleção Brasileira, em pleno ano de Copa do Mundo. Seria porque só esse grupelho defende e representa o Brasil? Não, houve um sequestro com essa finalidade. A de mostrar que o verde e o amarelo pertencem a eles. Não, não pertencem. As cores e nossa bandeira foram símbolos roubados, usurpados. "Ah, mas é só uma camisa amarela, qualquer um pode usar". Não mesmo. Quem opta por usar já é identificado como sendo de um bando. Entende o quanto um simples pano de uma simples camiseta não é só um tecido com uma mera estampa? Assim como o Monte Fuji, no Japão, a Torre Eiffel, em Paris, você pode simplesmente ignorar a existência e isso não ter valor pra você. PRA VOCÊ. O que não tira o valor real destes pontos turísticos que levam interessados do mundo inteiro a conhecerem e, simplesmente, chegar perto, tirar uma foto no local simboliza para cada ser a história que o levou até lá. Você pode desprezar o que cada símbolo representa e, mesmo assim, ele ainda representa.

Quando você se junta a um grupo pela fé, há uma série de representações, seja pelas roupas, pelas palavras ou expressões do vocabulário que te incluem ali. E você pode, mesmo sendo de um determinado perfil, conviver, respeitar e até amar ao próximo, mesmo que o vocabulário, trajes e expressões sejam diferentes do seu. Sim, isso é possível e até permitido. Pode parecer ridículo o que escrevo, mas, não, no Brasil de hoje, não é, se faz necessário reforçar, escrever, deixar claro. Seguindo este conceito de amar ao próximo, quem você tem visto fazer exatamente o contrário? “Ah, mas tem dos 2 lados”. Sim, pode haver, mas, você sabe que não é na mesma proporção, você sabe. Outra coisa que você sabe é que Deus, Jesus, ou o nome que der para seu ser superior que acredita, é que ele era a imagem da bondade, da essência da expressão compartilhar (muito antes do uso atual). Hoje, se ataca quem combate a fome, quem defende o amor, quem aponta e critica o ódio. Que Deus é esse que você cultua? Será que se ele voltasse, vocês andariam juntos? Você o seguiria? Ou daria hate?

Hoje, não estamos defendendo ‘o nosso’. Estamos tentando defender “os nossos”. Mas, está bem difícil de mostrar aos nossos que estamos no mesmo bote salva-vidas, não é nem um barco, não. Parece que quem pensamos ser os nossos, no fundo, almejam nos derrubar do bote, isso sim. Só esquecem que, se houver um remo e precisar remar, é melhor não estar sozinho se quiser ir mais longe. E mais, é melhor a remada ser coordenada para não andarem em círculos sem sair do lugar.

Ah, e cuidado, se aparecer um transatlântico, ele nem vai te ver ou ouvir. Só vai passar por cima. Vocês não estão no mesmo barco.


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