segunda-feira, setembro 10, 2018

Sem Copa e Sem Casa

Passando de carro pela marginal
Sou avisado a olhar pro lado
Uma bandeirinha do Brasil no beiral
De um escombro improvisado
Eu trafegava a via expressa
E passei depressa pela cena
Que ficou impressa na retina
E trouxe o verso à tona

O verde-amarelo tremulava
Pensei se a pessoa que ali morava
Estava na torcida também
Pensando será que o hexa vem?

Não veio, tudo bem, mas estava lá
A bandeira a se agitar,
a balançar com o vento

E foi nesse momento
Que lembrei o que é grafado
Ordem e progresso, em meio ao estrelado
Assim como o céu do marginalizado
Acomodado num cômodo mal-acabado e sujo
Porém, seu único lar, seu bem e seu refúgio

Deixando claro o verso dos Racionais
Apropriado e adaptado
Pro torcedor à margem, diariamente atropelado
Linguajar no futebol muito usado
Quando um time é goleado

Nesse caso, não há sentido figurado
Só um sentido: desfigurado
Um rosto não identificado, não registrado
Mas, contabilizado nos institutos e censos
Que mostram o abismo imenso
Entre o que deveria fazer
E o que faz o Estado

E pros craques eliminados do Mundial
Foram até onde poderiam ter chegado
Agora, todos retornam à vida normal
Em países evoluídos, tudo muito desenvolvido
Com o Brasil comparado, quase igual
Só que não, nem a pau

Que a bandeira desse nosso povo aguerrido
Traga além da Copa, um motivo
De a gente se sentir representado
No caderno social
E a bandeira não só um decorativo sazonal
Pra que, na vida marginal, seja um sentimento vivo
Estampado, não coberto com jornal.

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