domingo, junho 07, 2020

Dor Ímpar (Miguel)

Era uma vez um menino
Resolvi começar esses versos
como as histórias que ouvimos,
éramos pequeninos,
nossos pensamentos eram dispersos, viajávamos nos contos infantis
Mas, hoje, o meu "era uma vez"
não tem nada de final feliz
Tem dor, perda, tristeza e descaso,
um prédio de cenário
e uma omissa atriz

Era uma vez um menino
Era mesmo, não é mais,
ele deixou a história, saiu desse livro
virou números banais
Ele ficou na capa dos impressos
mas sua capa não é capaz
o tempo não tem retrocesso
não dá para correr para trás
nem nos sonhos pode voar
Agora então, jamais
se ele pudesse, eu daria ao "Era Uma Vez", mais opções de finais

Mirtes, a mãe, chora
Ela estava a passear lá fora
com o cão ou os cães da senhora
primeira-dama,
que se encarregou de Miguel
Pois, em isolamento, seus cães precisavam passear
e se é para alguém se arriscar
Mirtes, vai lá, esse é o seu papel

Miguel entrou no elevador 5 anos,
a porta abriu no sétimo andar
ele decidiu ficar
o elevador subiu, a porta abriu
no nono, ele saiu
e por uma janela quis olhar
não se sabe se de lá, a mãe ele viu,
desequilibrou e caiu
5 anos, 7⁰ e 9⁰ andar, 35 metros
tudo ímpar,
como essa dor que não tem par

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