terça-feira, junho 06, 2017

NÃO SOU DE AMORES

Não sou de escrever as palavras mais doces
Não sou daqueles que falam de amores
Não sou romântico, sou sentimental
Não escrevo sobre paixão; e sim, questão social
Não me inspira um cartão; e sim, o que sai no jornal
Não me encanto com ilusão, sou pé no chão, a real

Eu treino o fundamento pra não ser bla bla banal
Com tudo isso, eu não sou cinza, sou das cores
Nos muros, nas ruas, nos gestos, nas flores
Meus novos versos ainda um dia serão senhores

E mais ainda, pra fugir de ser igual
Trago referências, compositores
Sambistas, rappers, escritores
E insiro, entre as vírgulas, meu lado emocional

Eles prontos não vão pra casa de penhores
Eles mudos não provocam os sabores
Nem amargos, nem doces, nem apurados no sal
Eles não saem tais quais favores
Ah, até que saem, mas, só no racional
É tipo notícia só de rumores
É um B.O. sem prova cabal

Eu até que já fiz versos pra falar de casal
Tradicional, extra conjugal, homo, bi, heterossexual
Já falei das formas de amor, talvez todas
Falei de separações, de prateadas e douradas bodas

Mas, não é que hoje a inspiração me levou
Pra rota quase nunca habitual
Nem saquei qual start despertou
Nem sei porque começou
Ou melhor, porque comecei
Talvez, no inconsciente até sei
Mas, é tão fora do normal, do meu natural

Bom, seja qual for a onda que me puxou
O jeito agora é embarca-la
Coração duro no amor
Até permito e vou que vou

Mas nessas vibe eu vou sem mala
Pra voltar logo desse assunto
De poucas linhas, sem conforto
Hoje nem mais eu me pergunto
Porque tomei o rumo torto
De não pousar meu coração
Pra ser feliz em algum porto

Pra alguns, eu estou morto
Por não deixar o amor ser solto
Eu o aprisiono entubado
No caninho da caneta

Ele fica represado
É a véspera da letra
E sempre sendo véspera
Sempre espera
Só espera
Quando escreve, o verso erra
E, nesse caso, ele se apaga
Aí já era

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