quinta-feira, dezembro 03, 2009

O samba é religião

Não podia deixar de homenagear o samba (com o perdão do atraso) em seu dia, 02 de dezembro, Dia do Samba.



João Nogueira, Noel Rosa e Cartola. Acho que não poderia começar minha homenagem de outra forma, tal como as orações que iniciamos por Pai Nosso, Ave Maria, entre outras quaisquer.
Certo dia, me disseram que religião é onde nos sentimos bem. Ou seja, o samba é minha religião. E, com certeza, não é só isso. Ele é minha família, meus amigos, meus amores, e por que não, alguns desafetos? Enfim, é minha vida. Cada momento feliz que guardo na lembrança, tem samba na história. Apresentações em palcos, casas de shows, festas e claro, botecos dos mais fuleiros. E são nesses que guardo as melhores recordações.

Samba é meu assunto, é meu tema, é meu poema, é meu pensamento, é meu instrumento, é meu banjo, é meu cavaquinho, é não estar sozinho. Não consigo esboçar minha vida sem meus irmãos. Não só os de sangue, mas os de samba. Como imaginar não ter conhecido o Alemão e o Negão? Pela forma que os chamei, dispensa descrição. Já enchemos uma mãozinha e mais um pouco com anos de samba, de parcerias e claro, de irmandade.

Tantas cordas quebradas, amarradas ou até desafinadas. Foram tantas... que mesmo fora do tom, com som dissonante da seqüência ainda procuramos entender a ciência do samba. E nunca a entenderemos em formato pleno.

Se não fosse o samba, não tocaria, não sairia, com nada me identificaria, ou seja, nada seria. Não vivo do samba, mas vivo de samba. Meu coração, como sempre digo, não bate, batuca, faz a marcação. E ele já deve estar até acostumado com essa síncopa, com essa alteração entre peso e convenção.

Se não fosse o samba, meus amigos seriam outros, meu gosto seria outro, meu mundo seria outro. Nem sou sambista de escola, de quadra, de botequins, da noitada. Sou um sambista por amor, pela poesia, pela levada, que é única. Não temos nada parecido.
O samba é minha mãe, meu pai, minha espiritualidade, minha alegria, é o que me faz sorrir e respirar melhor, me torna pleno em prazer, independente da tristeza. Gostar de samba não é para qualquer um, tem que ter esse dom para se sentir a tristeza sem ser triste, é lidar com o amor na felicidade ou na dor, é zombar da dureza da vida de um trabalhador, é protestar contra qualquer preconceito, principalmente o de cor.

“Ser sambista é ver com os olhos do coração”, é a “nossa expressão mais popular. Quem faz samba, faz a história de um lugar”. Sempre vou dizer que “prefiro o meu pagode, pulsando forte, bem lá no fundo do quintal”, que o samba “é eterno porque é raiz”, que “não precisa se estar nem feliz, nem aflito, nem se refugiar em lugar mais bonito, em busca da inspiração”. O samba é tudo isso e muito mais, tem o ritmo dos carnavais, tem nostalgia, alegria, melancolia, tudo na mesma poesia.

“Há quem gosta e finge que não gosta e samba pelas costas pra não dar o braço a torcer”, há quem participe, quem constrói essa história e há os que o amam. Esses, por sua vez, perpetuam os antepassados, as grandes canções e seu amor por essa música que é tão nossa e vem sendo tão maltratada. Mas, sem dúvida superaremos isso e ninguém manchará essa história tão bonita que envolve o samba, sua origem, sua formação, suas mudanças ao longo do tempo e, assim como no início julgo fundamental encerrarmos com uma espécie de amém. “Não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar”.

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