Ou melhor, não tinha me debruçado
Pra escrever o Rio
O Rio já tão declamado
Não há linha que eu possa puxar o fio
Que ninguém tenha falado
E começando pela fala, o "S" chiado e o "I" dobrado
Nunca perceberam o "I"?
Pede pro carioca falar Rio
O segundo "I" é meio tonzinho pra baixo
RIiO
E bota i no meixmo, eixtra, e por aí vai...
E lá, por onde você vai
É alertado, uma tensão do carai
Retorna de ré, fica abaixado
O Rio com suas praias
Não senti o mar salgado
O Rio de shorts e saias
De um calor exagerado
E sabe qual foi o maior exagero?
A maior discrepância?
Foi ver um morro equilibrado
Por esperança
E abençoado por uma igreja
Ali, quem mora, teme a tempestade
Ali quem prega, já conhece a bonança
Não sei se é mármore que fala
Mas, a fachada, por si só já fala
Não vou lembrar o nome
Mas, era letra por letra separada
Estilosamente fixado
Aço fosco, escovado
Luxuosa, a ponto de eu nem duvidar
Se me falassem que era o portal do céu
Bastava olhar
O que pra uns era lar
Ou o que era o caminho fiel
Não parecia difícil a escolha
Por qual iria andar
10% de dúvida cruel
Pouco à frente, já na curva
Perguntei o nome daquele morro
Pra fazer jus à referência no meu verso
"Não tem nome, não, ali foi invasão, ocupação"
Meu pensamento sempre em processo
Já pensou:
se nem o local mereceu um endereço, uma localização
Imagina o cidadão que ali se alojou
E logo na entrada de outro morro
Chamou minha atenção
O armamento pesado, empunhado
Preparado pela corporação
Para que, em qualquer situação,
Estivesse engatilhado
Sobre rodas ou pé no chão
No banco de trás da viatura
Corpo na postura e arma na mão
Rodamos Mangueira, Vila Isabel,
Maracanã, Cacique de Ramos
Do Cristo, passei perto, olhei pro céu
Era tanta neblina que nem enxergamos
Pense numa fumaça
Que conforme a tarde passa
E o breu vem chegando
Foi melhor voltar pra casa
Na Ilha do Witzel, afastado como tantos
O Rio, às vezes, é de lágrimas
Da violência de cenas trágicas
Mas, também é de emoções, como o carnaval
Quando é ainda mais atração mundial
Pela Sapucaí e suas mágicas
Magias, encantos, efeitos especiais
Belezas esculturais
Em corpos humanos
Em construções naturais
O Rio de Janeiro, do samba, da Lapa
Do futebol, tema que não escapa
De Zico, Garrincha, Edmundo e Romário
De camisas da escola
Tanto quanto as de time
São tantas peculiaridades
Que mesmo com tantas obras
Esse poema (e mais outro, e mais outro e mais outro...)
Todos seriam necessários
Porque pra um Rio, não há palavra que exprime
E expresse ou resuma o que traz o mundo inteiro
É pelo calor do ser brasileiro?
Não creio...
Pelo menos que seja só isso, nem a bossa
Nem aquele abraço, nem as Águas de Março
Que tudo isso é muito cosa nostra
As águas desse Rio não são
Nem de janeiro, nem de março
O Rio de Janeiro continua lindo
O Rio de Janeiro continua sendo
Miliciano e desigual
Estou escrevendo em dezembro
De um próximo ano
com fevereiro sem carnaval
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