quarta-feira, fevereiro 27, 2019

Poesia em Papel e Gavetas

Tenho deixado pra amanhã
Decorar o que escrevo
E o que eu escrevo
É sobre hoje

Um hoje que é hoje há tanto tempo
Eu escrevo sobre o Brasil
Sobre Osasco, sobre sentimento
Eu escrevo sobre o frio, o fuzil
E um Estado violento

O que eu escrevo está em papel
E memórias online, digitais
Sobre o que vi nos jornais
Sobre o que eu li no cordel

Slam, sarau, e a poesia segue no ar
Pronta pra ser encontrada bruta; e lapidada,
Às vezes, curta e enxuta, às vezes, encharcada
Salgada de lágrimas, que fazem borrão da caneta
Por vezes, azul; raramente, vermelha; por vezes, preta

O papel manchado e a mancha do passado
Que me fez sentar e escrever de veneta
Mas, escrever pra que, se não decoro pra dizer?
Pra publicar? Onde? Pra quê que alguém vai ler?

Quando ouvir este, que eu tenha decorado
Que eu tenha declamado
Pois, pra quê poesia?
Se rimar é por si, rebeldia
É transcrever gritaria

Na gaveta, trancado
É só mais um verso, disperso, calado.

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