sábado, maio 16, 2020

Fogo à Parte

Ela, livre, querendo amar
Ele, amando outra mulher
Os dois se curtem na cama
Ele a devora em seus lábios
Até sentir ela contrair e relaxar

O breu no quarto
Ela exige, ele não quer
Ele quer vê-la em chamas
Num fogo que os dois acharam a temperatura
E ela chega lá em fartura
Em gritos de fazer inveja
Aos quartos vizinhos

A ele, ela parecia sincera
Em seu prazer declarado
Não para, de novo, vem vindo
Eles se travam nas pernas
Até ficarem largados, suados

Depois que o coração acelera
Deita-se em seu peito, que estava ao lado
Acende um cigarro
Minutos de silêncio
Tem início uma conversa
Enquanto o quarto se preenche
Com as músicas do rádio

Ela esperava a segunda edição
De prazer, putaquepariu, que tesão
Ele ousou tentar,
em vão

Ela foi ao céu muitas vezes, ele não
Ah, aquela canção, justo aquela
Fez pesar como se fosse traição
Fez repensar a condição

De um prazer que não se preza a chegar
Parecia uma vingança consciente
Da mente que, de repente, fez-se apresentar
Aquela música fez lembrá-lo de quem ama

Ela continuava ali, disposta
Exposta, mesmo à pouca luz
Esperava uma proposta
Demais capítulos, edições, continuações
Só que para evitar frustrações

Ela decidiu: paramos, não posso continuar
Certamente, vou me machucar
Ele consentiu, afinal
sua cabeça também estava em outro lugar

Logo após, se vestiram
Mais um pouco conversaram
Mais umas canções, ouviram
Valeu o tempo que se curtiram
Pagaram, saíram

Que ela encontre o amor
E que ele, bom... ele eu não sei
Ninguém precisa saber
As duas estradas vão seguir
Em vias paralelas
Canções continuarão tocando e eles ouvindo
Chorando ou rindo

Lamentando não verem o sol nascendo
Ou caindo pelo alcance da janela
Horizonte, destino não se enxerga

Vive-se, abastece-se de prazer e arte
Às vezes, só o corpo se entrega
Às vezes, a alma se apega
Esses dois podem e vão amar
À parte.

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