quarta-feira, dezembro 30, 2020

O Inexplicável 2020

2020 iniciou com esperanças, já que 2019 não foi lá essas coisas. Bom... era o que pensávamos. Houve quem apelou para o par de 20 para achar que tudo se alinharia e que, por qualquer afinidade numerológica, seria um ano de expectativas positivas. A cada dia, novas tecnologias, a cada ano, uma infinidade de inovações que mudam a praticidade de nossas vidas. Só que às vezes, um computador, com muita informação armazenada, simplesmente trava. Precisamos descarregá-lo de conteúdo para ele funcionar melhor com menos funções. Acredito que aconteceu algo similar com nossas vidas. Porém, de forma muito mais grave.

Nós retrocedemos e parece que esvaziamos todas as funções básicas do nosso sistema operacional. O programa de texto não reconhece mais as palavras. As planilhas começam a calcular errado. Os programas de desenhar e pintar agora trabalham só com branco e preto. Jogamos fora muito além do que precisávamos.

Surge, no Brasil, a pandemia. Junto com ela, ideias do início do século passado voltam à tona. Sabe quando você está jogando um videogame e já avançou muitas fases? Já vencemos batalhas, superamos etapas e quando já estávamos bem à frente, foi como se a luz tivesse acabado e nosso jogo, que não salvamos na memória, se perdeu. Vamos ter que começar do zero...

Em pleno ano de 2020, as vacinas viraram ponto de interrogação. Institutos renomados mundialmente, como o Butantan, tiveram que despender trabalho em se organizar para uma campanha massiva em rádio e televisão para dizer: “Olha, a gente trabalha nisso há 101 anos, o mundo confia no que a gente faz. Somos confiáveis, viu, população brasileira?”

Esse é só um dos exemplos. A internet deu voz para todos, inclusive para quem não tem o que falar. Mas, a necessidade de dizer algo é tanta que liga a câmera e vai. Só que nessa ida, leva muita gente de carona que engrossa o coro de quem nada tinha a acrescentar. A pretensão de julgar-se apto a elaborar teorias promove vozes que, sem propriedade alguma, levantam dúvidas e sugerem desconfiança. No final, isso só contribui para a incerteza e desqualificação de quem de fato deveria ser a referência e, acaba não sendo, pura e simplesmente porque a pessoa duvida e pronto. Por que duvida? Não tem um porque, só duvida mesmo. E reforça a estupidez questionando o direito que possui de duvidar.

Graças a sei lá o quê, o ano acaba amanhã. O que vai mudar? Só o 1 do dígito final. As pessoas continuarão espelhadas na ignorância. E quando digo ignorância, nesse caso, serve nos dois sentidos: o de desconhecimento e o de rispidez. Afinal, essa ignorância é o que hoje nos representa perante o mundo. Ao olhar para cá, pensam: o que será que aconteceu com aquele Brasil do povo hospitaleiro e de calor humano?

A resposta é que aquele Brasil, de fato, nunca existiu. Continuamos um país preconceituoso com a nossa própria cara. Continuamos um país hipócrita, laico, de maioria cristã e que, se for pra vir um Cristo com a imagem e semelhança de quem o diz representar aqui, segura aí, não vem, não. Continuamos um país perigoso nas ruas e em casa, principalmente para mulheres, meninas e crianças em geral. Continuamos sendo um país repleto de Bolsonaros ao nosso redor. Sim, aquele seu tio do pavê que faz piada misógina, é um deles. Aquele seu vizinho crente que bate na mulher, idem. Aquele dono de comércio com nome de santo que assedia as funcionárias ou põe o segurança em total atenção com clientes negros, também. Tudo isso é o Brasil. O país sem vacina.

Mas, em 2018, você apertou 17, táoquei? Ah, você não apertou? Então, você é da turma que falou que políticos são todos iguais e anulou? Espero que você tenha aprendido. Não acredito nisso, mas, torço. Eles não são todos iguais. E a desigualdade deles reflete na nossa. Estamos desiguais a boa parte do mundo, que começou a tentativa de salvar vidas. Ele Não.

E daí? Não ligo pra isso – disse ele. E você também, quando apertou o Confirma. Plantamos um laranjal. De lá, não se colhe maçãs.

2 comentários:

  1. Texto de autor brilhante. Não conheço Diego, mas vou querer ler sempre o que ele escreve. Parabéns Diego por retratar tão bem nossa realidade. Feliz 2021. O número 5 e bem mais simpático que o 4. Dizem que os japoneses não gostam. Lembra as 4 velas nos velórios...Vamos ter fé. O grande Gil já canta "andar com fé eu vou/ que a fé nao costuma faiá"...

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  2. Risomar, mil desculpas por demorar em ver o seu comentário pra responder. Seja sempre bem vindo ao blog e frequentemente posto muita coisa. Principalmente, meus poemas. Fico muito satisfeito com ter o feedback de quem me visita. É de onde?

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