terça-feira, maio 12, 2020

A Não-Paixão

Agora dei pra falar de sentimento
Minhas linhas sempre foram duras
Como as notícias ou o que vi nas ruas
Que eu olhava e a inspiração chegava
Isso é só um exemplo

Agora, olhando mais pra dentro
Não posso dizer que já me entendo
Certamente, estou me reconhecendo

Sim, eu saí do automático
Buscando aprender o funcionamento
Por que no passado, amei tanto
E após um triste encerramento,
Triste pra mim, exclusivamente

Eu não consigo chorar lembrando
Eu não consigo chorar nem quando
Duvido se é pra sempre

“Que o pra sempre, sempre acaba”

E por falar em músicas românticas
Ou de fim ou de saudade
Nada, nenhuma, nem um pouco me abala
Sinto até inveja, sabe?

De quem ouve uma música de amor
E chora, seja qual motivo for
Pela lembrança do cheiro da flor
Pelo tempo que deteriora

Os acordes tocam alto
As vozes o procuram
Às vezes, se destoam
Se ajeitam, se desculpam
As canções então se afinam
Os versos se combinam
Ao fim, rimam?
Talvez, não é certeza
O que é certo é que tanto tempo só vivendo
Parece que eu esqueci, perdi um vocabulário
Paixão é uma
Parece que fui esquecendo
Significados se perdendo

Se tudo isso,
Se o amor fosse um livro
O que teria no glossário?

Paixão, como eu falei, teria que ter
Ligações no horário mais alternativo
Parece que o tempo roda ao contrário na ânsia de rever
Aquele comportamento primário
Adolescente, incendiário

Em que tudo é pra vida
O grande amor da juventude
No mais perfeito cenário
Nessa idade, a intensidade convicta
Num tempo nada sedentário

Ilude, agora me fala
Você pode nunca mais se iludir
Mas, nunca mais se apaixona

Sinto, como se um dia, escolhi
Você nem precisa me ouvir
A não-paixão não decepciona
Isso eu posso te garantir
Mas, olha, tenho percebido que não vale a pena
Se apaixonar-se é um problema
Muito pior, o vazio de nada sentir

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