quarta-feira, maio 20, 2020

Novo Caderno

Não é por acaso que começo esse poema
Na 1ª folha de um novo caderno
Justo esse, justo hoje
De quinta pra sexta, madrugada
E justo nessa 1ª página pautada
Externo

Um conflito interno
Que quase me interna
Não foi preciso
A angústia que me consterna
Travou minha perna

Já depois do meio fio
Na rua, na beirada
Pouco passei da calçada
Via movimentada

E nada do transporte chegar
Pra me levar ao céu
Ou inferno
Nem sei onde ia parar

E parei

Quando lembrei do meu filho em casa
Chorei e retomei a caminhada
2019, era dezembro
Mal sabia o que me esperava
A saudade de mãe doía, machucava
E quando relembro
Sinto como se tivesse sobrado só eu

Não deu 10 meses
Mais um pouco de mim morreu
Quando o câncer venceu
Minha mãe deixou seu jeito alegre e extrovertido

Com minha vó, a despedida se avisava
E nada mais deu pra fazer
Só agradecer por tudo o que ensinara
Ensinara, no pretérito mais que perfeito
Mais que perfeitas elas foram
E com elas aprendi o melhor que posso ser
Até um cara boa gente
Mas, diferente do que cada uma esperava
Não é só metáfora, não
O caderno que usava, terminei
Este, onde crio estes versos
Começaram sem introdução
Mas, o que eu quero começar, eu sei

Como dizia Nelson Gonçalves
Não quero a tristeza cantando
“Aqui me tens de regresso”
Quero chegar no meu auge
Pra que eu me salve
Eu estava me entregando
Querer viver já é um puta sucesso

Que as próximas linhas tragam
Novas linhas de pensamento
Linhas de coletivos, de conduções
Ao conhecimento, ao reconhecimento
Às vezes afagam, às vezes esmagam
As nossas convicções
O nosso sentimento.

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