Nesses últimos dias, me peguei
numa situação tão agoniante que é até difícil de descrever com precisão o
tamanho da aflição. Claro, é difícil mesmo dimensionar sentimento, seja ele bom
ou ruim. Quando é bom, nem é bom (perdoe a repetição do adjetivo) falarmos
mesmo. Não fale muito das coisas boas. Os ouvidos são geralmente agourentos. Mas,
quando é ruim, muitas vezes (como agora) é necessário dizer, escrever, enfim,
botar pra fora de algum jeito.
Sem tentar usar métricas ou
unidades de medida, aliás, nem sei qual seria mais adequada para a agonia, ela
chegou, se instalou e se pendurou em meu pescoço, mais precisamente em meus
dedos que, involuntariamente, repetiam movimentos sem que meu cérebro os
comandasse.
Estou falando de celular e rede
social. Certo de que as redes em nada me agregam no uso pessoal, repito
constantes acessos quase que involuntários. Há num sub do sub do subconsciente
uma necessidade de estar ali e se revezando naquela do “F” para sua filial de
fotos e vídeos, da camerazinha, e fico nesse ping-pong, caçando... o quê? Não
sei. Não sei mesmo, eu nem queria estar lá. Há pouco mais de 1 mês, excluí meu
perfil da outra rede azul do passarinho. Nela, passava também horas, mas, como
são textos, eu os lia, ria em muitos, compartilhava outros e me indignava a
ponto de responder em vários deles. Percebendo minha indignação infrutífera e
minha insignificante relevância social naquele meio, preferi falar comigo mesmo
em meus pensamentos do que falar pra ninguém. Escrevendo agora isso, estou
pensando qual seria pior. Não tem melhor, ambas são ruins.
Aliás, qual rede é boa? E boa pra
quem? Durante a formação em jornalismo, aprendi que sol não é tempo bom se a
referência é um vendedor de guarda-chuvas. Acredito piamente que as
personalidades das redes têm uma convivência menos dolorosa, pois fazem dela
sua vitrine, sua gôndola de produtos e de lá, recolhem a sangria do caixa. Se
bem que... pensando bem... não sei não se esse pessoal sofre menos porque,
mesmo sendo de onde tiram o pão e o champanhe através de @s e menções, recolhem
também todo o ódio peculiar a esse campo tão colorido cheio de sorrisos
expostos em lágrimas que escorrem nas fronhas ou se misturam na água do banho.
Nesses acessos quase adestrados
que por incontáveis vezes ao dia somamos índices aos algoritmos, entregamos
nosso bem mais precioso, a vida. Sim, a vida é o tempo que você tem nesse plano
terrestre e, muitas vezes, sem qualquer resistência, vamos entregando
parcelinhas e mais parcelinhas até virarem parcelas ou até parcelonas significativas.
Só que minha agonia surgiu exatamente desta resistência a essa entrega. No meu
caso, a tentativa de resistir perdeu o cabo-de-guerra e a tristeza desta
derrota que foi a vencedora.
Navegar é o verbo usado para o
tempo de viagem em redes sociais. Sem motor ou remo, estamos todos à deriva,
tentando chamar atenção num mar bravio onde só se enxergam transatlânticos
iluminados, enquanto náufragos (nem sei se a definição cabe, pois, todo mundo
se jogou no mar por vontade própria e não está por acidente) tentam chamar
atenção como podem, cada um a seu modo, com seus talentos, com suas
habilidades, com boias mais coloridas para serem vistos na neblina. São tantos
ao mar, buscando a luz do farol para ter o resgate que muitos acabam se
afogando no percurso. São mares de marés cada vez mais altas, cada vez mais
salgados, água do mar com lágrima mistura fácil.
Há outros rios de menor movimento
pela correnteza, porém, diversas vezes, esse passeio se faz sozinho, aí também
perde a graça. O passeio é melhor com todo mundo junto. Por falar em graça, sinto
que é necessário rir, mesmo se afogando, afinal, lá também aprendemos com
inúmeros exemplos de sabedoria que é necessário levar a vida com entusiasmo e
alegria. Sabe aquele lance de meritocracia? Não, não é necessário ficar rindo e
ao dizer isso, você ganha acolhimento ou acolhe pessoas? Não. Você se mostra um
mal-agradecido, afinal, você poderia estar no deserto e morrendo seco. Agradeça
ter água, mesmo que seja do mar. Parece graça, mas, não é. Mas, parecer já está
bom, pois é disso que vive o algoritmo. Que se diverte conosco. Rindo da nossa
cara.
Ah, mas é bom rir. Concordo, é
ótimo. Há quem ri de uma gracinha de um bebê, há quem ri de uma fofura de um
pet, de uma piada, de uma encenação qualquer e há quem foi condicionado a rir e
rir, sem nem saber por quê. E eu me peguei rindo repetidamente da mesma piada, juro,
incontáveis vezes. E pior, eu nem queria. Esse condicionamento a fazermos os
mesmos movimentos ao interesse alheio ao nosso consciente me doeu muito. Quis
mudar e não estava/ estou conseguindo. Parece que estamos fazendo parte de um
ballet, que inconscientemente nos ensina uma coreografia que só vamos imitando
e repetindo. Todos. Todos ligam as câmeras, ensaiam, ensaiam e ensaiam para um
espetáculo que não tem plateia. Os mesmos movimentos, as mesmas cenas, sem
criatividade alguma, sem nada de artístico e a arte é o inovar. A arte é o
inesperado que arrepia a pele, seja de um prazer indescritível como a agonia
que me afligiu desde a primeira linha desse texto, seja de uma alegria
proposital de satisfação, e não dessa alegria de sorrisos e risadas fabricadas
em nada com verdadeira graça, seja o arrepio de algo que nos causa nojo ou
repugnância. A propósito, nossa rede tão americanizada, com termos estrangeiros
que aprendemos a transformar até em verbo e conjugá-los como floppar, hitar e
por aí vai, essa mesma língua tem o termo disgusting, que, pra mim, tem som e
me traduz como poucas palavras em português tal sensação de asco.
