terça-feira, novembro 27, 2018

Ao Entregar Uma Rosa



A sacada nem é minha, é do Criolo
‘Buquês são flores mortas, num lindo arranjo’
Aí eu me pego pensando
Ao entregar uma rosa
Eu sei que a atitude é generosa
É boa de coração
Mas, voa comigo na reflexão

Ao entregar uma rosa
Presenteamos em botão
Por vezes, nascente
Alguns decadentes
Na boa intenção

Ao entregar uma rosa
Embalamos.
Os espinhos? Retiramos
Depois que da terra arrancamos
Começa a contagem regressiva
O vaso com água amortiza
Mais um tempinho de sobrevida
Até secar a conexão
Com a natureza e seu habitat, o chão

Onde, por dias, cresceu
Até ser arrancada, toda lapidada
Pra ser entregue
Esperando retorno
O sorriso no rosto
De quem recebe

Ao entregar uma rosa
Será, de fato, que a intenção, por melhor que seja
Não vale que a gente reveja
Que, ao entregar uma rosa
Presenteamos-na morta
Toda emperiquitada, artificial
Artificializada, nem sei se essa palavra existe
Ao entregar uma rosa,
Começa a contagem do quanto ela resiste
E a gente insiste entregar uma rosa
Já sem coração, sem terra e pulsação, sem veias

Ao entregar uma rosa
Sejamos viscerais, integrais no ato
Entreguemos com vaso e tudo
Terra, semente e adubo,
Pra que ela floresça
Não padeça sem futuro

Ao entregar uma rosa
Deseje vida e continuidade
Não, o sorriso em troca para sua vaidade

Entregar uma rosa ou um buquê
Não faz o menor sentido
Se desejamos vida
Com tempo pra morrer
Em poucos dias definido

Ao entregar uma rosa
Não é essa a proposta
Seja rosa ou qualquer flor que ela gosta
Entregamos num gesto lindo, como o arranjo

Mas, será que ao entregar uma rosa
Entregamos em essência?
Essência do perfume e a nossa
Ou disfarçamos nossos espinhos e origem
Não são todos que se exibem
Nus, sem poupar imperfeições

Sua beleza e a de entregar uma rosa
Estão mais na terra e na história
Que no buquê de enfeitados botões

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