quinta-feira, abril 16, 2020

Não Tem Volta

Será que tudo volta ao normal?
Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar
Será?
Quando eu falo de reencontrar
Falo da gente combinar de se ver
Eu hoje desabei de chorar
Comecei a me perguntar
Quando é que isso vai ser?

Quando é que eu vou poder voltar
Pro Morumbi pra torcer
Ver o Dani Alves jogar
Ver o São Paulo vencer
Será que meu banjo eu vou afinar
Pr’aquele samba no entardecer
Ou essas emoções só vamos lembrar
E não voltaremos a viver
No último jogo, eu estava lá
Levei meu filho pra ver

Era Libertadores e não estamos libertos
3 a 0; contra a LDU, lá do Equador
Os corpos lá estão com destinos incertos
Abandonados em calçadas, nada joga a favor
E o samba que eu nem lembro
Desse último sabor?
Da cerveja no copo americano
De puxar aquele antigo ao lado de um amigo
Batucando num tambor
Eu ali, relembrando no meu banjo
Um velho samba esquecido
Será que foi meu último, Senhor?

Eu confesso que hoje peguei meu cavaquinho
E as notas que toquei trouxeram canções
Que só na mumunha balbuciei
Desafinei, cantei baixinho
Temi as recordações
Pois vi um futuro como a canção do Peninha: Sozinho

Sem arranjos no plural
Violão, cavaquinho e percussões
Os refrões sem multidões
Somente um vocal, sem coral
Um link com alcance universal
Os views batem e geram milhões

Todo mundo assistindo
Conectados em TVs, celulares
Só temos ideia do que vem vindo
Nem certezas, nem verdades
E pensei: quando abraçarei
Novamente meus familiares

Sei que muitos nem os via tanto
O trabalho, a correria
Juro que não é porque eu não queria
Mas, agora, fico me perguntando

O que seria hoje voltar como era
Penso que aquele mundo acabou
O valor de cada coisa mudou
Só a Terra que continua uma esfera
Em seus giros nunca parou

E na nova era, já era tempo
Que o tempo que nos desespera
Desesperava, agora espera
E agora vemos acontecendo

A vida passando
E as roupas, não
Relógios de pulso ocupando espaço
No móvel, e o braço livre da pressão

As calças jeans e os paletós
Pendurados nos cabides
Poderoso Covid
Das gravatas desfizemos os nós
Preocupados estão os avós
Porque nessa faixa etária
Não se permitem vacilos
Eles querem viver para ver crescer
Os filhos dos filhos
Isolamento, fecha a área
Pra não deixar nos abater
A chegada desse vírus

Futuro é o maior inimigo do Corona
Nossa luta é no presente, pra que lá na frente
Eu tenho fé que a vida um dia retoma
Pra saudade, remédio não funciona
Saúde, saudade, só um ‘ad’ de diferente
Não, uma subtrai, a outra soma.

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