quinta-feira, maio 20, 2010

Contido, perdido

As lágrimas, segurei
Por dentro, chorei
Mix de ira com revolta
Dor, indignação
O que vejo à minha volta
Machuca meu coração

Tenho que prender, conter
E não mais sofrer
Quando ouvir um relato
A notícia de um fato
Violento, brutal, criminoso
Contra quem for
Será que é falta de amor
Ou de uma fé no religioso?
O motivo, desconheço
Sei que chego a chorar
Só por imaginar
Como seguir a vida
Fugir de bala perdida
Fugir de pessoa perdida
Fugir de uma história perdida
Fugir de um futuro perdido
Fugir desse mundo perdido
Fugir do meu eu perdido
Fugir do amanhã perdido
Fugir de um minuto perdido
Fugir de uma hora perdida
Fugir da minha vida
Sei lá o que é vida
Tenho que me esconder
Pra não ser alvejado
Por isso, estou indignado
Puto, revoltado
Com crimes ao meu lado
Sou inimigo ou aliado?
Estou cercado
Passou um tiro do meu lado
É melhor sair vazado
Ou serei o resultado
Mais um contabilizado
Morto, assassinado
Tem horas que reflito:
Será que sou eu o errado?

Hoje estava até sorrindo
Também por futilidade
Quando ouvi a verdade
Fiquei refletindo
Repensando, discutindo
Com meu dia conflitante
E nesse exato instante
Vi o quanto é discrepante
A dura realidade
Que dia a dia vai seguindo
Em frequência mais constante

E cada gota que arquivo
Na gaveta da amargura
É um processo, o motivo
Pelo qual beiro à loucura
Cadeia de gotas salgadas
Além do sal, são amargas
Ácidas, venenosas
Procuro remédio ou cura
Vacinas intra-venosas
Que ponham fim à secura
Às dores que o olho atura
Com receitas medicinais
Olhos não veem mais
A dureza de fatos reais
Preferem visões duvidosas
Ilusões mentirosas
Para não se abaterem
Não sofrerem
Não sentirem
O medo e a dor do vizinho,
Do seu próximo ou parente
Ou da próxima vítima
Do próximo peito ferido
Do próximo choro contido
Do próximo eu perdido

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