A arte precisa ser inovadora e
causar algo. Quanto mais se tem igual, menos valor se dá e menos valor se tem
quem a produz. Quando foi a última ocasião que você ouviu alguém cantar pela
primeira vez e te provocou a apurar melhor os ouvidos pra apreciar aquela
identidade vocal? Qual foi a última vez que você viu alguma obra artística e
visual que te instigou a dedicar sua visão aos detalhes? Nas redes, está cheio
de ‘Criadores de Conteúdo’. Só esse termo já me caberia mais um texto do
tamanho do que escrevi até agora. Quando se dizia até certo tempo que alguém
tinha conteúdo era um elogio similar a inteligente, que a pessoa sabia
conversar sobre vários assuntos com certa propriedade. Hoje, a pessoa cria
conteúdo às vezes até sem ter. E deste nada, surgem compradores deste produto.
O preço? A vida, as horas, os minutos e até os sorrisos que se desperdiçam.
Compram e indicam. Mais gente compra e o vendedor de vários nadas vira
referência, vira espelho, inspiração para aspirantes a ter sua lojinha também
procurada para consumo de um conteúdo que se tem de graça e em fartura.
Assim como disse que entramos nas
redes porque quisemos, ela parece convidativa, afinal, está todo mundo lá, nós
encontramos nela onde falarmos o que pensamos, não importa se alguém quer
ouvir. Aliás, importa sim. Causa frustração o vácuo. Mas, não importa. Fala-se,
não ecoa, frustra e esse círculo se replica continuamente. Falamos só porque
queremos falar. Ela acaba sendo nossa confidente de nossas maiores fragilidades
e só nos devolve mais dor a essas angústias e, mesmo assim, há quem recuse o
bote que leve à praia. Sempre vale tentar mais um pouco a luz do farol por
alguns segundos em roupas coloridas, movimentos coordenados, dancinhas e vozes
que nem são as nossas pedindo socorro, no caso, atenção.
Não importa quanto você tenha
remado pra chegar nesse alto mar, não importa se você é um náufrago de uma
embarcação mesmo, se você estava num transatlântico e resolveu pular, não
importa se você, de fato, nem precisava estar ali por já ter seu próprio barco,
por ser bom nadador, por saber remar jangadas ou canoas. Não importa sua
habilidade, ali o farol só dá luz a quem dança no embalo da maré.
sexta-feira, janeiro 14, 2022
Navegando...
quinta-feira, janeiro 13, 2022
Tenho Sentido
Nunca vivi o que tenho sentido
De um sentido ter encontrado
E após definido o lado
Nele, ter me mantido
A ponto que o sentido aponta
Para uma rota desconhecida
Finalmente um rumo na vida
Onde a morte perdeu a conta
De quantas vezes quis chegar
Em quantas já foi presente
Em amor tão ausente
Na intenção de gozar
Contraditório dizer fogo frio
Conflito que me confronta
O mundo devolve, desconta
Esse cio, sombrio, vazio
Sentir tem definição vasta
Serve do sexo ao coração
Do eterno à ocasião
Do sempre sim ao basta
Sentimos a hora de ir e parar
De encontrar-se no espaço
Hoje, é o que faço
Pro meu mundo girar
Tem giros em falso
Frouxos, fracos, frágeis
Energias dispensáveis
Em passos descalços
Compassado aos batimentos
Que nesse chão molhado
Tem choro e prazer derramado
Orgasmos e sofrimentos
Sem arrependimento do prazer vivido
Assimilo que estavam na estrada
Que precisava ser caminhada
Pra então ter entendido
Quem o corpo pede uma gozada
Quem a alma pede um bom dia
Quem uma pernoite resolvia
Quem se quer andar de mão dada
De um sentido ter encontrado
E após definido o lado
Nele, ter me mantido
Para uma rota desconhecida
Finalmente um rumo na vida
Onde a morte perdeu a conta
Em quantas já foi presente
Em amor tão ausente
Na intenção de gozar
Conflito que me confronta
O mundo devolve, desconta
Esse cio, sombrio, vazio
Serve do sexo ao coração
Do eterno à ocasião
Do sempre sim ao basta
De encontrar-se no espaço
Hoje, é o que faço
Pro meu mundo girar
Frouxos, fracos, frágeis
Energias dispensáveis
Em passos descalços
Que nesse chão molhado
Tem choro e prazer derramado
Orgasmos e sofrimentos
Assimilo que estavam na estrada
Que precisava ser caminhada
Pra então ter entendido
Quem a alma pede um bom dia
Quem uma pernoite resolvia
Quem se quer andar de mão dada
Lembretes:
Amor,
paixão,
poema,
Poemas,
poesia,
Poesias,
poeta,
poeta osasco,
Românticas,
sentido,
Sentimentais,
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